diff options
| author | Roger Frank <rfrank@pglaf.org> | 2025-10-14 20:01:19 -0700 |
|---|---|---|
| committer | Roger Frank <rfrank@pglaf.org> | 2025-10-14 20:01:19 -0700 |
| commit | e0aa2105dfe84ebb41dfb2d334edf044a9e7aefa (patch) | |
| tree | 6ff18fc90062eb3217f94661041d410c90774675 | |
| -rw-r--r-- | .gitattributes | 3 | ||||
| -rw-r--r-- | 34276-8.txt | 1697 | ||||
| -rw-r--r-- | 34276-8.zip | bin | 0 -> 30800 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 34276-h.zip | bin | 0 -> 32588 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 34276-h/34276-h.htm | 2030 | ||||
| -rw-r--r-- | LICENSE.txt | 11 | ||||
| -rw-r--r-- | README.md | 2 |
7 files changed, 3743 insertions, 0 deletions
diff --git a/.gitattributes b/.gitattributes new file mode 100644 index 0000000..6833f05 --- /dev/null +++ b/.gitattributes @@ -0,0 +1,3 @@ +* text=auto +*.txt text +*.md text diff --git a/34276-8.txt b/34276-8.txt new file mode 100644 index 0000000..f29e4d0 --- /dev/null +++ b/34276-8.txt @@ -0,0 +1,1697 @@ +The Project Gutenberg EBook of A Vista Alegre: apontamentos para a sua +historia, by João Augusto Marques Gomes + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: A Vista Alegre: apontamentos para a sua historia + +Author: João Augusto Marques Gomes + +Release Date: November 11, 2010 [EBook #34276] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A VISTA ALEGRE: APONTAMENTOS *** + + + + +Produced by Pedro Saborano + + + + + + A VISTA ALEGRE + + APONTAMENTOS PARA A SUA HISTORIA + + POR + + J. A. MARQUES GOMES + + SOCIO CORRESPONDENTE DO INSTITUTO DE COIMBRA + E DAS SOCIEDADES + DE GEOGRAPHIA DE LISBOA E PORTO + + + + PORTO + TYP. COMMERCIO E INDUSTRIA + 22, Rua do Corpo da Guarda, 22 + 1883 + + + + + A VISTA ALEGRE + + APONTAMENTOS PARA A SUA HISTORIA + + POR + + J. A. MARQUES GOMES + + SOCIO CORRESPONDENTE DO INSTITUTO DE COIMBRA + E DAS SOCIEDADES + DE GEOGRAPHIA DE LISBOA E PORTO + + + + PORTO + TYP. COMMERCIO E INDUSTRIA + 22, Rua do Corpo da Guarda, 22 + 1883 + + + + +AO SENHOR + +Duarte Ferreira Pinto Basto Junior + + + + +A menos de dois kilometros de Ilhavo e sobranceira ao braço da ria de +Aveiro, que liga a chamada Calle da Villa com o Bôcco, fica a Vista +Alegre. Quadra bem este titulo á risonha povoação em que um dos homens +mais prestimosos e emprehendedores que Portugal tem conhecido no +presente seculo, veio fundar a fabrica de porcelanas, que do local toma +o nome. + +A Vista Alegre como povoação em si, tem tambem como o importante +estabelecimento que a tornou conhecida tanto no paiz como no +estrangeiro, uma historia sua de quem a lenda por mais d'uma vez se +apossou já, deturpando-a. + +Não nos cançaremos em lhe procurar a etymologia pois é fóra de duvida +que o nome lhe proveio do formosissimo panorama, que a contorna, +moldurando-lhe o rosto gentil. + +Anteriormente á fundação da fabrica, a Vista Alegre não tinha fóros de +povoação, era uma quinta apenas. Um templo formosissimo e uma casa +modesta que servia de habitação aos proprietarios da quinta, eram os +unicos edificios, que ali existiam, e isto ainda no primeiro quartel do +seculo XIX. + +A fundação d'um tão bello templo, como é o de Nossa Senhora da Penha de +França, n'um sitio tão ermo, como era a Vista Alegre, fez com que muitos +principiassem a architectar romances mais ou menos verosimeis. +Imaginaram-se desterros e deportações, e bem assim fofo ninho de +criminosos amores d'um prelado illustre com uma dama de elevado +nascimento e freira professa n'um dos conventos de Lisboa. + +Não longe da Vista Alegre, a um kilometro para o sul, fica o antigo +logar da Ermida, villa e concelho até 1834 a quem D. Manoel deu foral em +8 de junho de 1514. N'esta povoação houve um praso, cuja origem data de +seculos, tendo por cabeça uma grande quinta denominada o Paço da Ermida. +Este praso e quinta andava no senhorio dos Mouras Manoeis, familia muito +illustre, pois trazem a sua descendencia de D. Branca de Sousa, filha de +Lopo Dias de Sousa, grão-mestre da Ordem de Christo. + +Alguns escriptores teem confundido a quinta da Ermida com a da Vista +Alegre, e affirmado que foi seu proprietario o bispo de Miranda, D. +Manoel de Moura Manoel. + +Nem a quinta da Vista Alegre já foi conhecida por quinta da Ermida, nem +tão pouco aquelle prelado foi dono de qualquer d'ellas. + +É fóra de duvida que D. Manoel de Moura Manoel vinha frequentes vezes +passar alguns dias e ás vezes, mezes até, á quinta da Ermida, que +conjunctamente com o praso do mesmo nome pertencia a seu irmão +primogenito Ruy de Moura Manoel. Durante a sua estada aqui, travou +relações com o proprietario da quinta da Vista Alegre, o Dr. Manoel +Furtado Botelho, relações que se foram tornando cada vez mais intimas de +sorte que passados annos edificou em terrenos dependentes da mesma +quinta a Capella de Nossa Senhora da Penha de França. + +Por morte de Ruy de Moura Manoel, passou a quinta da Ermida para seu +filho Rodrigo de Moura Manoel, que tendo casado com D. Rosalia da Silva, +filha de Luiz Lobo da Silva, governador e capitão general de Angola +morreu sem successão, pelo que os seus bens passaram para suas irmãs. A +Ermida pertenceu a D. Maria Maximilianna, casada com Jeronimo de +Castilho. Por morte d'este, ficou sendo senhor d'ella seu filho Jeronimo +Antonio de Castilho que conjunctamente com sua mulher D. Joaquina Izabel +Freire de Castro, a vendeu por escriptura lavrada nas notas do tabellião +da então villa de Aveiro, Manoel de Sousa Bastos em 15 de janeiro de +1727, a Zeferino Rodrigues Caudello. Em 17 de março de 1812 fez venda da +mesma quinta ao snr. José Ferreira Pinto Basto, D. Bernarda Thereza +Umbelina Caudello de Maviz Sarmento, néta do referido Zeferino Rodrigues +Caudello. + +O proprietario da quinta da Vista Alegre Dr. Manoel Furtado Botelho, +tendo fallecido em 9 de setembro de 1733, dispoz dos seus bens como se +vê da parte do seu testamento que passâmos a transcrever do livro dos +obitos da freguezia de Ilhavo, no anno de 1733: «que seria sepultado na +capella de Nossa Senhora da Penha de França, e deixava entre outras +missas, cincoenta pela alma do seu amigo o snr. Bispo que foi de +Miranda. Instituia por sua universal herdeira D. Theodora de Castro +Moura Manoel, de seus bens, e que esta poderia vender d'elles o que lhe +parecesse para dividas e ser freira sem constrangimento de pessoa alguma +nem justiça alguma lhe tomaria conta, nem lhe fariam inventario; e os +bens que ficassem por sua morte d'ella, iriam ao usufructo do seu +testamenteiro o padre licenciado Domingos Ferreira da Graça, cura de +Ilhavo, e por morte d'este a Nossa Senhora da Penha de França da Vista +Alegre, que entrando na posse seria obrigada a fabrica da capella a +fazer uma festa á dita Senhora em 8 de setembro de cada anno, da qual o +capellão daria contas ao Dr. Vizitador.» + +Não foram, ao que parece, totalmente cumpridas as disposições do +testador, pois é certo que os seus bens tiveram um destino muito +differente do que o que lhe havia marcado. + +D. Theodora de Castro Moura Manoel era como o proprio nome o indica +filha do bispo de Miranda, a quem pertencia tambem o appellido _Castro_ +pois o houve de sua mãe, D. Maria de Castro. Aquella senhora, destinada +segundo parece para a vida claustral, não tomou o habito, nem tão pouco +chegou a casar, mas teve um filho, a quem deu o nome de seu pae, d'ella, +Manoel Pereira de Moura Manoel, que ordenando-se foi abbade da freguezia +de S. Romão de Guimarães. + +O appellido _Pereira_, do mesmo modo que o de _Castro_ era tambem +pertença do bispo, pois era segundo neto de João Rodrigues da Costa e de +sua mulher D. Isabel _Pereira_. + +O abbade Manoel Pereira de Moura Manoel morreu ainda em vida de sua mãe, +mas não sem deixar successão, pois teve uma filha de D. Clara Maria +de Barros, natural de Gondar, no concelho de Guimarães, D. Josepha +Caetana de Castro, que casou em 20 de novembro de 1748 com o capitão +Manoel Alvares Brandão, de Santa Marinha de Taboa, no bispado de +Coimbra. D'este consorcio nasceram duas filhas e um filho que todos +foram baptisados na egreja de S. Salvador de Ilhavo, a cuja parochia +pertence a Vista Alegre. + +D. Theodora de Castro Moura Manoel falleceu em 1767, sendo sepultada na +capella de Nossa Senhora da Penha de França, quaes porém as suas +disposições testamentárias se as deixou, são desconhecidas. + +O testamenteiro do dr. Manoel Furtado Botelho, o padre licenciado +Domingos Ferreira da Graça, para quem devia passar o usufructo da +herança que aquelle havia deixado a D. Theodora de Castro Moura Manoel, +sobreviveu ainda a esta, pois só falleceu em 7 de maio de 1772, mas se +elle usufruiu ou não a herança é que é ponto muito duvidoso, sendo certo +porém que tal herança por venda ficticia ou por outro qualquer meio, +nunca chegou a pertencer á fabrica da capella de Nossa Senhora da Penha +de França, pois passou para o capitão Manoel Alvares Brandão e d'este +para seus filhos, um dos quaes Alexandre de Castro Brandão, que foi +capitão-mór de Cantanhede, vendeu em 1815 a quinta e capella da Vista +Alegre ao snr. José Ferreira Pinto Basto. + +Esboçamos a historia da Vista Alegre, agora resta-nos reunir aqui alguns +apontamentos biographicos do fundador da capella de Nossa Senhora da +Penha de França e fazer uma descripção ainda que rapida da mesma capella. + +D. Manoel de Moura Manoel nasceu em Serpa, sendo seus paes, Lopo +Alvares de Moura e D. Maria de Castro. Filho segundo d'uma casa +vinculada como era a sua, e não querendo seguir a carreira das armas, +abraçou a que lhe restava, segundo o seu nascimento--a ecclesiastica. +Seguindo os estudos superiores na Universidade de Coimbra, doutorou-se +em Canones, e na qualidade de oppositor a uma das cadeiras d'esta +faculdade, foi eleito collegial do Real Collegio de Paulo em 28 de julho +de 1638, sendo reitor do mesmo o dr. Ambrosio Trigueiros Semmedo. + +Em 17 de dezembro de 1660 foi nomeado conego doutoral da Sé de Lamego, +d'onde passou para a de Braga por promoção que obteve no 1.º de maio de +1666. + +Nomeado deputado da Inquisição de Évora passou para Inquisidor da de +Coimbra em 13 de outubro de 1663, e a deputado do Conselho Geral do +Santo Officio em 13 de abril de 1674. + +Eleito em lista triplice para reitor da Universidade, foi provido n'este +logar por el-rei D. Pedro II, em 23 de agosto de 1683, que o nomeou por +essa occasião sumilher da cortina. Havendo prestado juramento em 16 de +novembro daquelle anno, governou a Universidade até o 1.º de fevereiro +de 1690 em que foi eleito o seu successor D. Nuno da Silva Telles. + +Durante o seu reitorado residiu por differentes vezes em Lisboa, +principalmente nos annos de 1688 e 1689. + +Escolhido para bispo de Miranda em 28 de abril de 1689, foi sagrado em +outubro do mesmo anno na egreja parochial de Nossa Senhora dos Anjos de +Lisboa, pelo cardeal D. Verissimo de Lencastre, sendo assistentes D. +Fr. Luiz da Silva, bispo da Guarda, e D. Simão da Gama, bispo do Algarve. + +Fazendo jornada para as Caldas de S. Pedro do Sul, adoeceu gravemente +nos Ferreiros, proximo a Vizeu, e ahi falleceu em 7 de setembro de 1699. +Durante a doença foi-lhe enfermeiro sollicito o bispo d'aquella diocese, +D. Jeronimo Soares, que assistiu tambem ao seu funeral e ordenou que +fosse sepultado na capella-mór da egreja d'aquella freguezia, d'onde as +suas cinzas foram trasladadas para a Vista Alegre em 1706. + +Ignora-se o anno em que D. Manoel de Moura Manoel mandou edificar a +capella de Nossa Senhora da Penha de França, mas ainda assim parece não +haver duvida que foi já depois de estar bispo em Miranda. + +É de bello aspecto a frontaria do templo, avistando-se a algumas leguas +de distancia os corucheus das suas duas torres. O interior não é menos +elegante. As paredes do corpo da capella são forradas d'alto a baixo de +bons azulejos, todos coevos da sua fundação--fins do seculo XVII,--é a +aboboda ornatada de boas pinturas a fresco. Tem dois altares lateraes de +boa talha dourada, dedicados ambos á Virgem, sob a invocação do Rosario +e da Conceição. O retabulo e altar da capella-mór são trabalhos +primorosos em fino marmore de Italia. + +Embebido na parede da mesma capella e do lado da epistola, está o tumulo +do fundador, fabricado primorosamente de granito de Ançã. + +A urna funerária é sustentada por tres leões de farta juba, que parecem +prestes a ser esmagados pelo seu peso. + +No centro da urna, levantado em alto relevo, está um escudo oval +partido, com as armas dos Mouras Manoeis, tendo por timbre um chapeu +episcopal. + +Sobre ella está a figura do bispo, de vestes prelaticias, meia deitada, +com a mão esquerda sobre o peito e a direita estendida com que a apontar +para o Tempo, que está ao fundo sobraçando o panno mortuario que deve +cobrir o sarcophago. + +A execução é primorosa, conhecendo-se até nos mais pequenos lavores o +primor do cinzel que o trabalhou. + +O povo rude das aldeias visinhas, acredita que tal obra não podia ser +executada por mãos de homens, e por isso attribue-a ao diabo, creando +uma lenda que o snr. Brito Aranha reproduziu já no seu bello livro +_Memorias historico-estatisticas de algumas villas e povoações de +Portugal_. + +O nome do esculptor Claudio de Laplada cahiu com effeito no olvido, de +sorte que o forasteiro, que visitando a Vista Alegre perguntasse quem +havia feito o tumulo do bispo, recebia sempre em resposta aquella lenda. + +Fronteiro a este tumulo, está um outro, muito mais modesto, sem duvida, +mas ainda assim digno de ser apreciado, como obra que é do mesmo +artista. Sobre uma urna funeraria, onde se vê tambem um escudo, com as +armas dos Castros, está sentada uma figura de mulher sustentando na mão +esquerda um baixo relevo, representando uma cabeça de freira, allusão +sem duvida á vida monachal que o bispo desejava que sua filha D. +Theodora de Castro Moura Manoel abraçasse, pois era, como as treze +arruellas dos Castros do escudo o indicam, para ella destinado o +moimento. + +Por debaixo d'este tumulo e por tanto fronteiro ao do bispo está uma +grande lapide de marmore branco, tendo gravada a seguinte inscripção +latina: + + _Deo opt.º Max.º + Deiparae virgini + Diei ultimae_ + + _Supremo Judicio Supremus Judex: + Rectrici universi Rector universitatis: + Episcopo animarum Animosus episcopus._ + + _In + Mortis asylum, voti titulum, gratitudinis + tropheum, + Hoc templum, hanc aram, hunc tumulum + dedicat sacrat signat + Ill.mus et R.mus Dõnus + D. Emmanuel de Moura Manuel + Qui + A B. Ferdinando Castellae Rege progenitus, + sanctorum soboles, electum genus est: + Armis et literis, ordine, et cursu manens, + stella micans, et dimicans fuit: + Aulae supernae cum Pontificibus ascriptus + simili gloria sacerdos Christi erit. + Favente natura, comite, virtute, auxiliante + gratia. + Cui + Ortum dedere Serpae ter maxime conjuges + Lupus Alvares de Moura, + commendator de Trancoso, + Trium Ecclesiarum Patronus, Trium + maioratuum Dõnus + Et D. Maria de Castro + Ex Imperiali Emmanuelium stirpe pari + nobilitate decorata. + Quem + Serenissimi Portugaliae Reges + Destinarunt caducco, Selegerunt consilio: + Sancti Officii Tribunal + Judicem habuit Deputatum Inquisitorum + dignissimum: + Academia Conimbricensis + Collegam educavit, Rectorem coluit. + Ecclesiae Luzitanae + Canonicum nutrierunt alumnum, et sponsum + receperunt Episcopum. + Tot gradus Providentia Supponente, + Ut meritis augeretur, quod sanguini + debebatur. + Cujus + Magnutudinem Integritatem Sapientiam + Multiplex fama loquitur, + Ipsa Juvidia fatetur, + Hoc opus salamonicum testatur. + Quo + Arca coronata, suffulciens, Propitiatorium, + Custodit miraculosum simulachrum + Virgae Virginis quae rupit rupem. + De cujus nativitate, quam celebrat, gaudens, + Sub cujus umbra, quam desiderat, sedens, + Zoculo fecit locum; + Munimentum construxit monumento. + Herculeas columnas, vel potius Machabaicas, + Saxeas fixit, non terreas finxil, + Ut viderentur ab omnibus navigantibus mare: + Non plus ultra. + Hujus tanti viri si effigiem quaeris, + Inspict utrumque antrum: + Franci--hispanicum scilicet, et + Bethlemiticum. + Quibus + Ut simon dormit; ut Pastor vigilat; + Immo etiam vigilat, cum dormit; + Nam illic spiritus inter vigiles associatur + Caelesti militiae, + Dum hoc corpus, virginis protectione securum + Requiescit in pace. + Hoc Epitaphium insculptum Fuit anno + Domini 1697._ + + * * * * * + + TRADUCÇÃO + + Ao Deus Omnipotente + Á Virgem Mãe de Deus + para o ultimo dia. + + Juizo supremo + Moderador do Universo + Bispo das almas. + + + Supremo Juiz + Reitor da Universidade + Bispo animoso + Para + Asylo na morte, satisfação d'um voto + monumento de sua gratidão + dedica este templo, consagra este altar; + erige este tumulo + o Ill.mo e Rev.mo Snr. + D. Manoel de Moura Manoel, + a quem + O sangue do bemaventurado D. Fernando + Rei de Castella + Communicou as virtudes d'uma raça d'eleições + nunca desmentidas: + --nas armas, nas letras, na gerarchia;-- + no progredir + Astro de brilho constante, + Inscripto entre os Pontifices na superna + Curia partilhara similhante + gloria no sacerdocio de Christo: + Não lh'o nega a natureza; acompanha-o + a virtude, auxilia-o a graça. + Viu a luz em Serpa + gerado dos preclarissimos esposos + --Lopo Alvares de Moura-- + Commendador de Trancoso, + Padroeiro de tres Egrejas e Senhor + de tres morgados, + e--D. Maria de Castro-- + descendencia não menos illustre: + da familia imperial dos Manoeis. + Os Serenissimos Reis de Portugal + destinaram-o para o Caducco, e elegeram-o + para o seu Conselho; + O Tribunal do Santo Officio + no cargo de Juiz deputado o possuiu como + lustre de inquisidores. + A Academia Conimbricense + houve-o por collega, e o recebeu + por seu Reitor. + As Egrejas de Portugal + o occuparam no tirocinio de Conego, + venerando-o depois como Bispo. + Permittiu a Providencia quando passasse por + estas provas, para que adquirisse + pelos meritos o que ao sangue era devido. + A fama sem descanço apregoou + a sua magnanimidade, inteireza, sabedoria, e + mesmo a inveja isto confessa; + e testemunha-o esta obra Salomniaca + em que + qual arca curvada, para abrigo, Propiciatorio, + se venera a miraculosa imagem + da vara da Virgem, que fende a rocha, + Em honra da sua natividade, que celebra + jubiloso levantou grande monumento + em pequeno recinto, esperando + repousar á sua sombra, porque aspira. + N'elle + Construiu para defesa do monumento + Columnas d'Hercules ou antes Machabaicas + fortes, e não frageis;[1] + para que todos quantos correm o mar + saibam + que se não pode passar além. + Se desejas conhecer o retrato de tão + illustre varão, busca-o nas duas grutas, + na franca hispanica e na bethelemica. + Se + n'ellas como Pedro dorme, está vigilante + como pastor; + ou antes seu somno é a vigilia; + pois além se associa á celeste milicia entre + os vigilantes espiritos, + aqui o seu corpo está sob a guarda da Virgem, + Repousa em paz. + Este epitaphio foi feito no anno + de Christo de 1697. + + [1] Refere-se ás torres da capella. + +Um outro monumento antigo da Vista Alegre, é a fonte do Carapichel, hoje +quasi soterrada, mandada construir em 1696 pelo bispo D. Manoel de Moura +Manoel, e notavel pela sua fórma e excellente agua, e muito +principalmente por uma inscripção em caracteres gothicos e que é a que +passamos a transcrever: + + «Esta fonte, ó navegante, + cuja liquida corrente + cristaes prodiga desata + attenções vistosa prende. + Esta nympha que ao Vouga + só em leguas mais de sete + adoça as aguas salgadas, + feita Nayade ou Nereide. + Esta agua que o bem commum + á vara liberal deve + de um sabio pastor sacro + militar, juiz, regente. + Esta veia cuja origem + a do Paraiso excede; + pois da casa da Senhora + mais bem nascida descende. + Contém todas as virtudes + das fontes mais excellentes + e dá remedios á vida + depois de dar morte á sede + se a frequentas por agrado. + + + * * * * * + + «Sendo aos narcisos enfeite + é das graças Natalis + e das musas Hippocrene + e Aratuhsa de Alpheo + mas por modo differente: + pois de um rio a outro rio + aquella foge, esta segue. + Egeria de melhor Numa + que magnifico e prudente + na arca o numero invoca + no tanque a prata dispende. + Biblis que, sem culpa, ao rio + irmão por parte de Thetis + murmurando a esquivança + vae abraçar docemente. + Fonte emfim do sol contigua + ao templo de Deus dos Deuses + contra a calma a fonte fria + para o frio fonte quente. + Se a buscas por medicina + é qual a de Circe ou Séthys. + + + * * * * * + + «Fonte que as doenças cura + cristal que a vista esclarece + iguala a fonte de Marsyas + com benéfica antitheses: + pois se aquella pedras cria + est'outra pedras derrete. + Não se turba com as vozes, + antes para que a celebrem, + sarando-as como a de Samos + as louva como a de Eleasis. + Ao que estuda suas margens + activa a memoria sempre + como a fonte de Beocia, + opposta ao curso de Lethes. + A quem da fonte Salmacis + bebeu as aguas ardentes + esta agua banhando as fontes + livra do amor, qual Seleno, + e quando perdido abrindes + achas no Vouga ou heyncestes + esta qual fonte de Erigon + + + * * * * * + + «faz com que o vinho aborreces. + Se por devoção visitas + sua affluencia perenne + é choro com que olhos pios + na capella á Virgem servem. + É fonte de Jerichó + que as plantas da rosa vestem + e que outro Eliseu com Moura + fez suave, lenta e fertil. + É fonte prophetisada se tanto póde dizer-se + pois sae do templo santo + e vae regando a torrente. + Do mar de graças Maria + o rio e fonte procedem + mas lá junto á lapa mana + cá da mesma penha desce. + Bebe, pois, bebe á vontade + acharás que é (muitas vezes) + tão util para a saude + quão para a vista alegre.» + + * * * * * + +Historiamos ainda que a largos traços a historia da Vista Alegre e +fizemos a descripção dos seus monumentos antigos, agora é mister que nos +occupemos da sua historia moderna e do importante estabelecimento que a +fez florescer e tornou conhecida no mundo da Arte. + +Os portuguezes que haviam sido os primeiros povos da Europa, que +introduziram a porcelana oriental no commercio do Occidente, foram quasi +que os ultimos a ensaiarem o seu fabrico. Datam apenas do ultimo quartel +do seculo XVIII estes ensaios, realisados em Lisboa pelo brigadeiro +Bartholomeu da Costa e no Rio de Janeiro, pelo professor regio, João +Manso Pereira. + +Parece que as experiencias de Bartholomeu da Costa para obter a +porcelana dura, foram feitas na antiga fabrica do Rato, empregando como +materia prima, differentes barros explorados nas visinhanças de +Aveiro. + +Ignora-se hoje quaes seriam estes barros, não obstante o affirmar-se, +não sabemos com que fundamento, que foi o de Talhadella, concelho de +Albergaria. O que é certo porém é que no arsenal do Exercito em Lisboa, +quando se estudava o melhor systema de fundir a estatua de El-Rei D. +José I, se reuniu uma importante collecção de barros de differentes +pontos do paiz, contando-se n'este numero o de Talhadella, que foi o +preferido para a edificação do forno onde se deluiu o metal. + +As qualidades refractarias d'este barro eram conhecidas já então, pois +havia annos antes que um chimico francez,--Drout, o havia descoberto, +fazendo até com elle magnificos tijolos refractarios, para o que +estabeleceu um forno nas proximidades d'Aveiro, segundo affirma Raton. + +Dos resultados obtidos por Bartholomeu da Costa para o fabrico da +porcelana, são hoje apenas conhecidas uma medalha representando em +relevo a estatua equestre do Terreiro do Paço, e uns camafeus com o +busto de D. Maria I. Tanto aquella, como estes, são copias de medalhas +abertas em 1775, por um dos nossos mais notaveis gravadores e illustre +filho d'Aveiro--João de Figueiredo. + +Depois d'estas tentativas para obter uma verdadeira porcelana outras se +fizeram em Coimbra, mas sem melhor, ou nem mesmo igual, resultado, até +que o snr. José Ferreira Pinto Basto, estabeleceu um pequeno laboratorio +chimico no jardim do seu palacio do largo das Duas Egrejas em Lisboa, +isto em 1820 ou 1822, afim de descobrir barros com os requisitos +necessarios para fabricar porcelana. + +Parece que quem incutiu no animo esclarecido d'aquelle benemerito +patriota esta ideia foi o general José Pedro Celestino Soares, que +possuia alguns dos produtos obtidos por Bartholomeu da Costa. + +Foram, segundo consta, pouco animadores os resultados agora obtidos pelo +snr. José Ferreira Pinto Basto, mas como o seu animo emprehendedor não +tolerava peias nem tão pouco afrouxava perante qualquer contrariedade +fosse ella qual fosse, resolveu proseguir as experiencias iniciadas, +fundando desde logo uma grande fabrica. + +O local aprazado foi Aveiro, e isto por a tradicção indicar como sendo +d'aqui o barro de que Bartholomeu da Costa obteve a sua chamada porcelana. + +Apesar de possuir as duas magnificas propriedades da Ermida e da Vista +Alegre, o snr. José Ferreira Pinto Basto, quiz estabelecer a nova +fabrica na propria cidade, e para isso entabolou negociações com o +proprietario da Quinta dos Santos Martyres, para a adquirir, o que não +poude conseguir por esta propriedade fazer parte de um antigo vinculo. +Attenta esta difficuldade, resolveu então estabelecer a fabrica na Vista +Alegre, para o que se principiaram a fazer ali differentes edificações. + +Foi em janeiro de 1824, que principiaram os trabalhos para a fabrica, a +que veio presidir um dos filhos do fundador, o snr. Augusto Ferreira +Pinto Basto. + +Uma das obras que primeiro se concluiu foi um pequeno forno para cozer +louça, feito segundo as indicações e immediata direcção de Domingos +Raimão, oleiro d'uma fabrica de Coimbra. + +Em abril fizeram-se as primeiras experiencias para obter a porcelana. +Realisou-as Bento Fernandes, mestre de olaria na fabrica de Rato, com o +barro de Util, concelho de Cantanhede,--e o de Talhadella, do +concelho de Albergaria a Velha. Foi pouco satisfatorio o resultado +obtido, mas ainda assim a ideia da fundação da fabrica não soffreu +quebra de sorte que o snr. José Ferreira Pinto Basto pediu a El-Rei D. +João VI para que lhe fossem concedidos os privilegios de que gosava a +fabrica de vidros da Marinha Grande, o que obteve como consta dos +documentos que segue: + +«D. João, por graça de Deus, rei do reino unido de Portugal, Brazil e +Algarves, d'aquem e d'além mar em Africa, Senhor de Guiné, etc., etc. + +Faço saber que José Ferreira Pinto Basto me representou por sua petição, +que elle pretendia erigir para estabelecimento de todos os seus filhos +com egual interesse, ainda mesmo os menores logo que cheguem á idade +competente, uma grande fabrica de louça, porcelana, vidraria e processos +chimicos, na sua quinta chamada da Vista Alegre da Ermida, freguezia de +Ilhavo, comarca de Aveiro, visinha á barra, pedindo-me que eu houvesse +por bem de auctorisar este estabelecimento na fórma proposta e +conceder-lhe a isenção de direitos de todos os materiaes que necessarios +lhe forem para a sua laboração; assim como tambem das manufacturas que +exportar para o Brazil ou para qualquer parte deste reino e dos paizes +estrangeiros, e todas as mais graças, privilegios e isenções de que +gosam, ou gosarem de futuro as fabricas nacionaes, e particularmente a +dos vidros da Marinha Grande, no que lhe forem applicaveis; e tendo em +consideração, ao dito requerimento, e constando-me por informação do +corregedor da comarca, a que mandei proceder, que o projectado +estabelecimento deve ser de grande utilidade para os povos pela vastidão +dos seus differentes ramos; que é construido em edificio proprio, em +que já se teem feito avultadissimas despezas; que o seu local é o mais +vantajoso por ficar nas margens de um rio navegavel, rodeado de +pinheiros e outras materias combustiveis, assim como de excellentes +barros, areias finas e brancas, e seixo crystallisado, tudo proprio para +as vidrarias e porcelanas, como se tem verificado por felizes ensaios; e +finalmente que o supplicante é um dos negociantes mais ricos e grande +proprietario de muitos predios, tanto n'aquella comarca, como nas do +Porto e Penafiel, sendo além d'isso dotado de um genio emprehendedor, a +quem as difficuldades não embaraçam, nem desanimam as despezas; por +todos estes motivos: hei por bem de approvar o mesmo estabelecimento na +fórma pedida, concedendo-lhe todas as graças, privilegios, e isenções de +que gosam ou vierem a gosar as outras fabricas de identica natureza: e +mando a todas as justiças e mais pessoas a quem o conhecimento d'esta +pertencer, que assim o cumpram e façam cumprir como n'ella se contêm, +sem duvida ou embaraço algum. + +El-Rei nosso senhor o mandou pelos ministros abaixo assignados, +deputados da real junta do commercio, agricultura, fabricas e navegação. +_Anselmo de Souza Machado Corrêa de Mello_ a fez. Lisboa, em 1 de julho +de 1824.--D'esta 800 reis.--No impedimento do deputado secretario, _José +Antonio Gonçalves_ a fez escrever.--(Assignados) _José Manoel Placido de +Moraes e José Antonio Gonçalves_». + +«Seguem-se os registos da real junta do commercio de 22 de fevereiro de +1826; da alfandega de Lisboa de 23 de fevereiro de 1826: da alfandega do +Porto de 1 de maio de 1826; da alfandega de Aveiro de 19 de maio de +1826; da alfandega de Villa do Conde de 9 de junho de 1825». + + * * * * * + +«D. João, por graça de Deus, imperador do Brazil, e rei de Portugal e +dos Algarves, d'aquem e d'além mar em Africa, Senhor de Guiné, etc., etc. + +Faço saber aos que esta provisão virem, que subindo á minha imperial e +real presença, pela real junta do commercio, a consulta a que mandei +proceder sobre o requerimento de José Ferreira Pinto Basto, em que pedia +privilegio exclusivo por vinte annos, para o fabrico de porcelana, +vidraria, e processos chimicos da sua fabrica, estabelecida e approvada +por provisão de 1 de julho de 1824, na sua quinta da Vista Alegre, sita +no termo e freguezia de Ilhavo, comarca de Aveiro, supplicando +igualmente a prohibição absoluta de se exportarem as materias primas da +mesma porcelana, para que outros emprehendedores não usem tirar commodo +dos assiduos trabalhos, fadigas e grandes despezas, que empregou na +descoberta das referidas materias nas visinhanças do Porto e Aveiro, +sendo elle o primeiro descobridor. E constando pela mencionada consulta +e averiguações que lhe precederam, estar o supplicante nas +circumstancias de obter as graças que implora: fui servido conformar-me +com o parecer d'ella, por minha immediata resolução de 5 de dezembro do +dito anno: e hei por bem conceder ao supplicante o exclusivo que pede +por tempo de vinte annos, ampliando o de quatorze, que a lei em geral +permitte; em attenção á utilidade e circumstancias particulares d'este +estabelecimento; ficando-lhe outrosim concedida a absoluta +prohibição de se exportarem as materias primas para a porcelana, +descobertas pelo supplicante, e confirmados os mesmos privilegios e +prorogativas de que gosam as mais fabricas do reino como se expressa, na +primeira provisão. E mando ás justiças e mais pessoas a quem o +conhecimento d'esta pertencer, que a cumpram e guardem conforme n'ella +se contém, fazendo tranzito pela chancellaria mór do reino». + +Pagou de novos direitos 540 reis, que se carregaram ao thesoureiro +d'elles a fl. 165 v. do livro 40.º e se registou o conhecimento a fl. +119 v. do livro 96.º + +O imperador e rei nosso senhor o mandou pelos ministros abaixo +assignados deputados da real junta do commercio, agricultura, fabricas e +navegação.--_José Antonio Ribeiro Soares_ a fez em Lisboa, a 3 de março +de 1826.--D'esta 800 reis.--Na ausencia do deputado secretario, a fez +escrever e assignou _Luiz Antonio Rebello e José Antonio Gonçalves_». + +Seguem-se os mesmos registos copiados na provisão anterior. + +Estava portanto fundada a fabrica de porcelana, mas restava descobrir o +kaulin de que ella se obtem. Fabricava-se louça é verdade, mas esta +louça era má faiança em vez de boa porcelana. Procuraram-se barros em +differentes pontos do paiz, e construiram-se novos fornos, conforme +plantas vindas de Sevres, mas nada disto deu o resultado que se +desejava, de sorte que em 1826 o fundador contractou na Saxonia tres +artistas para virem dirigir o fabrico da porcelana e ensinal-o aos +operarios portuguezes. + +Dos tres só vieram dois, sendo apenas verdadeiro artista um, José +Scórder, pois o outro não passava de um charlatão. Scórder, que era um +modelador de merito, prestou importantes serviços á fabrica, creando +bons discipulos que lhe perpetuaram o nome. + +Como o artista contractado na Allemanha, que não chegou a partir, apesar +de haver recebido já um importante subsidio para as despezas da viagem, +era quem devia tomar a direcção da officina de pintura, contractou o +snr. José Ferreira Pinto Basto, n'aquelle mesmo anno, dois pintores de +louça, João Maria Fabri e Manoel de Moraes, discipulos da Casa-pia de +Lisboa. Aquelle morreu um anno depois de ter vindo para a Vista Alegre; +este conservou-se ali até 1833, não como pintor, mas sim como esculptor, +produzindo n'este genero bons trabalhos. + +Tudo parecia agourar um feliz resultado, mas tal resultado cada vez se +ia tornando mais demorado e incerto, de sorte que a empresa teria +succumbido ás innumeras difficuldades que surgiram de todos os lados, se +á testa d'ella e dominando tudo não estivesse a incansavel actividade, a +poderosa energia, e invencivel perseverança do snr. José Ferreira Pinto +Basto. + +Os operarios estrangeiros conheciam o trabalho dos materiaes a que nos +seus paizes estavam habituados, e não podiam fazer obra por aquelles que +na Vista Alegre se lhes offereciam; a sua aptidão sendo como era +puramente pratica não podia por si só crear ou modificar processos; +necessitava que o genio inventivo e a sciencia viessem em seu auxilio. O +snr. Ferreira Pinto reconheceu esta verdade, de sorte que em 1830 mandou +seu filho o snr. Augusto Ferreira Pinto Basto, a França, a fim de +estudar na fabrica de Sevres, verdadeira escola das artes ceramicas, os +melhores processos e meios de investigação. + +Ali recebeu aquelle cavalheiro sabios conselhos e preciosas +indicações do director d'aquella importante manufactura, o illustre +Brogniart, que lhe fez ver a completa impossibilidade de se fabricar +porcelana, sem o kaulin, que era o que faltava na Vista Alegre. + +O snr. Augusto Ferreira Pinto regressou a Portugal trazendo amostras do +kaulin empregado em Sevres, e depois da sua chegada os ensaios e +experiencias continuaram incessantemente na Vista Alegre, mas sempre sem +melhor resultado, até que em 1834 se descobriu o verdadeiro kaulin. + +O snr. Ferreira Pinto tinha mandado vir de differentes pontos do paiz, +por intermedio dos administradores do contracto do tabaco, de que elle +era arrematante, amostras de quantos barros havia mais ou menos +conhecidos, a fim de se ver se entre elles se encontrava o desejado +kaulin. Estes barros eram todos submettidos a um exame chimico, mas com +resultado sempre negativo para o fim que se tinha em vista. + +Ao mesmo tempo que se procedia a estes exames um aprendiz de oleiro, +fazia por conta propria algumas experiencias não só com aquelles barros, +mas com outros que a pedido seu lhe eram trasidos por operarios que dos +concelhos de Ovar e Feira vinham trabalhar nas construcções que na Vista +Alegre se estavam fazendo. Entre estes barros veio o kaulin de Val Rico, +d'aquelle ultimo concelho; trouxe-o um trolha e foi reconhecido pelo +aprendiz oleiro que, no meio da sua humilde obscuridade, prestou o +grandiosissimo serviço á fabrica de lhe descobrir a materia prima para o +fabrico da porcelana, serviço este que não tinha podido ser prestado por +os administradores do contracto do tabaco, do paiz inteiro, que d'isso +haviam sido encarregados. + +O descobridor pois do kaulin empregado hoje na Vista Alegre foi Luiz +Pereira Capote, natural de Ilhavo, que falleceu em 1870. + +Descoberto o kaulin, principiou desde então a fabrica a produzir +porcelana dura, datando portanto de 1834 o seu fabrico, que se foi +aperfeiçoando gradualmente, de fórma que em 1840 principiou a Vista +Alegre, a poder competir em qualidade com fabricas estrangeiras, o que +não succedeu com os preços, pois produzia só caro. + +O elevado dos preços difficultou durante alguns annos a extracção de +louça, tornando-a pouco conhecida. Os armazens da fabrica estavam +atulhados de louça, quando em maio de 1846 rebentou no Minho a revolução +popular. Os proprietarios da fabrica receiosos de que ella fosse victima +da furia popular annunciaram a venda por lotes de toda a louça em +deposito, venda que se realisou por preços bastante convidativos, que +fez com que os productos da Vista Alegre se espalhassem, divulgando o +seu bem acabado e a sua barateza. Estava aberto um novo periodo de +prosperidade para a fabrica, mas este periodo só principiou a sentir-se +de 1848 em diante, pois o resto do anno de 1846 e maior parte do de +1847, a fabrica nada produziu, pois estava fechada em resultado dos +acontecimentos politicos d'essa epocha. + +Prosperando sempre d'anno para anno, a fabrica chegou ao apuro em que +hoje está, apresentando largas tendencias para progredir, tal é a activa +e intelligente direcção que hoje tem. Para se avaliar dos progressos da +fabrica basta dizer-se que os seus productos tem sido premiados em todas +as exposições de Londres, Paris, Philadelphia, Vienna d'Austria, Rio +de Janeiro e Porto; do consumo que tem obtido os mesmos productos +são prova irrefutavel os seguintes algarismos: + +Em 1860 . . . . . 21:949$000 + +Em 1870 . . . . . 26:994$000 + +Em 1880 . . . . . 49:750$000 + + * * * * * + +Conjunctamente com a fabrica de porcelana, fundou o snr. José Ferreira +Pinto, na Vista Alegre no mesmo anno de 1824 uma outra de vidro e +cristal, que lhe ficou annexa. Os primeiros trabalhos foram dirigidos +por um allemão, Francisco Miller, que havia annos já estava dirigindo a +do Côvo, no concelho de Oliveira d'Azemeis, o qual foi substituido em +1826 por João da Cruz e Costa, de Lisboa, que esteve a dirigir o fabrico +do vidro até 1834. + +Foram desde logo bastante satisfatorios os resultados obtidos, de sorte +que o fundador procurou pol-a logo a par das melhores do estrangeiro, +mandando vir mestres experimentados para as differentes officinas de +lapidação e floristagem. + +Para aquella contractou em 1820 na Inglaterra Samuel Hunles, que veio +para a Vista Alegre ganhar 2$400 reis diarios, e ali esteve até 1828, +deixando bons discipulos. + +O mestre de florista era italiano, e não passou de Lisboa, onde chegou +em 1827, por alguem lhe affirmar que era muito miasmatico o clima da +Vista Alegre. Para ali foram os aprendizes d'esta officina, que ao fim +de tres annos de pratica foram dados por promptos, affirmando o +mestre que um d'elles João Ferreira Ribeiro, de Vagos, estava já mais +mestre do que elle, o que não era sem fundamento, pois veio para a Vista +Alegre dirigir a officina de florista o que fez com talento. + +No periodo decorrido de 1836 a 1840, foi enorme a producção do vidro, e +todo da melhor qualidade, pois alguns dos productos fabricados n'esta +epocha são de uma perfeição inexcedivel. + +Quando n'aquelle anno o fabrico da porcelana entrou na phase de +aperfeiçoamento e progresso a que já nos referimos, o do vidro +principiou a decahir consideravelmente até que cessou de todo em maio de +1846. + +Em meados de 1848 continuou a fabricar-se mas em muito menor quantidade +e esta mesma só de liso, pois os lapidarios e floristas, durante aquelle +interregno, uns tinham ido para a fabrica da Marinha Grande, outros +applicaram-se a outros misteres, de fórma que os tempos aureos da +fabricação do vidro na Vista Alegre, passaram para nunca mais voltarem. + +Em 1880 acabou de todo a fabrica de vidro, demolindo-se o respectivo +forno, mas mesmo já até a esta epocha eram grandes as interrupções que +se davam com o seu fabrico, estando por vezes muitos mezes sem trabalhar. + + * * * * * + +Annexo á fabrica de porcelana e vidro, houve tambem um laboratorio +chimico, e a elle se referem os reaes Alvarás de 1 de julho de 1824 e 3 +de março de 1826. Foi fundado como aquellas fabricas em 1824. De +1827 a 1832 teve por director D. Euzebio Roiz, official de cavallaria do +exercito hespanhol e chimico muito distincto, que veio para Portugal +como emigrado em 1820. Depois da sua sahida acabou o laboratorio, do +qual não podemos obter mais noticias. + + * * * * * + +De 1827 a 1835 foram os productos da fabrica marcados com um V. A. entre +duas palmas rematadas por uma corôa. Esta marca era gravada, sendo o +carimbo aberto por Manoel de Moraes, de quem já fizemos menção. De 1838 +a 1861 não foi geralmente marcada a louça, pois só em alguns serviços +d'almaço de maior preço apparece um V. A. dourado. De 1861 em diante é +marcada toda a louça, tanto branca como pintada, com um V. A. em azul. + + * * * * * + +Com o fim de crear artistas habeis para as duas fabricas de porcelana e +vidro, fundou em 1826 o snr. José Ferreira Pinto Basto, na Vista Alegre +um collegio com o internato, onde se ensinava, além d'um dos misteres da +fabrica, instrucção primaria e musica. + +A inauguração foi feita com grande solemnidade, vindo assistir a ella o +fundador. + +Os primeiros alumnos admittidos foram treze, e o director José Vicente +Soares, de Penafiel. Esta instituição acabou em 1842, chegando a ter +nos ultimos annos quarenta alumnos. + + * * * * * + +Como dependencia da fabrica, ha tambem na Vista Alegre, um pequeno mas +elegante theatro, que além da galeria ou camarote destinado aos +proprietarios da fabrica, tem platea com capacidade para cento e oitenta +logares. Foi fundado em 1851, realisando-se a inauguração com as +comedias _Um duello em Campolide_, _O quarto de duas camas_, _Util e +agradavel_. + +O panno de bocca e bem assim o tecto foi pintado pelo director da +officina de pintura Chartier Rousseau. Aquelle representa a Vista da +Praia Grande de Macau, e este Apollo e as nove musas. + +Anteriormente á fundação do actual theatro houveram dois, datando a +fundação do mais antigo de 1825 ou 1827, e que foi inaugurado com a +representação da comedia _O gallego lorpa_. + + * * * * * + +Como dependencia do collegio organisou-se tambem em 1826 uma +phylarmonica privativa da fabrica, e composta unica e exclusivamente de +operarios d'ella. + +Esta phylarmonica ainda continua a existir e tem tido desde o seu +principio até hoje os seguintes regentes:--José Vicente Soares, de 1820 +a 1828: Prudencio Apolinario, de 1830 a 1834; Filippe Marcelino Classe, +de 1834 a 1838; Antonio Dias, de 1838 a 1845: João Antonio Ferreira, +de 1847 a 1851; Antonio Dias, de 1852 a 1866; e Joaquim Martins Rosa, de +1867, em diante. + + * * * * * + +Os pruductos da fabrica da Vista Alegre tem sido premiados com medalhas +de cobre e prata em todas as exposições do Londres, Paris, Philadelphia, +Vienna d'Austria, Rio de Janeiro e Internacional do Porto. + + * * * * * + +A fabrica da Vista Alegre tambem tomou parte muito activa nos +acontecimentos politicos de 1846 e 1847. Quando em 14 de maio d'aquelle +anno a cidade de Aveiro adheriu ao pronunciamento popular iniciado no +Minho, a população operaria da Vista Alegre pronunciou-se tambem e +fraternisando com os que n'aquella cidade se haviam revolucionado, +marchou com elles para Cantanhede e d'aqui para Coimbra, a fim de +receber ordens e instrucções da junta governativa, que ali se havia +installado. De Coimbra marcharam os operarios da Vista Alegre e os +populares d'Aveiro para Villa Nova de Gaya, onde se conservaram até que +o Porto adheriu tambem á causa que elles defendiam. + +Feita a revolução no Porto em 9 d'outubro contra o _golpe de Estado_ de +6 do mesmo mez, os operarios da Vista Alegre abraçaram logo com +enthusiasmo a causa da junta, procedendo immediatamente á organisação +d'um corpo de voluntarios, com o nome de Batalhão Nacional do +Concelho d'Ilhavo. No dia 23 de outubro marchou o batalhão para o Porto, +levando por commandante um dos proprietarios e administrador da fabrica, +o snr. Alberto Ferreira Pinto Basto, e por major o director da mesma +fabrica, João Maria Rissoto. + +No dia 28 de outubro fez o batalhão da Vista Alegre, pois era assim que +era conhecido, a sua entrada no Porto, indo á sua frente o Visconde de +Sá da Bandeira, que chegando n'esse mesmo dia de Lisboa, quiz honrar os +valentes operarios, commandando-os n'aquelle dia. + +Organisando-se a divisão com que o Visconde de Sá da Bandeira, devia +operar em Traz-os-montes contra as forças do Barão do Casal, o batalhão +da Vista Alegre foi um dos escolhidos para d'ella fazerem parte, e como +tal entrou na acção de Valle Passos, que teve logar em 10 de novembro. +São bem conhecidos os resultados d'esta acção, para que os relatemos +aqui. Como o nosso proposito é só fallarmos da Vista Alegre, diremos que +o batalhão d'este nome, entrou com galhardia em fogo sustentando-o com +vigor até mesmo depois da deserção dos regimentos 3 e 15 de infanteria. +Não podendo, porém, resistir ao choque da cavallaria e ao d'um +d'aquelles regimentos, que o carregára á bayoneta, o batalhão retirou +com alguma confusão para a rectaguarda, unindo-se depois ao resto das +forças com que Sá da Bandeira voltou para o Porto. + +Durante o resto da lucta não tomou parte em qualquer outro combate, mas +guarneceu por vezes differentes pontos das linhas e alguns d'elles muito +importantes, até que teve de depôr as armas como as demais forças +populares, em virtude da convenção assignada em Gramido em 21 de junho +de 1847. + + * * * * * + +No dia 13 de cada mez ha na Vista Alegre, um mercado muito importante, +conhecido pela triplice denominação da _Feira dos treze, da Ermida, e do +Bispo_. Este mercado foi estabelecido a requerimento do juiz, vereadores +e mais povo das villas da Ermida e Ilhavo, por alvará de 15 de junho de +1693, que ordenou que o mercado mensal se tornasse em annual no dia 13 +de setembro, dia da invocação da padroeira da capella da Vista +Alegre--Nossa Senhora da Penha de França. + + * * * * * + +Fizemos já a historia da fabrica, é justo que agora d'ella façamos +descripção ainda que rapida, e que digamos tambem alguma cousa do +systema de fabrico n'ella empregado. + + +DESCRIPÇÃO DA FABRICA + +É modestissima a apparencia exterior da fabrica, de fórma que a +impressão por ella produzida ao forasteiro que pela vez primeira a +visita, nem por sombras lhe dará a conhecer que elle se acha frente a +frente com um dos mais importantes estabelecimentos industriaes não só +do paiz, mas até da Peninsula. + +Correndo parallelos com um grande parque, pelo lado do norte, estão os +armazens da louça branca e pintada, loja de vendas e escriptorio. + +Entre estas duas dependencias da fabrica é que fica a entrada que dá +accesso a um pateo arborisado, á volta do qual estão os armazens já +referidos, a casa do deposito, e officina de fórmas e moldes, e bem +assim a das _gazetas_, deposito de material de incendios, casa onde se +guardam os restos do antigo museu da fabrica, officina de carpentaria, e +entrada para a estancia das lenhas. + +São vastos os armazens de deposito de louça pintada e branca, +especialmente o d'esta ultima, que era onde antigamente estavam os +fornos de estender vidraça. + +A officina de moldes e _gazetas_ está bem montada como todas as +restantes da fabrica; no deposito do material de incendios, ha duas +bombas, machados, e canecos de pau para agua, em profusão, e outros +objectos proprios, tudo preparado e prompto para acudir a qualquer +sinistro. + +É provisoria a casa onde estão os productos que compõem o chamado muzeu +da fabrica, o que é deveras para lamentar, pois tornam-se dignos d'uma +boa collocação, a fim de poderem ser examinados e apreciados, como merecem. + +A estancia das lenhas fica ao norte do edificio e está completamente +isolada d'elle. Mede 67,m60 de comprimento e 52,m de largura. A sua +superficie é rectangular, tendo á volta, os telheiros que abrigam a +lenha das chuvas. + +D'aquelle pateo passa-se para as officinas da olaria. São duas salas +bastante espaçosas, onde ha 38 rodas d'oleiro; junta a estas está uma +outra mais pequena, que é a officina de aprendisagem e deposito de +modelos. Junto d'aquellas ha um terreno ajardinado onde estão os +telheiros para seccar a louça. + +Da officina de olaria passa-se a um longo corredor ao fim do qual +estão as officinas de pintura. São duas as salas destinadas para a +pintura, cheias de luz e bem ventiladas. Ornam-lhe as paredes esboços de +V. Rosseau, e placas de porcelana com o retrato do fundador da fabrica, +brasões d'armas, quadros de costumes, fructos, etc. + +Á direita d'aquelle corredor fica a lithographia. Montada, segundo todas +as exigencias do fim a que é destinada, funcciona apenas de 1880 em +diante. São bastante satisfatorios os resultados obtidos pelo processo +lithographico, que tem a grande vantagem de ficar muito mais barato do +que o geralmente seguido na pintura da porcelana, e aqui desde principio +adoptado. + +Em seguida á lithographia fica o deposito da louça que hade ser pintada +e do lado fronteiro a casa das _muflas_ onde ha tambem duas estufas para +seccar a louça pintada. + +Da sala da pintura desce-se para o deposito do barro preparado e casa da +amassadura, e d'aqui para a officina de trituração, onde se acham +montados as galgas e pisões a que dá movimento uma machina a vapor. + +Para além da machina estão as estufas para seccar areia, alimentadas com +o calor perdido das caldeiras, um torno a que ella dá movimento, e as +officinas de serralheria. Parallela com esta parte do edificio, que é a +mais vasta de todo elle, fica a estancia do carvão e differentes +telheiros para a secca do barro. Proximo, está a officina de lavagem e +escolha de materiaes empregados no fabrico da porcelana. + +Os fornos, esses, tres ficam pouco acima d'estas ultimas officinas, e o +outro que é o maior, junto ao deposito da louça branca, ao pé do +qual fica tambem a officina de vidrar. + +Ao norte da casa dos tres fornos e do lado fronteiro do caminho do +serviço da fabrica fica a officina de esculptura, o laboratorio em que +se opera a solução do oiro e preparação de algumas tintas. Está tambem +ahi junto a caldeira para a calcinação do gesso. + +As materias primas empregadas no fabrico da porcelana são em toda a +parte, em que ella se fabrica, as argilas kaulinicas, o quartzo e o +feldspatho. Aquellas, vêem para a Vista Alegre, de Valle Rico, concelho +da Feira e este de Villa Meã, Mangualde e Porto. + +As argilas kaulinicas são aqui lavadas e passadas por peneiras a fim de +se separarem os corpos em diversos estados de aggregação. As areias +grossas que dellas ficam são depois empregadas como quartzo. + +O quartzo e o feldspatho são escolhidos primeiramente tambem afim de +evitar que levem grandes porções d'oxido de ferro, que ordinariamente +lhe anda unido, depois calcinam-se e levam-se para as galgas. + +Os differentes materiaes que hão de compôr a porcelana, depois de +devidamente moidos e lavados são compostos e em seguida levados ás mós +horisontaes para os moer e misturar, e em seguida guardados em depositos +até adquirirem um certo grau de consistencia. + +D'estes depositos vae a massa para a casa da amassadura onde é lançada +em vasos de barro poroso, de fórma de pyramides conicas troncadas, a que +se dá o nome de _coques_. + +D'estes _coques_ é a massa levada para uma larga banca de pedra, a fim +de ser amassada a pés. São dois ou mais homens que amassam a porcelana +na banca referida; amassada ella dividem-a em muitas fracções, com a +fórma de cones, e que denominam _pélas_. + +Estas _pélas_ são em seguida levadas para a officina das rodas de +oleiro, onde são separadamente amassadas á mão sobre uma pequena banca +de marmore, a fim da massa ficar mais unida e homogenea, e bem assim +desapparecerem alguns veios escuros que ás vezes adquire, ficando assim +apta para ser obrada. + +O methodo empregado na Vista Alegre na execução das differentes peças de +porcelana, é o de _encher_ e o de _moldar_. + +As caixas refractarias--_gazetas_--onde se mettem as peças para serem +levadas aos fornos são fabricadas por meio de moldes de gesso, variando +as suas dimensões conforme as peças que devem conter. + +Bem seccas as peças que sahiram da roda do oleiro, ou dos moldes, +procede-se ao seu enfornamento, collocando-se primeiramente dentro das +gazetas ou sem ellas. + +Levadas ao forno são collocadas no segundo pavimento, pois agora só +recebem o calor brando, a que chamam--_chacote_. + +Recebida esta primeira cosedura, vão para a officina de vidrar. O +vidrado é dado por immersão das peças dentro d'uma grande tina em que se +acham diluidos em agua os corpos que compõem o esmalte. + +As peças mettem-se e tiram-se rapidamente ficando tambem logo seccas +como se não houvessem recebido banho algum. + +O vidrado é tirado dos pontos de contacto e dado nos pontos em que a +peça não o poude receber na parte coberta pela mão. Os retoques são +feitos com pincel. + +Mettidas novamente dentro das _gazetas_, sobre cujo fundo, se lança +alguma areia, afim de que a elle ellas se não peguem, são outra vez +enfornadas mas agora no outro pavimento do forno, a fim de receberem o +grande calor que termina a cosedura. + +As _gazetas_ são collocadas umas sobre outras, formando pilhas em toda a +altura do forno, a que se dá o nome de _fios_. + +Feito o enfornamento, em que trabalham oito forneiros e um trabalhador, +accendem-se as quatro fornalhas que tem o forno, fazendo para que a +intensidade do lume, seja a mesma, e ao mesmo tempo em todas as +fornalhas, a fim de estabelecer a uniformidade da temperatura. + +Passadas 10 horas de lume brando, a que chamam _lume de esquenta_, +tapam-se as boccas dos fornos com tijolos refractarios, afim de +concentrar a força do calor interiormente, começando então o grande +calor, a que dão o nome de _lume de calda_, renovando successivamente a +lenha nas fornalhas em maior quantidade que para lume brando, +conservando-se assim o fogo bem activo e uniforme ordinariamente por +espaço de vinte e quatro horas, chegando algumas vezes a trinta e seis. + +Conhecendo-se que está completa a cosedura, tira-se a lenha das +fornalhas, diminuindo gradualmente d'este modo o calor dentro do forno, +e conservando a louça dentro d'elle até que esteja completamente fria, +para então se começar a desenfornar. + +De entre as peças vidradas separam-se então as que tem de ser pintadas, +para o que são conduzidas para um armazem junto ás salas da pintura. + +São muitas as côres usadas na pintura da porcelana, quasi todas +vitreficaveis e obtidas por meio de combinações de oxidos, saes +metallicos e fundentes. + +Os oxidos empregados de preferencia são o oxido de choromio, o de ferro, +o de uranio, de manganez, de zinco, de cobalto, de antimonio, de cobre, +de estanho e de iridium. + +Os principaes saes empregados são o chromato de ferro, de barita, de +chumbo e algumas vezes o chloreto de prata. + +Depois de pintada a louça vae á estufa para seccar as tintas e em +seguida para dentro das _muflas_ a fim de fixar em si as tintas, +ganhando as respectivas côres, as quaes se vetrificam com os fundentes. + + +MACHINAS E FORNOS + +A machina a vapor, collocada na officina de trituração, a que já nos +referimos, foi feita em Lisboa por Bachelay. Tem duas caldeiras de fogo +central e força de 14 cavallos. Foi assente em 1855 por Daniel Werlong, +artista de raro merito com o curso de artes e officios em Paris, que +durante alguns annos dirigiu a officina de serralheria da fabrica. + +A chaminé que dá vasão ao fumo das caldeiras tem 14,m de altura e foi +construida em 1879, por operarios do estabelecimento. + +A machina communica movimento por meio d'uma correia sem fim, a um +tambor fixo no veio principal o qual o transmitte por meio de +engrenagens aos differentes engenhos destinados a moer e misturar os +materiaes, empregados no fabrico da porcelana. + +Ha quatro fornos destinados para coser a porcelana, todos com a fórma +cylindrica, construidos com tijolos refractarios fabricados no +estabelecimento. Cada um d'elles tem quatro fornalhas e dois andares; o +maior tem cinco. + +No inferior colloca-se a louça que tem de ser esmaltada, elevando-se a +temperatura ao rubro branco, e no superior a que tem apenas a receber o +calor brando ou pequeno fogo que lhe dá o poder absorvente para ser +vidrada. + +No _chacote_ a cosedura adquire o rubro cereja proximamente a +temperatura da fusão de ferro. O _chacote_ é aquecido pela chamma +perdida do primeiro compartimento. + +Sobre as fornalhas dos fornos ha aberturas rectangulares, chamadas +_vigias_ por onde se _observa_ o grau de calor e se tiram as amostras, +sobre as quaes se verifica directamente o estado da cosedura. + +Além dos quatro grandes fornos ha outros mais pequenos destinados a +fixar as tintas, que são as _muflas_. Estes fornos, se tal nome se lhe +pode applicar, são caixas feitas de argila refractaria, separadas umas +das outras por paredes de igual natureza. + +Contém varios compartimentos formados por folhas de ferro, a que servem +d'apoio calços tambem d'argila refractaria. + +São oito as _muflas_, tendo cada uma d'ellas fornalha independente. + + * * * * * + +Escripta a historia da fabrica e feita a descripção d'ella, nada mais +nos resta do que apresentar uma resenha dos seus administradores, +directores, mestres de pintura e manufactura de porcelana, que é o +que vamos fazer. Eil-a: + + +Administradores:--Os snrs. Augusto Ferreira Pinto Basto, de 1824 a 1828; +Alberto Ferreira Pinto Basto, de 1828 a 1856; Duarte Ferreira Pinto +Basto, de 1856 a 1861; Domingos Ferreira Pinto Basto, de 1861 a 1882; +Duarte Ferreira Pinto Basto Junior, de 15 de maio de 1882 em diante. + +Directores:--Os snrs. Antonio d'Almeida Ferreira Duque, de 1836 a 1840; +João Maria Rissoto, de 1840 a 1878: Duarte Ferreira Pinto Basto Junior, +de 1878 a 1882; João Antonio Ferreira, de 15 de maio de 1882 em diante. + +Mestres de pintura:--Os snrs. Victor Francisco Chartier Rousseau, de +1836 a 1852; Gustavo Fortier, de 1853 a 1856; Filippe Fortier, de 1857 a +1860; Gustavo Fortier, de 1861 a 1865; Joaquim José d'Oliveira, de 1866 +a 1881; Francisco da Rocha Freire, de 1881 em diante. + +Mestres de porcellana:--Os snrs. João da Silva Monteiro, de 1826 a 1833; +João da Silva Monteiro Junior, de 1833 a 1838; João Antonio Ferreira, de +1838 a maio de 1882. Presentemente não ha mestre de porcelana, mas sim +dois contra-mestres, os snrs. Antonio Augusto Affonso, que tem a seu +cargo a preparação das materias primas, fórmas e modelos, e Manoel da +Silva Marianno, que dirige a manufactura. + + +Fim. + + + + +PREÇO 200 REIS + + * * * * * + +OBRAS DO MESMO AUCTOR + +Memorias de Aveiro. + +D. Duarte de Menezes--esboço biographico. + +O Districto de Aveiro; noticia geographica, estatistica, seraldica, +archeologica e biographica da cidade de Aveiro e todas as villas e +freguezias do seu districto. + +A mulher atravez dos seculos; estudo historico sobre a condição +politica, civil, moral e religiosa da mulher: 1.ª parte--sociedades +primitivas, China, India, Persia, Assyria, Egypto e Israel. + +D. Joanna de Portugal (a princeza santa) esboço biographico. + + * * * * * + +EM VIA DE PUBLICAÇÃO + +Luctas caseiras--Portugal de 1836 a 1851. + +Aveiro e o seu concelho. + +JOAQUIM DE VASCONCELLOS E MARQUES GOMES + +Exposição districtal de Aveiro em 1882--Reliquias da arte nacional. + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of A Vista Alegre: apontamentos para a +sua historia, by João Augusto Marques Gomes + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A VISTA ALEGRE: APONTAMENTOS *** + +***** This file should be named 34276-8.txt or 34276-8.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/4/2/7/34276/ + +Produced by Pedro Saborano + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. Special rules, +set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to +copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to +protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project +Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you +charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you +do not charge anything for copies of this eBook, complying with the +rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose +such as creation of derivative works, reports, performances and +research. They may be modified and printed and given away--you may do +practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is +subject to the trademark license, especially commercial +redistribution. + + + +*** START: FULL LICENSE *** + +THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE +PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK + +To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free +distribution of electronic works, by using or distributing this work +(or any other work associated in any way with the phrase "Project +Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project +Gutenberg-tm License (available with this file or online at +https://gutenberg.org/license). + + +Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm +electronic works + +1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm +electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to +and accept all the terms of this license and intellectual property +(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all +the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy +all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. +If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project +Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the +terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or +entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. + +1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be +used on or associated in any way with an electronic work by people who +agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few +things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works +even without complying with the full terms of this agreement. See +paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project +Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement +and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic +works. See paragraph 1.E below. + +1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" +or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project +Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the +collection are in the public domain in the United States. If an +individual work is in the public domain in the United States and you are +located in the United States, we do not claim a right to prevent you from +copying, distributing, performing, displaying or creating derivative +works based on the work as long as all references to Project Gutenberg +are removed. Of course, we hope that you will support the Project +Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by +freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of +this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with +the work. You can easily comply with the terms of this agreement by +keeping this work in the same format with its attached full Project +Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. + +1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern +what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in +a constant state of change. If you are outside the United States, check +the laws of your country in addition to the terms of this agreement +before downloading, copying, displaying, performing, distributing or +creating derivative works based on this work or any other Project +Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning +the copyright status of any work in any country outside the United +States. + +1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: + +1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate +access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently +whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the +phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project +Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, +copied or distributed: + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + +1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived +from the public domain (does not contain a notice indicating that it is +posted with permission of the copyright holder), the work can be copied +and distributed to anyone in the United States without paying any fees +or charges. If you are redistributing or providing access to a work +with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the +work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 +through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the +Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or +1.E.9. + +1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted +with the permission of the copyright holder, your use and distribution +must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional +terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked +to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the +permission of the copyright holder found at the beginning of this work. + +1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm +License terms from this work, or any files containing a part of this +work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. + +1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this +electronic work, or any part of this electronic work, without +prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with +active links or immediate access to the full terms of the Project +Gutenberg-tm License. + +1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, +compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any +word processing or hypertext form. However, if you provide access to or +distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than +"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version +posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), +you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a +copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon +request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other +form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm +License as specified in paragraph 1.E.1. + +1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, +performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works +unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. + +1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing +access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided +that + +- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from + the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method + you already use to calculate your applicable taxes. The fee is + owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he + has agreed to donate royalties under this paragraph to the + Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments + must be paid within 60 days following each date on which you + prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax + returns. Royalty payments should be clearly marked as such and + sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the + address specified in Section 4, "Information about donations to + the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." + +- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies + you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he + does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm + License. You must require such a user to return or + destroy all copies of the works possessed in a physical medium + and discontinue all use of and all access to other copies of + Project Gutenberg-tm works. + +- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any + money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the + electronic work is discovered and reported to you within 90 days + of receipt of the work. + +- You comply with all other terms of this agreement for free + distribution of Project Gutenberg-tm works. + +1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm +electronic work or group of works on different terms than are set +forth in this agreement, you must obtain permission in writing from +both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael +Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the +Foundation as set forth in Section 3 below. + +1.F. + +1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable +effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread +public domain works in creating the Project Gutenberg-tm +collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic +works, and the medium on which they may be stored, may contain +"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or +corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual +property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a +computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by +your equipment. + +1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right +of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project +Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project +Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all +liability to you for damages, costs and expenses, including legal +fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT +LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE +PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE +TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE +LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR +INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH +DAMAGE. + +1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a +defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can +receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a +written explanation to the person you received the work from. If you +received the work on a physical medium, you must return the medium with +your written explanation. The person or entity that provided you with +the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a +refund. If you received the work electronically, the person or entity +providing it to you may choose to give you a second opportunity to +receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy +is also defective, you may demand a refund in writing without further +opportunities to fix the problem. + +1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth +in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER +WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO +WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. + +1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied +warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. +If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the +law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be +interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by +the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any +provision of this agreement shall not void the remaining provisions. + +1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the +trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone +providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance +with this agreement, and any volunteers associated with the production, +promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, +harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, +that arise directly or indirectly from any of the following which you do +or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm +work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any +Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. + + +Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm + +Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of +electronic works in formats readable by the widest variety of computers +including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. + + +Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive +Foundation + +The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit +501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the +state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal +Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification +number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at +https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent +permitted by U.S. federal laws and your state's laws. + +The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. +Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered +throughout numerous locations. Its business office is located at +809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email +business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact +information can be found at the Foundation's web site and official +page at https://pglaf.org + +For additional contact information: + Dr. Gregory B. Newby + Chief Executive and Director + gbnewby@pglaf.org + + +Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation + +Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide +spread public support and donations to carry out its mission of +increasing the number of public domain and licensed works that can be +freely distributed in machine readable form accessible by the widest +array of equipment including outdated equipment. Many small donations +($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt +status with the IRS. + +The Foundation is committed to complying with the laws regulating +charities and charitable donations in all 50 states of the United +States. Compliance requirements are not uniform and it takes a +considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up +with these requirements. We do not solicit donations in locations +where we have not received written confirmation of compliance. To +SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any +particular state visit https://pglaf.org + +While we cannot and do not solicit contributions from states where we +have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition +against accepting unsolicited donations from donors in such states who +approach us with offers to donate. + +International donations are gratefully accepted, but we cannot make +any statements concerning tax treatment of donations received from +outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. + +Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation +methods and addresses. Donations are accepted in a number of other +ways including including checks, online payments and credit card +donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate + + +Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic +works. + +Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm +concept of a library of electronic works that could be freely shared +with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project +Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. + + +Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed +editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. +unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily +keep eBooks in compliance with any particular paper edition. + + +Most people start at our Web site which has the main PG search facility: + + https://www.gutenberg.org + +This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, +including how to make donations to the Project Gutenberg Literary +Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to +subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks. diff --git a/34276-8.zip b/34276-8.zip Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..9041fa7 --- /dev/null +++ b/34276-8.zip diff --git a/34276-h.zip b/34276-h.zip Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..bef0bfc --- /dev/null +++ b/34276-h.zip diff --git a/34276-h/34276-h.htm b/34276-h/34276-h.htm new file mode 100644 index 0000000..667d4df --- /dev/null +++ b/34276-h/34276-h.htm @@ -0,0 +1,2030 @@ +<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.01 Transitional//EN" "http://www.w3.org/TR/html4/loose.dtd"> +<html> +<head> + <title>A Vista Alegre, por Marques Gomes</title> + <meta name="Author" content="J. A. Marques Gomes"> + <meta name="Edition" content="Porto: Typ. Commercio e Industria, 1883."> + <meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=iso-8859-15"> + <style type="text/css"> + body{margin-left: 10%; + margin-right: 10%; + } + .pn { + text-indent: 0em; + text-decoration: none; + position: absolute; + left: 92%; + font-size: smaller; + text-align: right; + color: silver; + } + #corpo p{text-align: justify; text-indent: 1.5em;} + #corpo p.ni {text-indent: 0;} + #corpo p.centrado {text-indent: 0; text-align: center;} + #corpo blockquote p {text-indent: 0;} + #corpo p.assin {text-indent: 0; text-align: right; margin-right: 2em;} + p.centrado {text-indent: 0; text-align: center;} + hr.dotted {border: 0; border-bottom: dotted 2px #000;} + hr {border: 0; border-bottom: solid 2px #000;} + blockquote {margin-left: 10%; font-size: small;} + a {text-decoration: none;} + .rodape { + font-size: 0.7em; + color: gray; + margin-left: 2em; + margin-right: 2em; + } + #corpo .rodape p {text-indent: 0;} + </style> +</head> + + + +<body> + + +<pre> + +The Project Gutenberg EBook of A Vista Alegre: apontamentos para a sua +historia, by João Augusto Marques Gomes + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: A Vista Alegre: apontamentos para a sua historia + +Author: João Augusto Marques Gomes + +Release Date: November 11, 2010 [EBook #34276] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A VISTA ALEGRE: APONTAMENTOS *** + + + + +Produced by Pedro Saborano + + + + + +</pre> + + +<p> </p> + +<div style="text-align:center; border:solid 2px #000; border-top: solid 5px; border-right: solid 5px;"> + +<p style="font-size:2.5em;">A VISTA ALEGRE</p> + +<p style="font-size:1.8em;">APONTAMENTOS PARA A SUA HISTORIA</p> + +<p>POR</p> + +<p style="font-size:2em;">J. A. M<small>ARQUES</small> G<small>OMES</small></p> + +<p style="font-size:1.2em;">SOCIO CORRESPONDENTE DO INSTITUTO DE COIMBRA<br> +E DAS SOCIEDADES<br> +DE GEOGRAPHIA DE LISBOA E PORTO</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p style="font-size:1.4em;"><strong>PORTO</strong><br> +T<small>YP.</small> C<small>OMMERCIO E</small> I<small>NDUSTRIA</small><br> +<small>22, Rua do Corpo da Guarda, 22</small><br> +1883</p> + +</div> + +<p><span class="pn">{1}</span></p> + +<div style="text-align:center;"> +<p style="font-size:2em;">A VISTA ALEGRE</p> + +<p style="font-size:1.6em;">APONTAMENTOS PARA A SUA HISTORIA</p> + +<p>POR</p> + +<p style="font-size:1.4em;">J. A. M<small>ARQUES</small> G<small>OMES</small></p> + +<p style="font-size:1.2em;">SOCIO CORRESPONDENTE DO INSTITUTO DE COIMBRA<br> +E DAS SOCIEDADES<br> +DE GEOGRAPHIA DE LISBOA E PORTO</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p style="font-size:1.4em;"><strong>PORTO</strong><br> +T<small>YP.</small> C<small>OMMERCIO E</small> I<small>NDUSTRIA</small><br> +<small>22, Rua do Corpo da Guarda, 22</small><br> +1883</p> +</div> + +<p><span class="pn">{2}<br>{3}</span></p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<div style="text-align:center;"> +<p style="font-size:1.6em;">AO SENHOR</p> + +<p style="font-size:1.8em;">Duarte Ferreira Pinto Basto Junior</p> +</div> +<p><span class="pn">{4}<br>{5}</span></p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<div id="corpo"> + +<p>A menos de dois kilometros de Ilhavo e sobranceira +ao braço da ria de Aveiro, que liga a chamada +Calle da Villa com o Bôcco, fica a Vista Alegre. Quadra +bem este titulo á risonha povoação em que um dos +homens mais prestimosos e emprehendedores que Portugal +tem conhecido no presente seculo, veio fundar a +fabrica de porcelanas, que do local toma o nome.</p> + +<p>A Vista Alegre como povoação em si, tem tambem +como o importante estabelecimento que a tornou conhecida +tanto no paiz como no estrangeiro, uma historia +sua de quem a lenda por mais d'uma vez se apossou +já, deturpando-a.</p> + +<p>Não nos cançaremos em lhe procurar a etymologia +pois é fóra de duvida que o nome lhe proveio do formosissimo +panorama, que a contorna, moldurando-lhe +o rosto gentil.<span class="pn">{6}</span></p> + +<p>Anteriormente á fundação da fabrica, a Vista Alegre +não tinha fóros de povoação, era uma quinta apenas. Um +templo formosissimo e uma casa modesta que servia +de habitação aos proprietarios da quinta, eram os unicos +edificios, que ali existiam, e isto ainda no primeiro +quartel do seculo <small>XIX</small>.</p> + +<p>A fundação d'um tão bello templo, como é o de +Nossa Senhora da Penha de França, n'um sitio tão ermo, +como era a Vista Alegre, fez com que muitos principiassem +a architectar romances mais ou menos verosimeis. +Imaginaram-se desterros e deportações, e bem +assim fofo ninho de criminosos amores d'um prelado +illustre com uma dama de elevado nascimento e freira +professa n'um dos conventos de Lisboa.</p> + +<p>Não longe da Vista Alegre, a um kilometro para +o sul, fica o antigo logar da Ermida, villa e concelho +até 1834 a quem D. Manoel deu foral em 8 de junho +de 1514. N'esta povoação houve um praso, cuja origem +data de seculos, tendo por cabeça uma grande +quinta denominada o Paço da Ermida. Este praso e +quinta andava no senhorio dos Mouras Manoeis, familia +muito illustre, pois trazem a sua descendencia de D. +Branca de Sousa, filha de Lopo Dias de Sousa, grão-mestre +da Ordem de Christo.</p> + +<p>Alguns escriptores teem confundido a quinta da Ermida +com a da Vista Alegre, e affirmado que foi seu +proprietario o bispo de Miranda, D. Manoel de Moura +Manoel.</p> + +<p>Nem a quinta da Vista Alegre já foi conhecida por +quinta da Ermida, nem tão pouco aquelle prelado foi +dono de qualquer d'ellas.</p> + +<p>É fóra de duvida que D. Manoel de Moura Manoel +vinha frequentes vezes passar alguns dias e ás vezes,<span class="pn">{7}</span> +mezes até, á quinta da Ermida, que conjunctamente +com o praso do mesmo nome pertencia a seu irmão +primogenito Ruy de Moura Manoel. Durante a sua estada +aqui, travou relações com o proprietario da quinta +da Vista Alegre, o Dr. Manoel Furtado Botelho, relações +que se foram tornando cada vez mais intimas de +sorte que passados annos edificou em terrenos dependentes +da mesma quinta a Capella de Nossa Senhora +da Penha de França.</p> + +<p>Por morte de Ruy de Moura Manoel, passou a +quinta da Ermida para seu filho Rodrigo de Moura Manoel, +que tendo casado com D. Rosalia da Silva, filha +de Luiz Lobo da Silva, governador e capitão general +de Angola morreu sem successão, pelo que os seus +bens passaram para suas irmãs. A Ermida pertenceu a +D. Maria Maximilianna, casada com Jeronimo de Castilho. +Por morte d'este, ficou sendo senhor d'ella seu +filho Jeronimo Antonio de Castilho que conjunctamente +com sua mulher D. Joaquina Izabel Freire de Castro, +a vendeu por escriptura lavrada nas notas do tabellião +da então villa de Aveiro, Manoel de Sousa Bastos em +15 de janeiro de 1727, a Zeferino Rodrigues Caudello. +Em 17 de março de 1812 fez venda da mesma quinta +ao snr. José Ferreira Pinto Basto, D. Bernarda Thereza +Umbelina Caudello de Maviz Sarmento, néta do referido +Zeferino Rodrigues Caudello.</p> + +<p>O proprietario da quinta da Vista Alegre Dr. Manoel +Furtado Botelho, tendo fallecido em 9 de setembro +de 1733, dispoz dos seus bens como se vê da +parte do seu testamento que passâmos a transcrever +do livro dos obitos da freguezia de Ilhavo, no anno de +1733: «que seria sepultado na capella de Nossa Senhora +da Penha de França, e deixava entre outras missas,<span class="pn">{8}</span> +cincoenta pela alma do seu amigo o snr. Bispo que +foi de Miranda. Instituia por sua universal herdeira D. +Theodora de Castro Moura Manoel, de seus bens, e +que esta poderia vender d'elles o que lhe parecesse +para dividas e ser freira sem constrangimento de pessoa +alguma nem justiça alguma lhe tomaria conta, nem +lhe fariam inventario; e os bens que ficassem por sua +morte d'ella, iriam ao usufructo do seu testamenteiro +o padre licenciado Domingos Ferreira da Graça, cura +de Ilhavo, e por morte d'este a Nossa Senhora da Penha +de França da Vista Alegre, que entrando na posse +seria obrigada a fabrica da capella a fazer uma festa +á dita Senhora em 8 de setembro de cada anno, da +qual o capellão daria contas ao Dr. Vizitador.»</p> + +<p>Não foram, ao que parece, totalmente cumpridas +as disposições do testador, pois é certo que os seus +bens tiveram um destino muito differente do que o que +lhe havia marcado.</p> + +<p>D. Theodora de Castro Moura Manoel era como +o proprio nome o indica filha do bispo de Miranda, a +quem pertencia tambem o appellido <em>Castro</em> pois o houve +de sua mãe, D. Maria de Castro. Aquella senhora, destinada +segundo parece para a vida claustral, não tomou +o habito, nem tão pouco chegou a casar, mas teve um +filho, a quem deu o nome de seu pae, d'ella, Manoel +Pereira de Moura Manoel, que ordenando-se foi abbade +da freguezia de S. Romão de Guimarães.</p> + +<p>O appellido <em>Pereira</em>, do mesmo modo que o de <em>Castro</em> +era tambem pertença do bispo, pois era segundo +neto de João Rodrigues da Costa e de sua mulher D. +Isabel <em>Pereira</em>.</p> + +<p>O abbade Manoel Pereira de Moura Manoel morreu +ainda em vida de sua mãe, mas não sem deixar<span class="pn">{9}</span> +successão, pois teve uma filha de D. Clara Maria de +Barros, natural de Gondar, no concelho de Guimarães, +D. Josepha Caetana de Castro, que casou em 20 de +novembro de 1748 com o capitão Manoel Alvares Brandão, +de Santa Marinha de Taboa, no bispado de Coimbra. +D'este consorcio nasceram duas filhas e um filho +que todos foram baptisados na egreja de S. Salvador +de Ilhavo, a cuja parochia pertence a Vista Alegre.</p> + +<p>D. Theodora de Castro Moura Manoel falleceu em +1767, sendo sepultada na capella de Nossa Senhora da +Penha de França, quaes porém as suas disposições +testamentárias se as deixou, são desconhecidas.</p> + +<p>O testamenteiro do dr. Manoel Furtado Botelho, +o padre licenciado Domingos Ferreira da Graça, para +quem devia passar o usufructo da herança que aquelle +havia deixado a D. Theodora de Castro Moura Manoel, +sobreviveu ainda a esta, pois só falleceu em 7 de maio +de 1772, mas se elle usufruiu ou não a herança é que +é ponto muito duvidoso, sendo certo porém que tal +herança por venda ficticia ou por outro qualquer meio, +nunca chegou a pertencer á fabrica da capella de Nossa +Senhora da Penha de França, pois passou para o capitão +Manoel Alvares Brandão e d'este para seus filhos, +um dos quaes Alexandre de Castro Brandão, que foi +capitão-mór de Cantanhede, vendeu em 1815 a quinta +e capella da Vista Alegre ao snr. José Ferreira Pinto +Basto.</p> + +<p>Esboçamos a historia da Vista Alegre, agora resta-nos +reunir aqui alguns apontamentos biographicos +do fundador da capella de Nossa Senhora da Penha de +França e fazer uma descripção ainda que rapida da +mesma capella.</p> + +<p>D. Manoel de Moura Manoel nasceu em Serpa,<span class="pn">{10}</span> +sendo seus paes, Lopo Alvares de Moura e D. Maria +de Castro. Filho segundo d'uma casa vinculada como +era a sua, e não querendo seguir a carreira das armas, +abraçou a que lhe restava, segundo o seu nascimento—a +ecclesiastica. Seguindo os estudos superiores +na Universidade de Coimbra, doutorou-se em Canones, +e na qualidade de oppositor a uma das cadeiras +d'esta faculdade, foi eleito collegial do Real Collegio +de Paulo em 28 de julho de 1638, sendo reitor do +mesmo o dr. Ambrosio Trigueiros Semmedo.</p> + +<p>Em 17 de dezembro de 1660 foi nomeado conego +doutoral da Sé de Lamego, d'onde passou para a de +Braga por promoção que obteve no 1.º de maio de +1666.</p> + +<p>Nomeado deputado da Inquisição de Évora passou +para Inquisidor da de Coimbra em 13 de outubro de +1663, e a deputado do Conselho Geral do Santo Officio +em 13 de abril de 1674.</p> + +<p>Eleito em lista triplice para reitor da Universidade, +foi provido n'este logar por el-rei D. Pedro <small>II</small>, em +23 de agosto de 1683, que o nomeou por essa occasião +sumilher da cortina. Havendo prestado juramento +em 16 de novembro daquelle anno, governou a Universidade +até o 1.º de fevereiro de 1690 em que foi +eleito o seu successor D. Nuno da Silva Telles.</p> + +<p>Durante o seu reitorado residiu por differentes +vezes em Lisboa, principalmente nos annos de 1688 e +1689.</p> + +<p>Escolhido para bispo de Miranda em 28 de abril +de 1689, foi sagrado em outubro do mesmo anno na +egreja parochial de Nossa Senhora dos Anjos de Lisboa, +pelo cardeal D. Verissimo de Lencastre, sendo<span class="pn">{11}</span> +assistentes D. Fr. Luiz da Silva, bispo da Guarda, e +D. Simão da Gama, bispo do Algarve.</p> + +<p>Fazendo jornada para as Caldas de S. Pedro do +Sul, adoeceu gravemente nos Ferreiros, proximo a Vizeu, +e ahi falleceu em 7 de setembro de 1699. Durante +a doença foi-lhe enfermeiro sollicito o bispo d'aquella +diocese, D. Jeronimo Soares, que assistiu tambem ao +seu funeral e ordenou que fosse sepultado na capella-mór +da egreja d'aquella freguezia, d'onde as suas cinzas +foram trasladadas para a Vista Alegre em 1706.</p> + +<p>Ignora-se o anno em que D. Manoel de Moura Manoel +mandou edificar a capella de Nossa Senhora da +Penha de França, mas ainda assim parece não haver +duvida que foi já depois de estar bispo em Miranda.</p> + +<p>É de bello aspecto a frontaria do templo, avistando-se +a algumas leguas de distancia os corucheus das +suas duas torres. O interior não é menos elegante. +As paredes do corpo da capella são forradas d'alto a +baixo de bons azulejos, todos coevos da sua fundação—fins do seculo <small>XVII</small>,—é a aboboda ornatada de boas +pinturas a fresco. Tem dois altares lateraes de boa talha +dourada, dedicados ambos á Virgem, sob a invocação +do Rosario e da Conceição. O retabulo e altar +da capella-mór são trabalhos primorosos em fino marmore +de Italia.</p> + +<p>Embebido na parede da mesma capella e do lado +da epistola, está o tumulo do fundador, fabricado primorosamente +de granito de Ançã.</p> + +<p>A urna funerária é sustentada por tres leões de +farta juba, que parecem prestes a ser esmagados pelo +seu peso.</p> + +<p>No centro da urna, levantado em alto relevo, está<span class="pn">{12}</span> +um escudo oval partido, com as armas dos Mouras +Manoeis, tendo por timbre um chapeu episcopal.</p> + +<p>Sobre ella está a figura do bispo, de vestes prelaticias, +meia deitada, com a mão esquerda sobre o +peito e a direita estendida com que a apontar para o +Tempo, que está ao fundo sobraçando o panno mortuario +que deve cobrir o sarcophago.</p> + +<p>A execução é primorosa, conhecendo-se até nos +mais pequenos lavores o primor do cinzel que o trabalhou.</p> + +<p>O povo rude das aldeias visinhas, acredita que tal +obra não podia ser executada por mãos de homens, e +por isso attribue-a ao diabo, creando uma lenda que +o snr. Brito Aranha reproduziu já no seu bello livro +<em>Memorias historico-estatisticas de algumas villas e povoações +de Portugal</em>.</p> + +<p>O nome do esculptor Claudio de Laplada cahiu com +effeito no olvido, de sorte que o forasteiro, que visitando +a Vista Alegre perguntasse quem havia feito o +tumulo do bispo, recebia sempre em resposta aquella +lenda.</p> + +<p>Fronteiro a este tumulo, está um outro, muito +mais modesto, sem duvida, mas ainda assim digno de +ser apreciado, como obra que é do mesmo artista. Sobre +uma urna funeraria, onde se vê tambem um escudo, +com as armas dos Castros, está sentada uma figura +de mulher sustentando na mão esquerda um baixo +relevo, representando uma cabeça de freira, allusão +sem duvida á vida monachal que o bispo desejava +que sua filha D. Theodora de Castro Moura Manoel +abraçasse, pois era, como as treze arruellas dos Castros +do escudo o indicam, para ella destinado o moimento.<span class="pn">{13}</span></p> + +<p>Por debaixo d'este tumulo e por tanto fronteiro +ao do bispo está uma grande lapide de marmore branco, +tendo gravada a seguinte inscripção latina:</p> + +<p class="centrado"><em>Deo opt.º Max.º<br> +Deiparae virgini<br> +Diei ultimae</em></p> + +<p class="centrado"><em>Supremo Judicio Supremus Judex:<br> +Rectrici universi Rector universitatis:<br> +Episcopo animarum Animosus episcopus.</em></p> + +<p class="centrado"><em>In<br> +Mortis asylum, voti titulum, gratitudinis<br> +tropheum,<br> +Hoc templum, hanc aram, hunc tumulum<br> +dedicat sacrat signat<br> +Ill.<sup>mus</sup> et R.<sup>mus</sup> Dõnus<br> +D. Emmanuel de Moura Manuel<br> +Qui<br> +A B. Ferdinando Castellae Rege progenitus,<br> +sanctorum soboles, electum genus est:<br> +Armis et literis, ordine, et cursu manens,<br> +stella micans, et dimicans fuit:<br> +Aulae supernae cum Pontificibus ascriptus<br> +simili gloria sacerdos Christi erit.<br> +Favente natura, comite, virtute, auxiliante<br> +gratia.<br> +Cui<br> +Ortum dedere Serpae ter maxime conjuges<br> +Lupus Alvares de Moura,<br> +commendator de Trancoso,<br> +Trium Ecclesiarum Patronus, Trium<br> +maioratuum Dõnus<br> +Et D. Maria de Castro<span class="pn">{14}</span><br> +Ex Imperiali Emmanuelium stirpe pari<br> +nobilitate decorata.<br> +Quem<br> +Serenissimi Portugaliae Reges<br> +Destinarunt caducco, Selegerunt consilio:<br> +Sancti Officii Tribunal<br> +Judicem habuit Deputatum Inquisitorum<br> +dignissimum:<br> +Academia Conimbricensis<br> +Collegam educavit, Rectorem coluit.<br> +Ecclesiae Luzitanae<br> +Canonicum nutrierunt alumnum, et sponsum<br> +receperunt Episcopum.<br> +Tot gradus Providentia Supponente,<br> +Ut meritis augeretur, quod sanguini<br> +debebatur.<br> +Cujus<br> +Magnutudinem Integritatem Sapientiam<br> +Multiplex fama loquitur,<br> +Ipsa Juvidia fatetur,<br> +Hoc opus salamonicum testatur.<br> +Quo<br> +Arca coronata, suffulciens, Propitiatorium,<br> +Custodit miraculosum simulachrum<br> +Virgae Virginis quae rupit rupem.<br> +De cujus nativitate, quam celebrat, gaudens,<br> +Sub cujus umbra, quam desiderat, sedens,<br> +Zoculo fecit locum;<br> +Munimentum construxit monumento.<br> +Herculeas columnas, vel potius Machabaicas,<br> +Saxeas fixit, non terreas finxil,<br> +Ut viderentur ab omnibus navigantibus mare:<br> +Non plus ultra.<span class="pn">{15}</span><br> +Hujus tanti viri si effigiem quaeris,<br> +Inspict utrumque antrum:<br> +Franci—hispanicum scilicet, et<br> +Bethlemiticum.<br> +Quibus<br> +Ut simon dormit; ut Pastor vigilat;<br> +Immo etiam vigilat, cum dormit;<br> +Nam illic spiritus inter vigiles associatur<br> +Caelesti militiae,<br> +Dum hoc corpus, virginis protectione securum<br> +Requiescit in pace.<br> +Hoc Epitaphium insculptum Fuit anno<br> +Domini 1697.</em></p> + +<hr style="width: 20%;"> + +<p class="centrado"><big>TRADUCÇÃO</big></p> + +<p class="centrado">Ao Deus Omnipotente<br> +Á Virgem Mãe de Deus<br> +para o ultimo dia.</p> + +<p class="centrado">Juizo supremo<br> +Moderador do Universo<br> +Bispo das almas.</p> + +<p class="centrado">Supremo Juiz<br> +Reitor da Universidade<br> +Bispo animoso<br> +Para<br> +Asylo na morte, satisfação d'um voto<br> +monumento de sua gratidão<br> +dedica este templo, consagra este altar;<br> +erige este tumulo<span class="pn">{16}</span><br> +o Ill.<sup>mo</sup> e Rev.<sup>mo</sup> Snr.<br> +D. Manoel de Moura Manoel,<br> +a quem<br> +O sangue do bemaventurado D. Fernando<br> +Rei de Castella<br> +Communicou as virtudes d'uma raça d'eleições<br> +nunca desmentidas:<br> +—nas armas, nas letras, na gerarchia;—<br> +no progredir<br> +Astro de brilho constante,<br> +Inscripto entre os Pontifices na superna<br> +Curia partilhara similhante<br> +gloria no sacerdocio de Christo:<br> +Não lh'o nega a natureza; acompanha-o<br> +a virtude, auxilia-o a graça.<br> +Viu a luz em Serpa<br> +gerado dos preclarissimos esposos<br> +—Lopo Alvares de Moura—<br> +Commendador de Trancoso,<br> +Padroeiro de tres Egrejas e Senhor<br> +de tres morgados,<br> +e—D. Maria de Castro—<br> +descendencia não menos illustre:<br> +da familia imperial dos Manoeis.<br> +Os Serenissimos Reis de Portugal<br> +destinaram-o para o Caducco, e elegeram-o<br> +para o seu Conselho;<br> +O Tribunal do Santo Officio<br> +no cargo de Juiz deputado o possuiu como<br> +lustre de inquisidores.<br> +A Academia Conimbricense<br> +houve-o por collega, e o recebeu<br> +por seu Reitor.<span class="pn">{17}</span><br> +As Egrejas de Portugal<br> +o occuparam no tirocinio de Conego,<br> +venerando-o depois como Bispo.<br> +Permittiu a Providencia quando passasse por<br> +estas provas, para que adquirisse<br> +pelos meritos o que ao sangue era devido.<br> +A fama sem descanço apregoou<br> +a sua magnanimidade, inteireza, sabedoria, e<br> +mesmo a inveja isto confessa;<br> +e testemunha-o esta obra Salomniaca<br> +em que<br> +qual arca curvada, para abrigo, Propiciatorio,<br> +se venera a miraculosa imagem<br> +da vara da Virgem, que fende a rocha,<br> +Em honra da sua natividade, que celebra<br> +jubiloso levantou grande monumento<br> +em pequeno recinto, esperando<br> +repousar á sua sombra, porque aspira.<br> +N'elle<br> +Construiu para defesa do monumento<br> +Columnas d'Hercules ou antes Machabaicas<br> +fortes, e não frageis;<sup><A href="#nota1" name="m_nota1">[1]</A></sup><br> +para que todos quantos correm o mar<br> +saibam<br> +que se não pode passar além.<br> +Se desejas conhecer o retrato de tão<br> +illustre varão, busca-o nas duas grutas,<br> +na franca hispanica e na bethelemica.<br> +Se<br> +n'ellas como Pedro dorme, está vigilante<span class="pn">{18}</span><br> +como pastor;<br> +ou antes seu somno é a vigilia;<br> +pois além se associa á celeste milicia entre<br> +os vigilantes espiritos,<br> +aqui o seu corpo está sob a guarda da Virgem,<br> +Repousa em paz.<br> +Este epitaphio foi feito no anno<br> +de Christo de 1697.</p> + +<p> </p> + +<div class="rodape"> +<p><sup><A href="#m_nota1" name="nota1">[1]</A></sup> +Refere-se ás torres da capella.</p> +</div> + +<p>Um outro monumento antigo da Vista Alegre, é +a fonte do Carapichel, hoje quasi soterrada, mandada +construir em 1696 pelo bispo D. Manoel de Moura Manoel, +e notavel pela sua fórma e excellente agua, e +muito principalmente por uma inscripção em caracteres +gothicos e que é a que passamos a transcrever:</p> + +<blockquote class="poema"> +<p> «Esta fonte, ó navegante,<br> +cuja liquida corrente<br> +cristaes prodiga desata<br> +attenções vistosa prende.<br> + Esta nympha que ao Vouga<br> +só em leguas mais de sete<br> +adoça as aguas salgadas,<br> +feita Nayade ou Nereide.<br> + Esta agua que o bem commum<br> +á vara liberal deve<br> +de um sabio pastor sacro<br> +militar, juiz, regente.<br> + Esta veia cuja origem<br> +a do Paraiso excede;<br> +pois da casa da Senhora<br> +mais bem nascida descende.<span class="pn">{19}</span><br> + Contém todas as virtudes<br> +das fontes mais excellentes<br> +e dá remedios á vida<br> +depois de dar morte á sede<br> +se a frequentas por agrado.</p> + +<hr style="width: 20%;"> + +<p> «Sendo aos narcisos enfeite<br> +é das graças Natalis<br> +e das musas Hippocrene<br> +e Aratuhsa de Alpheo<br> +mas por modo differente:<br> +pois de um rio a outro rio<br> +aquella foge, esta segue.<br> + Egeria de melhor Numa<br> +que magnifico e prudente<br> +na arca o numero invoca<br> +no tanque a prata dispende.<br> + Biblis que, sem culpa, ao rio<br> +irmão por parte de Thetis<br> +murmurando a esquivança<br> +vae abraçar docemente.<br> + Fonte emfim do sol contigua<br> +ao templo de Deus dos Deuses<br> +contra a calma a fonte fria<br> +para o frio fonte quente.<br> + Se a buscas por medicina<br> +é qual a de Circe ou Séthys.</p> + +<hr style="width: 20%;"> + +<p> «Fonte que as doenças cura<br> +cristal que a vista esclarece<span class="pn">{20}</span><br> +iguala a fonte de Marsyas<br> + com benéfica antitheses:<br> +pois se aquella pedras cria<br> +est'outra pedras derrete.<br> + Não se turba com as vozes,<br> +antes para que a celebrem,<br> +sarando-as como a de Samos<br> +as louva como a de Eleasis.<br> + Ao que estuda suas margens<br> +activa a memoria sempre<br> +como a fonte de Beocia,<br> +opposta ao curso de Lethes.<br> + A quem da fonte Salmacis<br> +bebeu as aguas ardentes<br> +esta agua banhando as fontes<br> +livra do amor, qual Seleno,<br> +e quando perdido abrindes<br> +achas no Vouga ou heyncestes<br> +esta qual fonte de Erigon</p> + +<hr style="width: 20%;"> + +<p>«faz com que o vinho aborreces.<br> + Se por devoção visitas<br> +sua affluencia perenne<br> +é choro com que olhos pios<br> +na capella á Virgem servem.<br> + É fonte de Jerichó<br> +que as plantas da rosa vestem<br> +e que outro Eliseu com Moura<br> +fez suave, lenta e fertil.<br> + É fonte prophetisada +se tanto póde dizer-se<span class="pn">{21}</span><br> +pois sae do templo santo<br> +e vae regando a torrente.<br> + Do mar de graças Maria<br> +o rio e fonte procedem<br> +mas lá junto á lapa mana<br> +cá da mesma penha desce.<br> + Bebe, pois, bebe á vontade<br> +acharás que é (muitas vezes)<br> +tão util para a saude<br> +quão para a vista alegre.»</p> +</blockquote> + +<hr style="width: 20%;"> + +<p>Historiamos ainda que a largos traços a historia +da Vista Alegre e fizemos a descripção dos seus monumentos +antigos, agora é mister que nos occupemos +da sua historia moderna e do importante estabelecimento +que a fez florescer e tornou conhecida no mundo +da Arte.</p> + +<p>Os portuguezes que haviam sido os primeiros povos +da Europa, que introduziram a porcelana oriental +no commercio do Occidente, foram quasi que os ultimos +a ensaiarem o seu fabrico. Datam apenas do ultimo +quartel do seculo <small>XVIII</small> estes ensaios, realisados +em Lisboa pelo brigadeiro Bartholomeu da Costa e no +Rio de Janeiro, pelo professor regio, João Manso Pereira.</p> + +<p>Parece que as experiencias de Bartholomeu da +Costa para obter a porcelana dura, foram feitas na +antiga fabrica do Rato, empregando como materia prima, +differentes barros explorados nas visinhanças de +Aveiro.<span class="pn">{22}</span></p> + +<p>Ignora-se hoje quaes seriam estes barros, não +obstante o affirmar-se, não sabemos com que fundamento, +que foi o de Talhadella, concelho de Albergaria. +O que é certo porém é que no arsenal do Exercito +em Lisboa, quando se estudava o melhor systema +de fundir a estatua de El-Rei D. José <small>I</small>, se reuniu uma +importante collecção de barros de differentes pontos +do paiz, contando-se n'este numero o de Talhadella, +que foi o preferido para a edificação do forno onde se +deluiu o metal.</p> + +<p>As qualidades refractarias d'este barro eram conhecidas +já então, pois havia annos antes que um chimico +francez,—Drout, o havia descoberto, fazendo até +com elle magnificos tijolos refractarios, para o que estabeleceu +um forno nas proximidades d'Aveiro, segundo +affirma Raton.</p> + +<p>Dos resultados obtidos por Bartholomeu da Costa +para o fabrico da porcelana, são hoje apenas conhecidas +uma medalha representando em relevo a estatua +equestre do Terreiro do Paço, e uns camafeus com o +busto de D. Maria <small>I</small>. Tanto aquella, como estes, são +copias de medalhas abertas em 1775, por um dos +nossos mais notaveis gravadores e illustre filho d'Aveiro—João de Figueiredo.</p> + +<p>Depois d'estas tentativas para obter uma verdadeira +porcelana outras se fizeram em Coimbra, mas +sem melhor, ou nem mesmo igual, resultado, até que +o snr. José Ferreira Pinto Basto, estabeleceu um pequeno +laboratorio chimico no jardim do seu palacio do +largo das Duas Egrejas em Lisboa, isto em 1820 ou +1822, afim de descobrir barros com os requisitos necessarios +para fabricar porcelana.</p> + +<p>Parece que quem incutiu no animo esclarecido<span class="pn">{23}</span> +d'aquelle benemerito patriota esta ideia foi o general +José Pedro Celestino Soares, que possuia alguns dos +produtos obtidos por Bartholomeu da Costa.</p> + +<p>Foram, segundo consta, pouco animadores os resultados +agora obtidos pelo snr. José Ferreira Pinto +Basto, mas como o seu animo emprehendedor não tolerava +peias nem tão pouco afrouxava perante qualquer +contrariedade fosse ella qual fosse, resolveu proseguir +as experiencias iniciadas, fundando desde logo uma +grande fabrica.</p> + +<p>O local aprazado foi Aveiro, e isto por a tradicção +indicar como sendo d'aqui o barro de que Bartholomeu +da Costa obteve a sua chamada porcelana.</p> + +<p>Apesar de possuir as duas magnificas propriedades +da Ermida e da Vista Alegre, o snr. José Ferreira +Pinto Basto, quiz estabelecer a nova fabrica na propria +cidade, e para isso entabolou negociações com o proprietario +da Quinta dos Santos Martyres, para a adquirir, +o que não poude conseguir por esta propriedade +fazer parte de um antigo vinculo. Attenta esta difficuldade, +resolveu então estabelecer a fabrica na Vista +Alegre, para o que se principiaram a fazer ali differentes +edificações.</p> + +<p>Foi em janeiro de 1824, que principiaram os trabalhos +para a fabrica, a que veio presidir um dos filhos +do fundador, o snr. Augusto Ferreira Pinto Basto.</p> + +<p>Uma das obras que primeiro se concluiu foi um +pequeno forno para cozer louça, feito segundo as indicações +e immediata direcção de Domingos Raimão, +oleiro d'uma fabrica de Coimbra.</p> + +<p>Em abril fizeram-se as primeiras experiencias para +obter a porcelana. Realisou-as Bento Fernandes, mestre +de olaria na fabrica de Rato, com o barro de Util,<span class="pn">{24}</span> +concelho de Cantanhede,—e o de Talhadella, do concelho +de Albergaria a Velha. Foi pouco satisfatorio o +resultado obtido, mas ainda assim a ideia da fundação +da fabrica não soffreu quebra de sorte que o snr. José +Ferreira Pinto Basto pediu a El-Rei D. João <small>VI</small> para +que lhe fossem concedidos os privilegios de que gosava +a fabrica de vidros da Marinha Grande, o que +obteve como consta dos documentos que segue:</p> + +<p>«D. João, por graça de Deus, rei do reino unido +de Portugal, Brazil e Algarves, d'aquem e d'além mar +em Africa, Senhor de Guiné, etc., etc.</p> + +<p>Faço saber que José Ferreira Pinto Basto me representou +por sua petição, que elle pretendia erigir +para estabelecimento de todos os seus filhos com egual +interesse, ainda mesmo os menores logo que cheguem +á idade competente, uma grande fabrica de louça, porcelana, vidraria e processos chimicos, na sua quinta +chamada da Vista Alegre da Ermida, freguezia de Ilhavo, +comarca de Aveiro, visinha á barra, pedindo-me +que eu houvesse por bem de auctorisar este estabelecimento +na fórma proposta e conceder-lhe a isenção +de direitos de todos os materiaes que necessarios lhe +forem para a sua laboração; assim como tambem das +manufacturas que exportar para o Brazil ou para qualquer +parte deste reino e dos paizes estrangeiros, e +todas as mais graças, privilegios e isenções de que +gosam, ou gosarem de futuro as fabricas nacionaes, e +particularmente a dos vidros da Marinha Grande, no +que lhe forem applicaveis; e tendo em consideração, +ao dito requerimento, e constando-me por informação +do corregedor da comarca, a que mandei proceder, +que o projectado estabelecimento deve ser de grande +utilidade para os povos pela vastidão dos seus differentes<span class="pn">{25}</span> +ramos; que é construido em edificio proprio, em +que já se teem feito avultadissimas despezas; que o +seu local é o mais vantajoso por ficar nas margens de +um rio navegavel, rodeado de pinheiros e outras materias +combustiveis, assim como de excellentes barros, +areias finas e brancas, e seixo crystallisado, tudo proprio +para as vidrarias e porcelanas, como se tem verificado +por felizes ensaios; e finalmente que o supplicante +é um dos negociantes mais ricos e grande proprietario +de muitos predios, tanto n'aquella comarca, +como nas do Porto e Penafiel, sendo além d'isso dotado +de um genio emprehendedor, a quem as difficuldades +não embaraçam, nem desanimam as despezas; por todos +estes motivos: hei por bem de approvar o mesmo +estabelecimento na fórma pedida, concedendo-lhe todas +as graças, privilegios, e isenções de que gosam ou +vierem a gosar as outras fabricas de identica natureza: +e mando a todas as justiças e mais pessoas a quem o +conhecimento d'esta pertencer, que assim o cumpram +e façam cumprir como n'ella se contêm, sem duvida +ou embaraço algum.</p> + +<p>El-Rei nosso senhor o mandou pelos ministros +abaixo assignados, deputados da real junta do commercio, +agricultura, fabricas e navegação. <em>Anselmo de Souza +Machado Corrêa de Mello</em> a fez. Lisboa, em 1 de julho +de 1824.—D'esta 800 reis.—No impedimento do deputado +secretario, <em>José Antonio Gonçalves</em> a fez escrever.—(Assignados) <em>José Manoel Placido de Moraes e +José Antonio Gonçalves</em>».</p> + +<p>«Seguem-se os registos da real junta do commercio +de 22 de fevereiro de 1826; da alfandega de Lisboa +de 23 de fevereiro de 1826: da alfandega do Porto +de 1 de maio de 1826; da alfandega de Aveiro de<span class="pn">{26}</span> +19 de maio de 1826; da alfandega de Villa do Conde +de 9 de junho de 1825».</p> + +<hr style="width: 20%;"> + +<p>«D. João, por graça de Deus, imperador do Brazil, +e rei de Portugal e dos Algarves, d'aquem e d'além +mar em Africa, Senhor de Guiné, etc., etc.</p> + +<p>Faço saber aos que esta provisão virem, que subindo +á minha imperial e real presença, pela real junta +do commercio, a consulta a que mandei proceder sobre +o requerimento de José Ferreira Pinto Basto, em que +pedia privilegio exclusivo por vinte annos, para o fabrico +de porcelana, vidraria, e processos chimicos da +sua fabrica, estabelecida e approvada por provisão de +1 de julho de 1824, na sua quinta da Vista Alegre, +sita no termo e freguezia de Ilhavo, comarca de Aveiro, +supplicando igualmente a prohibição absoluta de se +exportarem as materias primas da mesma porcelana, +para que outros emprehendedores não usem tirar commodo +dos assiduos trabalhos, fadigas e grandes despezas, +que empregou na descoberta das referidas materias +nas visinhanças do Porto e Aveiro, sendo elle o +primeiro descobridor. E constando pela mencionada +consulta e averiguações que lhe precederam, estar o +supplicante nas circumstancias de obter as graças que +implora: fui servido conformar-me com o parecer d'ella, +por minha immediata resolução de 5 de dezembro +do dito anno: e hei por bem conceder ao supplicante +o exclusivo que pede por tempo de vinte annos, ampliando +o de quatorze, que a lei em geral permitte; +em attenção á utilidade e circumstancias particulares +d'este estabelecimento; ficando-lhe outrosim concedida<span class="pn">{27}</span> +a absoluta prohibição de se exportarem as materias +primas para a porcelana, descobertas pelo supplicante, +e confirmados os mesmos privilegios e prorogativas +de que gosam as mais fabricas do reino como se expressa, +na primeira provisão. E mando ás justiças e +mais pessoas a quem o conhecimento d'esta pertencer, +que a cumpram e guardem conforme n'ella se contém, +fazendo tranzito pela chancellaria mór do reino».</p> + +<p>Pagou de novos direitos 540 reis, que se carregaram +ao thesoureiro d'elles a fl. 165 v. do livro 40.º e +se registou o conhecimento a fl. 119 v. do livro 96.º</p> + +<p>O imperador e rei nosso senhor o mandou pelos +ministros abaixo assignados deputados da real junta +do commercio, agricultura, fabricas e navegação.—<em>José Antonio Ribeiro Soares</em> a fez em Lisboa, a 3 de +março de 1826.—D'esta 800 reis.—Na ausencia do +deputado secretario, a fez escrever e assignou <em>Luiz +Antonio Rebello e José Antonio Gonçalves</em>».</p> + +<p>Seguem-se os mesmos registos copiados na provisão +anterior.</p> + +<p>Estava portanto fundada a fabrica de porcelana, +mas restava descobrir o kaulin de que ella se obtem. +Fabricava-se louça é verdade, mas esta louça era má +faiança em vez de boa porcelana. Procuraram-se barros +em differentes pontos do paiz, e construiram-se +novos fornos, conforme plantas vindas de Sevres, mas +nada disto deu o resultado que se desejava, de sorte +que em 1826 o fundador contractou na Saxonia tres +artistas para virem dirigir o fabrico da porcelana e +ensinal-o aos operarios portuguezes.</p> + +<p>Dos tres só vieram dois, sendo apenas verdadeiro +artista um, José Scórder, pois o outro não passava de +um charlatão. Scórder, que era um modelador de merito,<span class="pn">{28}</span> +prestou importantes serviços á fabrica, creando +bons discipulos que lhe perpetuaram o nome.</p> + +<p>Como o artista contractado na Allemanha, que não +chegou a partir, apesar de haver recebido já um importante +subsidio para as despezas da viagem, era +quem devia tomar a direcção da officina de pintura, +contractou o snr. José Ferreira Pinto Basto, n'aquelle +mesmo anno, dois pintores de louça, João Maria Fabri +e Manoel de Moraes, discipulos da Casa-pia de Lisboa. +Aquelle morreu um anno depois de ter vindo para a +Vista Alegre; este conservou-se ali até 1833, não como +pintor, mas sim como esculptor, produzindo n'este genero +bons trabalhos.</p> + +<p>Tudo parecia agourar um feliz resultado, mas tal +resultado cada vez se ia tornando mais demorado e +incerto, de sorte que a empresa teria succumbido ás +innumeras difficuldades que surgiram de todos os lados, +se á testa d'ella e dominando tudo não estivesse +a incansavel actividade, a poderosa energia, e invencivel +perseverança do snr. José Ferreira Pinto Basto.</p> + +<p>Os operarios estrangeiros conheciam o trabalho +dos materiaes a que nos seus paizes estavam habituados, +e não podiam fazer obra por aquelles que na Vista +Alegre se lhes offereciam; a sua aptidão sendo como +era puramente pratica não podia por si só crear ou +modificar processos; necessitava que o genio inventivo +e a sciencia viessem em seu auxilio. O snr. Ferreira +Pinto reconheceu esta verdade, de sorte que em 1830 +mandou seu filho o snr. Augusto Ferreira Pinto Basto, +a França, a fim de estudar na fabrica de Sevres, verdadeira +escola das artes ceramicas, os melhores processos +e meios de investigação.</p> + +<p>Ali recebeu aquelle cavalheiro sabios conselhos e<span class="pn">{29}</span> +preciosas indicações do director d'aquella importante +manufactura, o illustre Brogniart, que lhe fez ver a +completa impossibilidade de se fabricar porcelana, sem +o kaulin, que era o que faltava na Vista Alegre.</p> + +<p>O snr. Augusto Ferreira Pinto regressou a Portugal +trazendo amostras do kaulin empregado em Sevres, +e depois da sua chegada os ensaios e experiencias continuaram +incessantemente na Vista Alegre, mas sempre +sem melhor resultado, até que em 1834 se descobriu +o verdadeiro kaulin.</p> + +<p>O snr. Ferreira Pinto tinha mandado vir de differentes +pontos do paiz, por intermedio dos administradores +do contracto do tabaco, de que elle era arrematante, +amostras de quantos barros havia mais ou menos +conhecidos, a fim de se ver se entre elles se encontrava +o desejado kaulin. Estes barros eram todos submettidos +a um exame chimico, mas com resultado sempre +negativo para o fim que se tinha em vista.</p> + +<p>Ao mesmo tempo que se procedia a estes exames +um aprendiz de oleiro, fazia por conta propria algumas +experiencias não só com aquelles barros, mas com outros +que a pedido seu lhe eram trasidos por operarios +que dos concelhos de Ovar e Feira vinham trabalhar +nas construcções que na Vista Alegre se estavam fazendo. +Entre estes barros veio o kaulin de Val Rico, +d'aquelle ultimo concelho; trouxe-o um trolha e foi reconhecido +pelo aprendiz oleiro que, no meio da sua +humilde obscuridade, prestou o grandiosissimo serviço +á fabrica de lhe descobrir a materia prima para o fabrico +da porcelana, serviço este que não tinha podido +ser prestado por os administradores do contracto do +tabaco, do paiz inteiro, que d'isso haviam sido encarregados.<span class="pn">{30}</span></p> + +<p>O descobridor pois do kaulin empregado hoje na +Vista Alegre foi Luiz Pereira Capote, natural de Ilhavo, +que falleceu em 1870.</p> + +<p>Descoberto o kaulin, principiou desde então a fabrica +a produzir porcelana dura, datando portanto de +1834 o seu fabrico, que se foi aperfeiçoando gradualmente, +de fórma que em 1840 principiou a Vista Alegre, +a poder competir em qualidade com fabricas estrangeiras, +o que não succedeu com os preços, pois +produzia só caro.</p> + +<p>O elevado dos preços difficultou durante alguns +annos a extracção de louça, tornando-a pouco conhecida. +Os armazens da fabrica estavam atulhados de +louça, quando em maio de 1846 rebentou no Minho a +revolução popular. Os proprietarios da fabrica receiosos +de que ella fosse victima da furia popular annunciaram +a venda por lotes de toda a louça em deposito, +venda que se realisou por preços bastante convidativos, +que fez com que os productos da Vista Alegre se espalhassem, +divulgando o seu bem acabado e a sua barateza. +Estava aberto um novo periodo de prosperidade +para a fabrica, mas este periodo só principiou a sentir-se +de 1848 em diante, pois o resto do anno de 1846 +e maior parte do de 1847, a fabrica nada produziu, +pois estava fechada em resultado dos acontecimentos +politicos d'essa epocha.</p> + +<p>Prosperando sempre d'anno para anno, a fabrica +chegou ao apuro em que hoje está, apresentando largas +tendencias para progredir, tal é a activa e intelligente +direcção que hoje tem. Para se avaliar dos progressos +da fabrica basta dizer-se que os seus productos +tem sido premiados em todas as exposições de +Londres, Paris, Philadelphia, Vienna d'Austria, Rio de<span class="pn">{31}</span> +Janeiro e Porto; do consumo que tem obtido os mesmos +productos são prova irrefutavel os seguintes algarismos:</p> + +<p>Em 1860 . . . . . 21:949$000</p> + +<p>Em 1870 . . . . . 26:994$000</p> + +<p>Em 1880 . . . . . 49:750$000</p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>Conjunctamente com a fabrica de porcelana, fundou +o snr. José Ferreira Pinto, na Vista Alegre no +mesmo anno de 1824 uma outra de vidro e cristal, +que lhe ficou annexa. Os primeiros trabalhos foram +dirigidos por um allemão, Francisco Miller, que havia +annos já estava dirigindo a do Côvo, no concelho de +Oliveira d'Azemeis, o qual foi substituido em 1826 por +João da Cruz e Costa, de Lisboa, que esteve a dirigir +o fabrico do vidro até 1834.</p> + +<p>Foram desde logo bastante satisfatorios os resultados +obtidos, de sorte que o fundador procurou pol-a +logo a par das melhores do estrangeiro, mandando vir +mestres experimentados para as differentes officinas de +lapidação e floristagem.</p> + +<p>Para aquella contractou em 1820 na Inglaterra +Samuel Hunles, que veio para a Vista Alegre ganhar +2$400 reis diarios, e ali esteve até 1828, deixando +bons discipulos.</p> + +<p>O mestre de florista era italiano, e não passou de +Lisboa, onde chegou em 1827, por alguem lhe affirmar +que era muito miasmatico o clima da Vista Alegre. +Para ali foram os aprendizes d'esta officina, que ao fim +de tres annos de pratica foram dados por promptos,<span class="pn">{32}</span> +affirmando o mestre que um d'elles João Ferreira Ribeiro, +de Vagos, estava já mais mestre do que elle, o +que não era sem fundamento, pois veio para a Vista +Alegre dirigir a officina de florista o que fez com talento.</p> + +<p>No periodo decorrido de 1836 a 1840, foi enorme +a producção do vidro, e todo da melhor qualidade, pois +alguns dos productos fabricados n'esta epocha são de +uma perfeição inexcedivel.</p> + +<p>Quando n'aquelle anno o fabrico da porcelana entrou +na phase de aperfeiçoamento e progresso a que +já nos referimos, o do vidro principiou a decahir consideravelmente +até que cessou de todo em maio de +1846.</p> + +<p>Em meados de 1848 continuou a fabricar-se mas +em muito menor quantidade e esta mesma só de liso, +pois os lapidarios e floristas, durante aquelle interregno, +uns tinham ido para a fabrica da Marinha Grande, +outros applicaram-se a outros misteres, de fórma que +os tempos aureos da fabricação do vidro na Vista Alegre, +passaram para nunca mais voltarem.</p> + +<p>Em 1880 acabou de todo a fabrica de vidro, demolindo-se +o respectivo forno, mas mesmo já até a +esta epocha eram grandes as interrupções que se davam +com o seu fabrico, estando por vezes muitos mezes +sem trabalhar.</p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>Annexo á fabrica de porcelana e vidro, houve tambem +um laboratorio chimico, e a elle se referem os +reaes Alvarás de 1 de julho de 1824 e 3 de março de<span class="pn">{33}</span> +1826. Foi fundado como aquellas fabricas em 1824. +De 1827 a 1832 teve por director D. Euzebio Roiz, +official de cavallaria do exercito hespanhol e chimico +muito distincto, que veio para Portugal como emigrado +em 1820. Depois da sua sahida acabou o laboratorio, +do qual não podemos obter mais noticias.</p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>De 1827 a 1835 foram os productos da fabrica +marcados com um V. A. entre duas palmas rematadas +por uma corôa. Esta marca era gravada, sendo o carimbo +aberto por Manoel de Moraes, de quem já fizemos +menção. De 1838 a 1861 não foi geralmente marcada +a louça, pois só em alguns serviços d'almaço de +maior preço apparece um V. A. dourado. De 1861 em +diante é marcada toda a louça, tanto branca como pintada, +com um V. A. em azul.</p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>Com o fim de crear artistas habeis para as duas +fabricas de porcelana e vidro, fundou em 1826 o snr. +José Ferreira Pinto Basto, na Vista Alegre um collegio +com o internato, onde se ensinava, além d'um dos +misteres da fabrica, instrucção primaria e musica.</p> + +<p>A inauguração foi feita com grande solemnidade, +vindo assistir a ella o fundador.</p> + +<p>Os primeiros alumnos admittidos foram treze, e +o director José Vicente Soares, de Penafiel. Esta instituição<span class="pn">{34}</span> +acabou em 1842, chegando a ter nos ultimos +annos quarenta alumnos.</p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>Como dependencia da fabrica, ha tambem na Vista +Alegre, um pequeno mas elegante theatro, que além +da galeria ou camarote destinado aos proprietarios +da fabrica, tem platea com capacidade para cento e oitenta +logares. Foi fundado em 1851, realisando-se a inauguração +com as comedias <em>Um duello em Campolide</em>, <em>O +quarto de duas camas</em>, <em>Util e agradavel</em>.</p> + +<p>O panno de bocca e bem assim o tecto foi pintado +pelo director da officina de pintura Chartier Rousseau. +Aquelle representa a Vista da Praia Grande de Macau, +e este Apollo e as nove musas.</p> + +<p>Anteriormente á fundação do actual theatro houveram +dois, datando a fundação do mais antigo de +1825 ou 1827, e que foi inaugurado com a representação +da comedia <em>O gallego lorpa</em>.</p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>Como dependencia do collegio organisou-se tambem +em 1826 uma phylarmonica privativa da fabrica, +e composta unica e exclusivamente de operarios d'ella.</p> + +<p>Esta phylarmonica ainda continua a existir e tem +tido desde o seu principio até hoje os seguintes regentes:—José Vicente Soares, de 1820 a 1828: Prudencio +Apolinario, de 1830 a 1834; Filippe Marcelino +Classe, de 1834 a 1838; Antonio Dias, de 1838 a<span class="pn">{35}</span> +1845: João Antonio Ferreira, de 1847 a 1851; Antonio +Dias, de 1852 a 1866; e Joaquim Martins Rosa, +de 1867, em diante.</p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>Os pruductos da fabrica da Vista Alegre tem sido +premiados com medalhas de cobre e prata em todas +as exposições do Londres, Paris, Philadelphia, Vienna +d'Austria, Rio de Janeiro e Internacional do Porto.</p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>A fabrica da Vista Alegre tambem tomou parte +muito activa nos acontecimentos politicos de 1846 e +1847. Quando em 14 de maio d'aquelle anno a cidade +de Aveiro adheriu ao pronunciamento popular iniciado +no Minho, a população operaria da Vista Alegre +pronunciou-se tambem e fraternisando com os que n'aquella +cidade se haviam revolucionado, marchou com +elles para Cantanhede e d'aqui para Coimbra, a fim de +receber ordens e instrucções da junta governativa, que +ali se havia installado. De Coimbra marcharam os +operarios da Vista Alegre e os populares d'Aveiro para +Villa Nova de Gaya, onde se conservaram até que o +Porto adheriu tambem á causa que elles defendiam.</p> + +<p>Feita a revolução no Porto em 9 d'outubro contra +o <em>golpe de Estado</em> de 6 do mesmo mez, os operarios +da Vista Alegre abraçaram logo com enthusiasmo a +causa da junta, procedendo immediatamente á organisação +d'um corpo de voluntarios, com o nome de Batalhão<span class="pn">{36}</span> +Nacional do Concelho d'Ilhavo. No dia 23 de outubro +marchou o batalhão para o Porto, levando por +commandante um dos proprietarios e administrador da +fabrica, o snr. Alberto Ferreira Pinto Basto, e por +major o director da mesma fabrica, João Maria Rissoto.</p> + +<p>No dia 28 de outubro fez o batalhão da Vista Alegre, +pois era assim que era conhecido, a sua entrada +no Porto, indo á sua frente o Visconde de Sá da Bandeira, +que chegando n'esse mesmo dia de Lisboa, quiz +honrar os valentes operarios, commandando-os n'aquelle +dia.</p> + +<p>Organisando-se a divisão com que o Visconde de Sá +da Bandeira, devia operar em Traz-os-montes contra as +forças do Barão do Casal, o batalhão da Vista Alegre +foi um dos escolhidos para d'ella fazerem parte, e +como tal entrou na acção de Valle Passos, que teve +logar em 10 de novembro. São bem conhecidos os resultados +d'esta acção, para que os relatemos aqui. Como +o nosso proposito é só fallarmos da Vista Alegre, +diremos que o batalhão d'este nome, entrou com galhardia +em fogo sustentando-o com vigor até mesmo +depois da deserção dos regimentos 3 e 15 de infanteria. +Não podendo, porém, resistir ao choque da cavallaria +e ao d'um d'aquelles regimentos, que o carregára +á bayoneta, o batalhão retirou com alguma confusão +para a rectaguarda, unindo-se depois ao resto das +forças com que Sá da Bandeira voltou para o Porto.</p> + +<p>Durante o resto da lucta não tomou parte em +qualquer outro combate, mas guarneceu por vezes differentes +pontos das linhas e alguns d'elles muito importantes, +até que teve de depôr as armas como as +demais forças populares, em virtude da convenção assignada +em Gramido em 21 de junho de 1847.<span class="pn">{37}</span></p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>No dia 13 de cada mez ha na Vista Alegre, um +mercado muito importante, conhecido pela triplice +denominação da <em>Feira dos treze, da Ermida, e do Bispo</em>. +Este mercado foi estabelecido a requerimento do juiz, +vereadores e mais povo das villas da Ermida e Ilhavo, +por alvará de 15 de junho de 1693, que ordenou que +o mercado mensal se tornasse em annual no dia 13 de +setembro, dia da invocação da padroeira da capella da +Vista Alegre—Nossa Senhora da Penha de França.</p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>Fizemos já a historia da fabrica, é justo que agora +d'ella façamos descripção ainda que rapida, e que digamos +tambem alguma cousa do systema de fabrico +n'ella empregado.</p> + +<p class="centrado">DESCRIPÇÃO DA FABRICA</p> + +<p>É modestissima a apparencia exterior da fabrica, +de fórma que a impressão por ella produzida ao forasteiro +que pela vez primeira a visita, nem por sombras +lhe dará a conhecer que elle se acha frente a frente +com um dos mais importantes estabelecimentos industriaes +não só do paiz, mas até da Peninsula.</p> + +<p>Correndo parallelos com um grande parque, pelo +lado do norte, estão os armazens da louça branca e +pintada, loja de vendas e escriptorio.</p> + +<p>Entre estas duas dependencias da fabrica é que<span class="pn">{38}</span> +fica a entrada que dá accesso a um pateo arborisado, á +volta do qual estão os armazens já referidos, a casa do +deposito, e officina de fórmas e moldes, e bem assim +a das <em>gazetas</em>, deposito de material de incendios, casa +onde se guardam os restos do antigo museu da fabrica, +officina de carpentaria, e entrada para a estancia das +lenhas.</p> + +<p>São vastos os armazens de deposito de louça pintada +e branca, especialmente o d'esta ultima, que era onde +antigamente estavam os fornos de estender vidraça.</p> + +<p>A officina de moldes e <em>gazetas</em> está bem montada +como todas as restantes da fabrica; no deposito do material +de incendios, ha duas bombas, machados, e canecos +de pau para agua, em profusão, e outros objectos +proprios, tudo preparado e prompto para acudir a +qualquer sinistro.</p> + +<p>É provisoria a casa onde estão os productos que +compõem o chamado muzeu da fabrica, o que é deveras +para lamentar, pois tornam-se dignos d'uma boa +collocação, a fim de poderem ser examinados e apreciados, +como merecem.</p> + +<p>A estancia das lenhas fica ao norte do edificio e está +completamente isolada d'elle. Mede 67,<sup>m</sup>60 de comprimento +e 52,<sup>m</sup> de largura. A sua superficie é rectangular, +tendo á volta, os telheiros que abrigam a lenha +das chuvas.</p> + +<p>D'aquelle pateo passa-se para as officinas da olaria. +São duas salas bastante espaçosas, onde ha 38 rodas +d'oleiro; junta a estas está uma outra mais pequena, +que é a officina de aprendisagem e deposito de modelos. +Junto d'aquellas ha um terreno ajardinado onde +estão os telheiros para seccar a louça.</p> + +<p>Da officina de olaria passa-se a um longo corredor<span class="pn">{39}</span> +ao fim do qual estão as officinas de pintura. São duas +as salas destinadas para a pintura, cheias de luz e bem +ventiladas. Ornam-lhe as paredes esboços de V. Rosseau, +e placas de porcelana com o retrato do fundador +da fabrica, brasões d'armas, quadros de costumes, +fructos, etc.</p> + +<p>Á direita d'aquelle corredor fica a lithographia. +Montada, segundo todas as exigencias do fim a que é +destinada, funcciona apenas de 1880 em diante. São +bastante satisfatorios os resultados obtidos pelo processo +lithographico, que tem a grande vantagem de ficar +muito mais barato do que o geralmente seguido na +pintura da porcelana, e aqui desde principio adoptado.</p> + +<p>Em seguida á lithographia fica o deposito da louça +que hade ser pintada e do lado fronteiro a casa das +<em>muflas</em> onde ha tambem duas estufas para seccar a louça +pintada.</p> + +<p>Da sala da pintura desce-se para o deposito do +barro preparado e casa da amassadura, e d'aqui para +a officina de trituração, onde se acham montados as +galgas e pisões a que dá movimento uma machina a +vapor.</p> + +<p>Para além da machina estão as estufas para seccar +areia, alimentadas com o calor perdido das caldeiras, +um torno a que ella dá movimento, e as officinas de +serralheria. Parallela com esta parte do edificio, que é +a mais vasta de todo elle, fica a estancia do carvão e +differentes telheiros para a secca do barro. Proximo, +está a officina de lavagem e escolha de materiaes empregados +no fabrico da porcelana.</p> + +<p>Os fornos, esses, tres ficam pouco acima d'estas ultimas +officinas, e o outro que é o maior, junto ao deposito<span class="pn">{40}</span> +da louça branca, ao pé do qual fica tambem a +officina de vidrar.</p> + +<p>Ao norte da casa dos tres fornos e do lado fronteiro +do caminho do serviço da fabrica fica a officina de esculptura, +o laboratorio em que se opera a solução do oiro +e preparação de algumas tintas. Está tambem ahi junto +a caldeira para a calcinação do gesso.</p> + +<p>As materias primas empregadas no fabrico da porcelana +são em toda a parte, em que ella se fabrica, +as argilas kaulinicas, o quartzo e o feldspatho. Aquellas, +vêem para a Vista Alegre, de Valle Rico, concelho +da Feira e este de Villa Meã, Mangualde e Porto.</p> + +<p>As argilas kaulinicas são aqui lavadas e passadas +por peneiras a fim de se separarem os corpos em diversos +estados de aggregação. As areias grossas que +dellas ficam são depois empregadas como quartzo.</p> + +<p>O quartzo e o feldspatho são escolhidos primeiramente +tambem afim de evitar que levem grandes porções +d'oxido de ferro, que ordinariamente lhe anda +unido, depois calcinam-se e levam-se para as galgas.</p> + +<p>Os differentes materiaes que hão de compôr a porcelana, +depois de devidamente moidos e lavados são +compostos e em seguida levados ás mós horisontaes +para os moer e misturar, e em seguida guardados em +depositos até adquirirem um certo grau de consistencia.</p> + +<p>D'estes depositos vae a massa para a casa da +amassadura onde é lançada em vasos de barro poroso, +de fórma de pyramides conicas troncadas, a que se dá +o nome de <em>coques</em>.</p> + +<p>D'estes <em>coques</em> é a massa levada para uma larga +banca de pedra, a fim de ser amassada a pés. São dois +ou mais homens que amassam a porcelana na banca<span class="pn">{41}</span> +referida; amassada ella dividem-a em muitas fracções, +com a fórma de cones, e que denominam <em>pélas</em>.</p> + +<p>Estas <em>pélas</em> são em seguida levadas para a officina +das rodas de oleiro, onde são separadamente amassadas +á mão sobre uma pequena banca de marmore, a +fim da massa ficar mais unida e homogenea, e bem +assim desapparecerem alguns veios escuros que ás vezes +adquire, ficando assim apta para ser obrada.</p> + +<p>O methodo empregado na Vista Alegre na execução +das differentes peças de porcelana, é o de <em>encher</em> +e o de <em>moldar</em>.</p> + +<p>As caixas refractarias—<em>gazetas</em>—onde se mettem +as peças para serem levadas aos fornos são fabricadas +por meio de moldes de gesso, variando as suas dimensões +conforme as peças que devem conter.</p> + +<p>Bem seccas as peças que sahiram da roda do oleiro, +ou dos moldes, procede-se ao seu enfornamento, +collocando-se primeiramente dentro das gazetas ou sem +ellas.</p> + +<p>Levadas ao forno são collocadas no segundo pavimento, +pois agora só recebem o calor brando, a que +chamam—<em>chacote</em>.</p> + +<p>Recebida esta primeira cosedura, vão para a officina +de vidrar. O vidrado é dado por immersão das +peças dentro d'uma grande tina em que se acham diluidos +em agua os corpos que compõem o esmalte.</p> + +<p>As peças mettem-se e tiram-se rapidamente ficando +tambem logo seccas como se não houvessem recebido +banho algum.</p> + +<p>O vidrado é tirado dos pontos de contacto e dado +nos pontos em que a peça não o poude receber na +parte coberta pela mão. Os retoques são feitos com +pincel.<span class="pn">{42}</span></p> + +<p>Mettidas novamente dentro das <em>gazetas</em>, sobre cujo +fundo, se lança alguma areia, afim de que a elle ellas +se não peguem, são outra vez enfornadas mas agora +no outro pavimento do forno, a fim de receberem o +grande calor que termina a cosedura.</p> + +<p>As <em>gazetas</em> são collocadas umas sobre outras, formando +pilhas em toda a altura do forno, a que se dá +o nome de <em>fios</em>.</p> + +<p>Feito o enfornamento, em que trabalham oito forneiros +e um trabalhador, accendem-se as quatro fornalhas +que tem o forno, fazendo para que a intensidade do +lume, seja a mesma, e ao mesmo tempo em todas as +fornalhas, a fim de estabelecer a uniformidade da temperatura.</p> + +<p>Passadas 10 horas de lume brando, a que chamam +<em>lume de esquenta</em>, tapam-se as boccas dos fornos +com tijolos refractarios, afim de concentrar a força do +calor interiormente, começando então o grande calor, +a que dão o nome de <em>lume de calda</em>, renovando successivamente +a lenha nas fornalhas em maior quantidade +que para lume brando, conservando-se assim o +fogo bem activo e uniforme ordinariamente por espaço +de vinte e quatro horas, chegando algumas vezes a +trinta e seis.</p> + +<p>Conhecendo-se que está completa a cosedura, tira-se +a lenha das fornalhas, diminuindo gradualmente +d'este modo o calor dentro do forno, e conservando a +louça dentro d'elle até que esteja completamente fria, +para então se começar a desenfornar.</p> + +<p>De entre as peças vidradas separam-se então as +que tem de ser pintadas, para o que são conduzidas +para um armazem junto ás salas da pintura.</p> + +<p>São muitas as côres usadas na pintura da porcelana,<span class="pn">{43}</span> +quasi todas vitreficaveis e obtidas por meio de +combinações de oxidos, saes metallicos e fundentes.</p> + +<p>Os oxidos empregados de preferencia são o oxido +de choromio, o de ferro, o de uranio, de manganez, +de zinco, de cobalto, de antimonio, de cobre, de estanho +e de iridium.</p> + +<p>Os principaes saes empregados são o chromato +de ferro, de barita, de chumbo e algumas vezes o chloreto +de prata.</p> + +<p>Depois de pintada a louça vae á estufa para seccar +as tintas e em seguida para dentro das <em>muflas</em> a +fim de fixar em si as tintas, ganhando as respectivas +côres, as quaes se vetrificam com os fundentes.</p> + +<p class="centrado">MACHINAS E FORNOS</p> + +<p>A machina a vapor, collocada na officina de trituração, +a que já nos referimos, foi feita em Lisboa por +Bachelay. Tem duas caldeiras de fogo central e força +de 14 cavallos. Foi assente em 1855 por Daniel Werlong, +artista de raro merito com o curso de artes e officios +em Paris, que durante alguns annos dirigiu a +officina de serralheria da fabrica.</p> + +<p>A chaminé que dá vasão ao fumo das caldeiras +tem 14,<sup>m</sup> de altura e foi construida em 1879, por operarios +do estabelecimento.</p> + +<p>A machina communica movimento por meio d'uma +correia sem fim, a um tambor fixo no veio principal o +qual o transmitte por meio de engrenagens aos differentes +engenhos destinados a moer e misturar os materiaes, +empregados no fabrico da porcelana.</p> + +<p>Ha quatro fornos destinados para coser a porcelana, +todos com a fórma cylindrica, construidos com<span class="pn">{44}</span> +tijolos refractarios fabricados no estabelecimento. Cada +um d'elles tem quatro fornalhas e dois andares; o +maior tem cinco.</p> + +<p>No inferior colloca-se a louça que tem de ser esmaltada, +elevando-se a temperatura ao rubro branco, +e no superior a que tem apenas a receber o calor brando +ou pequeno fogo que lhe dá o poder absorvente +para ser vidrada.</p> + +<p>No <em>chacote</em> a cosedura adquire o rubro cereja proximamente +a temperatura da fusão de ferro. O <em>chacote</em> +é aquecido pela chamma perdida do primeiro compartimento.</p> + +<p>Sobre as fornalhas dos fornos ha aberturas rectangulares, +chamadas <em>vigias</em> por onde se <em>observa</em> o +grau de calor e se tiram as amostras, sobre as quaes +se verifica directamente o estado da cosedura.</p> + +<p>Além dos quatro grandes fornos ha outros mais +pequenos destinados a fixar as tintas, que são as <em>muflas</em>. +Estes fornos, se tal nome se lhe pode applicar, +são caixas feitas de argila refractaria, separadas umas +das outras por paredes de igual natureza.</p> + +<p>Contém varios compartimentos formados por folhas +de ferro, a que servem d'apoio calços tambem d'argila +refractaria.</p> + +<p>São oito as <em>muflas</em>, tendo cada uma d'ellas fornalha +independente.</p> + +<p class="centrado">*<br>* *</p> + +<p>Escripta a historia da fabrica e feita a descripção +d'ella, nada mais nos resta do que apresentar uma resenha +dos seus administradores, directores, mestres de<span class="pn">{45}</span> +pintura e manufactura de porcelana, que é o que vamos +fazer. Eil-a:</p> + +<p> </p> + +<p>Administradores:—Os snrs. Augusto Ferreira +Pinto Basto, de 1824 a 1828; Alberto Ferreira Pinto +Basto, de 1828 a 1856; Duarte Ferreira Pinto Basto, +de 1856 a 1861; Domingos Ferreira Pinto Basto, de +1861 a 1882; Duarte Ferreira Pinto Basto Junior, de +15 de maio de 1882 em diante.</p> + +<p>Directores:—Os snrs. Antonio d'Almeida Ferreira +Duque, de 1836 a 1840; João Maria Rissoto, de +1840 a 1878: Duarte Ferreira Pinto Basto Junior, de +1878 a 1882; João Antonio Ferreira, de 15 de maio de +1882 em diante.</p> + +<p>Mestres de pintura:—Os snrs. Victor Francisco +Chartier Rousseau, de 1836 a 1852; Gustavo Fortier, +de 1853 a 1856; Filippe Fortier, de 1857 a 1860; Gustavo +Fortier, de 1861 a 1865; Joaquim José d'Oliveira, +de 1866 a 1881; Francisco da Rocha Freire, de 1881 +em diante.</p> + +<p>Mestres de porcellana:—Os snrs. João da Silva +Monteiro, de 1826 a 1833; João da Silva Monteiro Junior, +de 1833 a 1838; João Antonio Ferreira, de 1838 +a maio de 1882. Presentemente não ha mestre de porcelana, +mas sim dois contra-mestres, os snrs. Antonio +Augusto Affonso, que tem a seu cargo a preparação +das materias primas, fórmas e modelos, e Manoel da +Silva Marianno, que dirige a manufactura.</p> + +<p> </p> + +<p class="centrado">Fim.</p> + + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p class="centrado" style="font-size: 1.4em;">PREÇO 200 REIS</p> + +<hr style="border-bottom: double 6px #000;"> + +<p class="centrado" style="font-size: 1.6em;">OBRAS DO MESMO AUCTOR</p> + +<p><big>Memorias de Aveiro.</big></p> + +<p><big>D. Duarte de Menezes</big>—esboço biographico.</p> + +<p><big>O Districto de Aveiro;</big> noticia geographica, estatistica, +seraldica, archeologica e biographica da +cidade de Aveiro e todas as villas e freguezias do +seu districto.</p> + +<p><big>A mulher atravez dos seculos;</big> estudo historico +sobre a condição politica, civil, moral e religiosa +da mulher: 1.ª parte—sociedades primitivas, +China, India, Persia, Assyria, Egypto e Israel.</p> + +<p><big>D. Joanna de Portugal</big> (a princeza santa) esboço +biographico.</p> + +<hr style="width: 20%;"> + +<p class="centrado">EM VIA DE PUBLICAÇÃO</p> + +<p><big>Luctas caseiras—Portugal de 1836 a 1851.</big></p> + +<p><big>Aveiro e o seu concelho.</big></p> + +<p class="centrado">JOAQUIM DE VASCONCELLOS E MARQUES GOMES</p> + +<p><big>Exposição districtal de Aveiro em 1882—Reliquias da arte nacional.</big></p> +</div> + + + + + + + +<pre> + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of A Vista Alegre: apontamentos para a +sua historia, by João Augusto Marques Gomes + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A VISTA ALEGRE: APONTAMENTOS *** + +***** This file should be named 34276-h.htm or 34276-h.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/4/2/7/34276/ + +Produced by Pedro Saborano + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. Special rules, +set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to +copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to +protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project +Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you +charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you +do not charge anything for copies of this eBook, complying with the +rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose +such as creation of derivative works, reports, performances and +research. They may be modified and printed and given away--you may do +practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is +subject to the trademark license, especially commercial +redistribution. + + + +*** START: FULL LICENSE *** + +THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE +PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK + +To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free +distribution of electronic works, by using or distributing this work +(or any other work associated in any way with the phrase "Project +Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project +Gutenberg-tm License (available with this file or online at +https://gutenberg.org/license). + + +Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm +electronic works + +1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm +electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to +and accept all the terms of this license and intellectual property +(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all +the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy +all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. +If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project +Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the +terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or +entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. + +1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be +used on or associated in any way with an electronic work by people who +agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few +things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works +even without complying with the full terms of this agreement. See +paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project +Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement +and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic +works. See paragraph 1.E below. + +1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" +or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project +Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the +collection are in the public domain in the United States. If an +individual work is in the public domain in the United States and you are +located in the United States, we do not claim a right to prevent you from +copying, distributing, performing, displaying or creating derivative +works based on the work as long as all references to Project Gutenberg +are removed. Of course, we hope that you will support the Project +Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by +freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of +this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with +the work. You can easily comply with the terms of this agreement by +keeping this work in the same format with its attached full Project +Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. + +1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern +what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in +a constant state of change. If you are outside the United States, check +the laws of your country in addition to the terms of this agreement +before downloading, copying, displaying, performing, distributing or +creating derivative works based on this work or any other Project +Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning +the copyright status of any work in any country outside the United +States. + +1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: + +1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate +access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently +whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the +phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project +Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, +copied or distributed: + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + +1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived +from the public domain (does not contain a notice indicating that it is +posted with permission of the copyright holder), the work can be copied +and distributed to anyone in the United States without paying any fees +or charges. If you are redistributing or providing access to a work +with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the +work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 +through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the +Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or +1.E.9. + +1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted +with the permission of the copyright holder, your use and distribution +must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional +terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked +to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the +permission of the copyright holder found at the beginning of this work. + +1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm +License terms from this work, or any files containing a part of this +work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. + +1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this +electronic work, or any part of this electronic work, without +prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with +active links or immediate access to the full terms of the Project +Gutenberg-tm License. + +1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, +compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any +word processing or hypertext form. However, if you provide access to or +distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than +"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version +posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), +you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a +copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon +request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other +form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm +License as specified in paragraph 1.E.1. + +1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, +performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works +unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. + +1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing +access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided +that + +- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from + the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method + you already use to calculate your applicable taxes. The fee is + owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he + has agreed to donate royalties under this paragraph to the + Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments + must be paid within 60 days following each date on which you + prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax + returns. Royalty payments should be clearly marked as such and + sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the + address specified in Section 4, "Information about donations to + the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." + +- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies + you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he + does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm + License. You must require such a user to return or + destroy all copies of the works possessed in a physical medium + and discontinue all use of and all access to other copies of + Project Gutenberg-tm works. + +- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any + money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the + electronic work is discovered and reported to you within 90 days + of receipt of the work. + +- You comply with all other terms of this agreement for free + distribution of Project Gutenberg-tm works. + +1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm +electronic work or group of works on different terms than are set +forth in this agreement, you must obtain permission in writing from +both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael +Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the +Foundation as set forth in Section 3 below. + +1.F. + +1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable +effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread +public domain works in creating the Project Gutenberg-tm +collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic +works, and the medium on which they may be stored, may contain +"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or +corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual +property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a +computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by +your equipment. + +1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right +of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project +Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project +Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all +liability to you for damages, costs and expenses, including legal +fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT +LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE +PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE +TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE +LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR +INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH +DAMAGE. + +1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a +defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can +receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a +written explanation to the person you received the work from. If you +received the work on a physical medium, you must return the medium with +your written explanation. The person or entity that provided you with +the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a +refund. If you received the work electronically, the person or entity +providing it to you may choose to give you a second opportunity to +receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy +is also defective, you may demand a refund in writing without further +opportunities to fix the problem. + +1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth +in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER +WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO +WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. + +1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied +warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. +If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the +law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be +interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by +the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any +provision of this agreement shall not void the remaining provisions. + +1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the +trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone +providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance +with this agreement, and any volunteers associated with the production, +promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, +harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, +that arise directly or indirectly from any of the following which you do +or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm +work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any +Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. + + +Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm + +Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of +electronic works in formats readable by the widest variety of computers +including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. + + +Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive +Foundation + +The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit +501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the +state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal +Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification +number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at +https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent +permitted by U.S. federal laws and your state's laws. + +The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. +Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered +throughout numerous locations. Its business office is located at +809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email +business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact +information can be found at the Foundation's web site and official +page at https://pglaf.org + +For additional contact information: + Dr. Gregory B. Newby + Chief Executive and Director + gbnewby@pglaf.org + + +Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation + +Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide +spread public support and donations to carry out its mission of +increasing the number of public domain and licensed works that can be +freely distributed in machine readable form accessible by the widest +array of equipment including outdated equipment. Many small donations +($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt +status with the IRS. + +The Foundation is committed to complying with the laws regulating +charities and charitable donations in all 50 states of the United +States. Compliance requirements are not uniform and it takes a +considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up +with these requirements. We do not solicit donations in locations +where we have not received written confirmation of compliance. To +SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any +particular state visit https://pglaf.org + +While we cannot and do not solicit contributions from states where we +have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition +against accepting unsolicited donations from donors in such states who +approach us with offers to donate. + +International donations are gratefully accepted, but we cannot make +any statements concerning tax treatment of donations received from +outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. + +Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation +methods and addresses. Donations are accepted in a number of other +ways including including checks, online payments and credit card +donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate + + +Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic +works. + +Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm +concept of a library of electronic works that could be freely shared +with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project +Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. + + +Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed +editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. +unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily +keep eBooks in compliance with any particular paper edition. + + +Most people start at our Web site which has the main PG search facility: + + https://www.gutenberg.org + +This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, +including how to make donations to the Project Gutenberg Literary +Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to +subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks. + + +</pre> + +</body> +</html> diff --git a/LICENSE.txt b/LICENSE.txt new file mode 100644 index 0000000..6312041 --- /dev/null +++ b/LICENSE.txt @@ -0,0 +1,11 @@ +This eBook, including all associated images, markup, improvements, +metadata, and any other content or labor, has been confirmed to be +in the PUBLIC DOMAIN IN THE UNITED STATES. + +Procedures for determining public domain status are described in +the "Copyright How-To" at https://www.gutenberg.org. + +No investigation has been made concerning possible copyrights in +jurisdictions other than the United States. Anyone seeking to utilize +this eBook outside of the United States should confirm copyright +status under the laws that apply to them. diff --git a/README.md b/README.md new file mode 100644 index 0000000..bd1933d --- /dev/null +++ b/README.md @@ -0,0 +1,2 @@ +Project Gutenberg (https://www.gutenberg.org) public repository for +eBook #34276 (https://www.gutenberg.org/ebooks/34276) |
