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Dom Miguel de Bragança e a Snr.ª Dona +Maria da Gloria--collecção dos artigos das comparações publicadas no_ +«Portugal.» + +A introducção foi escripta pelo _doutor_ Casimiro de Castro Neves, +natural de Louzada, e hoje residente em Lisboa. + +As _comparações_ diz-se que as escrevera o snr. Francisco Candido de +Mendoça e Mello, bacharel da fornada de 1849, _natural de Bragança_ e +residente no Porto. + +Francisco Pereira d'Azevedo é o editor e recebe os patacos do folheto. + +As comparações ei-las ahi: + +«O Snr. D. Miguel não póde admittir em sua companhia a Snr.ª D. Maria, +porque nada póde haver de commum entre ambos. + +«O Snr. D. Miguel perseguiu os ladrões e assassinos; a Snr.ª D. Maria, +diz o _Ecco_, que se bandeou com elles. + +«O Snr. D. Miguel não perseguiu os seus amigos; a Snr.ª D. Maria tem +perseguido a todos, e com muita especialidade o marechal Saldanha. + +«O Snr. D. Miguel sahiu pobre do paiz, porque não roubava nem deixava +roubar; a Snr.ª D. Maria, diz o _Ecco_, que ha-de estar bem rica, e nós +tambem o dizemos. + +«O Snr. D. Miguel sahiu rico das saudades e bençãos d'um povo que o +adorava; a Snr.ª D. Maria, se sahir, não leva poucas maldições e +insultos, como póde testemunhar quem tiver ouvidos para ouvir o que por +ahi se diz, e olhos para lêr os papeis que no paiz se publicam. Saudades +é que realmente, não é só a nós, que não deixa nenhumas! + +«O Snr. D. Miguel demittiu magistrados por não serem limpos de mãos; a +Snr.ª D. Maria cobriu esses, e outros d'honras e dignidades. + +«O Snr. D. Miguel protegia e promovia tudo quanto era portuguez; a Snr.ª +D. Maria fazia o mesmo a tudo quanto era estrangeiro. + +«O Snr. D. Miguel conquistou Portugal com a sua pessoa _só_; a Snr.ª D. +Maria com os estrangeiros de todos os paizes. + +«O Snr. D. Miguel viveu com a maior economia, e foi fiel aos seus +contractos; a Snr.ª D. Maria o contrario de tudo isto. + +«O Snr. D. Miguel entregou intactas as joias da corôa; a Snr.ª D. Maria +_consentiu_ que não só se roubassem as de seu augusto Tio, se não ainda +que se lhe apoderassem dos bahus da sua roupa branca, que a Snr.ª Vadre +lhe conduzia, e que lhe usurpassem os seus bens proprios. + +«O Snr. D. Miguel enviou o brigue de guerra _Téjo_, commandado pelo 1.º +tenente Caminha, ao Rio de Janeiro, levar aos seus parentes brasileiros +a herança de seus augustos parentes fallecidos; a Snr.ª D. Maria +consentiu que seu augusto Tio fosse defraudado não só da herança de seus +augustos paes, senão ainda de todo esbulhado da herança universal de sua +augusta irman fallecida em Santarem. + +«O Snr. D. Miguel sustentou sempre os criados da casa real, ainda os de +opinião contraria; a snr.ª D. Maria pô-los todos na rua, substituindo +muitos por estrangeiros, e deixou morrer á fome as criadas da Snr.ª D. +Maria 1.ª escapando sómente as netas do famoso João Pinto Ribeiro, que +tanto concorreu para elevar a casa de Bragança ao throno; porque os +legitimistas tomaram a si o seu parco sustento. + +«O Snr. D. Miguel tratou sempre bem as familias dos presos politicos, +como póde testemunhar entre outras a filha de Pedro de Mello Breyner; a +Snr.ª D. Maria tratou muitas como a esposa do conde de Villa Real, D. +Fernando, que regressou do paço moribunda. + +«O Snr. D. Miguel não consentiu nunca que nos actos officiaes se +insultassem os seus parentes brasileiros; a Snr.ª D. Maria tem +_consentido_ que nesses mesmos se insulte constantemente seu augusto +Tio. + +«O Snr. D. Miguel augmentou o patrimonio real; a Snr.ª D. Maria tem-no +dissipado, alienado e destruido. + +«O Snr. D. Miguel nunca mandou festejar os dias em que portuguezes +derramaram o sangue de portuguezes; a Snr. D. Maria não só consentiu que +se festejassem esses dias, senão ainda aquelles em que estrangeiros +mataram portuguezes e tomaram navios portuguezes. + +«O Snr. D. Miguel escolheu para ministros d'estado homem de inconcussa +probidade e limpeza de mãos; a Snr.ª D. Maria escolheu os caracteres +mais corrompidos e corruptores que havia no reino, e expoz-se a sete +revoluções para sustentar, a despeito da opinião publica nacional e +estrangeira, o homem mais detestavel que tem produzido a nossa terra--o +homem que roubou descaradamente--o maior dos concussionarios--o valido +mais torpe--o homem de _Queen's bench_--_o conde de Thomar_! + +«O Snr. D. Miguel fez respeitar sempre o palacio de nossos reis; a Snr.ª +D. Maria fê-lo descer até onde não podia descer mais. + +«O Snr. D. Miguel foi compadre de muitos bravos soldados de seu +exercito; a Snr.ª D. Maria foi comadre do villão mais cobarde que +havemos conhecido. + +«O Snr. D. Miguel escolheu para diplomaticos os homens mais conspicuos e +probos do paiz; a Snr.ª D. Maria escolheu _muitos_ contrabandistas e +ladrões descarados. + +«O Snr. D. Miguel não podia pôr pé fóra do paço que não o acompanhassem +ondas de portuguezes; a Snr.ª D. Maria tem atravessado Lisboa e as +provincias no meio d'um silencio sepulchral. + +«O Snr. D. Miguel respeitou sempre os bispos, ainda os que eram +indigitados de contrarios á sua opinião; a Snr.ª D. Maria consentiu que +os perseguissem todos, e ainda ha alguns no exilio. + +«O Snr. D. Miguel queria reformar as ordens religiosas, e de accôrdo com +a Sé romana nomeou reformadores; quem governava em nome da Snr.ª D. +Maria destruiu-as, e expulsou os seus membros, depois de esbulhados de +quanto possuiam. + +«O Snr. D. Miguel era escravo da opinião publica; a Snr.ª D. Maria +sempre a tem despresado, tornando-se necessaria uma revolução para se +mudarem os ministros corruptos e corruptores. + +«O Snr. D. Miguel foi chamado ao throno pelas antigas leis da monarchia, +applicadas por tribunaes que não creou; a Snr.ª D. Maria foi chamada ao +throno por uma carta de lei, feita expressamente para este fim pelo +imperador do Brazil, seu pae, e applicada por bayonetas estrangeiras. + +«O Snr. D. Miguel estava em Vienna á morte de seu augusto pae, e foi +proclamado e sustentado pela maioria da nação com as armas na mão, sendo +necessario vir o exercito de Clinton para que lh'as podessem arrancar; a +Snr.ª D. Maria só teve por si, na maxima parte, os estrangeiros que +cobiçavam as preciosidades das egrejas e dos conventos. + +«O Snr. D. Miguel vestiu e calçou os seus soldados com objectos +portuguezes; a Snr.ª D. Maria mandou vir para os seus fardamento e +calçado da Inglaterra, pesando-lhe por não poder mandar vir de lá tambem +a agua para se lavar. + +«O Snr. D. Miguel apesar da amizade que o ligava a seu Tio Fernando 7.º, +recusou entregar-lhe os refugiados politicos hespanhoes, e pagou-lhes a +passagem para sahirem livremente do paiz; a Snr.ª D. Maria consentiu que +assassinassem no paiz alguns emigrados carlistas, conservou outros em +duros ferros, e entregou alguns para serem garrotados. + +«O Snr. D. Miguel empregou muitos constitucionaes, sómente porque tinham +merecimento; a Snr.ª D. Maria não só demittiu todos os legitimistas, +senão ainda que tem demittido aquelles que por ella se teem sacrificado. + +«O Snr. D. Miguel vestia e calçava objectos portuguezes; a Snr.ª D. +Maria até manda engommar a roupa a Inglaterra. + +«O Snr. D. Miguel, do que produziam as quintas reaes, distribuia +gratuitamente aos seus criados, e ao povo; a Snr.ª D. Maria não só +destruiu a matta dos buxos de Queluz para ser vendida aos torneiros, +senão ainda mandava vender á praça até salsa e hortelan. + +«O Snr. D. Miguel folgava de fazer cultivar as terras da corôa, e de ser +o primeiro lavrador de Portugal; a Snr.ª D. Maria alienou tudo na maxima +parte, e o que não alienou, arrendou ou deu ao seu valido. + +«O Snr. D. Miguel tratava com esmero a formosa raça d'Alter; a Snr.ª D. +Maria mandou vender tudo, até mesmo os cavallos e muares da casa real, +conservando apenas alguns poucos rabões inglezes e hanoverianos. + +«O Snr. D. Miguel respeitou o banco, apesar de lá estarem os fundos dos +seus contrarios, e de ser administrado pelos seus adversarios politicos; +a Snr.ª D. Maria fez-lhe crua guerra. + +«O Snr. D. Miguel reconheceu os emprestimos feitos para debellar os +principios que o elevaram ao throno; a Snr.ª D. Maria não quiz +reconhecer nunca o emprestimo do Snr. D. Miguel contrahido para matar a +fome aos empregados publicos. + +«O Snr. D. Miguel tinha captado de tal sorte o amor dos soldados, que +apesar de rotos, descalços, famintos, e quebrantados de uma lucta tão +prolongada, quebravam as armas que os estrangeiros vinham arrancar-lhes +das mãos; a Snr.ª D. Maria tem contrariado de tal modo os sentimentos do +paiz, e alienado as affeições dos seus mesmos, que em todas as contendas +vê rarear as suas fileiras de soldados que vão engrossar as dos +contrarios. + +«O Snr. D. Miguel tinha e queria sómente os empregados necessarios; a +Snr.ª D. Maria consentiu que se arvorasse ametade do reino em empregados +para devorar outra ametade. + +«O Snr. D. Miguel fez-se idolatrar a tal ponto do povo, e do exercito, +que até os seus mesmos adversarios o reconheciam a ponto de lhe +cantarem: + + _Quanto mais a fome aperta + Mais se canta o rei chegou:_ + +e não tem bastado a longa ausencia de dezesete annos para destruir as +affeições e esperanças dos portuguezes; a Snr.ª D. Maria tem-se feito +detestar dos seus mesmos, e o que é maior desgraça ainda o seu nome está +sendo coberto de improperios. + +«O que se tem dito do Snr. D. Miguel, diz-se de todos os monarchas +decahidos; porém o que se diz da Snr.ª D. Maria, diz-se de pouquissimas +rainhas no throno. + +«O Snr. D. Miguel, quando viu que a lucta só concorria para derramar +sangue portuguez inutilmente, e acarretar desgraças inevitaveis ao paiz, +porque parte da Europa dormia á beira da abysmo, e a outra parte estava +colligada contra elle, convencionou em Evora-Monte, estipulando que se +respeitasse a vida e propriedade dos seus, e que se lhe désse a elle, +que de tudo era privado, uma parca subsistencia; quem governava pela +Snr.ª D. Maria, desconheceu logo a convenção que tambem fôra assignada +pela _leal_ Inglaterra--condemnou ao ostracismo e á fome o Principe +generoso e uma grande parte da nação portugueza--fez derramar ondas de +sangue portuguez, e com a nefanda lei das indemnisações esbulhou da +propriedade quem a tinha--a Snr.ª D. Maria acceitou a herança de todos +estes maleficios, e _consentiu_ que continuassem--applicou-os depois aos +seus mesmos, e pretende conservar-se no throno a risco de perder a +dynastia. + +«O Snr. D. Miguel rejeitou as propostas de Christina Munhoz de fazer +entrar o exercito de Rodil em seu auxilio, e de o casar com uma sua +irman se mandasse sahir D. Carlos de Portugal; a Snr.ª D. Maria não só +tem acceitado todas as propostas para se firmar no throno, se não ainda +as tem deprecado, subindo até lá nos braços de Rodil e Parker, e sendo +sustentada por Concha e Maitland, executores, do famoso _protocollo_, e +se os estrangeiros se não oppozerem agora á sua sahida, e ella se +verificar, como dizem, são os portuguezes quem a poem fóra a contento do +clero, nobreza e povo! + +«O Snr. D. Miguel não gastava ao thesouro annualmente acima de 20 contos +de reis; a Snr.ª D. Maria gasta ao _misero_ e _defecado_ Portugal 365 +contos de reis por anno, e ainda 100 contos para seu marido, afóra as +dezenas e dezenas de contos para seus filhos. + +«O Snr. D. Miguel conservou a Tapada real de Villa Viçosa, na mesma +grandeza com que seus augustos predecessores a tiveram; a Snr.ª D. Maria +manda vender as lenhas e as estevas, que todos os dias d'ahi sahem em +abundancia para Borba e Villa Viçosa, e n'esta ultima terra tem um +açougue publico de carne de veado e gamo, que os seus criados todos os +dias matam na tapada; negoceia-se com a bolota, com as pelles dos +veados, e até com os chifres!» + +E então, não fallam bem destravadamente estes ridiculos fanfarrões?.. +Elles, os selvagens, que ainda ha poucos annos _tinham mêdo d'apparecer +no Porto_, não estão agora, com as suas roncas, armando aos patacos +dos papalvos?... E cuidaes que é um acto de valor pessoal--que é, +ao menos, uma temeridade que praticam?... Nada d'isso.--Não será +verdade que elles mesmos andam por ahi a dar a explicação do seu arrojo, +assoalhando, com espantoso cynismo, os presentes que fazem ao snr. +_delgado_--vangloriando-se dos bellos córtes de panno da Belgica, que +lhe remettem, e dos bellos pintos, que elle lhes chucha?... + +Diga-o... quem o souber--e no entanto passemos á + + + + +SEGUNDA PARTE. + +REFLEXÕES. + + +_Quem diz o que quer, ouve o que não quer._ Assim reza um adagio, que, +pela sua antiguidade, merece, por certo, a approvação dos _escribleros_ +do «_Portugal_.» + + «O Snr. D. Miguel--dizem elles--não póde admittir na sua companhia a + Snr.ª D. Maria.» + +E é verdade. Não póde--porque assim o quizeram meia duzia de +sanguinarios--meia duzia d'aristocratas estupidos--meia duzia de +fradalhões devassos--meia duzia d'ambiciosos e algumas duzias de +scelerados, que, entre o Tio e a Sobrinha, cavaram um abysmo insondavel, +precipitando n'esse abysmo o infeliz Portugal,--não o ridiculo e o +infame «_Portugal_» de que foi editor um sapateiro demente e +estuporado--de que é editor e especulador um negociante de +_algo_-DÃO--mas este Portugal de sete seculos, esta nação que se +envergonha de ter no seu seio um bando de selvagens e desavergonhados, +um bando de parasytas, um bando de zangões e empalmadores. + + «O Snr. D. Miguel perseguiu os ladrões e assassinos.» + +Mentis, senhores da _tripeça-gazetal_, e mentis como perros.--O Snr. D. +Miguel teve desejos de fazer punir os ladroes--mas os ladroes +cercavam-no por toda a parte, e como andavam _mascarados_, era difficil +conhecêl-os + + «O Snr. D. Miguel não perseguiu os seus amigos--a Snr.ª D. Maria tem + perseguido a todos.» + +Mentis, e mentis com o damnado fim de amargurar a existencia do infeliz +Principe, que chora no exilio os negros crimes de que vós e os +vossos o fizeram victima.--O Snr. D. Miguel não queria perseguir os seus +amigos mas perseguiu-os o estupido bando de scelerados, a que vós +pertenceis.--Lembrai-vos de que escreveis no Porto, senhores do +«_Portugal_» e que no Porto, no tempo em que vós dominaveis, foram +cacetados, indistinctamente, liberaes e realistas--ainda mais, no Porto +foram cacetadas as proprias auctoridades constituidas em nome do Snr. D. +Miguel.--É aqui bem publico e notorio que o corregedor do crime foi +cacetado, no largo do Carmo, pelos soldados do 12, e como lhes gritasse +«Senhores, eu sou o corregedor!»--«É por isso mesmo!»--lhes tornavam +elles--redobrando com nova furia as cacetadas.--É aqui bem sabido que +n'esse tempo bastavam tres testemunhas das de quartilho de vinho--para +se levar um homem á forca;--bastava alcunhar qualquer realista de +_malhado_, para o vêr martyrisar por essas ruas;--bastava calumniar +alguém, chamando-lhe _pedreiro-livre_, para o vêr gemer n'uma +cadêa.--Podiamos aqui escrever um longo capitulo d'historia--que vós +fingis ignorar--mas poupamo-nos a esse trabalho, porque fallamos no meio +d'uma cidade onde todos sabem quantos realistas gemeram nas cadêas por +vinganças particulares--quantos caloteiros se fingiam realistas para +perseguir os seus crédores--quantos ladrões se infeitavam com o tope +azul e vermelho, para atterrarem aquelles a quem tinham roubado.--Era +n'esse tempo que o vosso chefe d'então e vosso chefe d'agora--o +scelerado fradalhão Luiz................. levava a tiro de pistola as +mulheres que se não dobravam aos seus desenfreados appetites;--era +n'esse tempo que elle, o malvado _pedréca_, arranjava empregos para os +paes, a troco da deshonra das filhas;--era, finalmente n'esse tempo, que +muitos bandoleiros se acobertavam com o nome d'amigos do Snr. D. Miguel, +para o tornarem odioso, e para augmentarem, como augmentaram, o partido +liberal.--E ainda hoje continuaes a acobertar os vossos crimes com o +nome do infeliz Principe, trazendo-o para a discussão a todo o +proposito; e ainda hoje continuaes a perseguição aos seus melhores e +mais leaes amigos.--Aqui estamos nós--nós que fomos emballados na +affeição mais pura á pessoa do Snr. D. Miguel--nós, que, pensando +servil-o, temos constantemente sacrificado o nosso futuro e arriscado a +nossa vida,--e que hoje, desenganados, só pedimos a Deus que o Augusto +Exilado não caia de novo nas vossas mãos--porque seria um instrumento de +perseguição e de morte para metade dos filhos d'esta terra;--nós, em +fim, que podemos dar testemunho da vossa ferocidade. E porque nos +perseguistes vós?... Porque não pudémos deixar-nos roubar, sem que +gritassemos _aqui-d'el-rei_ sobre os ladrões, denunciando-os ao publico, +de viva-voz e pela imprensa. + +Calai-vos, _honrada-gente_!... calai-vos, que é esse o maior serviço que +podeis fazer ao Snr. D. Miguel de Bragança. + +Não nos daremos agora ao infadônho trabalho de reflectir sobre cada uma +das vossas _comparações_--talvez o façamos, se continuardes a +provocar-nos; no entanto, sempre vos repetiremos que é damnada a +intenção com que comparaes S. M. a Rainha com seu Augusto Tio, +attribuindo a este alguns actos, com que pretendeis acobertar os vossos +crimes, e áquella alguns erros, de que não póde nem deve ser +responsavel--porque reina e _não governa_, como acontece a todos os +Monarchas constitucionaes.--O que vós quereis--não nos cançamos de o +dizer--é fazer pesar sobre o Snr. D. Miguel a responsabilidade de todos +os assassinios, de todos os roubos, de todas as tropellias, de todas as +perseguições, que praticastes em seu nome. + +As vossas comparações--se não fôsse bem conhecida a damnada intenção com +que são feitas--só serviriam para tornar odioso o nome do Augusto Tio da +Soberana. + +Se a Senhora Dona Maria II deve ser responsavel--como Rainha +constitucional--pelos actos do seu governo, como vós quereis; é +assaz logico, é concludentissimo, que o Snr. D. Miguel--como Rei +absoluto--é o unico responsavel por todos os erros, por todos os crimes, +que em seu nome praticou esse bando de scelerados a que pertence o +«_Portugal_.» + +Não illudaes o povo, _honrados homens_!... não especuleis com a +ignorancia das turbas... + +O Snr. D. Miguel I foi Rei absoluto, e comtudo não deve ser responsavel +por muitos crimes, que se praticaram em seu nome, e que elle ainda hoje +ignora. + +A Snr.ª D. Maria II é Rainha constitucional, e n'esta qualidade +irresponsavel pelos actos do seu governo. + +Portanto, as _comparações_ do «_Portugal_» são filhas da mais refinada +hypocrisia e estupidez, e tendentes só a desacreditar o Augusto Exilado. + +Estaes ahi a fingir-vos victimas da perseguição dos agentes do governo, +e se houvesse _um delegado_, que soubesse cumprir com o seu dever, como +vos attreverieis vós a asseverar pela imprensa, que a Soberana manda +vender salsa e hortelã!!! e que negoceia com bolota, com pelles e até +com chifres???!!!!... + +Senhores do «_Portugal_» não falleis em _chifres_, que se ri o povo.... +não falleis em _salsa_ e _hortelã_, que deitaes por terra, por vossas +proprias mãos, essas _salsadas_ que escreveis no vosso despresivel +papel. + +Silencio!... e deixai-nos respirar um pouco, antes de passarmos á + + + + +TERCEIRA PARTE. + +DESENGANO. + + +Quem ouvir desprevenido as _roncas_ do «_Portugal_»--quem lêr as suas +_lamentações_--ha-de julgar que alli ha convicções profundas--um valor a +toda a prova--uma resignação para o martyrio. + +Pois se ha quem tal pense, está completamente enganado. + +O «_Portugal_» é uma especulação mercantil de Francisco Pereira +d'Azevedo--mais vulgarmente conhecido pelas alcunhas de Ignez das Hortas +e de Francisco da Velha. + +O snr. Francisco é ao mesmo tempo editor, proprietario da imprensa e da +gazeta, e negociante de _algo_-DÃO. + +A gazeta intitula-se realista, e não é mais do que _farcista_. É a mesma +gazeta de que foi editor o sapateiro José Ferreira da Silva. + +Sabemos que nas provincias ha muita gente que não quer acreditar, que um +miseravel sapateiro, estuporado e tonto, fosse o editor da gazeta dos +_fidalgos velhos_, do periodico da aristocracia de _sangue azul_! Pois, +para que se desenganem, aqui lhes vamos dar alguns apontamentos para +uma byographia do sapateiro, primeiro editor do «_Portugal_.» + +José Ferreira da Silva, filho de paes pobrissimos, e natural d'esta +cidade, foi, ainda creança, para casa d'um sapateiro, onde começou por +engraixar botins, remendar sapatos de gallegos e chinellos velhos, até +que, por meio das suas _habilidades_ e com a ajuda d'alguns patacos, que +os freguezes do mestre lhe davam de _molhadura_, quando lhes hia levar +as botas, pôde estabelecer-se e casar. Tendo já loja sua, fez-se +_carola_ por especulação, e tal era a _habilidade_ e a _ligeiresa de +mãos_ de que a natureza o dotára, que, dentro de poucos annos, achava-se +possuidor d'alguns contos de reis, arranjados ou empalmados nas +confrarias e irmandades, em que se mettia, como piolho por costura. Por +occasião da invasão franceza, uniu-se aos anarchistas, cujas _proezas_ +são bem sabidas n'esta cidade, e dentro em breve tempo montavam os seus +haveres a trinta mil cruzados, chegando a ser capitão dos bandoleiros do +_chuço_. Desde então, começou a trabalhar menos pelo officio, +mettendo-se a onzeneiro, e dando dinheiro a juros, com enormissimas +usuras; porém, o que n'este mister ganhára, levou-lh'o o diabo para as +mãos de um negociante, que, pouco depois, se declarou em estado de +fallencia. Estonteado com este revéz, teve o primeiro attaque de +estupôr, e começou desde então a andar quotidianamente pelas igrejas. +Era tão enthusiasta pelas idéas liberaes, que, no tempo do cêrco, foi +denunciar os moveis, pratas e mais objectos de valor pertencentes ao +fallecido snr. José Antonio (empregado na policia do Porto), que era seu +inquilino, e tinha acompanhado o exercito realista, achando-se, por +isso, ausente. Tudo foi sequestrado, e foi tal a raiva do sapateiro, +quando o Snr. D. Pedro deu a amnistia, mandando levantar os sequestros, +que ficou mais estuporado do que estava. Era tal a sua avareza, que, +tendo ainda uma boa fortuna, andava vestido como um mendigo, e seus +filhos não morriam de fartos, como é notorio pela visinhança. Estando +completamente estuporado e tonto, houve um delegado, que, por empenhos, +_ou pelo quer que fôsse_, o acceitou para editor da infame gazeta, +intitulada «_Portugal_», e com quanto não recebesse por isso dinheiro +(por estar tonto de todo) recebia-o por elle um filho, que ainda hoje é +caixeiro da _tripeça-gazetal_ da rua das Hortas. Nos ultimos tempos da +sua vida, tinha uma loja d'adeleiro na rua Formosa, onde continuava a +emprestar dinheiro sobre ouro, prata e roupas, com enormissima usura, +levando de juros, de cada cruzado novo, trinta e quarenta reis por mez, +o que equivale a _cento por cento ao anno_!!!... Falleceu d'uma +queda no dia 29 d'Outubro de 1851, testando duas moradas de casas, a +roupa e moveis da adella e algum dinheiro. + +_Deus se compadeça da sua alma._ + +Eis-aqui uns apontamentos para a byographia do miseravel sapateiro, +escriptos conscienciosamente, sem odio ou affeição. + +Agora, se querem desenganar-se da refinada hypocrisia e cynismo da +infame gazeta dos _farcistas_, comparem estes apontamentos com os que se +lêem no «_Portugal_» de 10 de Novembro de 1851: + + «O snr. José Ferreira da Silva, natural d'esta cidade, e filho de + paes pobres, mas honrados[1], acaba de descer á sepultura, no + cemiterio da ordem 3.ª de S. Francisco, com todas as honras funebres + e com mais de 80 annos d'edade. Era laborioso e de boas contas[2], e + tão amante de seus paes, que os teve em sua companhia até que + falleceram. Agenciára elle pelas suas economias o melhor de 25,000 + crusados[3] que empregou muito bem em promover a educação de sua + familia, e em obras pias[4]. Era tão apaixonado das confrarias[5] + que pertenceu a quasi todas as d'esta cidade, sendo provedor da de + S. Chrispim[6] definidor da 3.ª de S. Francisco, mesario e protector + de diversas outras. Serviu de juiz d'Artes[7], e foi capitão + d'ordenanças por occasião da invasão francesa[8]. Era muito estimado + e acolhido das principaes familias d'esta cidade[9]. A sua nimia boa + fé o fez ser victima d'uma quebra em que se fundiu a maior parte da + sua fortuna que tinha em mãos do quebrado[10]. O seu animo religioso + não se abateu com a adversidade, e hauriu perennes consolações no + bom desempenho dos seus deveres domesticos e no exercicio dos actos + religiosos, ouvindo missa quotidianamente, visitando o SS.mo + Sacramento, e assistindo ás numerosas funcções religiosas que se + celebram n'esta cidade. Era portuguez de velha tempera, e tão + decidido legitimista[11], que se offereceu para editor _gratuito do + Portugal_[12], e o foi com a melhor vontade até que Deus o chamou a + si[13]. Não o arredou nunca do seu honroso posto a bateria + d'insultos com que o mimosearam os nossos adversarios[14] que + estranhavam que um honrado popular fosse editor d'um periodico + legitimista, como se a legitimidade excluisse classes. No entanto á + borda da sepultura todos os collegas adversarios se portaram + cavalheirosamente com o nosso editor. Houve apenas uma excepção no + _Pobres_. Nós lhe perdoamos o seu cynismo em nome do fallecido. Pelo + que nos toca depositamos aqui um penhor eterno de gratidão e + respeito ao veneravel[15] ancião que nos escudou perante a lei, e + esperamos que na presença do Eterno advogará a nossa causa que é a + da justiça e do direito[16]. O nosso bom amigo falleceu d'uma queda + e testou com acerto[17], deixando uma viuva inconsolavel e uma filha + e um filho herdeiros de sua honra e virtudes[18]. _Deus o tenha á + sua vista_[19]. + +E que tal! Assim é que se engoda o povo, para lhe hir pilhando os +pataquinhos! É assim que o _Portugal-gazeta_ costuma dizer a verdade! + +Que honrada gente! E não lhes coram as faces, quando apparecem em +publico! + +Comparai estas amabilidades para com um miseravel sapateiro, estuporado +e tonto, com o grosseiro procedimento do snr. Francisco Candido para com +a «_Neta e Sobrinha de Reis_» procedimento que escandalisou muitos +realistas sensatos, que não comem nem querem comer a custa da illusão +dos povos. + +D'um lado uma consciencia tão larga, que fez do sapateiro um homem +honrado, piedoso, realista, &c. &c. Do outro uma consciencia tão +estreita e mesquinha, que se despede da Assemblea, porque a quasi +totalidade dos socios resolvêra obsequiar S. M. a Rainha!!! + +Parece-nos que não haverá ninguem que não suspeite qual é o fim d'estes +_fogachos facciosos_... + + Do direito fazem torto + Estes astutos velhacos; + Chamam gente a um asno morto... + Tal é o poder dos patacos!!! + +Uma das duas: ou o snr. Francisco Candido é o unico homem escrupuloso e +de convicções profundas, dos que escrevem no _Portugal_--ou pretende +enganar o povo. + +Se agarra na primeira ponta do dylemma--deve largar já a redacção do +infame _Portugal-gazeta_, fazendo assim a vontade ao padre Luiz, ao F. +da Velha, e ao garoto do pião.... Se agarra na segunda--tambem não +podêmos deixar de lhe dizer, que procure um modo de vida mais decente. + +Fóra d'ahi, snr. Francisco Candido! Um homem de probidade austéra não +póde, nem deve escrever na infame gazeta inaugurada sob a +responsabilidade do homem mais despresivel que existia no Porto. Fóra +d'ahi! Deixe o logar a esses scelerados que lh'o cobiçam. Fóra d'ahi, +que a questão, para elles, é só questão de dinheiro. Fóra d'ahi, se não +quer que o publico o tenha na mesma conta em que os tem a elles. + +Ignora, snr. Francisco Candido, que ahi se levam moedas pelas +correspondencias que, em sua defesa e em defesa do seu partido, mandam +lançar os proprios homens, a quem o _Portugal-gazeta_ chama seus +correligionarios e amigos!! O snr. Cachapuz que o informe... elle, que +aggredido pelo _Ecco Popular_, como auctoridade realista, teve de dar +bons pintos pela defesa que fez inserir na gazeta dos _farcistas_.--«_Um +pataco por linha e nada menos._» + +Não acontecia assim com a PATRIA, que nunca levou nem um real por +semelhantes correspondencias--porque o redactor da PATRIA[20] +não sabia ser gazeteiro, e o snr. Francisco Candido bem +conhece aquelles que o roubaram, abusando do seu demasiado cavalheirismo +e boa fé. + +Veja se gosta d'esta comparação, snr. Francisco Candido, e saiba (se o +ignora) o que é uma gazeta na mão d'um _negociante_. + +Agora, ouça mais duas palavras, e ouça-as tambem o povo, para ficar +completamente desenganado ácerca do _Portugal-gazeta_. + +Ha cousa d'um anno, appareceram no _Ecco Popular_ uns artigos infames +(cuja publicação foi provocada por uma polemica do infame +_Portugal-gazeta_) nos quaes se davam ao Tio da Rainha os nomes mais +injuriosos, e entre estes, o de _assassino_!!--O editor do _Ecco_ póde +dar testemunho dos esforços, que eu fiz, invocando a sua generosidade, +para que retirasse da discussão o augusto nome do infeliz exilado; mas, +apesar d'estes esforços, lá appareceram no infame _Portugal-gazeta_ umas +allusões torpes, involvendo a perfida insinuação de que era eu o auctor +de semelhantes artigos!--Um dia, ao cahir da noite, encontrei, na rua +dos Lavadouros, o snr. Francisco Candido de Mendoça e Mello, e +perguntei-lhe se já estava desenganado de que não eram meus os artigos. +Respondeu-me «que entre mim e elle (snr. Mendoça) não havia motivo algum +d'inimisade; que até algumas vezes havia dito que eu tinha razão de me +queixar do que acontecera com a PATRIA; e que elle (snr. Mendoça), +avisado do que se passára commigo, era redactor _independente_ do +«_Portugal_» e não recebia ordens de ninguem, nem mesmo quanto á +politica do jornal; que já se sabia que não eram meus os artigos em que +o Snr. D. Miguel era tão atrozmente calumniado; que as allusões, de que +eu me queixava, tinham nascido d'uma errada persuasão, e não de odio ou +vindicta.»--Fiquei _quasi_ satisfeito com a declaração do snr. Mendoça; +e para o ficar _completamente_, disse-lhe que era justo rectificar a +perfida insinuação que se fizera. Assim o julgou o snr. Mendoça, e assim +m'o prometteu; mas, até hoje, estou á espera do cumprimento da sua +promessa!--Quereria o snr. Mendoça cumpril-a, e serviriam d'obstaculo os +_negociantes de politica_, que já não é a primeira vez que negoceiam com +o meu credito, com o meu suor e com o meu sangue?... Fóra d'ahi, snr. +Mendoça! Um homem de probidade austera, não póde conservar essa +posição.--Olhe que não escrevo isto para augmentar os seus embaraços. +Sei que ha promessas solemnes de lhe apalpar as costas, e se os meus +pedidos valessem, eu pediria que ninguem fizesse caso da sua despedida +da Assemblea, das suas cartas, e do mais que se tem passado. + +........................................................................ + + Duas palavras ao snr. _Antonio Pinto Cardoso da Gama_, e peço tambem + para ellas a mais séria attenção do publico. + + O snr. _Gama_ é delegado do procurador regio na 2.ª vara, e debaixo + da sua alçada está a typographia do _Portugal-gazeta_. A mim não me + importa que o snr. _Gama_ deva obrigações a ninguem; o que desejo é + vêl-o applicar a lei igualmente a _amigos_ e adversarios. + + Snr. _Gama_: No dia 29 d'Outubro de 1851 falleceu o sapateiro José + Ferreira da Silva, que foi editor do _Portugal-gazeta_. Este infame + papel continuou a publicar-se _illegalmente_, até ao dia 10 de + Novembro, _debaixo da responsabilidade do fallecido_, e o snr. Gama + não procedeu, senão depois que eu requeri procedimento! Por fim, o + «_Portugal_» foi absolvido; mas o seu proprio defensor teve a + franqueza de me confessar que a sentença estava mal + fundamentada--porque a lei é muito clara e a infracção era muito + visivel! Eu sei tudo o que se passou com esse _decantado_ processo, + e calo-me por ora, mas hei-de fallar, e _fallar muito claro_, quando + fôr tempo para isso.... Agora, snr. Gama, vou mostrar-lhe quanto é + nociva a impunidade, e quanto é prejudicial que se não observem as + leis. + + O snr. Gama já sabe (porque o escripto se vende publicamente, e + devia ser-lhe remettido, na conformidade da lei), que na imprensa + dos _negociantes_ do _Portugal-gazeta_ se imprimiu um folheto + intitulado==_Descripção da viagem de SS. MM. desde que sahiram de + Lisboa até á sua entrada n'esta cidade._==Este folheto não traz o + nome da officina, como a lei manda, e a lei pune severamente esta + infracção, e a lei, snr. Gama, diz que qualquer pessoa do povo + poderá accusar os delegados, quando estes não cumprirem com o seu + dever.--Fico á espera, snr. Gama, e pouco me importa que o infame + _Portugal-gazeta_ me chame _denunciante_. Deus me livre de que elle + me chame homem honrado. As cousas tomam-se como da mão de quem veem. + Uma injuria na bôcca do immundo papel dos _farcistas_ é o maior + elogio que se me póde fazer.--Ao seu dispôr, snr. Gama. + + ................................................................... + + Já me vai faltando a paciencia, e creio que--para quem não for muito + estupido, muito hypocrita, muito desavergonhado ou muito + simplorio--já bastam os factos que deixo apontados para todos se + desenganarem de que o _Portugal-gazeta_ é uma tôrpe especulação + mercantil; que o editor, redactores e collaboradores só tractam + d'illudir o povo, para lhe irem comendo os patacos; e, em fim, que + publicam o papel mais infame que tem prostituido a imprensa; + + Porque o _Portugal-gazeta_ + + «................... pirata inico + Dos trabalhos alheios feito rico» + + --insulta a Rainha, e ao mesmo tempo imprime uma incomiastica + descripção da viagem ao Porto, com a mira nos _pataqinnhos_. + + Porque se finge victima d'uma perseguição acintosa, e encontra um + delegado mais macio do que velludo. + + Porque calumnÃa por gôsto, para especular com a honra, com o credito + e com o suor alheio. + + Porque se diz realista, e foi chuchando as moedas do snr. Cachapuz, + para o defender como auctoridade realista. + + Porque anda todos os dias a atirar á praça publica o nome do Tio da + Rainha, só pelo gôsto de o vêr desacatado pelas turbas, para depois + ganhar patacos com as suas defesas e comparações. + + Porque, finalmente, os que no _Portugal-gazeta_ se declaram hoje + defensores do Snr. D. Miguel--são os mesmos que hontem o cobriam + d'injurias, e lhe chamavam tyranno e usurpador. + + Este desengano é para aquelles que ainda acreditavam na boa fé do + _Portugal-gazeta_. Resta-me dar tambem um desengano aos _gazeteiros + farcistas_. + + Escusaes de andar com investigações, prohibindo os vossos empregados + de fallarem commigo--porque eu sei tudo o que se passa entre vós, e + fui avisado, em tempo competente, d'aquella proposta, que se fez em + certa reunião......................, de se darem algumas moedas a + quem..................... e folguei muito de que alguns cavalheiros + se portassem como verdadeiros fidalgos portuguezes, embora + illudidos, repellindo uma proposta tão miseravel. + + Podeis continuar a perseguir-me, que com isso só conseguis augmentar + a aversão que vos tenho. + + Este é o desforço que eu tiro das vossas provocações.--Tornai a + provocar-me, que eu cá fico a colligir a _papellada velha_.... + + Senhores do _Portugal-gazeta_, procurai bem entre os do vosso bando, + a vêr se encontraes os fabricadores de _moeda falsa_, de que ha + pouco vos queixastes... Já estaes calados?!.. Dar-vos-hiam para isso + alguma _moeda verdadeira_?... + + Senhores do _Portugal-gazeta_--silencio!... + + * * * * * + +Leitores, desculpai a duresa da phrase e a desigualdade do estylo. Este +folheto foi escripto ao correr da penna, e resente-se das alternativas +da minha vida.--Eu penso com Chateaubriand (sem possuir o seu talento) +que é uma loucura atirar com o meu nome ao meio da multidão;--comtudo +para que se não julgue que declino a responsabilidade, aqui pônho a +minha assignatura. + + +Porto 18 de Maio de 1852. + + _João Augusto Novaes Vieira._ + + + [1] Não podêmos deixar de fazer algumas annotações a este ridiculo + _apontoado_ d'imposturas.--Acreditariamos piamente que os paes do + sapateiro fossem muito probos, apesar de pobrissimos; mas, desde que + os _farcistas_ lhes chamam _honrados_, ficamos com nossas duvidas... + Deus nos livre de ser _honrado_ na bocca de semelhante _gentinha_... + + [2] Bastava que fôsse de tão boas contas como os que _tomaram á sua + conta_ a empreza da PATRIA... Arreda! + + [3] E que tal? Um sapateiro que, em poucos annos, arranja 25 mil + cruzados pelas _suas economias_, devia ser muito honrado... + + [4] Ninguem sabe que elle praticasse taes obras, senão os + _farcistas_ do «_Portugal-gazeta_.» + + [5] E como não seria apaixonado, se d'ellas é que _economisou_ o + dinheiro que tinha?... + + [6] Por ser a confraria dos sapateiros. + + [7] E era muito bom juiz, especialmente da arte do padre Antonio + Vieira. + + [8] Capitão dos bandoleiros do _chuço_, que assassinavam e roubavam + a torto e a direito, dando ás suas victimas o nome de _jacobinos_. + + [9] Pêta refinada. + + [10] Por _Diós_ veio, por _Diós_ foi. + + [11] Pois não! Todos os que forem ladrões, tractantes, calumniadores + e desavergonhados--são decididos _legitimistas_, na bôcca do + _Portugal-gazeta_. + + [12] Refinadissima pêta. + + [13] Foi uma occasião chamado á policia, _por impostura do + delegado_, e perguntado se era o editor do «_Portugal_» respondeu + primeiro que não sabia, e depois negativamente. Não obstante, + continuou a figurar como editor, contra a expressa determinação da + lei.--Quem quizer, que commente. + + [14] Se elle estava tonto de todo, que lhe havia de importar? + + [15] Miseravel e bem miseravel. O _Portugal-gazeta_ troca os nomes a + tudo. + + [16] Fóra, _farcistas_! + + [17] Ou alguem testou por elle.... quem sabe?... + + [18] Podéra não! + + [19] E lhe perdoe. _Amen._ + + [20] Falla-se do verdadeiro fundador e redactor do jornal, e não do + _doutor_ Cazimiro de Castro Neves, _que ainda tem saudades do tempo + em que jogava o seu pião_, como elle proprio disse em letra redonda, + não obstante as nossas advertencias. Disse tambem que era «_uma + pessoa physica_.» Veja-se, no diccionario de Moraes, a definição de + pessoa, e conhecer-se-ha que o tal _menino dos olhos azues_ é um + _doutorasso_.... no jogo do pião, que é jogo de garotos. + + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of O senhor Dom Miguel I, e a senhora +Dona Maria II, by João Augusto Novaes Vieira + +*** END OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK 30355 *** diff --git a/30355-h/30355-h.htm b/30355-h/30355-h.htm new file mode 100644 index 0000000..2a63406 --- /dev/null +++ b/30355-h/30355-h.htm @@ -0,0 +1,909 @@ +<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.0 Transitional//EN"> +<html lang="pt"> +<head> + <title>O Senhor Dom Miguel I, e a Senhora Dona Maria II, por João Augusto + Novaes Vieira</title> + <meta name="Author" content="João Augusto Novaes Vieira"> + <meta name="Publisher" content="Typografia de Sebastião José Pereira"> + <meta name="Date" content="1852"> + <meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=UTF-8"> + <style type="text/css"> + body{margin-left: 10%; + margin-right: 10%; + } + .pn { + text-indent: 0em; + position: absolute; + left: 92%; + font-size: smaller; + text-align: right; + color: silver; + } + #corpo p{text-align: justify; text-indent: 1em;} + h1, h2 {text-align: center; margin-top: 3em; margin-bottom: 2em;} + #corpo p.sinopse {margin: 0; font-size: small; text-indent: 0;} + hr.dotted {border: 0; border-bottom: dotted 2px #000;} + hr {border: 0; border-bottom: solid 2px;} + blockquote {margin: 0%; font-size: small;} + .rodape { + font-size: 0.8em; + margin: 2em; + } + </style> +</head> + +<body> +<div>*** START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK 30355 ***</div> + +<p> </p> + +<div style="text-align:center; border: solid 2px #000; padding: 1em;"> + +<p style="font-size: 2.5em;">O SENHOR DOM MIGUEL I,</p> + +<p style="font-size: 1.2em;">E</p> + +<p style="font-size: 2em;">A SENHORA DOM MARIA II.</p> + +<p style="font-size: 1.5em;">COMPARAÇÕES.—REFLEXÕES.—DESENGANO.</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p style="font-size: 1.5em;">PORTO:</p> + +<p><small><em>TYPOGRAPHIA DE SEBASTIÃO JOSÉ PEREIRA,</em></small><br> +<small>Praça de Sancta Thereza, n.º 28.</small><br> +1852.</p> +</div> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<blockquote style="width: 50%; margin-left: 50%;"> + <p>Não soffre muito a gente generosa<br> + Andar-lhe os cães os dentes amostrando.<br> + </p> + + <p style="text-align:right;"> C<small>AMÕES.—</small>O<small>S + </small>L<small>USIADAS.</small> </p> +</blockquote> + +<p><span class="pn">{3}</span></p> + +<div id="corpo"> +<p> </p> + +<p> </p> + +<h1><a name="SECTION00010000000000000000">PRIMEIRA PARTE.</a></h1> + +<h2><a name="SECTION00011000000000000000">COMPARAÇÕES.</a> </h2> + +<p>N'um folheto de 16 paginas, impresso na typographia da rua das Hortas, n.º +82 a 84, lêem-se umas comparações entre S. M. a Rainha e seu Augusto Tio.</p> + +<p>O folheto tem por titulo «<em>O Snr. Dom Miguel de Bragança e a Snr.ª Dona +Maria da Gloria—collecção dos artigos das comparações publicadas no</em> +«Portugal.»</p> + +<p>A introducção foi escripta pelo <em>doutor</em> Casimiro de Castro Neves, +natural de Louzada, e hoje residente em Lisboa.</p> + +<p>As <em>comparações</em> diz-se que as escrevera o snr. Francisco Candido de +Mendoça e Mello, bacharel da fornada de 1849, <em>natural de Bragança</em> e +residente no Porto.</p> + +<p>Francisco Pereira d'Azevedo é o editor e recebe os patacos do folheto.</p> + +<p>As comparações ei-las ahi:<span class="pn">{4}</span></p> + +<p>«O Snr. D. Miguel não póde admittir em sua companhia a Snr.ª D. Maria, +porque nada póde haver de commum entre ambos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel perseguiu os ladrões e assassinos; a Snr.ª D. Maria, diz o +<em>Ecco</em>, que se bandeou com elles.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel não perseguiu os seus amigos; a Snr.ª D. Maria tem +perseguido a todos, e com muita especialidade o marechal Saldanha.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel sahiu pobre do paiz, porque não roubava nem deixava +roubar; a Snr.ª D. Maria, diz o <em>Ecco</em>, que ha-de estar bem rica, e nós +tambem o dizemos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel sahiu rico das saudades e bençãos d'um povo que o adorava; +a Snr.ª D. Maria, se sahir, não leva poucas maldições e insultos, como póde +testemunhar quem tiver ouvidos para ouvir o que por ahi se diz, e olhos para +lêr os papeis que no paiz se publicam. Saudades é que realmente, não é só a +nós, que não deixa nenhumas!</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel demittiu magistrados por não serem limpos de mãos; a Snr.ª +D. Maria cobriu esses, e outros d'honras e dignidades.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel protegia e promovia tudo quanto era portuguez; a Snr.ª D. +Maria fazia o mesmo a tudo quanto era estrangeiro.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel conquistou Portugal com<span class="pn">{5}</span> a sua +pessoa <em>só</em>; a Snr.ª D. Maria com os estrangeiros de todos os paizes.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel viveu com a maior economia, e foi fiel aos seus +contractos; a Snr.ª D. Maria o contrario de tudo isto.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel entregou intactas as joias da corôa; a Snr.ª D. Maria +<em>consentiu</em> que não só se roubassem as de seu augusto Tio, se não ainda +que se lhe apoderassem dos bahus da sua roupa branca, que a Snr.ª Vadre lhe +conduzia, e que lhe usurpassem os seus bens proprios.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel enviou o brigue de guerra <em>Téjo</em>, commandado pelo +1.º tenente Caminha, ao Rio de Janeiro, levar aos seus parentes brasileiros a +herança de seus augustos parentes fallecidos; a Snr.ª D. Maria consentiu que +seu augusto Tio fosse defraudado não só da herança de seus augustos paes, senão +ainda de todo esbulhado da herança universal de sua augusta irman fallecida em +Santarem.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel sustentou sempre os criados da casa real, ainda os de +opinião contraria; a snr.ª D. Maria pô-los todos na rua, substituindo muitos +por estrangeiros, e deixou morrer á fome as criadas da Snr.ª D. Maria 1.ª +escapando sómente as netas do famoso João Pinto Ribeiro, que tanto concorreu +para elevar a casa de Bragança ao throno; porque os legitimistas tomaram a si o +seu parco sustento.<span class="pn">{6}</span></p> + +<p>«O Snr. D. Miguel tratou sempre bem as familias dos presos politicos, como +póde testemunhar entre outras a filha de Pedro de Mello Breyner; a Snr.ª D. +Maria tratou muitas como a esposa do conde de Villa Real, D. Fernando, que +regressou do paço moribunda.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel não consentiu nunca que nos actos officiaes se insultassem +os seus parentes brasileiros; a Snr.ª D. Maria tem <em>consentido</em> que +nesses mesmos se insulte constantemente seu augusto Tio.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel augmentou o patrimonio real; a Snr.ª D. Maria tem-no +dissipado, alienado e destruido.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel nunca mandou festejar os dias em que portuguezes +derramaram o sangue de portuguezes; a Snr. D. Maria não só consentiu que se +festejassem esses dias, senão ainda aquelles em que estrangeiros mataram +portuguezes e tomaram navios portuguezes.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel escolheu para ministros d'estado homem de inconcussa +probidade e limpeza de mãos; a Snr.ª D. Maria escolheu os caracteres mais +corrompidos e corruptores que havia no reino, e expoz-se a sete revoluções para +sustentar, a despeito da opinião publica nacional e estrangeira, o homem mais +detestavel que tem produzido a nossa terra—o homem que roubou +descaradamente—o maior dos concussionarios—o<span class="pn">{7}</span> +valido mais torpe—o homem de <em>Queen's bench</em>—<em>o conde de +Thomar</em>!</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel fez respeitar sempre o palacio de nossos reis; a Snr.ª D. +Maria fê-lo descer até onde não podia descer mais.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel foi compadre de muitos bravos soldados de seu exercito; a +Snr.ª D. Maria foi comadre do villão mais cobarde que havemos conhecido.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel escolheu para diplomaticos os homens mais conspicuos e +probos do paiz; a Snr.ª D. Maria escolheu <em>muitos</em> contrabandistas e +ladrões descarados.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel não podia pôr pé fóra do paço que não o acompanhassem +ondas de portuguezes; a Snr.ª D. Maria tem atravessado Lisboa e as provincias +no meio d'um silencio sepulchral.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel respeitou sempre os bispos, ainda os que eram indigitados +de contrarios á sua opinião; a Snr.ª D. Maria consentiu que os perseguissem +todos, e ainda ha alguns no exilio.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel queria reformar as ordens religiosas, e de accôrdo com a +Sé romana nomeou reformadores; quem governava em nome da Snr.ª D. Maria +destruiu-as, e expulsou os seus membros, depois de esbulhados de quanto +possuiam.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel era escravo da opinião publica;<span class="pn">{8}</span> +a Snr.ª D. Maria sempre a tem despresado, tornando-se necessaria uma revolução +para se mudarem os ministros corruptos e corruptores.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel foi chamado ao throno pelas antigas leis da monarchia, +applicadas por tribunaes que não creou; a Snr.ª D. Maria foi chamada ao throno +por uma carta de lei, feita expressamente para este fim pelo imperador do +Brazil, seu pae, e applicada por bayonetas estrangeiras.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel estava em Vienna á morte de seu augusto pae, e foi +proclamado e sustentado pela maioria da nação com as armas na mão, sendo +necessario vir o exercito de Clinton para que lh'as podessem arrancar; a Snr.ª +D. Maria só teve por si, na maxima parte, os estrangeiros que cobiçavam as +preciosidades das egrejas e dos conventos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel vestiu e calçou os seus soldados com objectos portuguezes; +a Snr.ª D. Maria mandou vir para os seus fardamento e calçado da Inglaterra, +pesando-lhe por não poder mandar vir de lá tambem a agua para se lavar.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel apesar da amizade que o ligava a seu Tio Fernando 7.º, +recusou entregar-lhe os refugiados politicos hespanhoes, e pagou-lhes a +passagem para sahirem livremente do paiz; a Snr.ª D. Maria consentiu que +assassinassem no paiz alguns emigrados carlistas, conservou outros<span +class="pn">{9}</span> em duros ferros, e entregou alguns para serem +garrotados.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel empregou muitos constitucionaes, sómente porque tinham +merecimento; a Snr.ª D. Maria não só demittiu todos os legitimistas, senão +ainda que tem demittido aquelles que por ella se teem sacrificado.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel vestia e calçava objectos portuguezes; a Snr.ª D. Maria +até manda engommar a roupa a Inglaterra.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel, do que produziam as quintas reaes, distribuia +gratuitamente aos seus criados, e ao povo; a Snr.ª D. Maria não só destruiu a +matta dos buxos de Queluz para ser vendida aos torneiros, senão ainda mandava +vender á praça até salsa e hortelan.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel folgava de fazer cultivar as terras da corôa, e de ser o +primeiro lavrador de Portugal; a Snr.ª D. Maria alienou tudo na maxima parte, e +o que não alienou, arrendou ou deu ao seu valido.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel tratava com esmero a formosa raça d'Alter; a Snr.ª D. +Maria mandou vender tudo, até mesmo os cavallos e muares da casa real, +conservando apenas alguns poucos rabões inglezes e hanoverianos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel respeitou o banco, apesar de lá estarem os fundos dos seus +contrarios, e de ser administrado pelos seus adversarios politicos;<span +class="pn">{10}</span> a Snr.ª D. Maria fez-lhe crua guerra.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel reconheceu os emprestimos feitos para debellar os +principios que o elevaram ao throno; a Snr.ª D. Maria não quiz reconhecer nunca +o emprestimo do Snr. D. Miguel contrahido para matar a fome aos empregados +publicos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel tinha captado de tal sorte o amor dos soldados, que apesar +de rotos, descalços, famintos, e quebrantados de uma lucta tão prolongada, +quebravam as armas que os estrangeiros vinham arrancar-lhes das mãos; a Snr.ª +D. Maria tem contrariado de tal modo os sentimentos do paiz, e alienado as +affeições dos seus mesmos, que em todas as contendas vê rarear as suas fileiras +de soldados que vão engrossar as dos contrarios.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel tinha e queria sómente os empregados necessarios; a Snr.ª +D. Maria consentiu que se arvorasse ametade do reino em empregados para devorar +outra ametade.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel fez-se idolatrar a tal ponto do povo, e do exercito, que +até os seus mesmos adversarios o reconheciam a ponto de lhe cantarem:</p> + +<blockquote style="width: 50%; margin-left: 25%;"> + <em>Quanto mais a fome aperta<br> + Mais se canta o rei chegou:</em></blockquote> + +<p style="text-indent: 0;">e não tem bastado a longa ausencia de dezesete<span +class="pn">{11}</span> annos para destruir as affeições e esperanças dos +portuguezes; a Snr.ª D. Maria tem-se feito detestar dos seus mesmos, e o que é +maior desgraça ainda o seu nome está sendo coberto de improperios. </p> + +<p>«O que se tem dito do Snr. D. Miguel, diz-se de todos os monarchas +decahidos; porém o que se diz da Snr.ª D. Maria, diz-se de pouquissimas rainhas +no throno.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel, quando viu que a lucta só concorria para derramar sangue +portuguez inutilmente, e acarretar desgraças inevitaveis ao paiz, porque parte +da Europa dormia á beira da abysmo, e a outra parte estava colligada contra +elle, convencionou em Evora-Monte, estipulando que se respeitasse a vida e +propriedade dos seus, e que se lhe désse a elle, que de tudo era privado, uma +parca subsistencia; quem governava pela Snr.ª D. Maria, desconheceu logo a +convenção que tambem fôra assignada pela <em>leal</em> Inglaterra—condemnou ao +ostracismo e á fome o Principe generoso e uma grande parte da nação +portugueza—fez derramar ondas de sangue portuguez, e com a nefanda lei das +indemnisações esbulhou da propriedade quem a tinha—a Snr.ª D. Maria acceitou a +herança de todos estes maleficios, e <em>consentiu</em> que +continuassem—applicou-os depois aos seus mesmos, e pretende conservar-se no +throno a risco de perder a dynastia.<span class="pn">{12}</span></p> + +<p>«O Snr. D. Miguel rejeitou as propostas de Christina Munhoz de fazer entrar +o exercito de Rodil em seu auxilio, e de o casar com uma sua irman se mandasse +sahir D. Carlos de Portugal; a Snr.ª D. Maria não só tem acceitado todas as +propostas para se firmar no throno, se não ainda as tem deprecado, subindo até +lá nos braços de Rodil e Parker, e sendo sustentada por Concha e Maitland, +executores, do famoso <em>protocollo</em>, e se os estrangeiros se não +oppozerem agora á sua sahida, e ella se verificar, como dizem, são os +portuguezes quem a poem fóra a contento do clero, nobreza e povo!</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel não gastava ao thesouro annualmente acima de 20 contos de +reis; a Snr.ª D. Maria gasta ao <em>misero</em> e <em>defecado</em> Portugal +365 contos de reis por anno, e ainda 100 contos para seu marido, afóra as +dezenas e dezenas de contos para seus filhos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel conservou a Tapada real de Villa Viçosa, na mesma grandeza +com que seus augustos predecessores a tiveram; a Snr.ª D. Maria manda vender as +lenhas e as estevas, que todos os dias d'ahi sahem em abundancia para Borba e +Villa Viçosa, e n'esta ultima terra tem um açougue publico de carne de veado e +gamo, que os seus criados todos os dias matam na tapada; negoceia-se com a +bolota, com as pelles dos veados, e até com os chifres!»<span +class="pn">{13}</span></p> + +<p>E então, não fallam bem destravadamente estes ridiculos fanfarrões?.. Elles, +os selvagens, que ainda ha poucos annos <em>tinham mêdo d'apparecer no +Porto</em>, não estão agora, com as suas roncas, armando aos patacos dos +papalvos?... E cuidaes que é um acto de valor pessoal—que é, ao menos, uma +temeridade que praticam?... Nada d'isso.—Não será verdade que elles mesmos +andam por ahi a dar a explicação do seu arrojo, assoalhando, com espantoso +cynismo, os presentes que fazem ao snr. <em>delgado</em>—vangloriando-se dos +bellos córtes de panno da Belgica, que lhe remettem, e dos bellos pintos, que +elle lhes chucha?...</p> + +<p>Diga-o... quem o souber—e no entanto passemos á</p> + +<h1><a name="SECTION00020000000000000000">SEGUNDA PARTE.</a></h1> + +<h2><a name="SECTION00021000000000000000">REFLEXÕES.</a></h2> + +<p><em>Quem diz o que quer, ouve o que não quer.</em> Assim reza um adagio, +que, pela sua antiguidade, merece, por certo, a approvação dos +<em>escribleros</em> do «<em>Portugal</em>.»<span class="pn">{14}</span></p> + +<blockquote> + <p>«O Snr. D. Miguel—dizem elles—não póde admittir na sua companhia a Snr.ª + D. Maria.» </p> +</blockquote> + +<p>E é verdade. Não póde—porque assim o quizeram meia duzia de +sanguinarios—meia duzia d'aristocratas estupidos—meia duzia de fradalhões +devassos—meia duzia d'ambiciosos e algumas duzias de scelerados, que, entre o +Tio e a Sobrinha, cavaram um abysmo insondavel, precipitando n'esse abysmo o +infeliz Portugal,—não o ridiculo e o infame «<em>Portugal</em>» de que foi +editor um sapateiro demente e estuporado—de que é editor e especulador um +negociante de <em>algo</em>-<small>DÃO</small>—mas este Portugal de sete +seculos, esta nação que se envergonha de ter no seu seio um bando de selvagens +e desavergonhados, um bando de parasytas, um bando de zangões e +empalmadores.</p> + +<blockquote> + <p>«O Snr. D. Miguel perseguiu os ladrões e assassinos.»</p> +</blockquote> + +<p>Mentis, senhores da <em>tripeça-gazetal</em>, e mentis como perros.—O Snr. +D. Miguel teve desejos de fazer punir os ladroes—mas os ladroes cercavam-no +por toda a parte, e como andavam <em>mascarados</em>, era difficil +conhecêl-os</p> + +<blockquote> + <p>«O Snr. D. Miguel não perseguiu os seus amigos—a Snr.ª D. Maria tem + perseguido a todos.»</p> +</blockquote> + +<p>Mentis, e mentis com o damnado fim de amargurar a existencia do infeliz +Principe, que<span class="pn">{15}</span> chora no exilio os negros crimes de +que vós e os vossos o fizeram victima.—O Snr. D. Miguel não queria perseguir +os seus amigos mas perseguiu-os o estupido bando de scelerados, a que vós +pertenceis.—Lembrai-vos de que escreveis no Porto, senhores do +«<em>Portugal</em>» e que no Porto, no tempo em que vós dominaveis, foram +cacetados, indistinctamente, liberaes e realistas—ainda mais, no Porto foram +cacetadas as proprias auctoridades constituidas em nome do Snr. D. Miguel.—É +aqui bem publico e notorio que o corregedor do crime foi cacetado, no largo do +Carmo, pelos soldados do 12, e como lhes gritasse «Senhores, eu sou o +corregedor!»—«É por isso mesmo!»—lhes tornavam elles—redobrando com nova +furia as cacetadas.—É aqui bem sabido que n'esse tempo bastavam tres +testemunhas das de quartilho de vinho—para se levar um homem á forca;—bastava +alcunhar qualquer realista de <em>malhado</em>, para o vêr martyrisar por essas +ruas;—bastava calumniar alguém, chamando-lhe <em>pedreiro-livre</em>, para o +vêr gemer n'uma cadêa.—Podiamos aqui escrever um longo capitulo +d'historia—que vós fingis ignorar—mas poupamo-nos a esse trabalho, porque +fallamos no meio d'uma cidade onde todos sabem quantos realistas gemeram nas +cadêas por vinganças particulares—quantos caloteiros se fingiam realistas para +perseguir os seus crédores—quantos<span class="pn">{16}</span> ladrões se +infeitavam com o tope azul e vermelho, para atterrarem aquelles a quem tinham +roubado.—Era n'esse tempo que o vosso chefe d'então e vosso chefe d'agora—o +scelerado fradalhão Luiz................. levava a tiro de pistola as mulheres +que se não dobravam aos seus desenfreados appetites;—era n'esse tempo que +elle, o malvado <em>pedréca</em>, arranjava empregos para os paes, a troco da +deshonra das filhas;—era, finalmente n'esse tempo, que muitos bandoleiros se +acobertavam com o nome d'amigos do Snr. D. Miguel, para o tornarem odioso, e +para augmentarem, como augmentaram, o partido liberal.—E ainda hoje continuaes +a acobertar os vossos crimes com o nome do infeliz Principe, trazendo-o para a +discussão a todo o proposito; e ainda hoje continuaes a perseguição aos seus +melhores e mais leaes amigos.—Aqui estamos nós—nós que fomos emballados na +affeição mais pura á pessoa do Snr. D. Miguel—nós, que, pensando servil-o, +temos constantemente sacrificado o nosso futuro e arriscado a nossa vida,—e +que hoje, desenganados, só pedimos a Deus que o Augusto Exilado não caia de +novo nas vossas mãos—porque seria um instrumento de perseguição e de morte +para metade dos filhos d'esta terra;—nós, em fim, que podemos dar testemunho +da vossa ferocidade. E porque nos perseguistes vós?... Porque não<span +class="pn">{17}</span> pudémos deixar-nos roubar, sem que gritassemos +<em>aqui-d'el-rei</em> sobre os ladrões, denunciando-os ao publico, de viva-voz +e pela imprensa.</p> + +<p>Calai-vos, <em>honrada-gente</em>!... calai-vos, que é esse o maior serviço +que podeis fazer ao Snr. D. Miguel de Bragança.</p> + +<p>Não nos daremos agora ao infadônho trabalho de reflectir sobre cada uma das +vossas <em>comparações</em>—talvez o façamos, se continuardes a provocar-nos; +no entanto, sempre vos repetiremos que é damnada a intenção com que comparaes +S. M. a Rainha com seu Augusto Tio, attribuindo a este alguns actos, com que +pretendeis acobertar os vossos crimes, e áquella alguns erros, de que não póde +nem deve ser responsavel—porque reina e <em>não governa</em>, como acontece a +todos os Monarchas constitucionaes.—O que vós quereis—não nos cançamos de o +dizer—é fazer pesar sobre o Snr. D. Miguel a responsabilidade de todos os +assassinios, de todos os roubos, de todas as tropellias, de todas as +perseguições, que praticastes em seu nome.</p> + +<p>As vossas comparações—se não fôsse bem conhecida a damnada intenção com que +são feitas—só serviriam para tornar odioso o nome do Augusto Tio da Soberana. +</p> + +<p>Se a Senhora Dona Maria II deve ser responsavel—como Rainha +constitucional—pelos actos do seu governo, como vós quereis; é assaz<span +class="pn">{18}</span> logico, é concludentissimo, que o Snr. D. Miguel—como +Rei absoluto—é o unico responsavel por todos os erros, por todos os crimes, +que em seu nome praticou esse bando de scelerados a que pertence o +«<em>Portugal</em>.»</p> + +<p>Não illudaes o povo, <em>honrados homens</em>!... não especuleis com a +ignorancia das turbas...</p> + +<p>O Snr. D. Miguel I foi Rei absoluto, e comtudo não deve ser responsavel por +muitos crimes, que se praticaram em seu nome, e que elle ainda hoje ignora.</p> + +<p>A Snr.ª D. Maria II é Rainha constitucional, e n'esta qualidade +irresponsavel pelos actos do seu governo.</p> + +<p>Portanto, as <em>comparações</em> do «<em>Portugal</em>» são filhas da mais +refinada hypocrisia e estupidez, e tendentes só a desacreditar o Augusto +Exilado.</p> + +<p>Estaes ahi a fingir-vos victimas da perseguição dos agentes do governo, e se +houvesse <em>um delegado</em>, que soubesse cumprir com o seu dever, como vos +attreverieis vós a asseverar pela imprensa, que a Soberana manda vender salsa e +hortelã!!! e que negoceia com bolota, com pelles e até com chifres???!!!!... +</p> + +<p>Senhores do «<em>Portugal</em>» não falleis em <em>chifres</em>, que se ri o +povo.... não falleis em <em>salsa</em> e <em>hortelã</em>, que deitaes por +terra, por vossas proprias mãos, essas <em>salsadas</em> que escreveis no vosso +despresivel papel.<span class="pn">{19}</span></p> + +<p>Silencio!... e deixai-nos respirar um pouco, antes de passarmos á</p> + +<h1><a name="SECTION00030000000000000000">TERCEIRA PARTE.</a></h1> + +<h2><a name="SECTION00031000000000000000">DESENGANO.</a></h2> + +<p>Quem ouvir desprevenido as <em>roncas</em> do «<em>Portugal</em>»—quem lêr +as suas <em>lamentações</em>—ha-de julgar que alli ha convicções profundas—um +valor a toda a prova—uma resignação para o martyrio.</p> + +<p>Pois se ha quem tal pense, está completamente enganado.</p> + +<p>O «<em>Portugal</em>» é uma especulação mercantil de Francisco Pereira +d'Azevedo—mais vulgarmente conhecido pelas alcunhas de Ignez das Hortas e de +Francisco da Velha.</p> + +<p>O snr. Francisco é ao mesmo tempo editor, proprietario da imprensa e da +gazeta, e negociante de <em>algo</em>-<small>DÃO</small>.</p> + +<p>A gazeta intitula-se realista, e não é mais do que <em>farcista</em>. É a +mesma gazeta de que foi editor o sapateiro José Ferreira da Silva.</p> + +<p>Sabemos que nas provincias ha muita gente que não quer acreditar, que um +miseravel sapateiro, estuporado e tonto, fosse o editor da gazeta dos +<em>fidalgos velhos</em>, do periodico da aristocracia de <em>sangue azul</em>! +Pois, para que se desenganem,<span class="pn">{20}</span> aqui lhes vamos dar +alguns apontamentos para uma byographia do sapateiro, primeiro editor do +«<em>Portugal</em>.»</p> + +<p>José Ferreira da Silva, filho de paes pobrissimos, e natural d'esta cidade, +foi, ainda creança, para casa d'um sapateiro, onde começou por engraixar +botins, remendar sapatos de gallegos e chinellos velhos, até que, por meio das +suas <em>habilidades</em> e com a ajuda d'alguns patacos, que os freguezes do +mestre lhe davam de <em>molhadura</em>, quando lhes hia levar as botas, pôde +estabelecer-se e casar. Tendo já loja sua, fez-se <em>carola</em> por +especulação, e tal era a <em>habilidade</em> e a <em>ligeiresa de mãos</em> de +que a natureza o dotára, que, dentro de poucos annos, achava-se possuidor +d'alguns contos de reis, arranjados ou empalmados nas confrarias e irmandades, +em que se mettia, como piolho por costura. Por occasião da invasão franceza, +uniu-se aos anarchistas, cujas <em>proezas</em> são bem sabidas n'esta cidade, +e dentro em breve tempo montavam os seus haveres a trinta mil cruzados, +chegando a ser capitão dos bandoleiros do <em>chuço</em>. Desde então, começou +a trabalhar menos pelo officio, mettendo-se a onzeneiro, e dando dinheiro a +juros, com enormissimas usuras; porém, o que n'este mister ganhára, levou-lh'o +o diabo para as mãos de um negociante, que, pouco depois, se declarou em estado +de fallencia. Estonteado com este revéz,<span class="pn">{21}</span> teve o +primeiro attaque de estupôr, e começou desde então a andar quotidianamente +pelas igrejas. Era tão enthusiasta pelas idéas liberaes, que, no tempo do +cêrco, foi denunciar os moveis, pratas e mais objectos de valor pertencentes ao +fallecido snr. José Antonio (empregado na policia do Porto), que era seu +inquilino, e tinha acompanhado o exercito realista, achando-se, por isso, +ausente. Tudo foi sequestrado, e foi tal a raiva do sapateiro, quando o Snr. D. +Pedro deu a amnistia, mandando levantar os sequestros, que ficou mais +estuporado do que estava. Era tal a sua avareza, que, tendo ainda uma boa +fortuna, andava vestido como um mendigo, e seus filhos não morriam de fartos, +como é notorio pela visinhança. Estando completamente estuporado e tonto, houve +um delegado, que, por empenhos, <em>ou pelo quer que fôsse</em>, o acceitou +para editor da infame gazeta, intitulada «<em>Portugal</em>», e com quanto não +recebesse por isso dinheiro (por estar tonto de todo) recebia-o por elle um +filho, que ainda hoje é caixeiro da <em>tripeça-gazetal</em> da rua das Hortas. +Nos ultimos tempos da sua vida, tinha uma loja d'adeleiro na rua Formosa, onde +continuava a emprestar dinheiro sobre ouro, prata e roupas, com enormissima +usura, levando de juros, de cada cruzado novo, trinta e quarenta reis por mez, +o que equivale a <em>cento por cento ao anno</em>!!!... Falleceu<span +class="pn">{22}</span> d'uma queda no dia 29 d'Outubro de 1851, testando duas +moradas de casas, a roupa e moveis da adella e algum dinheiro.</p> + +<p><em>Deus se compadeça da sua alma.</em></p> + +<p>Eis-aqui uns apontamentos para a byographia do miseravel sapateiro, +escriptos conscienciosamente, sem odio ou affeição.</p> + +<p>Agora, se querem desenganar-se da refinada hypocrisia e cynismo da infame +gazeta dos <em>farcistas</em>, comparem estes apontamentos com os que se lêem +no «<em>Portugal</em>» de 10 de Novembro de 1851:</p> + +<blockquote> + <p>«O snr. José Ferreira da Silva, natural d'esta cidade, e filho de paes + pobres, mas honrados<a name="tex2html1" href="#foot244"><sup>[1]</sup></a>, + acaba de descer á sepultura, no cemiterio da ordem 3.ª de S. Francisco, com + todas as honras funebres e com mais de 80 annos d'edade. Era laborioso e de + boas contas<a name="tex2html2" href="#foot245"><sup>[2]</sup></a>, e tão + amante de seus paes, que os teve em sua companhia até que falleceram. + Agenciára elle pelas suas economias o melhor de 25,000 crusados<a + name="tex2html3" href="#foot246"><sup>[3]</sup></a> que empregou muito bem em + promover a educação<span class="pn">{23}</span> de sua familia, e em obras + pias<a name="tex2html4" href="#foot247"><sup>[4]</sup></a>. Era tão + apaixonado das confrarias<a name="tex2html5" + href="#foot248"><sup>[5]</sup></a> que pertenceu a quasi todas as d'esta + cidade, sendo provedor da de S. Chrispim<a name="tex2html6" + href="#foot150"><sup>[6]</sup></a> definidor da 3.ª de S. Francisco, mesario + e protector de diversas outras. Serviu de juiz d'Artes<a name="tex2html7" + href="#foot151"><sup>[7]</sup></a>, e foi capitão d'ordenanças por occasião + da invasão francesa<a name="tex2html8" href="#foot249"><sup>[8]</sup></a>. + Era muito estimado e acolhido das principaes familias d'esta cidade<a + name="tex2html9" href="#foot154"><sup>[9]</sup></a>. A sua nimia boa fé o fez + ser victima d'uma quebra em que se fundiu a maior parte da sua fortuna que + tinha em mãos do quebrado<a name="tex2html10" + href="#foot250"><sup>[10]</sup></a>. O seu animo religioso não se abateu com + a adversidade, e hauriu perennes consolações no bom desempenho dos seus + deveres domesticos e no exercicio dos actos religiosos, ouvindo missa + quotidianamente, visitando o SS.<sup>mo</sup> Sacramento, e assistindo ás + numerosas funcções religiosas que se celebram n'esta cidade. Era portuguez de + velha tempera, e tão decidido legitimista<a name="tex2html11" + href="#foot252"><sup>[11]</sup></a>, que se offereceu para editor + <em>gratuito do Portugal</em><a name="tex2html12" + href="#foot161"><sup>[12]</sup></a>, e o foi com a melhor vontade até que + Deus o chamou a si<a name="tex2html13" href="#foot253"><sup>[13]</sup></a>. + Não o arredou<span class="pn">{24}</span> nunca do seu honroso posto a + bateria d'insultos com que o mimosearam os nossos adversarios<a + name="tex2html14" href="#foot164"><sup>[14]</sup></a> que estranhavam que um + honrado popular fosse editor d'um periodico legitimista, como se a + legitimidade excluisse classes. No entanto á borda da sepultura todos os + collegas adversarios se portaram cavalheirosamente com o nosso editor. Houve + apenas uma excepção no <em>Pobres</em>. Nós lhe perdoamos o seu cynismo em + nome do fallecido. Pelo que nos toca depositamos aqui um penhor eterno de + gratidão e respeito ao veneravel<a name="tex2html15" + href="#foot254"><sup>[15]</sup></a> ancião que nos escudou perante a lei, e + esperamos que na presença do Eterno advogará a nossa causa que é a da justiça + e do direito<a name="tex2html16" href="#foot255"><sup>[16]</sup></a>. O nosso + bom amigo falleceu d'uma queda e testou com acerto<a name="tex2html17" + href="#foot168"><sup>[17]</sup></a>, deixando uma viuva inconsolavel e uma + filha e um filho herdeiros de sua honra e virtudes<a name="tex2html18" + href="#foot169"><sup>[18]</sup></a>. <em>Deus o tenha á sua vista</em><a + name="tex2html19" href="#foot256"><sup>[19]</sup></a>.</p> +</blockquote> + +<p>E que tal! Assim é que se engoda o povo, para lhe hir pilhando os +pataquinhos! É assim que o <em>Portugal-gazeta</em> costuma dizer a verdade! +</p> + +<p>Que honrada gente! E não lhes coram as faces, quando apparecem em +publico!<span class="pn">{25}</span></p> + +<p>Comparai estas amabilidades para com um miseravel sapateiro, estuporado e +tonto, com o grosseiro procedimento do snr. Francisco Candido para com a +«<em>Neta e Sobrinha de Reis</em>» procedimento que escandalisou muitos +realistas sensatos, que não comem nem querem comer a custa da illusão dos +povos.</p> + +<p>D'um lado uma consciencia tão larga, que fez do sapateiro um homem honrado, +piedoso, realista, &c. &c. Do outro uma consciencia tão estreita e +mesquinha, que se despede da Assemblea, porque a quasi totalidade dos socios +resolvêra obsequiar S. M. a Rainha!!!</p> + +<p>Parece-nos que não haverá ninguem que não suspeite qual é o fim d'estes +<em>fogachos facciosos</em>...</p> + +<blockquote style="width: 50%; margin-left: 25%;"> + Do direito fazem torto<br> + Estes astutos velhacos;<br> + Chamam gente a um asno morto...<br> + Tal é o poder dos patacos!!!</blockquote> + +<p>Uma das duas: ou o snr. Francisco Candido é o unico homem escrupuloso e de +convicções profundas, dos que escrevem no <em>Portugal</em>—ou pretende +enganar o povo.</p> + +<p>Se agarra na primeira ponta do dylemma—deve largar já a redacção do infame +<em>Portugal-gazeta</em>, fazendo assim a vontade ao padre Luiz, ao F. da +Velha, e ao garoto do pião.... Se<span class="pn">{26}</span> agarra na +segunda—tambem não podêmos deixar de lhe dizer, que procure um modo de vida +mais decente.</p> + +<p>Fóra d'ahi, snr. Francisco Candido! Um homem de probidade austéra não póde, +nem deve escrever na infame gazeta inaugurada sob a responsabilidade do homem +mais despresivel que existia no Porto. Fóra d'ahi! Deixe o logar a esses +scelerados que lh'o cobiçam. Fóra d'ahi, que a questão, para elles, é só +questão de dinheiro. Fóra d'ahi, se não quer que o publico o tenha na mesma +conta em que os tem a elles.</p> + +<p>Ignora, snr. Francisco Candido, que ahi se levam moedas pelas +correspondencias que, em sua defesa e em defesa do seu partido, mandam lançar +os proprios homens, a quem o <em>Portugal-gazeta</em> chama seus +correligionarios e amigos!! O snr. Cachapuz que o informe... elle, que +aggredido pelo <em>Ecco Popular</em>, como auctoridade realista, teve de dar +bons pintos pela defesa que fez inserir na gazeta dos +<em>farcistas</em>.—«<em>Um pataco por linha e nada menos.</em>»</p> + +<p>Não acontecia assim com a P<small>ATRIA</small>, que nunca levou nem um real +por semelhantes correspondencias—porque o redactor da P<small>ATRIA</small><a +name="tex2html20" href="#foot257"><sup>[20]</sup></a><span +class="pn">{27}</span> não sabia ser gazeteiro, e o snr. Francisco Candido bem +conhece aquelles que o roubaram, abusando do seu demasiado cavalheirismo e boa +fé.</p> + +<p>Veja se gosta d'esta comparação, snr. Francisco Candido, e saiba (se o +ignora) o que é uma gazeta na mão d'um <em>negociante</em>.</p> + +<p>Agora, ouça mais duas palavras, e ouça-as tambem o povo, para ficar +completamente desenganado ácerca do <em>Portugal-gazeta</em>.</p> + +<p>Ha cousa d'um anno, appareceram no <em>Ecco Popular</em> uns artigos infames +(cuja publicação foi provocada por uma polemica do infame +<em>Portugal-gazeta</em>) nos quaes se davam ao Tio da Rainha os nomes mais +injuriosos, e entre estes, o de <em>assassino</em>!!—O editor do <em>Ecco</em> +póde dar testemunho dos esforços, que eu fiz, invocando a sua generosidade, +para que retirasse da discussão o augusto nome do infeliz exilado; mas, apesar +d'estes esforços, lá appareceram no infame <em>Portugal-gazeta</em> umas +allusões torpes, involvendo a perfida insinuação de que era eu o auctor de +semelhantes artigos!—Um dia, ao cahir da noite, encontrei, na rua dos +Lavadouros, o snr. Francisco<span class="pn">{28}</span> Candido de Mendoça e +Mello, e perguntei-lhe se já estava desenganado de que não eram meus os +artigos. Respondeu-me «que entre mim e elle (snr. Mendoça) não havia motivo +algum d'inimisade; que até algumas vezes havia dito que eu tinha razão de me +queixar do que acontecera com a P<small>ATRIA</small>; e que elle (snr. +Mendoça), avisado do que se passára commigo, era redactor <em>independente</em> +do «<em>Portugal</em>» e não recebia ordens de ninguem, nem mesmo quanto á +politica do jornal; que já se sabia que não eram meus os artigos em que o Snr. +D. Miguel era tão atrozmente calumniado; que as allusões, de que eu me +queixava, tinham nascido d'uma errada persuasão, e não de odio ou +vindicta.»—Fiquei <em>quasi</em> satisfeito com a declaração do snr. Mendoça; +e para o ficar <em>completamente</em>, disse-lhe que era justo rectificar a +perfida insinuação que se fizera. Assim o julgou o snr. Mendoça, e assim m'o +prometteu; mas, até hoje, estou á espera do cumprimento da sua +promessa!—Quereria o snr. Mendoça cumpril-a, e serviriam d'obstaculo os +<em>negociantes de politica</em>, que já não é a primeira vez que negoceiam com +o meu credito, com o meu suor e com o meu sangue?... Fóra d'ahi, snr. Mendoça! +Um homem de probidade austera, não póde conservar essa posição.—Olhe que não +escrevo isto para augmentar os seus embaraços. Sei que ha promessas +solemnes<span class="pn">{29}</span> de lhe apalpar as costas, e se os meus +pedidos valessem, eu pediria que ninguem fizesse caso da sua despedida da +Assemblea, das suas cartas, e do mais que se tem passado.</p> +<hr class="dotted"> + +<blockquote> + <p>Duas palavras ao snr. <em>Antonio Pinto Cardoso da Gama</em>, e peço + tambem para ellas a mais séria attenção do publico. </p> + + <p>O snr. <em>Gama</em> é delegado do procurador regio na 2.ª vara, e debaixo + da sua alçada está a typographia do <em>Portugal-gazeta</em>. A mim não me + importa que o snr. <em>Gama</em> deva obrigações a ninguem; o que desejo é + vêl-o applicar a lei igualmente a <em>amigos</em> e adversarios.</p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Snr. <em>Gama</em>: No dia 29 d'Outubro de 1851 falleceu o sapateiro José + Ferreira da Silva, que foi editor do <em>Portugal-gazeta</em>. Este infame + papel continuou a publicar-se <em>illegalmente</em>, até ao dia 10 de + Novembro, <em>debaixo da responsabilidade do fallecido</em>, e o snr. Gama + não procedeu, senão depois que eu requeri procedimento! Por fim, o + «<em>Portugal</em>» foi absolvido; mas o seu proprio defensor teve a + franqueza de me confessar que a sentença estava mal fundamentada—porque a + lei é muito clara e a infracção era muito visivel! Eu sei tudo o que se + passou com esse <em>decantado</em> processo, e calo-me por ora, mas hei-de + fallar, e <em>fallar muito claro</em>, quando fôr tempo para isso.... Agora, + snr. Gama, vou mostrar-lhe quanto é nociva a impunidade, e quanto é + prejudicial que se não observem as leis.</p> + + <p>O snr. Gama já sabe (porque o escripto se vende publicamente, e devia + ser-lhe remettido, na conformidade da lei), que na imprensa dos + <em>negociantes</em> do <em>Portugal-gazeta</em> se imprimiu um folheto + intitulado==<em>Descripção da viagem de SS. MM. desde que sahiram<span + class="pn">{30}</span> de Lisboa até á sua entrada n'esta cidade.</em>==Este + folheto não traz o nome da officina, como a lei manda, e a lei pune + severamente esta infracção, e a lei, snr. Gama, diz que qualquer pessoa do + povo poderá accusar os delegados, quando estes não cumprirem com o seu + dever.—Fico á espera, snr. Gama, e pouco me importa que o infame + <em>Portugal-gazeta</em> me chame <em>denunciante</em>. Deus me livre de que + elle me chame homem honrado. As cousas tomam-se como da mão de quem veem. Uma + injuria na bôcca do immundo papel dos <em>farcistas</em> é o maior elogio que + se me póde fazer.—Ao seu dispôr, snr. Gama.</p> + <hr class="dotted"> + + <p>Já me vai faltando a paciencia, e creio que—para quem não for muito + estupido, muito hypocrita, muito desavergonhado ou muito simplorio—já bastam + os factos que deixo apontados para todos se desenganarem de que o + <em>Portugal-gazeta</em> é uma tôrpe especulação mercantil; que o editor, + redactores e collaboradores só tractam d'illudir o povo, para lhe irem + comendo os patacos; e, em fim, que publicam o papel mais infame que tem + prostituido a imprensa;</p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Porque o <em>Portugal-gazeta</em></p> + + <blockquote style="width: 50%; margin-left: 25%;"> + «................... pirata inico<br> + Dos trabalhos alheios feito rico»</blockquote> + + <p>—insulta a Rainha, e ao mesmo tempo imprime uma incomiastica descripção + da viagem ao Porto, com a mira nos <em>pataqinnhos</em>. </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Porque se finge victima d'uma perseguição acintosa, e encontra um delegado + mais macio do que velludo.</p> + + <p>Porque calumnÃa por gôsto, para especular com a honra, com o credito e com + o suor alheio.</p> + + <p>Porque se diz realista, e foi chuchando as moedas do snr. Cachapuz, para o + defender como auctoridade realista.<span class="pn">{31}</span></p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Porque anda todos os dias a atirar á praça publica o nome do Tio da + Rainha, só pelo gôsto de o vêr desacatado pelas turbas, para depois ganhar + patacos com as suas defesas e comparações.</p> + + <p>Porque, finalmente, os que no <em>Portugal-gazeta</em> se declaram hoje + defensores do Snr. D. Miguel—são os mesmos que hontem o cobriam d'injurias, + e lhe chamavam tyranno e usurpador. </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Este desengano é para aquelles que ainda acreditavam na boa fé do + <em>Portugal-gazeta</em>. Resta-me dar tambem um desengano aos <em>gazeteiros + farcistas</em>. </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Escusaes de andar com investigações, prohibindo os vossos empregados de + fallarem commigo—porque eu sei tudo o que se passa entre vós, e fui avisado, + em tempo competente, d'aquella proposta, que se fez em certa + reunião......................, de se darem algumas moedas a + quem..................... e folguei muito de que alguns cavalheiros se + portassem como verdadeiros fidalgos portuguezes, embora illudidos, repellindo + uma proposta tão miseravel. </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Podeis continuar a perseguir-me, que com isso só conseguis augmentar a + aversão que vos tenho. </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Este é o desforço que eu tiro das vossas provocações.—Tornai a + provocar-me, que eu cá fico a colligir a <em>papellada velha</em>.... </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Senhores do <em>Portugal-gazeta</em>, procurai bem entre os do vosso + bando, a vêr se encontraes os fabricadores de <em>moeda falsa</em>, de que ha + pouco vos queixastes... Já estaes calados?!.. Dar-vos-hiam para isso alguma + <em>moeda verdadeira</em>?... </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Senhores do <em>Portugal-gazeta</em>—silencio!... </p> +</blockquote> + +<p style="text-align:center;"> —</p> + +<p>Leitores, desculpai a duresa da phrase e a desigualdade do estylo. Este +folheto foi escripto ao correr<span class="pn">{32}</span> da penna, e +resente-se das alternativas da minha vida.—Eu penso com Chateaubriand (sem +possuir o seu talento) que é uma loucura atirar com o meu nome ao meio da +multidão;—comtudo para que se não julgue que declino a responsabilidade, aqui +pônho a minha assignatura.</p> + +<p> </p> + +<p>Porto 18 de Maio de 1852.</p> + +<p> </p> + +<p style="text-align: right"><em>João Augusto Novaes Vieira.</em></p> + +<p> </p> + +<div class="rodape"> +<p><a name="foot244" href="#tex2html1"><sup>[1]</sup></a> Não podêmos deixar de +fazer algumas annotações a este ridiculo <em>apontoado</em> +d'imposturas.—Acreditariamos piamente que os paes do sapateiro fossem muito +probos, apesar de pobrissimos; mas, desde que os <em>farcistas</em> lhes chamam +<em>honrados</em>, ficamos com nossas duvidas... Deus nos livre de ser +<em>honrado</em> na bocca de semelhante <em>gentinha</em>...</p> + +<p><a name="foot245" href="#tex2html2"><sup>[2]</sup></a> Bastava que fôsse de +tão boas contas como os que <em>tomaram á sua conta</em> a empreza da +P<small>ATRIA</small>... Arreda!</p> + +<p><a name="foot246" href="#tex2html3"><sup>[3]</sup></a> E que tal? Um +sapateiro que, em poucos annos, arranja 25 mil cruzados pelas <em>suas +economias</em>, devia ser muito honrado...</p> + +<p><a name="foot247" href="#tex2html4"><sup>[4]</sup></a> Ninguem sabe que elle +praticasse taes obras, senão os <em>farcistas</em> do +«<em>Portugal-gazeta</em>.»</p> + +<p><a name="foot248" href="#tex2html5"><sup>[5]</sup></a> E como não seria +apaixonado, se d'ellas é que <em>economisou</em> o dinheiro que tinha?...</p> + +<p><a name="foot150" href="#tex2html6"><sup>[6]</sup></a> Por ser a confraria +dos sapateiros.</p> + +<p><a name="foot151" href="#tex2html7"><sup>[7]</sup></a> E era muito bom juiz, +especialmente da arte do padre Antonio Vieira.</p> + +<p><a name="foot249" href="#tex2html8"><sup>[8]</sup></a> Capitão dos +bandoleiros do <em>chuço</em>, que assassinavam e roubavam a torto e a direito, +dando ás suas victimas o nome de <em>jacobinos</em>.</p> + +<p><a name="foot154" href="#tex2html9"><sup>[9]</sup></a> Pêta refinada.</p> + +<p><a name="foot250" href="#tex2html10"><sup>[10]</sup></a> Por <em>Diós</em> +veio, por <em>Diós</em> foi.</p> + +<p><a name="foot252" href="#tex2html11"><sup>[11]</sup></a> Pois não! Todos os +que forem ladrões, tractantes, calumniadores e desavergonhados—são decididos +<em>legitimistas</em>, na bôcca do <em>Portugal-gazeta</em>.</p> + +<p><a name="foot161" href="#tex2html12"><sup>[12]</sup></a> Refinadissima pêta. +</p> + +<p><a name="foot253" href="#tex2html13"><sup>[13]</sup></a> Foi uma occasião +chamado á policia, <em>por impostura do delegado</em>, e perguntado se era o +editor do «<em>Portugal</em>» respondeu primeiro que não sabia, e depois +negativamente. Não obstante, continuou a figurar como editor, contra a expressa +determinação da lei.—Quem quizer, que commente.</p> + +<p><a name="foot164" href="#tex2html14"><sup>[14]</sup></a> Se elle estava +tonto de todo, que lhe havia de importar?</p> + +<p><a name="foot254" href="#tex2html15"><sup>[15]</sup></a> Miseravel e bem +miseravel. O <em>Portugal-gazeta</em> troca os nomes a tudo.</p> + +<p><a name="foot255" href="#tex2html16"><sup>[16]</sup></a> Fóra, +<em>farcistas</em>!</p> + +<p><a name="foot168" href="#tex2html17"><sup>[17]</sup></a> Ou alguem testou +por elle.... quem sabe?...</p> + +<p><a name="foot169" href="#tex2html18"><sup>[18]</sup></a> Podéra não!</p> + +<p><a name="foot256" href="#tex2html19"><sup>[19]</sup></a> E lhe perdoe. +<em>Amen.</em></p> + +<p><a name="foot257" href="#tex2html20"><sup>[20]</sup></a> Falla-se do +verdadeiro fundador e redactor do jornal, e não do <em>doutor</em> Cazimiro de +Castro Neves, <em>que ainda tem saudades do tempo em que jogava o seu +pião</em>, como elle proprio disse em letra redonda, não obstante as nossas +advertencias. Disse tambem que era «<em>uma pessoa physica</em>.» Veja-se, no +diccionario de Moraes, a definição de pessoa, e conhecer-se-ha que o tal +<em>menino dos olhos azues</em> é um <em>doutorasso</em>.... no jogo do pião, +que é jogo de garotos.</p> +</div> +</div> + +<div>*** END OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK 30355 ***</div> +</body> +</html> diff --git a/LICENSE.txt b/LICENSE.txt new file mode 100644 index 0000000..6312041 --- /dev/null +++ b/LICENSE.txt @@ -0,0 +1,11 @@ +This eBook, including all associated images, markup, improvements, +metadata, and any other content or labor, has been confirmed to be +in the PUBLIC DOMAIN IN THE UNITED STATES. + +Procedures for determining public domain status are described in +the "Copyright How-To" at https://www.gutenberg.org. + +No investigation has been made concerning possible copyrights in +jurisdictions other than the United States. 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You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: O senhor Dom Miguel I, e a senhora Dona Maria II + Comparações, reflexões, desengano + +Author: João Augusto Novaes Vieira + +Release Date: October 29, 2009 [EBook #30355] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-15 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O SENHOR DOM MIGUEL I *** + + + + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + + + + + + O SENHOR DOM MIGUEL I, + + E + + A SENHORA DOM MARIA II. + + + COMPARAÇÕES.--REFLEXÕES.--DESENGANO. + + + + + PORTO: + _TYPOGRAPHIA DE SEBASTIÃO JOSÉ PEREIRA,_ + Praça de Sancta Thereza, n.º 28. + 1852. + + + + + Não soffre muito a gente generosa + Andar-lhe os cães os dentes amostrando. + + CAMÕES.--OS LUSIADAS. + + + + +PRIMEIRA PARTE. + +COMPARAÇÕES. + + +N'um folheto de 16 paginas, impresso na typographia da rua das Hortas, +n.º 82 a 84, lêem-se umas comparações entre S. M. a Rainha e seu Augusto +Tio. + +O folheto tem por titulo «_O Snr. Dom Miguel de Bragança e a Snr.ª Dona +Maria da Gloria--collecção dos artigos das comparações publicadas no_ +«Portugal.» + +A introducção foi escripta pelo _doutor_ Casimiro de Castro Neves, +natural de Louzada, e hoje residente em Lisboa. + +As _comparações_ diz-se que as escrevera o snr. Francisco Candido de +Mendoça e Mello, bacharel da fornada de 1849, _natural de Bragança_ e +residente no Porto. + +Francisco Pereira d'Azevedo é o editor e recebe os patacos do folheto. + +As comparações ei-las ahi: + +«O Snr. D. Miguel não póde admittir em sua companhia a Snr.ª D. Maria, +porque nada póde haver de commum entre ambos. + +«O Snr. D. Miguel perseguiu os ladrões e assassinos; a Snr.ª D. Maria, +diz o _Ecco_, que se bandeou com elles. + +«O Snr. D. Miguel não perseguiu os seus amigos; a Snr.ª D. Maria tem +perseguido a todos, e com muita especialidade o marechal Saldanha. + +«O Snr. D. Miguel sahiu pobre do paiz, porque não roubava nem deixava +roubar; a Snr.ª D. Maria, diz o _Ecco_, que ha-de estar bem rica, e nós +tambem o dizemos. + +«O Snr. D. Miguel sahiu rico das saudades e bençãos d'um povo que o +adorava; a Snr.ª D. Maria, se sahir, não leva poucas maldições e +insultos, como póde testemunhar quem tiver ouvidos para ouvir o que por +ahi se diz, e olhos para lêr os papeis que no paiz se publicam. Saudades +é que realmente, não é só a nós, que não deixa nenhumas! + +«O Snr. D. Miguel demittiu magistrados por não serem limpos de mãos; a +Snr.ª D. Maria cobriu esses, e outros d'honras e dignidades. + +«O Snr. D. Miguel protegia e promovia tudo quanto era portuguez; a Snr.ª +D. Maria fazia o mesmo a tudo quanto era estrangeiro. + +«O Snr. D. Miguel conquistou Portugal com a sua pessoa _só_; a Snr.ª D. +Maria com os estrangeiros de todos os paizes. + +«O Snr. D. Miguel viveu com a maior economia, e foi fiel aos seus +contractos; a Snr.ª D. Maria o contrario de tudo isto. + +«O Snr. D. Miguel entregou intactas as joias da corôa; a Snr.ª D. Maria +_consentiu_ que não só se roubassem as de seu augusto Tio, se não ainda +que se lhe apoderassem dos bahus da sua roupa branca, que a Snr.ª Vadre +lhe conduzia, e que lhe usurpassem os seus bens proprios. + +«O Snr. D. Miguel enviou o brigue de guerra _Téjo_, commandado pelo 1.º +tenente Caminha, ao Rio de Janeiro, levar aos seus parentes brasileiros +a herança de seus augustos parentes fallecidos; a Snr.ª D. Maria +consentiu que seu augusto Tio fosse defraudado não só da herança de seus +augustos paes, senão ainda de todo esbulhado da herança universal de sua +augusta irman fallecida em Santarem. + +«O Snr. D. Miguel sustentou sempre os criados da casa real, ainda os de +opinião contraria; a snr.ª D. Maria pô-los todos na rua, substituindo +muitos por estrangeiros, e deixou morrer á fome as criadas da Snr.ª D. +Maria 1.ª escapando sómente as netas do famoso João Pinto Ribeiro, que +tanto concorreu para elevar a casa de Bragança ao throno; porque os +legitimistas tomaram a si o seu parco sustento. + +«O Snr. D. Miguel tratou sempre bem as familias dos presos politicos, +como póde testemunhar entre outras a filha de Pedro de Mello Breyner; a +Snr.ª D. Maria tratou muitas como a esposa do conde de Villa Real, D. +Fernando, que regressou do paço moribunda. + +«O Snr. D. Miguel não consentiu nunca que nos actos officiaes se +insultassem os seus parentes brasileiros; a Snr.ª D. Maria tem +_consentido_ que nesses mesmos se insulte constantemente seu augusto +Tio. + +«O Snr. D. Miguel augmentou o patrimonio real; a Snr.ª D. Maria tem-no +dissipado, alienado e destruido. + +«O Snr. D. Miguel nunca mandou festejar os dias em que portuguezes +derramaram o sangue de portuguezes; a Snr. D. Maria não só consentiu que +se festejassem esses dias, senão ainda aquelles em que estrangeiros +mataram portuguezes e tomaram navios portuguezes. + +«O Snr. D. Miguel escolheu para ministros d'estado homem de inconcussa +probidade e limpeza de mãos; a Snr.ª D. Maria escolheu os caracteres +mais corrompidos e corruptores que havia no reino, e expoz-se a sete +revoluções para sustentar, a despeito da opinião publica nacional e +estrangeira, o homem mais detestavel que tem produzido a nossa terra--o +homem que roubou descaradamente--o maior dos concussionarios--o valido +mais torpe--o homem de _Queen's bench_--_o conde de Thomar_! + +«O Snr. D. Miguel fez respeitar sempre o palacio de nossos reis; a Snr.ª +D. Maria fê-lo descer até onde não podia descer mais. + +«O Snr. D. Miguel foi compadre de muitos bravos soldados de seu +exercito; a Snr.ª D. Maria foi comadre do villão mais cobarde que +havemos conhecido. + +«O Snr. D. Miguel escolheu para diplomaticos os homens mais conspicuos e +probos do paiz; a Snr.ª D. Maria escolheu _muitos_ contrabandistas e +ladrões descarados. + +«O Snr. D. Miguel não podia pôr pé fóra do paço que não o acompanhassem +ondas de portuguezes; a Snr.ª D. Maria tem atravessado Lisboa e as +provincias no meio d'um silencio sepulchral. + +«O Snr. D. Miguel respeitou sempre os bispos, ainda os que eram +indigitados de contrarios á sua opinião; a Snr.ª D. Maria consentiu que +os perseguissem todos, e ainda ha alguns no exilio. + +«O Snr. D. Miguel queria reformar as ordens religiosas, e de accôrdo com +a Sé romana nomeou reformadores; quem governava em nome da Snr.ª D. +Maria destruiu-as, e expulsou os seus membros, depois de esbulhados de +quanto possuiam. + +«O Snr. D. Miguel era escravo da opinião publica; a Snr.ª D. Maria +sempre a tem despresado, tornando-se necessaria uma revolução para se +mudarem os ministros corruptos e corruptores. + +«O Snr. D. Miguel foi chamado ao throno pelas antigas leis da monarchia, +applicadas por tribunaes que não creou; a Snr.ª D. Maria foi chamada ao +throno por uma carta de lei, feita expressamente para este fim pelo +imperador do Brazil, seu pae, e applicada por bayonetas estrangeiras. + +«O Snr. D. Miguel estava em Vienna á morte de seu augusto pae, e foi +proclamado e sustentado pela maioria da nação com as armas na mão, sendo +necessario vir o exercito de Clinton para que lh'as podessem arrancar; a +Snr.ª D. Maria só teve por si, na maxima parte, os estrangeiros que +cobiçavam as preciosidades das egrejas e dos conventos. + +«O Snr. D. Miguel vestiu e calçou os seus soldados com objectos +portuguezes; a Snr.ª D. Maria mandou vir para os seus fardamento e +calçado da Inglaterra, pesando-lhe por não poder mandar vir de lá tambem +a agua para se lavar. + +«O Snr. D. Miguel apesar da amizade que o ligava a seu Tio Fernando 7.º, +recusou entregar-lhe os refugiados politicos hespanhoes, e pagou-lhes a +passagem para sahirem livremente do paiz; a Snr.ª D. Maria consentiu que +assassinassem no paiz alguns emigrados carlistas, conservou outros em +duros ferros, e entregou alguns para serem garrotados. + +«O Snr. D. Miguel empregou muitos constitucionaes, sómente porque tinham +merecimento; a Snr.ª D. Maria não só demittiu todos os legitimistas, +senão ainda que tem demittido aquelles que por ella se teem sacrificado. + +«O Snr. D. Miguel vestia e calçava objectos portuguezes; a Snr.ª D. +Maria até manda engommar a roupa a Inglaterra. + +«O Snr. D. Miguel, do que produziam as quintas reaes, distribuia +gratuitamente aos seus criados, e ao povo; a Snr.ª D. Maria não só +destruiu a matta dos buxos de Queluz para ser vendida aos torneiros, +senão ainda mandava vender á praça até salsa e hortelan. + +«O Snr. D. Miguel folgava de fazer cultivar as terras da corôa, e de ser +o primeiro lavrador de Portugal; a Snr.ª D. Maria alienou tudo na maxima +parte, e o que não alienou, arrendou ou deu ao seu valido. + +«O Snr. D. Miguel tratava com esmero a formosa raça d'Alter; a Snr.ª D. +Maria mandou vender tudo, até mesmo os cavallos e muares da casa real, +conservando apenas alguns poucos rabões inglezes e hanoverianos. + +«O Snr. D. Miguel respeitou o banco, apesar de lá estarem os fundos dos +seus contrarios, e de ser administrado pelos seus adversarios politicos; +a Snr.ª D. Maria fez-lhe crua guerra. + +«O Snr. D. Miguel reconheceu os emprestimos feitos para debellar os +principios que o elevaram ao throno; a Snr.ª D. Maria não quiz +reconhecer nunca o emprestimo do Snr. D. Miguel contrahido para matar a +fome aos empregados publicos. + +«O Snr. D. Miguel tinha captado de tal sorte o amor dos soldados, que +apesar de rotos, descalços, famintos, e quebrantados de uma lucta tão +prolongada, quebravam as armas que os estrangeiros vinham arrancar-lhes +das mãos; a Snr.ª D. Maria tem contrariado de tal modo os sentimentos do +paiz, e alienado as affeições dos seus mesmos, que em todas as contendas +vê rarear as suas fileiras de soldados que vão engrossar as dos +contrarios. + +«O Snr. D. Miguel tinha e queria sómente os empregados necessarios; a +Snr.ª D. Maria consentiu que se arvorasse ametade do reino em empregados +para devorar outra ametade. + +«O Snr. D. Miguel fez-se idolatrar a tal ponto do povo, e do exercito, +que até os seus mesmos adversarios o reconheciam a ponto de lhe +cantarem: + + _Quanto mais a fome aperta + Mais se canta o rei chegou:_ + +e não tem bastado a longa ausencia de dezesete annos para destruir as +affeições e esperanças dos portuguezes; a Snr.ª D. Maria tem-se feito +detestar dos seus mesmos, e o que é maior desgraça ainda o seu nome está +sendo coberto de improperios. + +«O que se tem dito do Snr. D. Miguel, diz-se de todos os monarchas +decahidos; porém o que se diz da Snr.ª D. Maria, diz-se de pouquissimas +rainhas no throno. + +«O Snr. D. Miguel, quando viu que a lucta só concorria para derramar +sangue portuguez inutilmente, e acarretar desgraças inevitaveis ao paiz, +porque parte da Europa dormia á beira da abysmo, e a outra parte estava +colligada contra elle, convencionou em Evora-Monte, estipulando que se +respeitasse a vida e propriedade dos seus, e que se lhe désse a elle, +que de tudo era privado, uma parca subsistencia; quem governava pela +Snr.ª D. Maria, desconheceu logo a convenção que tambem fôra assignada +pela _leal_ Inglaterra--condemnou ao ostracismo e á fome o Principe +generoso e uma grande parte da nação portugueza--fez derramar ondas de +sangue portuguez, e com a nefanda lei das indemnisações esbulhou da +propriedade quem a tinha--a Snr.ª D. Maria acceitou a herança de todos +estes maleficios, e _consentiu_ que continuassem--applicou-os depois aos +seus mesmos, e pretende conservar-se no throno a risco de perder a +dynastia. + +«O Snr. D. Miguel rejeitou as propostas de Christina Munhoz de fazer +entrar o exercito de Rodil em seu auxilio, e de o casar com uma sua +irman se mandasse sahir D. Carlos de Portugal; a Snr.ª D. Maria não só +tem acceitado todas as propostas para se firmar no throno, se não ainda +as tem deprecado, subindo até lá nos braços de Rodil e Parker, e sendo +sustentada por Concha e Maitland, executores, do famoso _protocollo_, e +se os estrangeiros se não oppozerem agora á sua sahida, e ella se +verificar, como dizem, são os portuguezes quem a poem fóra a contento do +clero, nobreza e povo! + +«O Snr. D. Miguel não gastava ao thesouro annualmente acima de 20 contos +de reis; a Snr.ª D. Maria gasta ao _misero_ e _defecado_ Portugal 365 +contos de reis por anno, e ainda 100 contos para seu marido, afóra as +dezenas e dezenas de contos para seus filhos. + +«O Snr. D. Miguel conservou a Tapada real de Villa Viçosa, na mesma +grandeza com que seus augustos predecessores a tiveram; a Snr.ª D. Maria +manda vender as lenhas e as estevas, que todos os dias d'ahi sahem em +abundancia para Borba e Villa Viçosa, e n'esta ultima terra tem um +açougue publico de carne de veado e gamo, que os seus criados todos os +dias matam na tapada; negoceia-se com a bolota, com as pelles dos +veados, e até com os chifres!» + +E então, não fallam bem destravadamente estes ridiculos fanfarrões?.. +Elles, os selvagens, que ainda ha poucos annos _tinham mêdo d'apparecer +no Porto_, não estão agora, com as suas roncas, armando aos patacos +dos papalvos?... E cuidaes que é um acto de valor pessoal--que é, +ao menos, uma temeridade que praticam?... Nada d'isso.--Não será +verdade que elles mesmos andam por ahi a dar a explicação do seu arrojo, +assoalhando, com espantoso cynismo, os presentes que fazem ao snr. +_delgado_--vangloriando-se dos bellos córtes de panno da Belgica, que +lhe remettem, e dos bellos pintos, que elle lhes chucha?... + +Diga-o... quem o souber--e no entanto passemos á + + + + +SEGUNDA PARTE. + +REFLEXÕES. + + +_Quem diz o que quer, ouve o que não quer._ Assim reza um adagio, que, +pela sua antiguidade, merece, por certo, a approvação dos _escribleros_ +do «_Portugal_.» + + «O Snr. D. Miguel--dizem elles--não póde admittir na sua companhia a + Snr.ª D. Maria.» + +E é verdade. Não póde--porque assim o quizeram meia duzia de +sanguinarios--meia duzia d'aristocratas estupidos--meia duzia de +fradalhões devassos--meia duzia d'ambiciosos e algumas duzias de +scelerados, que, entre o Tio e a Sobrinha, cavaram um abysmo insondavel, +precipitando n'esse abysmo o infeliz Portugal,--não o ridiculo e o +infame «_Portugal_» de que foi editor um sapateiro demente e +estuporado--de que é editor e especulador um negociante de +_algo_-DÃO--mas este Portugal de sete seculos, esta nação que se +envergonha de ter no seu seio um bando de selvagens e desavergonhados, +um bando de parasytas, um bando de zangões e empalmadores. + + «O Snr. D. Miguel perseguiu os ladrões e assassinos.» + +Mentis, senhores da _tripeça-gazetal_, e mentis como perros.--O Snr. D. +Miguel teve desejos de fazer punir os ladroes--mas os ladroes +cercavam-no por toda a parte, e como andavam _mascarados_, era difficil +conhecêl-os + + «O Snr. D. Miguel não perseguiu os seus amigos--a Snr.ª D. Maria tem + perseguido a todos.» + +Mentis, e mentis com o damnado fim de amargurar a existencia do infeliz +Principe, que chora no exilio os negros crimes de que vós e os +vossos o fizeram victima.--O Snr. D. Miguel não queria perseguir os seus +amigos mas perseguiu-os o estupido bando de scelerados, a que vós +pertenceis.--Lembrai-vos de que escreveis no Porto, senhores do +«_Portugal_» e que no Porto, no tempo em que vós dominaveis, foram +cacetados, indistinctamente, liberaes e realistas--ainda mais, no Porto +foram cacetadas as proprias auctoridades constituidas em nome do Snr. D. +Miguel.--É aqui bem publico e notorio que o corregedor do crime foi +cacetado, no largo do Carmo, pelos soldados do 12, e como lhes gritasse +«Senhores, eu sou o corregedor!»--«É por isso mesmo!»--lhes tornavam +elles--redobrando com nova furia as cacetadas.--É aqui bem sabido que +n'esse tempo bastavam tres testemunhas das de quartilho de vinho--para +se levar um homem á forca;--bastava alcunhar qualquer realista de +_malhado_, para o vêr martyrisar por essas ruas;--bastava calumniar +alguém, chamando-lhe _pedreiro-livre_, para o vêr gemer n'uma +cadêa.--Podiamos aqui escrever um longo capitulo d'historia--que vós +fingis ignorar--mas poupamo-nos a esse trabalho, porque fallamos no meio +d'uma cidade onde todos sabem quantos realistas gemeram nas cadêas por +vinganças particulares--quantos caloteiros se fingiam realistas para +perseguir os seus crédores--quantos ladrões se infeitavam com o tope +azul e vermelho, para atterrarem aquelles a quem tinham roubado.--Era +n'esse tempo que o vosso chefe d'então e vosso chefe d'agora--o +scelerado fradalhão Luiz................. levava a tiro de pistola as +mulheres que se não dobravam aos seus desenfreados appetites;--era +n'esse tempo que elle, o malvado _pedréca_, arranjava empregos para os +paes, a troco da deshonra das filhas;--era, finalmente n'esse tempo, que +muitos bandoleiros se acobertavam com o nome d'amigos do Snr. D. Miguel, +para o tornarem odioso, e para augmentarem, como augmentaram, o partido +liberal.--E ainda hoje continuaes a acobertar os vossos crimes com o +nome do infeliz Principe, trazendo-o para a discussão a todo o +proposito; e ainda hoje continuaes a perseguição aos seus melhores e +mais leaes amigos.--Aqui estamos nós--nós que fomos emballados na +affeição mais pura á pessoa do Snr. D. Miguel--nós, que, pensando +servil-o, temos constantemente sacrificado o nosso futuro e arriscado a +nossa vida,--e que hoje, desenganados, só pedimos a Deus que o Augusto +Exilado não caia de novo nas vossas mãos--porque seria um instrumento de +perseguição e de morte para metade dos filhos d'esta terra;--nós, em +fim, que podemos dar testemunho da vossa ferocidade. E porque nos +perseguistes vós?... Porque não pudémos deixar-nos roubar, sem que +gritassemos _aqui-d'el-rei_ sobre os ladrões, denunciando-os ao publico, +de viva-voz e pela imprensa. + +Calai-vos, _honrada-gente_!... calai-vos, que é esse o maior serviço que +podeis fazer ao Snr. D. Miguel de Bragança. + +Não nos daremos agora ao infadônho trabalho de reflectir sobre cada uma +das vossas _comparações_--talvez o façamos, se continuardes a +provocar-nos; no entanto, sempre vos repetiremos que é damnada a +intenção com que comparaes S. M. a Rainha com seu Augusto Tio, +attribuindo a este alguns actos, com que pretendeis acobertar os vossos +crimes, e áquella alguns erros, de que não póde nem deve ser +responsavel--porque reina e _não governa_, como acontece a todos os +Monarchas constitucionaes.--O que vós quereis--não nos cançamos de o +dizer--é fazer pesar sobre o Snr. D. Miguel a responsabilidade de todos +os assassinios, de todos os roubos, de todas as tropellias, de todas as +perseguições, que praticastes em seu nome. + +As vossas comparações--se não fôsse bem conhecida a damnada intenção com +que são feitas--só serviriam para tornar odioso o nome do Augusto Tio da +Soberana. + +Se a Senhora Dona Maria II deve ser responsavel--como Rainha +constitucional--pelos actos do seu governo, como vós quereis; é +assaz logico, é concludentissimo, que o Snr. D. Miguel--como Rei +absoluto--é o unico responsavel por todos os erros, por todos os crimes, +que em seu nome praticou esse bando de scelerados a que pertence o +«_Portugal_.» + +Não illudaes o povo, _honrados homens_!... não especuleis com a +ignorancia das turbas... + +O Snr. D. Miguel I foi Rei absoluto, e comtudo não deve ser responsavel +por muitos crimes, que se praticaram em seu nome, e que elle ainda hoje +ignora. + +A Snr.ª D. Maria II é Rainha constitucional, e n'esta qualidade +irresponsavel pelos actos do seu governo. + +Portanto, as _comparações_ do «_Portugal_» são filhas da mais refinada +hypocrisia e estupidez, e tendentes só a desacreditar o Augusto Exilado. + +Estaes ahi a fingir-vos victimas da perseguição dos agentes do governo, +e se houvesse _um delegado_, que soubesse cumprir com o seu dever, como +vos attreverieis vós a asseverar pela imprensa, que a Soberana manda +vender salsa e hortelã!!! e que negoceia com bolota, com pelles e até +com chifres???!!!!... + +Senhores do «_Portugal_» não falleis em _chifres_, que se ri o povo.... +não falleis em _salsa_ e _hortelã_, que deitaes por terra, por vossas +proprias mãos, essas _salsadas_ que escreveis no vosso despresivel +papel. + +Silencio!... e deixai-nos respirar um pouco, antes de passarmos á + + + + +TERCEIRA PARTE. + +DESENGANO. + + +Quem ouvir desprevenido as _roncas_ do «_Portugal_»--quem lêr as suas +_lamentações_--ha-de julgar que alli ha convicções profundas--um valor a +toda a prova--uma resignação para o martyrio. + +Pois se ha quem tal pense, está completamente enganado. + +O «_Portugal_» é uma especulação mercantil de Francisco Pereira +d'Azevedo--mais vulgarmente conhecido pelas alcunhas de Ignez das Hortas +e de Francisco da Velha. + +O snr. Francisco é ao mesmo tempo editor, proprietario da imprensa e da +gazeta, e negociante de _algo_-DÃO. + +A gazeta intitula-se realista, e não é mais do que _farcista_. É a mesma +gazeta de que foi editor o sapateiro José Ferreira da Silva. + +Sabemos que nas provincias ha muita gente que não quer acreditar, que um +miseravel sapateiro, estuporado e tonto, fosse o editor da gazeta dos +_fidalgos velhos_, do periodico da aristocracia de _sangue azul_! Pois, +para que se desenganem, aqui lhes vamos dar alguns apontamentos para +uma byographia do sapateiro, primeiro editor do «_Portugal_.» + +José Ferreira da Silva, filho de paes pobrissimos, e natural d'esta +cidade, foi, ainda creança, para casa d'um sapateiro, onde começou por +engraixar botins, remendar sapatos de gallegos e chinellos velhos, até +que, por meio das suas _habilidades_ e com a ajuda d'alguns patacos, que +os freguezes do mestre lhe davam de _molhadura_, quando lhes hia levar +as botas, pôde estabelecer-se e casar. Tendo já loja sua, fez-se +_carola_ por especulação, e tal era a _habilidade_ e a _ligeiresa de +mãos_ de que a natureza o dotára, que, dentro de poucos annos, achava-se +possuidor d'alguns contos de reis, arranjados ou empalmados nas +confrarias e irmandades, em que se mettia, como piolho por costura. Por +occasião da invasão franceza, uniu-se aos anarchistas, cujas _proezas_ +são bem sabidas n'esta cidade, e dentro em breve tempo montavam os seus +haveres a trinta mil cruzados, chegando a ser capitão dos bandoleiros do +_chuço_. Desde então, começou a trabalhar menos pelo officio, +mettendo-se a onzeneiro, e dando dinheiro a juros, com enormissimas +usuras; porém, o que n'este mister ganhára, levou-lh'o o diabo para as +mãos de um negociante, que, pouco depois, se declarou em estado de +fallencia. Estonteado com este revéz, teve o primeiro attaque de +estupôr, e começou desde então a andar quotidianamente pelas igrejas. +Era tão enthusiasta pelas idéas liberaes, que, no tempo do cêrco, foi +denunciar os moveis, pratas e mais objectos de valor pertencentes ao +fallecido snr. José Antonio (empregado na policia do Porto), que era seu +inquilino, e tinha acompanhado o exercito realista, achando-se, por +isso, ausente. Tudo foi sequestrado, e foi tal a raiva do sapateiro, +quando o Snr. D. Pedro deu a amnistia, mandando levantar os sequestros, +que ficou mais estuporado do que estava. Era tal a sua avareza, que, +tendo ainda uma boa fortuna, andava vestido como um mendigo, e seus +filhos não morriam de fartos, como é notorio pela visinhança. Estando +completamente estuporado e tonto, houve um delegado, que, por empenhos, +_ou pelo quer que fôsse_, o acceitou para editor da infame gazeta, +intitulada «_Portugal_», e com quanto não recebesse por isso dinheiro +(por estar tonto de todo) recebia-o por elle um filho, que ainda hoje é +caixeiro da _tripeça-gazetal_ da rua das Hortas. Nos ultimos tempos da +sua vida, tinha uma loja d'adeleiro na rua Formosa, onde continuava a +emprestar dinheiro sobre ouro, prata e roupas, com enormissima usura, +levando de juros, de cada cruzado novo, trinta e quarenta reis por mez, +o que equivale a _cento por cento ao anno_!!!... Falleceu d'uma +queda no dia 29 d'Outubro de 1851, testando duas moradas de casas, a +roupa e moveis da adella e algum dinheiro. + +_Deus se compadeça da sua alma._ + +Eis-aqui uns apontamentos para a byographia do miseravel sapateiro, +escriptos conscienciosamente, sem odio ou affeição. + +Agora, se querem desenganar-se da refinada hypocrisia e cynismo da +infame gazeta dos _farcistas_, comparem estes apontamentos com os que se +lêem no «_Portugal_» de 10 de Novembro de 1851: + + «O snr. José Ferreira da Silva, natural d'esta cidade, e filho de + paes pobres, mas honrados[1], acaba de descer á sepultura, no + cemiterio da ordem 3.ª de S. Francisco, com todas as honras funebres + e com mais de 80 annos d'edade. Era laborioso e de boas contas[2], e + tão amante de seus paes, que os teve em sua companhia até que + falleceram. Agenciára elle pelas suas economias o melhor de 25,000 + crusados[3] que empregou muito bem em promover a educação de sua + familia, e em obras pias[4]. Era tão apaixonado das confrarias[5] + que pertenceu a quasi todas as d'esta cidade, sendo provedor da de + S. Chrispim[6] definidor da 3.ª de S. Francisco, mesario e protector + de diversas outras. Serviu de juiz d'Artes[7], e foi capitão + d'ordenanças por occasião da invasão francesa[8]. Era muito estimado + e acolhido das principaes familias d'esta cidade[9]. A sua nimia boa + fé o fez ser victima d'uma quebra em que se fundiu a maior parte da + sua fortuna que tinha em mãos do quebrado[10]. O seu animo religioso + não se abateu com a adversidade, e hauriu perennes consolações no + bom desempenho dos seus deveres domesticos e no exercicio dos actos + religiosos, ouvindo missa quotidianamente, visitando o SS.mo + Sacramento, e assistindo ás numerosas funcções religiosas que se + celebram n'esta cidade. Era portuguez de velha tempera, e tão + decidido legitimista[11], que se offereceu para editor _gratuito do + Portugal_[12], e o foi com a melhor vontade até que Deus o chamou a + si[13]. Não o arredou nunca do seu honroso posto a bateria + d'insultos com que o mimosearam os nossos adversarios[14] que + estranhavam que um honrado popular fosse editor d'um periodico + legitimista, como se a legitimidade excluisse classes. No entanto á + borda da sepultura todos os collegas adversarios se portaram + cavalheirosamente com o nosso editor. Houve apenas uma excepção no + _Pobres_. Nós lhe perdoamos o seu cynismo em nome do fallecido. Pelo + que nos toca depositamos aqui um penhor eterno de gratidão e + respeito ao veneravel[15] ancião que nos escudou perante a lei, e + esperamos que na presença do Eterno advogará a nossa causa que é a + da justiça e do direito[16]. O nosso bom amigo falleceu d'uma queda + e testou com acerto[17], deixando uma viuva inconsolavel e uma filha + e um filho herdeiros de sua honra e virtudes[18]. _Deus o tenha á + sua vista_[19]. + +E que tal! Assim é que se engoda o povo, para lhe hir pilhando os +pataquinhos! É assim que o _Portugal-gazeta_ costuma dizer a verdade! + +Que honrada gente! E não lhes coram as faces, quando apparecem em +publico! + +Comparai estas amabilidades para com um miseravel sapateiro, estuporado +e tonto, com o grosseiro procedimento do snr. Francisco Candido para com +a «_Neta e Sobrinha de Reis_» procedimento que escandalisou muitos +realistas sensatos, que não comem nem querem comer a custa da illusão +dos povos. + +D'um lado uma consciencia tão larga, que fez do sapateiro um homem +honrado, piedoso, realista, &c. &c. Do outro uma consciencia tão +estreita e mesquinha, que se despede da Assemblea, porque a quasi +totalidade dos socios resolvêra obsequiar S. M. a Rainha!!! + +Parece-nos que não haverá ninguem que não suspeite qual é o fim d'estes +_fogachos facciosos_... + + Do direito fazem torto + Estes astutos velhacos; + Chamam gente a um asno morto... + Tal é o poder dos patacos!!! + +Uma das duas: ou o snr. Francisco Candido é o unico homem escrupuloso e +de convicções profundas, dos que escrevem no _Portugal_--ou pretende +enganar o povo. + +Se agarra na primeira ponta do dylemma--deve largar já a redacção do +infame _Portugal-gazeta_, fazendo assim a vontade ao padre Luiz, ao F. +da Velha, e ao garoto do pião.... Se agarra na segunda--tambem não +podêmos deixar de lhe dizer, que procure um modo de vida mais decente. + +Fóra d'ahi, snr. Francisco Candido! Um homem de probidade austéra não +póde, nem deve escrever na infame gazeta inaugurada sob a +responsabilidade do homem mais despresivel que existia no Porto. Fóra +d'ahi! Deixe o logar a esses scelerados que lh'o cobiçam. Fóra d'ahi, +que a questão, para elles, é só questão de dinheiro. Fóra d'ahi, se não +quer que o publico o tenha na mesma conta em que os tem a elles. + +Ignora, snr. Francisco Candido, que ahi se levam moedas pelas +correspondencias que, em sua defesa e em defesa do seu partido, mandam +lançar os proprios homens, a quem o _Portugal-gazeta_ chama seus +correligionarios e amigos!! O snr. Cachapuz que o informe... elle, que +aggredido pelo _Ecco Popular_, como auctoridade realista, teve de dar +bons pintos pela defesa que fez inserir na gazeta dos _farcistas_.--«_Um +pataco por linha e nada menos._» + +Não acontecia assim com a PATRIA, que nunca levou nem um real por +semelhantes correspondencias--porque o redactor da PATRIA[20] +não sabia ser gazeteiro, e o snr. Francisco Candido bem +conhece aquelles que o roubaram, abusando do seu demasiado cavalheirismo +e boa fé. + +Veja se gosta d'esta comparação, snr. Francisco Candido, e saiba (se o +ignora) o que é uma gazeta na mão d'um _negociante_. + +Agora, ouça mais duas palavras, e ouça-as tambem o povo, para ficar +completamente desenganado ácerca do _Portugal-gazeta_. + +Ha cousa d'um anno, appareceram no _Ecco Popular_ uns artigos infames +(cuja publicação foi provocada por uma polemica do infame +_Portugal-gazeta_) nos quaes se davam ao Tio da Rainha os nomes mais +injuriosos, e entre estes, o de _assassino_!!--O editor do _Ecco_ póde +dar testemunho dos esforços, que eu fiz, invocando a sua generosidade, +para que retirasse da discussão o augusto nome do infeliz exilado; mas, +apesar d'estes esforços, lá appareceram no infame _Portugal-gazeta_ umas +allusões torpes, involvendo a perfida insinuação de que era eu o auctor +de semelhantes artigos!--Um dia, ao cahir da noite, encontrei, na rua +dos Lavadouros, o snr. Francisco Candido de Mendoça e Mello, e +perguntei-lhe se já estava desenganado de que não eram meus os artigos. +Respondeu-me «que entre mim e elle (snr. Mendoça) não havia motivo algum +d'inimisade; que até algumas vezes havia dito que eu tinha razão de me +queixar do que acontecera com a PATRIA; e que elle (snr. Mendoça), +avisado do que se passára commigo, era redactor _independente_ do +«_Portugal_» e não recebia ordens de ninguem, nem mesmo quanto á +politica do jornal; que já se sabia que não eram meus os artigos em que +o Snr. D. Miguel era tão atrozmente calumniado; que as allusões, de que +eu me queixava, tinham nascido d'uma errada persuasão, e não de odio ou +vindicta.»--Fiquei _quasi_ satisfeito com a declaração do snr. Mendoça; +e para o ficar _completamente_, disse-lhe que era justo rectificar a +perfida insinuação que se fizera. Assim o julgou o snr. Mendoça, e assim +m'o prometteu; mas, até hoje, estou á espera do cumprimento da sua +promessa!--Quereria o snr. Mendoça cumpril-a, e serviriam d'obstaculo os +_negociantes de politica_, que já não é a primeira vez que negoceiam com +o meu credito, com o meu suor e com o meu sangue?... Fóra d'ahi, snr. +Mendoça! Um homem de probidade austera, não póde conservar essa +posição.--Olhe que não escrevo isto para augmentar os seus embaraços. +Sei que ha promessas solemnes de lhe apalpar as costas, e se os meus +pedidos valessem, eu pediria que ninguem fizesse caso da sua despedida +da Assemblea, das suas cartas, e do mais que se tem passado. + +........................................................................ + + Duas palavras ao snr. _Antonio Pinto Cardoso da Gama_, e peço tambem + para ellas a mais séria attenção do publico. + + O snr. _Gama_ é delegado do procurador regio na 2.ª vara, e debaixo + da sua alçada está a typographia do _Portugal-gazeta_. A mim não me + importa que o snr. _Gama_ deva obrigações a ninguem; o que desejo é + vêl-o applicar a lei igualmente a _amigos_ e adversarios. + + Snr. _Gama_: No dia 29 d'Outubro de 1851 falleceu o sapateiro José + Ferreira da Silva, que foi editor do _Portugal-gazeta_. Este infame + papel continuou a publicar-se _illegalmente_, até ao dia 10 de + Novembro, _debaixo da responsabilidade do fallecido_, e o snr. Gama + não procedeu, senão depois que eu requeri procedimento! Por fim, o + «_Portugal_» foi absolvido; mas o seu proprio defensor teve a + franqueza de me confessar que a sentença estava mal + fundamentada--porque a lei é muito clara e a infracção era muito + visivel! Eu sei tudo o que se passou com esse _decantado_ processo, + e calo-me por ora, mas hei-de fallar, e _fallar muito claro_, quando + fôr tempo para isso.... Agora, snr. Gama, vou mostrar-lhe quanto é + nociva a impunidade, e quanto é prejudicial que se não observem as + leis. + + O snr. Gama já sabe (porque o escripto se vende publicamente, e + devia ser-lhe remettido, na conformidade da lei), que na imprensa + dos _negociantes_ do _Portugal-gazeta_ se imprimiu um folheto + intitulado==_Descripção da viagem de SS. MM. desde que sahiram de + Lisboa até á sua entrada n'esta cidade._==Este folheto não traz o + nome da officina, como a lei manda, e a lei pune severamente esta + infracção, e a lei, snr. Gama, diz que qualquer pessoa do povo + poderá accusar os delegados, quando estes não cumprirem com o seu + dever.--Fico á espera, snr. Gama, e pouco me importa que o infame + _Portugal-gazeta_ me chame _denunciante_. Deus me livre de que elle + me chame homem honrado. As cousas tomam-se como da mão de quem veem. + Uma injuria na bôcca do immundo papel dos _farcistas_ é o maior + elogio que se me póde fazer.--Ao seu dispôr, snr. Gama. + + ................................................................... + + Já me vai faltando a paciencia, e creio que--para quem não for muito + estupido, muito hypocrita, muito desavergonhado ou muito + simplorio--já bastam os factos que deixo apontados para todos se + desenganarem de que o _Portugal-gazeta_ é uma tôrpe especulação + mercantil; que o editor, redactores e collaboradores só tractam + d'illudir o povo, para lhe irem comendo os patacos; e, em fim, que + publicam o papel mais infame que tem prostituido a imprensa; + + Porque o _Portugal-gazeta_ + + «................... pirata inico + Dos trabalhos alheios feito rico» + + --insulta a Rainha, e ao mesmo tempo imprime uma incomiastica + descripção da viagem ao Porto, com a mira nos _pataqinnhos_. + + Porque se finge victima d'uma perseguição acintosa, e encontra um + delegado mais macio do que velludo. + + Porque calumnía por gôsto, para especular com a honra, com o credito + e com o suor alheio. + + Porque se diz realista, e foi chuchando as moedas do snr. Cachapuz, + para o defender como auctoridade realista. + + Porque anda todos os dias a atirar á praça publica o nome do Tio da + Rainha, só pelo gôsto de o vêr desacatado pelas turbas, para depois + ganhar patacos com as suas defesas e comparações. + + Porque, finalmente, os que no _Portugal-gazeta_ se declaram hoje + defensores do Snr. D. Miguel--são os mesmos que hontem o cobriam + d'injurias, e lhe chamavam tyranno e usurpador. + + Este desengano é para aquelles que ainda acreditavam na boa fé do + _Portugal-gazeta_. Resta-me dar tambem um desengano aos _gazeteiros + farcistas_. + + Escusaes de andar com investigações, prohibindo os vossos empregados + de fallarem commigo--porque eu sei tudo o que se passa entre vós, e + fui avisado, em tempo competente, d'aquella proposta, que se fez em + certa reunião......................, de se darem algumas moedas a + quem..................... e folguei muito de que alguns cavalheiros + se portassem como verdadeiros fidalgos portuguezes, embora + illudidos, repellindo uma proposta tão miseravel. + + Podeis continuar a perseguir-me, que com isso só conseguis augmentar + a aversão que vos tenho. + + Este é o desforço que eu tiro das vossas provocações.--Tornai a + provocar-me, que eu cá fico a colligir a _papellada velha_.... + + Senhores do _Portugal-gazeta_, procurai bem entre os do vosso bando, + a vêr se encontraes os fabricadores de _moeda falsa_, de que ha + pouco vos queixastes... Já estaes calados?!.. Dar-vos-hiam para isso + alguma _moeda verdadeira_?... + + Senhores do _Portugal-gazeta_--silencio!... + + * * * * * + +Leitores, desculpai a duresa da phrase e a desigualdade do estylo. Este +folheto foi escripto ao correr da penna, e resente-se das alternativas +da minha vida.--Eu penso com Chateaubriand (sem possuir o seu talento) +que é uma loucura atirar com o meu nome ao meio da multidão;--comtudo +para que se não julgue que declino a responsabilidade, aqui pônho a +minha assignatura. + + +Porto 18 de Maio de 1852. + + _João Augusto Novaes Vieira._ + + + [1] Não podêmos deixar de fazer algumas annotações a este ridiculo + _apontoado_ d'imposturas.--Acreditariamos piamente que os paes do + sapateiro fossem muito probos, apesar de pobrissimos; mas, desde que + os _farcistas_ lhes chamam _honrados_, ficamos com nossas duvidas... + Deus nos livre de ser _honrado_ na bocca de semelhante _gentinha_... + + [2] Bastava que fôsse de tão boas contas como os que _tomaram á sua + conta_ a empreza da PATRIA... Arreda! + + [3] E que tal? Um sapateiro que, em poucos annos, arranja 25 mil + cruzados pelas _suas economias_, devia ser muito honrado... + + [4] Ninguem sabe que elle praticasse taes obras, senão os + _farcistas_ do «_Portugal-gazeta_.» + + [5] E como não seria apaixonado, se d'ellas é que _economisou_ o + dinheiro que tinha?... + + [6] Por ser a confraria dos sapateiros. + + [7] E era muito bom juiz, especialmente da arte do padre Antonio + Vieira. + + [8] Capitão dos bandoleiros do _chuço_, que assassinavam e roubavam + a torto e a direito, dando ás suas victimas o nome de _jacobinos_. + + [9] Pêta refinada. + + [10] Por _Diós_ veio, por _Diós_ foi. + + [11] Pois não! Todos os que forem ladrões, tractantes, calumniadores + e desavergonhados--são decididos _legitimistas_, na bôcca do + _Portugal-gazeta_. + + [12] Refinadissima pêta. + + [13] Foi uma occasião chamado á policia, _por impostura do + delegado_, e perguntado se era o editor do «_Portugal_» respondeu + primeiro que não sabia, e depois negativamente. Não obstante, + continuou a figurar como editor, contra a expressa determinação da + lei.--Quem quizer, que commente. + + [14] Se elle estava tonto de todo, que lhe havia de importar? + + [15] Miseravel e bem miseravel. O _Portugal-gazeta_ troca os nomes a + tudo. + + [16] Fóra, _farcistas_! + + [17] Ou alguem testou por elle.... quem sabe?... + + [18] Podéra não! + + [19] E lhe perdoe. _Amen._ + + [20] Falla-se do verdadeiro fundador e redactor do jornal, e não do + _doutor_ Cazimiro de Castro Neves, _que ainda tem saudades do tempo + em que jogava o seu pião_, como elle proprio disse em letra redonda, + não obstante as nossas advertencias. Disse tambem que era «_uma + pessoa physica_.» Veja-se, no diccionario de Moraes, a definição de + pessoa, e conhecer-se-ha que o tal _menino dos olhos azues_ é um + _doutorasso_.... no jogo do pião, que é jogo de garotos. + + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of O senhor Dom Miguel I, e a senhora +Dona Maria II, by João Augusto Novaes Vieira + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O SENHOR DOM MIGUEL I *** + +***** This file should be named 30355-8.txt or 30355-8.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/0/3/5/30355/ + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. 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It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. + + +Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive +Foundation + +The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit +501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the +state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal +Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification +number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at +https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent +permitted by U.S. federal laws and your state's laws. + +The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. +Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered +throughout numerous locations. Its business office is located at +809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email +business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact +information can be found at the Foundation's web site and official +page at https://pglaf.org + +For additional contact information: + Dr. Gregory B. Newby + Chief Executive and Director + gbnewby@pglaf.org + + +Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation + +Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide +spread public support and donations to carry out its mission of +increasing the number of public domain and licensed works that can be +freely distributed in machine readable form accessible by the widest +array of equipment including outdated equipment. Many small donations +($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt +status with the IRS. + +The Foundation is committed to complying with the laws regulating +charities and charitable donations in all 50 states of the United +States. 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Donations are accepted in a number of other +ways including including checks, online payments and credit card +donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate + + +Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic +works. + +Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm +concept of a library of electronic works that could be freely shared +with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project +Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. + + +Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed +editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. +unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily +keep eBooks in compliance with any particular paper edition. + + +Most people start at our Web site which has the main PG search facility: + + https://www.gutenberg.org + +This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, +including how to make donations to the Project Gutenberg Literary +Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to +subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks. diff --git a/old/30355-8.zip b/old/30355-8.zip Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..9fc719c --- /dev/null +++ b/old/30355-8.zip diff --git a/old/30355-h.zip b/old/30355-h.zip Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..cd88e91 --- /dev/null +++ b/old/30355-h.zip diff --git a/old/30355-h/30355-h.htm b/old/30355-h/30355-h.htm new file mode 100644 index 0000000..4a14d7f --- /dev/null +++ b/old/30355-h/30355-h.htm @@ -0,0 +1,1325 @@ +<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.0 Transitional//EN"> +<html lang="pt"> +<head> + <title>O Senhor Dom Miguel I, e a Senhora Dona Maria II, por João Augusto + Novaes Vieira</title> + <meta name="Author" content="João Augusto Novaes Vieira"> + <meta name="Publisher" content="Typografia de Sebastião José Pereira"> + <meta name="Date" content="1852"> + <meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=iso-8859-15"> + <style type="text/css"> + body{margin-left: 10%; + margin-right: 10%; + } + .pn { + text-indent: 0em; + position: absolute; + left: 92%; + font-size: smaller; + text-align: right; + color: silver; + } + #corpo p{text-align: justify; text-indent: 1em;} + h1, h2 {text-align: center; margin-top: 3em; margin-bottom: 2em;} + #corpo p.sinopse {margin: 0; font-size: small; text-indent: 0;} + hr.dotted {border: 0; border-bottom: dotted 2px #000;} + hr {border: 0; border-bottom: solid 2px;} + blockquote {margin: 0%; font-size: small;} + .rodape { + font-size: 0.8em; + margin: 2em; + } + </style> +</head> + +<body> + + +<pre> + +The Project Gutenberg EBook of O senhor Dom Miguel I, e a senhora Dona +Maria II, by João Augusto Novaes Vieira + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: O senhor Dom Miguel I, e a senhora Dona Maria II + Comparações, reflexões, desengano + +Author: João Augusto Novaes Vieira + +Release Date: October 29, 2009 [EBook #30355] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-15 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O SENHOR DOM MIGUEL I *** + + + + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + + + + + +</pre> + +<p> </p> + +<div style="text-align:center; border: solid 2px #000; padding: 1em;"> + +<p style="font-size: 2.5em;">O SENHOR DOM MIGUEL I,</p> + +<p style="font-size: 1.2em;">E</p> + +<p style="font-size: 2em;">A SENHORA DOM MARIA II.</p> + +<p style="font-size: 1.5em;">COMPARAÇÕES.—REFLEXÕES.—DESENGANO.</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p style="font-size: 1.5em;">PORTO:</p> + +<p><small><em>TYPOGRAPHIA DE SEBASTIÃO JOSÉ PEREIRA,</em></small><br> +<small>Praça de Sancta Thereza, n.º 28.</small><br> +1852.</p> +</div> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<blockquote style="width: 50%; margin-left: 50%;"> + <p>Não soffre muito a gente generosa<br> + Andar-lhe os cães os dentes amostrando.<br> + </p> + + <p style="text-align:right;"> C<small>AMÕES.—</small>O<small>S + </small>L<small>USIADAS.</small> </p> +</blockquote> + +<p><span class="pn">{3}</span></p> + +<div id="corpo"> +<p> </p> + +<p> </p> + +<h1><a name="SECTION00010000000000000000">PRIMEIRA PARTE.</a></h1> + +<h2><a name="SECTION00011000000000000000">COMPARAÇÕES.</a> </h2> + +<p>N'um folheto de 16 paginas, impresso na typographia da rua das Hortas, n.º +82 a 84, lêem-se umas comparações entre S. M. a Rainha e seu Augusto Tio.</p> + +<p>O folheto tem por titulo «<em>O Snr. Dom Miguel de Bragança e a Snr.ª Dona +Maria da Gloria—collecção dos artigos das comparações publicadas no</em> +«Portugal.»</p> + +<p>A introducção foi escripta pelo <em>doutor</em> Casimiro de Castro Neves, +natural de Louzada, e hoje residente em Lisboa.</p> + +<p>As <em>comparações</em> diz-se que as escrevera o snr. Francisco Candido de +Mendoça e Mello, bacharel da fornada de 1849, <em>natural de Bragança</em> e +residente no Porto.</p> + +<p>Francisco Pereira d'Azevedo é o editor e recebe os patacos do folheto.</p> + +<p>As comparações ei-las ahi:<span class="pn">{4}</span></p> + +<p>«O Snr. D. Miguel não póde admittir em sua companhia a Snr.ª D. Maria, +porque nada póde haver de commum entre ambos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel perseguiu os ladrões e assassinos; a Snr.ª D. Maria, diz o +<em>Ecco</em>, que se bandeou com elles.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel não perseguiu os seus amigos; a Snr.ª D. Maria tem +perseguido a todos, e com muita especialidade o marechal Saldanha.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel sahiu pobre do paiz, porque não roubava nem deixava +roubar; a Snr.ª D. Maria, diz o <em>Ecco</em>, que ha-de estar bem rica, e nós +tambem o dizemos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel sahiu rico das saudades e bençãos d'um povo que o adorava; +a Snr.ª D. Maria, se sahir, não leva poucas maldições e insultos, como póde +testemunhar quem tiver ouvidos para ouvir o que por ahi se diz, e olhos para +lêr os papeis que no paiz se publicam. Saudades é que realmente, não é só a +nós, que não deixa nenhumas!</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel demittiu magistrados por não serem limpos de mãos; a Snr.ª +D. Maria cobriu esses, e outros d'honras e dignidades.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel protegia e promovia tudo quanto era portuguez; a Snr.ª D. +Maria fazia o mesmo a tudo quanto era estrangeiro.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel conquistou Portugal com<span class="pn">{5}</span> a sua +pessoa <em>só</em>; a Snr.ª D. Maria com os estrangeiros de todos os paizes.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel viveu com a maior economia, e foi fiel aos seus +contractos; a Snr.ª D. Maria o contrario de tudo isto.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel entregou intactas as joias da corôa; a Snr.ª D. Maria +<em>consentiu</em> que não só se roubassem as de seu augusto Tio, se não ainda +que se lhe apoderassem dos bahus da sua roupa branca, que a Snr.ª Vadre lhe +conduzia, e que lhe usurpassem os seus bens proprios.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel enviou o brigue de guerra <em>Téjo</em>, commandado pelo +1.º tenente Caminha, ao Rio de Janeiro, levar aos seus parentes brasileiros a +herança de seus augustos parentes fallecidos; a Snr.ª D. Maria consentiu que +seu augusto Tio fosse defraudado não só da herança de seus augustos paes, senão +ainda de todo esbulhado da herança universal de sua augusta irman fallecida em +Santarem.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel sustentou sempre os criados da casa real, ainda os de +opinião contraria; a snr.ª D. Maria pô-los todos na rua, substituindo muitos +por estrangeiros, e deixou morrer á fome as criadas da Snr.ª D. Maria 1.ª +escapando sómente as netas do famoso João Pinto Ribeiro, que tanto concorreu +para elevar a casa de Bragança ao throno; porque os legitimistas tomaram a si o +seu parco sustento.<span class="pn">{6}</span></p> + +<p>«O Snr. D. Miguel tratou sempre bem as familias dos presos politicos, como +póde testemunhar entre outras a filha de Pedro de Mello Breyner; a Snr.ª D. +Maria tratou muitas como a esposa do conde de Villa Real, D. Fernando, que +regressou do paço moribunda.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel não consentiu nunca que nos actos officiaes se insultassem +os seus parentes brasileiros; a Snr.ª D. Maria tem <em>consentido</em> que +nesses mesmos se insulte constantemente seu augusto Tio.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel augmentou o patrimonio real; a Snr.ª D. Maria tem-no +dissipado, alienado e destruido.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel nunca mandou festejar os dias em que portuguezes +derramaram o sangue de portuguezes; a Snr. D. Maria não só consentiu que se +festejassem esses dias, senão ainda aquelles em que estrangeiros mataram +portuguezes e tomaram navios portuguezes.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel escolheu para ministros d'estado homem de inconcussa +probidade e limpeza de mãos; a Snr.ª D. Maria escolheu os caracteres mais +corrompidos e corruptores que havia no reino, e expoz-se a sete revoluções para +sustentar, a despeito da opinião publica nacional e estrangeira, o homem mais +detestavel que tem produzido a nossa terra—o homem que roubou +descaradamente—o maior dos concussionarios—o<span class="pn">{7}</span> +valido mais torpe—o homem de <em>Queen's bench</em>—<em>o conde de +Thomar</em>!</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel fez respeitar sempre o palacio de nossos reis; a Snr.ª D. +Maria fê-lo descer até onde não podia descer mais.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel foi compadre de muitos bravos soldados de seu exercito; a +Snr.ª D. Maria foi comadre do villão mais cobarde que havemos conhecido.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel escolheu para diplomaticos os homens mais conspicuos e +probos do paiz; a Snr.ª D. Maria escolheu <em>muitos</em> contrabandistas e +ladrões descarados.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel não podia pôr pé fóra do paço que não o acompanhassem +ondas de portuguezes; a Snr.ª D. Maria tem atravessado Lisboa e as provincias +no meio d'um silencio sepulchral.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel respeitou sempre os bispos, ainda os que eram indigitados +de contrarios á sua opinião; a Snr.ª D. Maria consentiu que os perseguissem +todos, e ainda ha alguns no exilio.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel queria reformar as ordens religiosas, e de accôrdo com a +Sé romana nomeou reformadores; quem governava em nome da Snr.ª D. Maria +destruiu-as, e expulsou os seus membros, depois de esbulhados de quanto +possuiam.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel era escravo da opinião publica;<span class="pn">{8}</span> +a Snr.ª D. Maria sempre a tem despresado, tornando-se necessaria uma revolução +para se mudarem os ministros corruptos e corruptores.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel foi chamado ao throno pelas antigas leis da monarchia, +applicadas por tribunaes que não creou; a Snr.ª D. Maria foi chamada ao throno +por uma carta de lei, feita expressamente para este fim pelo imperador do +Brazil, seu pae, e applicada por bayonetas estrangeiras.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel estava em Vienna á morte de seu augusto pae, e foi +proclamado e sustentado pela maioria da nação com as armas na mão, sendo +necessario vir o exercito de Clinton para que lh'as podessem arrancar; a Snr.ª +D. Maria só teve por si, na maxima parte, os estrangeiros que cobiçavam as +preciosidades das egrejas e dos conventos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel vestiu e calçou os seus soldados com objectos portuguezes; +a Snr.ª D. Maria mandou vir para os seus fardamento e calçado da Inglaterra, +pesando-lhe por não poder mandar vir de lá tambem a agua para se lavar.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel apesar da amizade que o ligava a seu Tio Fernando 7.º, +recusou entregar-lhe os refugiados politicos hespanhoes, e pagou-lhes a +passagem para sahirem livremente do paiz; a Snr.ª D. Maria consentiu que +assassinassem no paiz alguns emigrados carlistas, conservou outros<span +class="pn">{9}</span> em duros ferros, e entregou alguns para serem +garrotados.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel empregou muitos constitucionaes, sómente porque tinham +merecimento; a Snr.ª D. Maria não só demittiu todos os legitimistas, senão +ainda que tem demittido aquelles que por ella se teem sacrificado.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel vestia e calçava objectos portuguezes; a Snr.ª D. Maria +até manda engommar a roupa a Inglaterra.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel, do que produziam as quintas reaes, distribuia +gratuitamente aos seus criados, e ao povo; a Snr.ª D. Maria não só destruiu a +matta dos buxos de Queluz para ser vendida aos torneiros, senão ainda mandava +vender á praça até salsa e hortelan.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel folgava de fazer cultivar as terras da corôa, e de ser o +primeiro lavrador de Portugal; a Snr.ª D. Maria alienou tudo na maxima parte, e +o que não alienou, arrendou ou deu ao seu valido.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel tratava com esmero a formosa raça d'Alter; a Snr.ª D. +Maria mandou vender tudo, até mesmo os cavallos e muares da casa real, +conservando apenas alguns poucos rabões inglezes e hanoverianos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel respeitou o banco, apesar de lá estarem os fundos dos seus +contrarios, e de ser administrado pelos seus adversarios politicos;<span +class="pn">{10}</span> a Snr.ª D. Maria fez-lhe crua guerra.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel reconheceu os emprestimos feitos para debellar os +principios que o elevaram ao throno; a Snr.ª D. Maria não quiz reconhecer nunca +o emprestimo do Snr. D. Miguel contrahido para matar a fome aos empregados +publicos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel tinha captado de tal sorte o amor dos soldados, que apesar +de rotos, descalços, famintos, e quebrantados de uma lucta tão prolongada, +quebravam as armas que os estrangeiros vinham arrancar-lhes das mãos; a Snr.ª +D. Maria tem contrariado de tal modo os sentimentos do paiz, e alienado as +affeições dos seus mesmos, que em todas as contendas vê rarear as suas fileiras +de soldados que vão engrossar as dos contrarios.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel tinha e queria sómente os empregados necessarios; a Snr.ª +D. Maria consentiu que se arvorasse ametade do reino em empregados para devorar +outra ametade.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel fez-se idolatrar a tal ponto do povo, e do exercito, que +até os seus mesmos adversarios o reconheciam a ponto de lhe cantarem:</p> + +<blockquote style="width: 50%; margin-left: 25%;"> + <em>Quanto mais a fome aperta<br> + Mais se canta o rei chegou:</em></blockquote> + +<p style="text-indent: 0;">e não tem bastado a longa ausencia de dezesete<span +class="pn">{11}</span> annos para destruir as affeições e esperanças dos +portuguezes; a Snr.ª D. Maria tem-se feito detestar dos seus mesmos, e o que é +maior desgraça ainda o seu nome está sendo coberto de improperios. </p> + +<p>«O que se tem dito do Snr. D. Miguel, diz-se de todos os monarchas +decahidos; porém o que se diz da Snr.ª D. Maria, diz-se de pouquissimas rainhas +no throno.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel, quando viu que a lucta só concorria para derramar sangue +portuguez inutilmente, e acarretar desgraças inevitaveis ao paiz, porque parte +da Europa dormia á beira da abysmo, e a outra parte estava colligada contra +elle, convencionou em Evora-Monte, estipulando que se respeitasse a vida e +propriedade dos seus, e que se lhe désse a elle, que de tudo era privado, uma +parca subsistencia; quem governava pela Snr.ª D. Maria, desconheceu logo a +convenção que tambem fôra assignada pela <em>leal</em> Inglaterra—condemnou ao +ostracismo e á fome o Principe generoso e uma grande parte da nação +portugueza—fez derramar ondas de sangue portuguez, e com a nefanda lei das +indemnisações esbulhou da propriedade quem a tinha—a Snr.ª D. Maria acceitou a +herança de todos estes maleficios, e <em>consentiu</em> que +continuassem—applicou-os depois aos seus mesmos, e pretende conservar-se no +throno a risco de perder a dynastia.<span class="pn">{12}</span></p> + +<p>«O Snr. D. Miguel rejeitou as propostas de Christina Munhoz de fazer entrar +o exercito de Rodil em seu auxilio, e de o casar com uma sua irman se mandasse +sahir D. Carlos de Portugal; a Snr.ª D. Maria não só tem acceitado todas as +propostas para se firmar no throno, se não ainda as tem deprecado, subindo até +lá nos braços de Rodil e Parker, e sendo sustentada por Concha e Maitland, +executores, do famoso <em>protocollo</em>, e se os estrangeiros se não +oppozerem agora á sua sahida, e ella se verificar, como dizem, são os +portuguezes quem a poem fóra a contento do clero, nobreza e povo!</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel não gastava ao thesouro annualmente acima de 20 contos de +reis; a Snr.ª D. Maria gasta ao <em>misero</em> e <em>defecado</em> Portugal +365 contos de reis por anno, e ainda 100 contos para seu marido, afóra as +dezenas e dezenas de contos para seus filhos.</p> + +<p>«O Snr. D. Miguel conservou a Tapada real de Villa Viçosa, na mesma grandeza +com que seus augustos predecessores a tiveram; a Snr.ª D. Maria manda vender as +lenhas e as estevas, que todos os dias d'ahi sahem em abundancia para Borba e +Villa Viçosa, e n'esta ultima terra tem um açougue publico de carne de veado e +gamo, que os seus criados todos os dias matam na tapada; negoceia-se com a +bolota, com as pelles dos veados, e até com os chifres!»<span +class="pn">{13}</span></p> + +<p>E então, não fallam bem destravadamente estes ridiculos fanfarrões?.. Elles, +os selvagens, que ainda ha poucos annos <em>tinham mêdo d'apparecer no +Porto</em>, não estão agora, com as suas roncas, armando aos patacos dos +papalvos?... E cuidaes que é um acto de valor pessoal—que é, ao menos, uma +temeridade que praticam?... Nada d'isso.—Não será verdade que elles mesmos +andam por ahi a dar a explicação do seu arrojo, assoalhando, com espantoso +cynismo, os presentes que fazem ao snr. <em>delgado</em>—vangloriando-se dos +bellos córtes de panno da Belgica, que lhe remettem, e dos bellos pintos, que +elle lhes chucha?...</p> + +<p>Diga-o... quem o souber—e no entanto passemos á</p> + +<h1><a name="SECTION00020000000000000000">SEGUNDA PARTE.</a></h1> + +<h2><a name="SECTION00021000000000000000">REFLEXÕES.</a></h2> + +<p><em>Quem diz o que quer, ouve o que não quer.</em> Assim reza um adagio, +que, pela sua antiguidade, merece, por certo, a approvação dos +<em>escribleros</em> do «<em>Portugal</em>.»<span class="pn">{14}</span></p> + +<blockquote> + <p>«O Snr. D. Miguel—dizem elles—não póde admittir na sua companhia a Snr.ª + D. Maria.» </p> +</blockquote> + +<p>E é verdade. Não póde—porque assim o quizeram meia duzia de +sanguinarios—meia duzia d'aristocratas estupidos—meia duzia de fradalhões +devassos—meia duzia d'ambiciosos e algumas duzias de scelerados, que, entre o +Tio e a Sobrinha, cavaram um abysmo insondavel, precipitando n'esse abysmo o +infeliz Portugal,—não o ridiculo e o infame «<em>Portugal</em>» de que foi +editor um sapateiro demente e estuporado—de que é editor e especulador um +negociante de <em>algo</em>-<small>DÃO</small>—mas este Portugal de sete +seculos, esta nação que se envergonha de ter no seu seio um bando de selvagens +e desavergonhados, um bando de parasytas, um bando de zangões e +empalmadores.</p> + +<blockquote> + <p>«O Snr. D. Miguel perseguiu os ladrões e assassinos.»</p> +</blockquote> + +<p>Mentis, senhores da <em>tripeça-gazetal</em>, e mentis como perros.—O Snr. +D. Miguel teve desejos de fazer punir os ladroes—mas os ladroes cercavam-no +por toda a parte, e como andavam <em>mascarados</em>, era difficil +conhecêl-os</p> + +<blockquote> + <p>«O Snr. D. Miguel não perseguiu os seus amigos—a Snr.ª D. Maria tem + perseguido a todos.»</p> +</blockquote> + +<p>Mentis, e mentis com o damnado fim de amargurar a existencia do infeliz +Principe, que<span class="pn">{15}</span> chora no exilio os negros crimes de +que vós e os vossos o fizeram victima.—O Snr. D. Miguel não queria perseguir +os seus amigos mas perseguiu-os o estupido bando de scelerados, a que vós +pertenceis.—Lembrai-vos de que escreveis no Porto, senhores do +«<em>Portugal</em>» e que no Porto, no tempo em que vós dominaveis, foram +cacetados, indistinctamente, liberaes e realistas—ainda mais, no Porto foram +cacetadas as proprias auctoridades constituidas em nome do Snr. D. Miguel.—É +aqui bem publico e notorio que o corregedor do crime foi cacetado, no largo do +Carmo, pelos soldados do 12, e como lhes gritasse «Senhores, eu sou o +corregedor!»—«É por isso mesmo!»—lhes tornavam elles—redobrando com nova +furia as cacetadas.—É aqui bem sabido que n'esse tempo bastavam tres +testemunhas das de quartilho de vinho—para se levar um homem á forca;—bastava +alcunhar qualquer realista de <em>malhado</em>, para o vêr martyrisar por essas +ruas;—bastava calumniar alguém, chamando-lhe <em>pedreiro-livre</em>, para o +vêr gemer n'uma cadêa.—Podiamos aqui escrever um longo capitulo +d'historia—que vós fingis ignorar—mas poupamo-nos a esse trabalho, porque +fallamos no meio d'uma cidade onde todos sabem quantos realistas gemeram nas +cadêas por vinganças particulares—quantos caloteiros se fingiam realistas para +perseguir os seus crédores—quantos<span class="pn">{16}</span> ladrões se +infeitavam com o tope azul e vermelho, para atterrarem aquelles a quem tinham +roubado.—Era n'esse tempo que o vosso chefe d'então e vosso chefe d'agora—o +scelerado fradalhão Luiz................. levava a tiro de pistola as mulheres +que se não dobravam aos seus desenfreados appetites;—era n'esse tempo que +elle, o malvado <em>pedréca</em>, arranjava empregos para os paes, a troco da +deshonra das filhas;—era, finalmente n'esse tempo, que muitos bandoleiros se +acobertavam com o nome d'amigos do Snr. D. Miguel, para o tornarem odioso, e +para augmentarem, como augmentaram, o partido liberal.—E ainda hoje continuaes +a acobertar os vossos crimes com o nome do infeliz Principe, trazendo-o para a +discussão a todo o proposito; e ainda hoje continuaes a perseguição aos seus +melhores e mais leaes amigos.—Aqui estamos nós—nós que fomos emballados na +affeição mais pura á pessoa do Snr. D. Miguel—nós, que, pensando servil-o, +temos constantemente sacrificado o nosso futuro e arriscado a nossa vida,—e +que hoje, desenganados, só pedimos a Deus que o Augusto Exilado não caia de +novo nas vossas mãos—porque seria um instrumento de perseguição e de morte +para metade dos filhos d'esta terra;—nós, em fim, que podemos dar testemunho +da vossa ferocidade. E porque nos perseguistes vós?... Porque não<span +class="pn">{17}</span> pudémos deixar-nos roubar, sem que gritassemos +<em>aqui-d'el-rei</em> sobre os ladrões, denunciando-os ao publico, de viva-voz +e pela imprensa.</p> + +<p>Calai-vos, <em>honrada-gente</em>!... calai-vos, que é esse o maior serviço +que podeis fazer ao Snr. D. Miguel de Bragança.</p> + +<p>Não nos daremos agora ao infadônho trabalho de reflectir sobre cada uma das +vossas <em>comparações</em>—talvez o façamos, se continuardes a provocar-nos; +no entanto, sempre vos repetiremos que é damnada a intenção com que comparaes +S. M. a Rainha com seu Augusto Tio, attribuindo a este alguns actos, com que +pretendeis acobertar os vossos crimes, e áquella alguns erros, de que não póde +nem deve ser responsavel—porque reina e <em>não governa</em>, como acontece a +todos os Monarchas constitucionaes.—O que vós quereis—não nos cançamos de o +dizer—é fazer pesar sobre o Snr. D. Miguel a responsabilidade de todos os +assassinios, de todos os roubos, de todas as tropellias, de todas as +perseguições, que praticastes em seu nome.</p> + +<p>As vossas comparações—se não fôsse bem conhecida a damnada intenção com que +são feitas—só serviriam para tornar odioso o nome do Augusto Tio da Soberana. +</p> + +<p>Se a Senhora Dona Maria II deve ser responsavel—como Rainha +constitucional—pelos actos do seu governo, como vós quereis; é assaz<span +class="pn">{18}</span> logico, é concludentissimo, que o Snr. D. Miguel—como +Rei absoluto—é o unico responsavel por todos os erros, por todos os crimes, +que em seu nome praticou esse bando de scelerados a que pertence o +«<em>Portugal</em>.»</p> + +<p>Não illudaes o povo, <em>honrados homens</em>!... não especuleis com a +ignorancia das turbas...</p> + +<p>O Snr. D. Miguel I foi Rei absoluto, e comtudo não deve ser responsavel por +muitos crimes, que se praticaram em seu nome, e que elle ainda hoje ignora.</p> + +<p>A Snr.ª D. Maria II é Rainha constitucional, e n'esta qualidade +irresponsavel pelos actos do seu governo.</p> + +<p>Portanto, as <em>comparações</em> do «<em>Portugal</em>» são filhas da mais +refinada hypocrisia e estupidez, e tendentes só a desacreditar o Augusto +Exilado.</p> + +<p>Estaes ahi a fingir-vos victimas da perseguição dos agentes do governo, e se +houvesse <em>um delegado</em>, que soubesse cumprir com o seu dever, como vos +attreverieis vós a asseverar pela imprensa, que a Soberana manda vender salsa e +hortelã!!! e que negoceia com bolota, com pelles e até com chifres???!!!!... +</p> + +<p>Senhores do «<em>Portugal</em>» não falleis em <em>chifres</em>, que se ri o +povo.... não falleis em <em>salsa</em> e <em>hortelã</em>, que deitaes por +terra, por vossas proprias mãos, essas <em>salsadas</em> que escreveis no vosso +despresivel papel.<span class="pn">{19}</span></p> + +<p>Silencio!... e deixai-nos respirar um pouco, antes de passarmos á</p> + +<h1><a name="SECTION00030000000000000000">TERCEIRA PARTE.</a></h1> + +<h2><a name="SECTION00031000000000000000">DESENGANO.</a></h2> + +<p>Quem ouvir desprevenido as <em>roncas</em> do «<em>Portugal</em>»—quem lêr +as suas <em>lamentações</em>—ha-de julgar que alli ha convicções profundas—um +valor a toda a prova—uma resignação para o martyrio.</p> + +<p>Pois se ha quem tal pense, está completamente enganado.</p> + +<p>O «<em>Portugal</em>» é uma especulação mercantil de Francisco Pereira +d'Azevedo—mais vulgarmente conhecido pelas alcunhas de Ignez das Hortas e de +Francisco da Velha.</p> + +<p>O snr. Francisco é ao mesmo tempo editor, proprietario da imprensa e da +gazeta, e negociante de <em>algo</em>-<small>DÃO</small>.</p> + +<p>A gazeta intitula-se realista, e não é mais do que <em>farcista</em>. É a +mesma gazeta de que foi editor o sapateiro José Ferreira da Silva.</p> + +<p>Sabemos que nas provincias ha muita gente que não quer acreditar, que um +miseravel sapateiro, estuporado e tonto, fosse o editor da gazeta dos +<em>fidalgos velhos</em>, do periodico da aristocracia de <em>sangue azul</em>! +Pois, para que se desenganem,<span class="pn">{20}</span> aqui lhes vamos dar +alguns apontamentos para uma byographia do sapateiro, primeiro editor do +«<em>Portugal</em>.»</p> + +<p>José Ferreira da Silva, filho de paes pobrissimos, e natural d'esta cidade, +foi, ainda creança, para casa d'um sapateiro, onde começou por engraixar +botins, remendar sapatos de gallegos e chinellos velhos, até que, por meio das +suas <em>habilidades</em> e com a ajuda d'alguns patacos, que os freguezes do +mestre lhe davam de <em>molhadura</em>, quando lhes hia levar as botas, pôde +estabelecer-se e casar. Tendo já loja sua, fez-se <em>carola</em> por +especulação, e tal era a <em>habilidade</em> e a <em>ligeiresa de mãos</em> de +que a natureza o dotára, que, dentro de poucos annos, achava-se possuidor +d'alguns contos de reis, arranjados ou empalmados nas confrarias e irmandades, +em que se mettia, como piolho por costura. Por occasião da invasão franceza, +uniu-se aos anarchistas, cujas <em>proezas</em> são bem sabidas n'esta cidade, +e dentro em breve tempo montavam os seus haveres a trinta mil cruzados, +chegando a ser capitão dos bandoleiros do <em>chuço</em>. Desde então, começou +a trabalhar menos pelo officio, mettendo-se a onzeneiro, e dando dinheiro a +juros, com enormissimas usuras; porém, o que n'este mister ganhára, levou-lh'o +o diabo para as mãos de um negociante, que, pouco depois, se declarou em estado +de fallencia. Estonteado com este revéz,<span class="pn">{21}</span> teve o +primeiro attaque de estupôr, e começou desde então a andar quotidianamente +pelas igrejas. Era tão enthusiasta pelas idéas liberaes, que, no tempo do +cêrco, foi denunciar os moveis, pratas e mais objectos de valor pertencentes ao +fallecido snr. José Antonio (empregado na policia do Porto), que era seu +inquilino, e tinha acompanhado o exercito realista, achando-se, por isso, +ausente. Tudo foi sequestrado, e foi tal a raiva do sapateiro, quando o Snr. D. +Pedro deu a amnistia, mandando levantar os sequestros, que ficou mais +estuporado do que estava. Era tal a sua avareza, que, tendo ainda uma boa +fortuna, andava vestido como um mendigo, e seus filhos não morriam de fartos, +como é notorio pela visinhança. Estando completamente estuporado e tonto, houve +um delegado, que, por empenhos, <em>ou pelo quer que fôsse</em>, o acceitou +para editor da infame gazeta, intitulada «<em>Portugal</em>», e com quanto não +recebesse por isso dinheiro (por estar tonto de todo) recebia-o por elle um +filho, que ainda hoje é caixeiro da <em>tripeça-gazetal</em> da rua das Hortas. +Nos ultimos tempos da sua vida, tinha uma loja d'adeleiro na rua Formosa, onde +continuava a emprestar dinheiro sobre ouro, prata e roupas, com enormissima +usura, levando de juros, de cada cruzado novo, trinta e quarenta reis por mez, +o que equivale a <em>cento por cento ao anno</em>!!!... Falleceu<span +class="pn">{22}</span> d'uma queda no dia 29 d'Outubro de 1851, testando duas +moradas de casas, a roupa e moveis da adella e algum dinheiro.</p> + +<p><em>Deus se compadeça da sua alma.</em></p> + +<p>Eis-aqui uns apontamentos para a byographia do miseravel sapateiro, +escriptos conscienciosamente, sem odio ou affeição.</p> + +<p>Agora, se querem desenganar-se da refinada hypocrisia e cynismo da infame +gazeta dos <em>farcistas</em>, comparem estes apontamentos com os que se lêem +no «<em>Portugal</em>» de 10 de Novembro de 1851:</p> + +<blockquote> + <p>«O snr. José Ferreira da Silva, natural d'esta cidade, e filho de paes + pobres, mas honrados<a name="tex2html1" href="#foot244"><sup>[1]</sup></a>, + acaba de descer á sepultura, no cemiterio da ordem 3.ª de S. Francisco, com + todas as honras funebres e com mais de 80 annos d'edade. Era laborioso e de + boas contas<a name="tex2html2" href="#foot245"><sup>[2]</sup></a>, e tão + amante de seus paes, que os teve em sua companhia até que falleceram. + Agenciára elle pelas suas economias o melhor de 25,000 crusados<a + name="tex2html3" href="#foot246"><sup>[3]</sup></a> que empregou muito bem em + promover a educação<span class="pn">{23}</span> de sua familia, e em obras + pias<a name="tex2html4" href="#foot247"><sup>[4]</sup></a>. Era tão + apaixonado das confrarias<a name="tex2html5" + href="#foot248"><sup>[5]</sup></a> que pertenceu a quasi todas as d'esta + cidade, sendo provedor da de S. Chrispim<a name="tex2html6" + href="#foot150"><sup>[6]</sup></a> definidor da 3.ª de S. Francisco, mesario + e protector de diversas outras. Serviu de juiz d'Artes<a name="tex2html7" + href="#foot151"><sup>[7]</sup></a>, e foi capitão d'ordenanças por occasião + da invasão francesa<a name="tex2html8" href="#foot249"><sup>[8]</sup></a>. + Era muito estimado e acolhido das principaes familias d'esta cidade<a + name="tex2html9" href="#foot154"><sup>[9]</sup></a>. A sua nimia boa fé o fez + ser victima d'uma quebra em que se fundiu a maior parte da sua fortuna que + tinha em mãos do quebrado<a name="tex2html10" + href="#foot250"><sup>[10]</sup></a>. O seu animo religioso não se abateu com + a adversidade, e hauriu perennes consolações no bom desempenho dos seus + deveres domesticos e no exercicio dos actos religiosos, ouvindo missa + quotidianamente, visitando o SS.<sup>mo</sup> Sacramento, e assistindo ás + numerosas funcções religiosas que se celebram n'esta cidade. Era portuguez de + velha tempera, e tão decidido legitimista<a name="tex2html11" + href="#foot252"><sup>[11]</sup></a>, que se offereceu para editor + <em>gratuito do Portugal</em><a name="tex2html12" + href="#foot161"><sup>[12]</sup></a>, e o foi com a melhor vontade até que + Deus o chamou a si<a name="tex2html13" href="#foot253"><sup>[13]</sup></a>. + Não o arredou<span class="pn">{24}</span> nunca do seu honroso posto a + bateria d'insultos com que o mimosearam os nossos adversarios<a + name="tex2html14" href="#foot164"><sup>[14]</sup></a> que estranhavam que um + honrado popular fosse editor d'um periodico legitimista, como se a + legitimidade excluisse classes. No entanto á borda da sepultura todos os + collegas adversarios se portaram cavalheirosamente com o nosso editor. Houve + apenas uma excepção no <em>Pobres</em>. Nós lhe perdoamos o seu cynismo em + nome do fallecido. Pelo que nos toca depositamos aqui um penhor eterno de + gratidão e respeito ao veneravel<a name="tex2html15" + href="#foot254"><sup>[15]</sup></a> ancião que nos escudou perante a lei, e + esperamos que na presença do Eterno advogará a nossa causa que é a da justiça + e do direito<a name="tex2html16" href="#foot255"><sup>[16]</sup></a>. O nosso + bom amigo falleceu d'uma queda e testou com acerto<a name="tex2html17" + href="#foot168"><sup>[17]</sup></a>, deixando uma viuva inconsolavel e uma + filha e um filho herdeiros de sua honra e virtudes<a name="tex2html18" + href="#foot169"><sup>[18]</sup></a>. <em>Deus o tenha á sua vista</em><a + name="tex2html19" href="#foot256"><sup>[19]</sup></a>.</p> +</blockquote> + +<p>E que tal! Assim é que se engoda o povo, para lhe hir pilhando os +pataquinhos! É assim que o <em>Portugal-gazeta</em> costuma dizer a verdade! +</p> + +<p>Que honrada gente! E não lhes coram as faces, quando apparecem em +publico!<span class="pn">{25}</span></p> + +<p>Comparai estas amabilidades para com um miseravel sapateiro, estuporado e +tonto, com o grosseiro procedimento do snr. Francisco Candido para com a +«<em>Neta e Sobrinha de Reis</em>» procedimento que escandalisou muitos +realistas sensatos, que não comem nem querem comer a custa da illusão dos +povos.</p> + +<p>D'um lado uma consciencia tão larga, que fez do sapateiro um homem honrado, +piedoso, realista, &c. &c. Do outro uma consciencia tão estreita e +mesquinha, que se despede da Assemblea, porque a quasi totalidade dos socios +resolvêra obsequiar S. M. a Rainha!!!</p> + +<p>Parece-nos que não haverá ninguem que não suspeite qual é o fim d'estes +<em>fogachos facciosos</em>...</p> + +<blockquote style="width: 50%; margin-left: 25%;"> + Do direito fazem torto<br> + Estes astutos velhacos;<br> + Chamam gente a um asno morto...<br> + Tal é o poder dos patacos!!!</blockquote> + +<p>Uma das duas: ou o snr. Francisco Candido é o unico homem escrupuloso e de +convicções profundas, dos que escrevem no <em>Portugal</em>—ou pretende +enganar o povo.</p> + +<p>Se agarra na primeira ponta do dylemma—deve largar já a redacção do infame +<em>Portugal-gazeta</em>, fazendo assim a vontade ao padre Luiz, ao F. da +Velha, e ao garoto do pião.... Se<span class="pn">{26}</span> agarra na +segunda—tambem não podêmos deixar de lhe dizer, que procure um modo de vida +mais decente.</p> + +<p>Fóra d'ahi, snr. Francisco Candido! Um homem de probidade austéra não póde, +nem deve escrever na infame gazeta inaugurada sob a responsabilidade do homem +mais despresivel que existia no Porto. Fóra d'ahi! Deixe o logar a esses +scelerados que lh'o cobiçam. Fóra d'ahi, que a questão, para elles, é só +questão de dinheiro. Fóra d'ahi, se não quer que o publico o tenha na mesma +conta em que os tem a elles.</p> + +<p>Ignora, snr. Francisco Candido, que ahi se levam moedas pelas +correspondencias que, em sua defesa e em defesa do seu partido, mandam lançar +os proprios homens, a quem o <em>Portugal-gazeta</em> chama seus +correligionarios e amigos!! O snr. Cachapuz que o informe... elle, que +aggredido pelo <em>Ecco Popular</em>, como auctoridade realista, teve de dar +bons pintos pela defesa que fez inserir na gazeta dos +<em>farcistas</em>.—«<em>Um pataco por linha e nada menos.</em>»</p> + +<p>Não acontecia assim com a P<small>ATRIA</small>, que nunca levou nem um real +por semelhantes correspondencias—porque o redactor da P<small>ATRIA</small><a +name="tex2html20" href="#foot257"><sup>[20]</sup></a><span +class="pn">{27}</span> não sabia ser gazeteiro, e o snr. Francisco Candido bem +conhece aquelles que o roubaram, abusando do seu demasiado cavalheirismo e boa +fé.</p> + +<p>Veja se gosta d'esta comparação, snr. Francisco Candido, e saiba (se o +ignora) o que é uma gazeta na mão d'um <em>negociante</em>.</p> + +<p>Agora, ouça mais duas palavras, e ouça-as tambem o povo, para ficar +completamente desenganado ácerca do <em>Portugal-gazeta</em>.</p> + +<p>Ha cousa d'um anno, appareceram no <em>Ecco Popular</em> uns artigos infames +(cuja publicação foi provocada por uma polemica do infame +<em>Portugal-gazeta</em>) nos quaes se davam ao Tio da Rainha os nomes mais +injuriosos, e entre estes, o de <em>assassino</em>!!—O editor do <em>Ecco</em> +póde dar testemunho dos esforços, que eu fiz, invocando a sua generosidade, +para que retirasse da discussão o augusto nome do infeliz exilado; mas, apesar +d'estes esforços, lá appareceram no infame <em>Portugal-gazeta</em> umas +allusões torpes, involvendo a perfida insinuação de que era eu o auctor de +semelhantes artigos!—Um dia, ao cahir da noite, encontrei, na rua dos +Lavadouros, o snr. Francisco<span class="pn">{28}</span> Candido de Mendoça e +Mello, e perguntei-lhe se já estava desenganado de que não eram meus os +artigos. Respondeu-me «que entre mim e elle (snr. Mendoça) não havia motivo +algum d'inimisade; que até algumas vezes havia dito que eu tinha razão de me +queixar do que acontecera com a P<small>ATRIA</small>; e que elle (snr. +Mendoça), avisado do que se passára commigo, era redactor <em>independente</em> +do «<em>Portugal</em>» e não recebia ordens de ninguem, nem mesmo quanto á +politica do jornal; que já se sabia que não eram meus os artigos em que o Snr. +D. Miguel era tão atrozmente calumniado; que as allusões, de que eu me +queixava, tinham nascido d'uma errada persuasão, e não de odio ou +vindicta.»—Fiquei <em>quasi</em> satisfeito com a declaração do snr. Mendoça; +e para o ficar <em>completamente</em>, disse-lhe que era justo rectificar a +perfida insinuação que se fizera. Assim o julgou o snr. Mendoça, e assim m'o +prometteu; mas, até hoje, estou á espera do cumprimento da sua +promessa!—Quereria o snr. Mendoça cumpril-a, e serviriam d'obstaculo os +<em>negociantes de politica</em>, que já não é a primeira vez que negoceiam com +o meu credito, com o meu suor e com o meu sangue?... Fóra d'ahi, snr. Mendoça! +Um homem de probidade austera, não póde conservar essa posição.—Olhe que não +escrevo isto para augmentar os seus embaraços. Sei que ha promessas +solemnes<span class="pn">{29}</span> de lhe apalpar as costas, e se os meus +pedidos valessem, eu pediria que ninguem fizesse caso da sua despedida da +Assemblea, das suas cartas, e do mais que se tem passado.</p> +<hr class="dotted"> + +<blockquote> + <p>Duas palavras ao snr. <em>Antonio Pinto Cardoso da Gama</em>, e peço + tambem para ellas a mais séria attenção do publico. </p> + + <p>O snr. <em>Gama</em> é delegado do procurador regio na 2.ª vara, e debaixo + da sua alçada está a typographia do <em>Portugal-gazeta</em>. A mim não me + importa que o snr. <em>Gama</em> deva obrigações a ninguem; o que desejo é + vêl-o applicar a lei igualmente a <em>amigos</em> e adversarios.</p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Snr. <em>Gama</em>: No dia 29 d'Outubro de 1851 falleceu o sapateiro José + Ferreira da Silva, que foi editor do <em>Portugal-gazeta</em>. Este infame + papel continuou a publicar-se <em>illegalmente</em>, até ao dia 10 de + Novembro, <em>debaixo da responsabilidade do fallecido</em>, e o snr. Gama + não procedeu, senão depois que eu requeri procedimento! Por fim, o + «<em>Portugal</em>» foi absolvido; mas o seu proprio defensor teve a + franqueza de me confessar que a sentença estava mal fundamentada—porque a + lei é muito clara e a infracção era muito visivel! Eu sei tudo o que se + passou com esse <em>decantado</em> processo, e calo-me por ora, mas hei-de + fallar, e <em>fallar muito claro</em>, quando fôr tempo para isso.... Agora, + snr. Gama, vou mostrar-lhe quanto é nociva a impunidade, e quanto é + prejudicial que se não observem as leis.</p> + + <p>O snr. Gama já sabe (porque o escripto se vende publicamente, e devia + ser-lhe remettido, na conformidade da lei), que na imprensa dos + <em>negociantes</em> do <em>Portugal-gazeta</em> se imprimiu um folheto + intitulado==<em>Descripção da viagem de SS. MM. desde que sahiram<span + class="pn">{30}</span> de Lisboa até á sua entrada n'esta cidade.</em>==Este + folheto não traz o nome da officina, como a lei manda, e a lei pune + severamente esta infracção, e a lei, snr. Gama, diz que qualquer pessoa do + povo poderá accusar os delegados, quando estes não cumprirem com o seu + dever.—Fico á espera, snr. Gama, e pouco me importa que o infame + <em>Portugal-gazeta</em> me chame <em>denunciante</em>. Deus me livre de que + elle me chame homem honrado. As cousas tomam-se como da mão de quem veem. Uma + injuria na bôcca do immundo papel dos <em>farcistas</em> é o maior elogio que + se me póde fazer.—Ao seu dispôr, snr. Gama.</p> + <hr class="dotted"> + + <p>Já me vai faltando a paciencia, e creio que—para quem não for muito + estupido, muito hypocrita, muito desavergonhado ou muito simplorio—já bastam + os factos que deixo apontados para todos se desenganarem de que o + <em>Portugal-gazeta</em> é uma tôrpe especulação mercantil; que o editor, + redactores e collaboradores só tractam d'illudir o povo, para lhe irem + comendo os patacos; e, em fim, que publicam o papel mais infame que tem + prostituido a imprensa;</p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Porque o <em>Portugal-gazeta</em></p> + + <blockquote style="width: 50%; margin-left: 25%;"> + «................... pirata inico<br> + Dos trabalhos alheios feito rico»</blockquote> + + <p>—insulta a Rainha, e ao mesmo tempo imprime uma incomiastica descripção + da viagem ao Porto, com a mira nos <em>pataqinnhos</em>. </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Porque se finge victima d'uma perseguição acintosa, e encontra um delegado + mais macio do que velludo.</p> + + <p>Porque calumnía por gôsto, para especular com a honra, com o credito e com + o suor alheio.</p> + + <p>Porque se diz realista, e foi chuchando as moedas do snr. Cachapuz, para o + defender como auctoridade realista.<span class="pn">{31}</span></p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Porque anda todos os dias a atirar á praça publica o nome do Tio da + Rainha, só pelo gôsto de o vêr desacatado pelas turbas, para depois ganhar + patacos com as suas defesas e comparações.</p> + + <p>Porque, finalmente, os que no <em>Portugal-gazeta</em> se declaram hoje + defensores do Snr. D. Miguel—são os mesmos que hontem o cobriam d'injurias, + e lhe chamavam tyranno e usurpador. </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Este desengano é para aquelles que ainda acreditavam na boa fé do + <em>Portugal-gazeta</em>. Resta-me dar tambem um desengano aos <em>gazeteiros + farcistas</em>. </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Escusaes de andar com investigações, prohibindo os vossos empregados de + fallarem commigo—porque eu sei tudo o que se passa entre vós, e fui avisado, + em tempo competente, d'aquella proposta, que se fez em certa + reunião......................, de se darem algumas moedas a + quem..................... e folguei muito de que alguns cavalheiros se + portassem como verdadeiros fidalgos portuguezes, embora illudidos, repellindo + uma proposta tão miseravel. </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Podeis continuar a perseguir-me, que com isso só conseguis augmentar a + aversão que vos tenho. </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Este é o desforço que eu tiro das vossas provocações.—Tornai a + provocar-me, que eu cá fico a colligir a <em>papellada velha</em>.... </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Senhores do <em>Portugal-gazeta</em>, procurai bem entre os do vosso + bando, a vêr se encontraes os fabricadores de <em>moeda falsa</em>, de que ha + pouco vos queixastes... Já estaes calados?!.. Dar-vos-hiam para isso alguma + <em>moeda verdadeira</em>?... </p> +</blockquote> + +<blockquote> + <p>Senhores do <em>Portugal-gazeta</em>—silencio!... </p> +</blockquote> + +<p style="text-align:center;"> —</p> + +<p>Leitores, desculpai a duresa da phrase e a desigualdade do estylo. Este +folheto foi escripto ao correr<span class="pn">{32}</span> da penna, e +resente-se das alternativas da minha vida.—Eu penso com Chateaubriand (sem +possuir o seu talento) que é uma loucura atirar com o meu nome ao meio da +multidão;—comtudo para que se não julgue que declino a responsabilidade, aqui +pônho a minha assignatura.</p> + +<p> </p> + +<p>Porto 18 de Maio de 1852.</p> + +<p> </p> + +<p style="text-align: right"><em>João Augusto Novaes Vieira.</em></p> + +<p> </p> + +<div class="rodape"> +<p><a name="foot244" href="#tex2html1"><sup>[1]</sup></a> Não podêmos deixar de +fazer algumas annotações a este ridiculo <em>apontoado</em> +d'imposturas.—Acreditariamos piamente que os paes do sapateiro fossem muito +probos, apesar de pobrissimos; mas, desde que os <em>farcistas</em> lhes chamam +<em>honrados</em>, ficamos com nossas duvidas... Deus nos livre de ser +<em>honrado</em> na bocca de semelhante <em>gentinha</em>...</p> + +<p><a name="foot245" href="#tex2html2"><sup>[2]</sup></a> Bastava que fôsse de +tão boas contas como os que <em>tomaram á sua conta</em> a empreza da +P<small>ATRIA</small>... Arreda!</p> + +<p><a name="foot246" href="#tex2html3"><sup>[3]</sup></a> E que tal? Um +sapateiro que, em poucos annos, arranja 25 mil cruzados pelas <em>suas +economias</em>, devia ser muito honrado...</p> + +<p><a name="foot247" href="#tex2html4"><sup>[4]</sup></a> Ninguem sabe que elle +praticasse taes obras, senão os <em>farcistas</em> do +«<em>Portugal-gazeta</em>.»</p> + +<p><a name="foot248" href="#tex2html5"><sup>[5]</sup></a> E como não seria +apaixonado, se d'ellas é que <em>economisou</em> o dinheiro que tinha?...</p> + +<p><a name="foot150" href="#tex2html6"><sup>[6]</sup></a> Por ser a confraria +dos sapateiros.</p> + +<p><a name="foot151" href="#tex2html7"><sup>[7]</sup></a> E era muito bom juiz, +especialmente da arte do padre Antonio Vieira.</p> + +<p><a name="foot249" href="#tex2html8"><sup>[8]</sup></a> Capitão dos +bandoleiros do <em>chuço</em>, que assassinavam e roubavam a torto e a direito, +dando ás suas victimas o nome de <em>jacobinos</em>.</p> + +<p><a name="foot154" href="#tex2html9"><sup>[9]</sup></a> Pêta refinada.</p> + +<p><a name="foot250" href="#tex2html10"><sup>[10]</sup></a> Por <em>Diós</em> +veio, por <em>Diós</em> foi.</p> + +<p><a name="foot252" href="#tex2html11"><sup>[11]</sup></a> Pois não! Todos os +que forem ladrões, tractantes, calumniadores e desavergonhados—são decididos +<em>legitimistas</em>, na bôcca do <em>Portugal-gazeta</em>.</p> + +<p><a name="foot161" href="#tex2html12"><sup>[12]</sup></a> Refinadissima pêta. +</p> + +<p><a name="foot253" href="#tex2html13"><sup>[13]</sup></a> Foi uma occasião +chamado á policia, <em>por impostura do delegado</em>, e perguntado se era o +editor do «<em>Portugal</em>» respondeu primeiro que não sabia, e depois +negativamente. Não obstante, continuou a figurar como editor, contra a expressa +determinação da lei.—Quem quizer, que commente.</p> + +<p><a name="foot164" href="#tex2html14"><sup>[14]</sup></a> Se elle estava +tonto de todo, que lhe havia de importar?</p> + +<p><a name="foot254" href="#tex2html15"><sup>[15]</sup></a> Miseravel e bem +miseravel. O <em>Portugal-gazeta</em> troca os nomes a tudo.</p> + +<p><a name="foot255" href="#tex2html16"><sup>[16]</sup></a> Fóra, +<em>farcistas</em>!</p> + +<p><a name="foot168" href="#tex2html17"><sup>[17]</sup></a> Ou alguem testou +por elle.... quem sabe?...</p> + +<p><a name="foot169" href="#tex2html18"><sup>[18]</sup></a> Podéra não!</p> + +<p><a name="foot256" href="#tex2html19"><sup>[19]</sup></a> E lhe perdoe. +<em>Amen.</em></p> + +<p><a name="foot257" href="#tex2html20"><sup>[20]</sup></a> Falla-se do +verdadeiro fundador e redactor do jornal, e não do <em>doutor</em> Cazimiro de +Castro Neves, <em>que ainda tem saudades do tempo em que jogava o seu +pião</em>, como elle proprio disse em letra redonda, não obstante as nossas +advertencias. Disse tambem que era «<em>uma pessoa physica</em>.» Veja-se, no +diccionario de Moraes, a definição de pessoa, e conhecer-se-ha que o tal +<em>menino dos olhos azues</em> é um <em>doutorasso</em>.... no jogo do pião, +que é jogo de garotos.</p> +</div> +</div> + + + + + + + +<pre> + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of O senhor Dom Miguel I, e a senhora +Dona Maria II, by João Augusto Novaes Vieira + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O SENHOR DOM MIGUEL I *** + +***** This file should be named 30355-h.htm or 30355-h.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/0/3/5/30355/ + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. 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