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+The Project Gutenberg EBook of A Vista Alegre: apontamentos para a sua
+historia, by João Augusto Marques Gomes
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: A Vista Alegre: apontamentos para a sua historia
+
+Author: João Augusto Marques Gomes
+
+Release Date: November 11, 2010 [EBook #34276]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A VISTA ALEGRE: APONTAMENTOS ***
+
+
+
+
+Produced by Pedro Saborano
+
+
+
+
+
+ A VISTA ALEGRE
+
+ APONTAMENTOS PARA A SUA HISTORIA
+
+ POR
+
+ J. A. MARQUES GOMES
+
+ SOCIO CORRESPONDENTE DO INSTITUTO DE COIMBRA
+ E DAS SOCIEDADES
+ DE GEOGRAPHIA DE LISBOA E PORTO
+
+
+
+ PORTO
+ TYP. COMMERCIO E INDUSTRIA
+ 22, Rua do Corpo da Guarda, 22
+ 1883
+
+
+
+
+ A VISTA ALEGRE
+
+ APONTAMENTOS PARA A SUA HISTORIA
+
+ POR
+
+ J. A. MARQUES GOMES
+
+ SOCIO CORRESPONDENTE DO INSTITUTO DE COIMBRA
+ E DAS SOCIEDADES
+ DE GEOGRAPHIA DE LISBOA E PORTO
+
+
+
+ PORTO
+ TYP. COMMERCIO E INDUSTRIA
+ 22, Rua do Corpo da Guarda, 22
+ 1883
+
+
+
+
+AO SENHOR
+
+Duarte Ferreira Pinto Basto Junior
+
+
+
+
+A menos de dois kilometros de Ilhavo e sobranceira ao braço da ria de
+Aveiro, que liga a chamada Calle da Villa com o Bôcco, fica a Vista
+Alegre. Quadra bem este titulo á risonha povoação em que um dos homens
+mais prestimosos e emprehendedores que Portugal tem conhecido no
+presente seculo, veio fundar a fabrica de porcelanas, que do local toma
+o nome.
+
+A Vista Alegre como povoação em si, tem tambem como o importante
+estabelecimento que a tornou conhecida tanto no paiz como no
+estrangeiro, uma historia sua de quem a lenda por mais d'uma vez se
+apossou já, deturpando-a.
+
+Não nos cançaremos em lhe procurar a etymologia pois é fóra de duvida
+que o nome lhe proveio do formosissimo panorama, que a contorna,
+moldurando-lhe o rosto gentil.
+
+Anteriormente á fundação da fabrica, a Vista Alegre não tinha fóros de
+povoação, era uma quinta apenas. Um templo formosissimo e uma casa
+modesta que servia de habitação aos proprietarios da quinta, eram os
+unicos edificios, que ali existiam, e isto ainda no primeiro quartel do
+seculo XIX.
+
+A fundação d'um tão bello templo, como é o de Nossa Senhora da Penha de
+França, n'um sitio tão ermo, como era a Vista Alegre, fez com que muitos
+principiassem a architectar romances mais ou menos verosimeis.
+Imaginaram-se desterros e deportações, e bem assim fofo ninho de
+criminosos amores d'um prelado illustre com uma dama de elevado
+nascimento e freira professa n'um dos conventos de Lisboa.
+
+Não longe da Vista Alegre, a um kilometro para o sul, fica o antigo
+logar da Ermida, villa e concelho até 1834 a quem D. Manoel deu foral em
+8 de junho de 1514. N'esta povoação houve um praso, cuja origem data de
+seculos, tendo por cabeça uma grande quinta denominada o Paço da Ermida.
+Este praso e quinta andava no senhorio dos Mouras Manoeis, familia muito
+illustre, pois trazem a sua descendencia de D. Branca de Sousa, filha de
+Lopo Dias de Sousa, grão-mestre da Ordem de Christo.
+
+Alguns escriptores teem confundido a quinta da Ermida com a da Vista
+Alegre, e affirmado que foi seu proprietario o bispo de Miranda, D.
+Manoel de Moura Manoel.
+
+Nem a quinta da Vista Alegre já foi conhecida por quinta da Ermida, nem
+tão pouco aquelle prelado foi dono de qualquer d'ellas.
+
+É fóra de duvida que D. Manoel de Moura Manoel vinha frequentes vezes
+passar alguns dias e ás vezes, mezes até, á quinta da Ermida, que
+conjunctamente com o praso do mesmo nome pertencia a seu irmão
+primogenito Ruy de Moura Manoel. Durante a sua estada aqui, travou
+relações com o proprietario da quinta da Vista Alegre, o Dr. Manoel
+Furtado Botelho, relações que se foram tornando cada vez mais intimas de
+sorte que passados annos edificou em terrenos dependentes da mesma
+quinta a Capella de Nossa Senhora da Penha de França.
+
+Por morte de Ruy de Moura Manoel, passou a quinta da Ermida para seu
+filho Rodrigo de Moura Manoel, que tendo casado com D. Rosalia da Silva,
+filha de Luiz Lobo da Silva, governador e capitão general de Angola
+morreu sem successão, pelo que os seus bens passaram para suas irmãs. A
+Ermida pertenceu a D. Maria Maximilianna, casada com Jeronimo de
+Castilho. Por morte d'este, ficou sendo senhor d'ella seu filho Jeronimo
+Antonio de Castilho que conjunctamente com sua mulher D. Joaquina Izabel
+Freire de Castro, a vendeu por escriptura lavrada nas notas do tabellião
+da então villa de Aveiro, Manoel de Sousa Bastos em 15 de janeiro de
+1727, a Zeferino Rodrigues Caudello. Em 17 de março de 1812 fez venda da
+mesma quinta ao snr. José Ferreira Pinto Basto, D. Bernarda Thereza
+Umbelina Caudello de Maviz Sarmento, néta do referido Zeferino Rodrigues
+Caudello.
+
+O proprietario da quinta da Vista Alegre Dr. Manoel Furtado Botelho,
+tendo fallecido em 9 de setembro de 1733, dispoz dos seus bens como se
+vê da parte do seu testamento que passâmos a transcrever do livro dos
+obitos da freguezia de Ilhavo, no anno de 1733: «que seria sepultado na
+capella de Nossa Senhora da Penha de França, e deixava entre outras
+missas, cincoenta pela alma do seu amigo o snr. Bispo que foi de
+Miranda. Instituia por sua universal herdeira D. Theodora de Castro
+Moura Manoel, de seus bens, e que esta poderia vender d'elles o que lhe
+parecesse para dividas e ser freira sem constrangimento de pessoa alguma
+nem justiça alguma lhe tomaria conta, nem lhe fariam inventario; e os
+bens que ficassem por sua morte d'ella, iriam ao usufructo do seu
+testamenteiro o padre licenciado Domingos Ferreira da Graça, cura de
+Ilhavo, e por morte d'este a Nossa Senhora da Penha de França da Vista
+Alegre, que entrando na posse seria obrigada a fabrica da capella a
+fazer uma festa á dita Senhora em 8 de setembro de cada anno, da qual o
+capellão daria contas ao Dr. Vizitador.»
+
+Não foram, ao que parece, totalmente cumpridas as disposições do
+testador, pois é certo que os seus bens tiveram um destino muito
+differente do que o que lhe havia marcado.
+
+D. Theodora de Castro Moura Manoel era como o proprio nome o indica
+filha do bispo de Miranda, a quem pertencia tambem o appellido _Castro_
+pois o houve de sua mãe, D. Maria de Castro. Aquella senhora, destinada
+segundo parece para a vida claustral, não tomou o habito, nem tão pouco
+chegou a casar, mas teve um filho, a quem deu o nome de seu pae, d'ella,
+Manoel Pereira de Moura Manoel, que ordenando-se foi abbade da freguezia
+de S. Romão de Guimarães.
+
+O appellido _Pereira_, do mesmo modo que o de _Castro_ era tambem
+pertença do bispo, pois era segundo neto de João Rodrigues da Costa e de
+sua mulher D. Isabel _Pereira_.
+
+O abbade Manoel Pereira de Moura Manoel morreu ainda em vida de sua mãe,
+mas não sem deixar successão, pois teve uma filha de D. Clara Maria
+de Barros, natural de Gondar, no concelho de Guimarães, D. Josepha
+Caetana de Castro, que casou em 20 de novembro de 1748 com o capitão
+Manoel Alvares Brandão, de Santa Marinha de Taboa, no bispado de
+Coimbra. D'este consorcio nasceram duas filhas e um filho que todos
+foram baptisados na egreja de S. Salvador de Ilhavo, a cuja parochia
+pertence a Vista Alegre.
+
+D. Theodora de Castro Moura Manoel falleceu em 1767, sendo sepultada na
+capella de Nossa Senhora da Penha de França, quaes porém as suas
+disposições testamentárias se as deixou, são desconhecidas.
+
+O testamenteiro do dr. Manoel Furtado Botelho, o padre licenciado
+Domingos Ferreira da Graça, para quem devia passar o usufructo da
+herança que aquelle havia deixado a D. Theodora de Castro Moura Manoel,
+sobreviveu ainda a esta, pois só falleceu em 7 de maio de 1772, mas se
+elle usufruiu ou não a herança é que é ponto muito duvidoso, sendo certo
+porém que tal herança por venda ficticia ou por outro qualquer meio,
+nunca chegou a pertencer á fabrica da capella de Nossa Senhora da Penha
+de França, pois passou para o capitão Manoel Alvares Brandão e d'este
+para seus filhos, um dos quaes Alexandre de Castro Brandão, que foi
+capitão-mór de Cantanhede, vendeu em 1815 a quinta e capella da Vista
+Alegre ao snr. José Ferreira Pinto Basto.
+
+Esboçamos a historia da Vista Alegre, agora resta-nos reunir aqui alguns
+apontamentos biographicos do fundador da capella de Nossa Senhora da
+Penha de França e fazer uma descripção ainda que rapida da mesma capella.
+
+D. Manoel de Moura Manoel nasceu em Serpa, sendo seus paes, Lopo
+Alvares de Moura e D. Maria de Castro. Filho segundo d'uma casa
+vinculada como era a sua, e não querendo seguir a carreira das armas,
+abraçou a que lhe restava, segundo o seu nascimento--a ecclesiastica.
+Seguindo os estudos superiores na Universidade de Coimbra, doutorou-se
+em Canones, e na qualidade de oppositor a uma das cadeiras d'esta
+faculdade, foi eleito collegial do Real Collegio de Paulo em 28 de julho
+de 1638, sendo reitor do mesmo o dr. Ambrosio Trigueiros Semmedo.
+
+Em 17 de dezembro de 1660 foi nomeado conego doutoral da Sé de Lamego,
+d'onde passou para a de Braga por promoção que obteve no 1.º de maio de
+1666.
+
+Nomeado deputado da Inquisição de Évora passou para Inquisidor da de
+Coimbra em 13 de outubro de 1663, e a deputado do Conselho Geral do
+Santo Officio em 13 de abril de 1674.
+
+Eleito em lista triplice para reitor da Universidade, foi provido n'este
+logar por el-rei D. Pedro II, em 23 de agosto de 1683, que o nomeou por
+essa occasião sumilher da cortina. Havendo prestado juramento em 16 de
+novembro daquelle anno, governou a Universidade até o 1.º de fevereiro
+de 1690 em que foi eleito o seu successor D. Nuno da Silva Telles.
+
+Durante o seu reitorado residiu por differentes vezes em Lisboa,
+principalmente nos annos de 1688 e 1689.
+
+Escolhido para bispo de Miranda em 28 de abril de 1689, foi sagrado em
+outubro do mesmo anno na egreja parochial de Nossa Senhora dos Anjos de
+Lisboa, pelo cardeal D. Verissimo de Lencastre, sendo assistentes D.
+Fr. Luiz da Silva, bispo da Guarda, e D. Simão da Gama, bispo do Algarve.
+
+Fazendo jornada para as Caldas de S. Pedro do Sul, adoeceu gravemente
+nos Ferreiros, proximo a Vizeu, e ahi falleceu em 7 de setembro de 1699.
+Durante a doença foi-lhe enfermeiro sollicito o bispo d'aquella diocese,
+D. Jeronimo Soares, que assistiu tambem ao seu funeral e ordenou que
+fosse sepultado na capella-mór da egreja d'aquella freguezia, d'onde as
+suas cinzas foram trasladadas para a Vista Alegre em 1706.
+
+Ignora-se o anno em que D. Manoel de Moura Manoel mandou edificar a
+capella de Nossa Senhora da Penha de França, mas ainda assim parece não
+haver duvida que foi já depois de estar bispo em Miranda.
+
+É de bello aspecto a frontaria do templo, avistando-se a algumas leguas
+de distancia os corucheus das suas duas torres. O interior não é menos
+elegante. As paredes do corpo da capella são forradas d'alto a baixo de
+bons azulejos, todos coevos da sua fundação--fins do seculo XVII,--é a
+aboboda ornatada de boas pinturas a fresco. Tem dois altares lateraes de
+boa talha dourada, dedicados ambos á Virgem, sob a invocação do Rosario
+e da Conceição. O retabulo e altar da capella-mór são trabalhos
+primorosos em fino marmore de Italia.
+
+Embebido na parede da mesma capella e do lado da epistola, está o tumulo
+do fundador, fabricado primorosamente de granito de Ançã.
+
+A urna funerária é sustentada por tres leões de farta juba, que parecem
+prestes a ser esmagados pelo seu peso.
+
+No centro da urna, levantado em alto relevo, está um escudo oval
+partido, com as armas dos Mouras Manoeis, tendo por timbre um chapeu
+episcopal.
+
+Sobre ella está a figura do bispo, de vestes prelaticias, meia deitada,
+com a mão esquerda sobre o peito e a direita estendida com que a apontar
+para o Tempo, que está ao fundo sobraçando o panno mortuario que deve
+cobrir o sarcophago.
+
+A execução é primorosa, conhecendo-se até nos mais pequenos lavores o
+primor do cinzel que o trabalhou.
+
+O povo rude das aldeias visinhas, acredita que tal obra não podia ser
+executada por mãos de homens, e por isso attribue-a ao diabo, creando
+uma lenda que o snr. Brito Aranha reproduziu já no seu bello livro
+_Memorias historico-estatisticas de algumas villas e povoações de
+Portugal_.
+
+O nome do esculptor Claudio de Laplada cahiu com effeito no olvido, de
+sorte que o forasteiro, que visitando a Vista Alegre perguntasse quem
+havia feito o tumulo do bispo, recebia sempre em resposta aquella lenda.
+
+Fronteiro a este tumulo, está um outro, muito mais modesto, sem duvida,
+mas ainda assim digno de ser apreciado, como obra que é do mesmo
+artista. Sobre uma urna funeraria, onde se vê tambem um escudo, com as
+armas dos Castros, está sentada uma figura de mulher sustentando na mão
+esquerda um baixo relevo, representando uma cabeça de freira, allusão
+sem duvida á vida monachal que o bispo desejava que sua filha D.
+Theodora de Castro Moura Manoel abraçasse, pois era, como as treze
+arruellas dos Castros do escudo o indicam, para ella destinado o
+moimento.
+
+Por debaixo d'este tumulo e por tanto fronteiro ao do bispo está uma
+grande lapide de marmore branco, tendo gravada a seguinte inscripção
+latina:
+
+ _Deo opt.º Max.º
+ Deiparae virgini
+ Diei ultimae_
+
+ _Supremo Judicio Supremus Judex:
+ Rectrici universi Rector universitatis:
+ Episcopo animarum Animosus episcopus._
+
+ _In
+ Mortis asylum, voti titulum, gratitudinis
+ tropheum,
+ Hoc templum, hanc aram, hunc tumulum
+ dedicat sacrat signat
+ Ill.mus et R.mus Dõnus
+ D. Emmanuel de Moura Manuel
+ Qui
+ A B. Ferdinando Castellae Rege progenitus,
+ sanctorum soboles, electum genus est:
+ Armis et literis, ordine, et cursu manens,
+ stella micans, et dimicans fuit:
+ Aulae supernae cum Pontificibus ascriptus
+ simili gloria sacerdos Christi erit.
+ Favente natura, comite, virtute, auxiliante
+ gratia.
+ Cui
+ Ortum dedere Serpae ter maxime conjuges
+ Lupus Alvares de Moura,
+ commendator de Trancoso,
+ Trium Ecclesiarum Patronus, Trium
+ maioratuum Dõnus
+ Et D. Maria de Castro
+ Ex Imperiali Emmanuelium stirpe pari
+ nobilitate decorata.
+ Quem
+ Serenissimi Portugaliae Reges
+ Destinarunt caducco, Selegerunt consilio:
+ Sancti Officii Tribunal
+ Judicem habuit Deputatum Inquisitorum
+ dignissimum:
+ Academia Conimbricensis
+ Collegam educavit, Rectorem coluit.
+ Ecclesiae Luzitanae
+ Canonicum nutrierunt alumnum, et sponsum
+ receperunt Episcopum.
+ Tot gradus Providentia Supponente,
+ Ut meritis augeretur, quod sanguini
+ debebatur.
+ Cujus
+ Magnutudinem Integritatem Sapientiam
+ Multiplex fama loquitur,
+ Ipsa Juvidia fatetur,
+ Hoc opus salamonicum testatur.
+ Quo
+ Arca coronata, suffulciens, Propitiatorium,
+ Custodit miraculosum simulachrum
+ Virgae Virginis quae rupit rupem.
+ De cujus nativitate, quam celebrat, gaudens,
+ Sub cujus umbra, quam desiderat, sedens,
+ Zoculo fecit locum;
+ Munimentum construxit monumento.
+ Herculeas columnas, vel potius Machabaicas,
+ Saxeas fixit, non terreas finxil,
+ Ut viderentur ab omnibus navigantibus mare:
+ Non plus ultra.
+ Hujus tanti viri si effigiem quaeris,
+ Inspict utrumque antrum:
+ Franci--hispanicum scilicet, et
+ Bethlemiticum.
+ Quibus
+ Ut simon dormit; ut Pastor vigilat;
+ Immo etiam vigilat, cum dormit;
+ Nam illic spiritus inter vigiles associatur
+ Caelesti militiae,
+ Dum hoc corpus, virginis protectione securum
+ Requiescit in pace.
+ Hoc Epitaphium insculptum Fuit anno
+ Domini 1697._
+
+ * * * * *
+
+ TRADUCÇÃO
+
+ Ao Deus Omnipotente
+ Á Virgem Mãe de Deus
+ para o ultimo dia.
+
+ Juizo supremo
+ Moderador do Universo
+ Bispo das almas.
+
+
+ Supremo Juiz
+ Reitor da Universidade
+ Bispo animoso
+ Para
+ Asylo na morte, satisfação d'um voto
+ monumento de sua gratidão
+ dedica este templo, consagra este altar;
+ erige este tumulo
+ o Ill.mo e Rev.mo Snr.
+ D. Manoel de Moura Manoel,
+ a quem
+ O sangue do bemaventurado D. Fernando
+ Rei de Castella
+ Communicou as virtudes d'uma raça d'eleições
+ nunca desmentidas:
+ --nas armas, nas letras, na gerarchia;--
+ no progredir
+ Astro de brilho constante,
+ Inscripto entre os Pontifices na superna
+ Curia partilhara similhante
+ gloria no sacerdocio de Christo:
+ Não lh'o nega a natureza; acompanha-o
+ a virtude, auxilia-o a graça.
+ Viu a luz em Serpa
+ gerado dos preclarissimos esposos
+ --Lopo Alvares de Moura--
+ Commendador de Trancoso,
+ Padroeiro de tres Egrejas e Senhor
+ de tres morgados,
+ e--D. Maria de Castro--
+ descendencia não menos illustre:
+ da familia imperial dos Manoeis.
+ Os Serenissimos Reis de Portugal
+ destinaram-o para o Caducco, e elegeram-o
+ para o seu Conselho;
+ O Tribunal do Santo Officio
+ no cargo de Juiz deputado o possuiu como
+ lustre de inquisidores.
+ A Academia Conimbricense
+ houve-o por collega, e o recebeu
+ por seu Reitor.
+ As Egrejas de Portugal
+ o occuparam no tirocinio de Conego,
+ venerando-o depois como Bispo.
+ Permittiu a Providencia quando passasse por
+ estas provas, para que adquirisse
+ pelos meritos o que ao sangue era devido.
+ A fama sem descanço apregoou
+ a sua magnanimidade, inteireza, sabedoria, e
+ mesmo a inveja isto confessa;
+ e testemunha-o esta obra Salomniaca
+ em que
+ qual arca curvada, para abrigo, Propiciatorio,
+ se venera a miraculosa imagem
+ da vara da Virgem, que fende a rocha,
+ Em honra da sua natividade, que celebra
+ jubiloso levantou grande monumento
+ em pequeno recinto, esperando
+ repousar á sua sombra, porque aspira.
+ N'elle
+ Construiu para defesa do monumento
+ Columnas d'Hercules ou antes Machabaicas
+ fortes, e não frageis;[1]
+ para que todos quantos correm o mar
+ saibam
+ que se não pode passar além.
+ Se desejas conhecer o retrato de tão
+ illustre varão, busca-o nas duas grutas,
+ na franca hispanica e na bethelemica.
+ Se
+ n'ellas como Pedro dorme, está vigilante
+ como pastor;
+ ou antes seu somno é a vigilia;
+ pois além se associa á celeste milicia entre
+ os vigilantes espiritos,
+ aqui o seu corpo está sob a guarda da Virgem,
+ Repousa em paz.
+ Este epitaphio foi feito no anno
+ de Christo de 1697.
+
+ [1] Refere-se ás torres da capella.
+
+Um outro monumento antigo da Vista Alegre, é a fonte do Carapichel, hoje
+quasi soterrada, mandada construir em 1696 pelo bispo D. Manoel de Moura
+Manoel, e notavel pela sua fórma e excellente agua, e muito
+principalmente por uma inscripção em caracteres gothicos e que é a que
+passamos a transcrever:
+
+ «Esta fonte, ó navegante,
+ cuja liquida corrente
+ cristaes prodiga desata
+ attenções vistosa prende.
+ Esta nympha que ao Vouga
+ só em leguas mais de sete
+ adoça as aguas salgadas,
+ feita Nayade ou Nereide.
+ Esta agua que o bem commum
+ á vara liberal deve
+ de um sabio pastor sacro
+ militar, juiz, regente.
+ Esta veia cuja origem
+ a do Paraiso excede;
+ pois da casa da Senhora
+ mais bem nascida descende.
+ Contém todas as virtudes
+ das fontes mais excellentes
+ e dá remedios á vida
+ depois de dar morte á sede
+ se a frequentas por agrado.
+
+
+ * * * * *
+
+ «Sendo aos narcisos enfeite
+ é das graças Natalis
+ e das musas Hippocrene
+ e Aratuhsa de Alpheo
+ mas por modo differente:
+ pois de um rio a outro rio
+ aquella foge, esta segue.
+ Egeria de melhor Numa
+ que magnifico e prudente
+ na arca o numero invoca
+ no tanque a prata dispende.
+ Biblis que, sem culpa, ao rio
+ irmão por parte de Thetis
+ murmurando a esquivança
+ vae abraçar docemente.
+ Fonte emfim do sol contigua
+ ao templo de Deus dos Deuses
+ contra a calma a fonte fria
+ para o frio fonte quente.
+ Se a buscas por medicina
+ é qual a de Circe ou Séthys.
+
+
+ * * * * *
+
+ «Fonte que as doenças cura
+ cristal que a vista esclarece
+ iguala a fonte de Marsyas
+ com benéfica antitheses:
+ pois se aquella pedras cria
+ est'outra pedras derrete.
+ Não se turba com as vozes,
+ antes para que a celebrem,
+ sarando-as como a de Samos
+ as louva como a de Eleasis.
+ Ao que estuda suas margens
+ activa a memoria sempre
+ como a fonte de Beocia,
+ opposta ao curso de Lethes.
+ A quem da fonte Salmacis
+ bebeu as aguas ardentes
+ esta agua banhando as fontes
+ livra do amor, qual Seleno,
+ e quando perdido abrindes
+ achas no Vouga ou heyncestes
+ esta qual fonte de Erigon
+
+
+ * * * * *
+
+ «faz com que o vinho aborreces.
+ Se por devoção visitas
+ sua affluencia perenne
+ é choro com que olhos pios
+ na capella á Virgem servem.
+ É fonte de Jerichó
+ que as plantas da rosa vestem
+ e que outro Eliseu com Moura
+ fez suave, lenta e fertil.
+ É fonte prophetisada se tanto póde dizer-se
+ pois sae do templo santo
+ e vae regando a torrente.
+ Do mar de graças Maria
+ o rio e fonte procedem
+ mas lá junto á lapa mana
+ cá da mesma penha desce.
+ Bebe, pois, bebe á vontade
+ acharás que é (muitas vezes)
+ tão util para a saude
+ quão para a vista alegre.»
+
+ * * * * *
+
+Historiamos ainda que a largos traços a historia da Vista Alegre e
+fizemos a descripção dos seus monumentos antigos, agora é mister que nos
+occupemos da sua historia moderna e do importante estabelecimento que a
+fez florescer e tornou conhecida no mundo da Arte.
+
+Os portuguezes que haviam sido os primeiros povos da Europa, que
+introduziram a porcelana oriental no commercio do Occidente, foram quasi
+que os ultimos a ensaiarem o seu fabrico. Datam apenas do ultimo quartel
+do seculo XVIII estes ensaios, realisados em Lisboa pelo brigadeiro
+Bartholomeu da Costa e no Rio de Janeiro, pelo professor regio, João
+Manso Pereira.
+
+Parece que as experiencias de Bartholomeu da Costa para obter a
+porcelana dura, foram feitas na antiga fabrica do Rato, empregando como
+materia prima, differentes barros explorados nas visinhanças de
+Aveiro.
+
+Ignora-se hoje quaes seriam estes barros, não obstante o affirmar-se,
+não sabemos com que fundamento, que foi o de Talhadella, concelho de
+Albergaria. O que é certo porém é que no arsenal do Exercito em Lisboa,
+quando se estudava o melhor systema de fundir a estatua de El-Rei D.
+José I, se reuniu uma importante collecção de barros de differentes
+pontos do paiz, contando-se n'este numero o de Talhadella, que foi o
+preferido para a edificação do forno onde se deluiu o metal.
+
+As qualidades refractarias d'este barro eram conhecidas já então, pois
+havia annos antes que um chimico francez,--Drout, o havia descoberto,
+fazendo até com elle magnificos tijolos refractarios, para o que
+estabeleceu um forno nas proximidades d'Aveiro, segundo affirma Raton.
+
+Dos resultados obtidos por Bartholomeu da Costa para o fabrico da
+porcelana, são hoje apenas conhecidas uma medalha representando em
+relevo a estatua equestre do Terreiro do Paço, e uns camafeus com o
+busto de D. Maria I. Tanto aquella, como estes, são copias de medalhas
+abertas em 1775, por um dos nossos mais notaveis gravadores e illustre
+filho d'Aveiro--João de Figueiredo.
+
+Depois d'estas tentativas para obter uma verdadeira porcelana outras se
+fizeram em Coimbra, mas sem melhor, ou nem mesmo igual, resultado, até
+que o snr. José Ferreira Pinto Basto, estabeleceu um pequeno laboratorio
+chimico no jardim do seu palacio do largo das Duas Egrejas em Lisboa,
+isto em 1820 ou 1822, afim de descobrir barros com os requisitos
+necessarios para fabricar porcelana.
+
+Parece que quem incutiu no animo esclarecido d'aquelle benemerito
+patriota esta ideia foi o general José Pedro Celestino Soares, que
+possuia alguns dos produtos obtidos por Bartholomeu da Costa.
+
+Foram, segundo consta, pouco animadores os resultados agora obtidos pelo
+snr. José Ferreira Pinto Basto, mas como o seu animo emprehendedor não
+tolerava peias nem tão pouco afrouxava perante qualquer contrariedade
+fosse ella qual fosse, resolveu proseguir as experiencias iniciadas,
+fundando desde logo uma grande fabrica.
+
+O local aprazado foi Aveiro, e isto por a tradicção indicar como sendo
+d'aqui o barro de que Bartholomeu da Costa obteve a sua chamada porcelana.
+
+Apesar de possuir as duas magnificas propriedades da Ermida e da Vista
+Alegre, o snr. José Ferreira Pinto Basto, quiz estabelecer a nova
+fabrica na propria cidade, e para isso entabolou negociações com o
+proprietario da Quinta dos Santos Martyres, para a adquirir, o que não
+poude conseguir por esta propriedade fazer parte de um antigo vinculo.
+Attenta esta difficuldade, resolveu então estabelecer a fabrica na Vista
+Alegre, para o que se principiaram a fazer ali differentes edificações.
+
+Foi em janeiro de 1824, que principiaram os trabalhos para a fabrica, a
+que veio presidir um dos filhos do fundador, o snr. Augusto Ferreira
+Pinto Basto.
+
+Uma das obras que primeiro se concluiu foi um pequeno forno para cozer
+louça, feito segundo as indicações e immediata direcção de Domingos
+Raimão, oleiro d'uma fabrica de Coimbra.
+
+Em abril fizeram-se as primeiras experiencias para obter a porcelana.
+Realisou-as Bento Fernandes, mestre de olaria na fabrica de Rato, com o
+barro de Util, concelho de Cantanhede,--e o de Talhadella, do
+concelho de Albergaria a Velha. Foi pouco satisfatorio o resultado
+obtido, mas ainda assim a ideia da fundação da fabrica não soffreu
+quebra de sorte que o snr. José Ferreira Pinto Basto pediu a El-Rei D.
+João VI para que lhe fossem concedidos os privilegios de que gosava a
+fabrica de vidros da Marinha Grande, o que obteve como consta dos
+documentos que segue:
+
+«D. João, por graça de Deus, rei do reino unido de Portugal, Brazil e
+Algarves, d'aquem e d'além mar em Africa, Senhor de Guiné, etc., etc.
+
+Faço saber que José Ferreira Pinto Basto me representou por sua petição,
+que elle pretendia erigir para estabelecimento de todos os seus filhos
+com egual interesse, ainda mesmo os menores logo que cheguem á idade
+competente, uma grande fabrica de louça, porcelana, vidraria e processos
+chimicos, na sua quinta chamada da Vista Alegre da Ermida, freguezia de
+Ilhavo, comarca de Aveiro, visinha á barra, pedindo-me que eu houvesse
+por bem de auctorisar este estabelecimento na fórma proposta e
+conceder-lhe a isenção de direitos de todos os materiaes que necessarios
+lhe forem para a sua laboração; assim como tambem das manufacturas que
+exportar para o Brazil ou para qualquer parte deste reino e dos paizes
+estrangeiros, e todas as mais graças, privilegios e isenções de que
+gosam, ou gosarem de futuro as fabricas nacionaes, e particularmente a
+dos vidros da Marinha Grande, no que lhe forem applicaveis; e tendo em
+consideração, ao dito requerimento, e constando-me por informação do
+corregedor da comarca, a que mandei proceder, que o projectado
+estabelecimento deve ser de grande utilidade para os povos pela vastidão
+dos seus differentes ramos; que é construido em edificio proprio, em
+que já se teem feito avultadissimas despezas; que o seu local é o mais
+vantajoso por ficar nas margens de um rio navegavel, rodeado de
+pinheiros e outras materias combustiveis, assim como de excellentes
+barros, areias finas e brancas, e seixo crystallisado, tudo proprio para
+as vidrarias e porcelanas, como se tem verificado por felizes ensaios; e
+finalmente que o supplicante é um dos negociantes mais ricos e grande
+proprietario de muitos predios, tanto n'aquella comarca, como nas do
+Porto e Penafiel, sendo além d'isso dotado de um genio emprehendedor, a
+quem as difficuldades não embaraçam, nem desanimam as despezas; por
+todos estes motivos: hei por bem de approvar o mesmo estabelecimento na
+fórma pedida, concedendo-lhe todas as graças, privilegios, e isenções de
+que gosam ou vierem a gosar as outras fabricas de identica natureza: e
+mando a todas as justiças e mais pessoas a quem o conhecimento d'esta
+pertencer, que assim o cumpram e façam cumprir como n'ella se contêm,
+sem duvida ou embaraço algum.
+
+El-Rei nosso senhor o mandou pelos ministros abaixo assignados,
+deputados da real junta do commercio, agricultura, fabricas e navegação.
+_Anselmo de Souza Machado Corrêa de Mello_ a fez. Lisboa, em 1 de julho
+de 1824.--D'esta 800 reis.--No impedimento do deputado secretario, _José
+Antonio Gonçalves_ a fez escrever.--(Assignados) _José Manoel Placido de
+Moraes e José Antonio Gonçalves_».
+
+«Seguem-se os registos da real junta do commercio de 22 de fevereiro de
+1826; da alfandega de Lisboa de 23 de fevereiro de 1826: da alfandega do
+Porto de 1 de maio de 1826; da alfandega de Aveiro de 19 de maio de
+1826; da alfandega de Villa do Conde de 9 de junho de 1825».
+
+ * * * * *
+
+«D. João, por graça de Deus, imperador do Brazil, e rei de Portugal e
+dos Algarves, d'aquem e d'além mar em Africa, Senhor de Guiné, etc., etc.
+
+Faço saber aos que esta provisão virem, que subindo á minha imperial e
+real presença, pela real junta do commercio, a consulta a que mandei
+proceder sobre o requerimento de José Ferreira Pinto Basto, em que pedia
+privilegio exclusivo por vinte annos, para o fabrico de porcelana,
+vidraria, e processos chimicos da sua fabrica, estabelecida e approvada
+por provisão de 1 de julho de 1824, na sua quinta da Vista Alegre, sita
+no termo e freguezia de Ilhavo, comarca de Aveiro, supplicando
+igualmente a prohibição absoluta de se exportarem as materias primas da
+mesma porcelana, para que outros emprehendedores não usem tirar commodo
+dos assiduos trabalhos, fadigas e grandes despezas, que empregou na
+descoberta das referidas materias nas visinhanças do Porto e Aveiro,
+sendo elle o primeiro descobridor. E constando pela mencionada consulta
+e averiguações que lhe precederam, estar o supplicante nas
+circumstancias de obter as graças que implora: fui servido conformar-me
+com o parecer d'ella, por minha immediata resolução de 5 de dezembro do
+dito anno: e hei por bem conceder ao supplicante o exclusivo que pede
+por tempo de vinte annos, ampliando o de quatorze, que a lei em geral
+permitte; em attenção á utilidade e circumstancias particulares d'este
+estabelecimento; ficando-lhe outrosim concedida a absoluta
+prohibição de se exportarem as materias primas para a porcelana,
+descobertas pelo supplicante, e confirmados os mesmos privilegios e
+prorogativas de que gosam as mais fabricas do reino como se expressa, na
+primeira provisão. E mando ás justiças e mais pessoas a quem o
+conhecimento d'esta pertencer, que a cumpram e guardem conforme n'ella
+se contém, fazendo tranzito pela chancellaria mór do reino».
+
+Pagou de novos direitos 540 reis, que se carregaram ao thesoureiro
+d'elles a fl. 165 v. do livro 40.º e se registou o conhecimento a fl.
+119 v. do livro 96.º
+
+O imperador e rei nosso senhor o mandou pelos ministros abaixo
+assignados deputados da real junta do commercio, agricultura, fabricas e
+navegação.--_José Antonio Ribeiro Soares_ a fez em Lisboa, a 3 de março
+de 1826.--D'esta 800 reis.--Na ausencia do deputado secretario, a fez
+escrever e assignou _Luiz Antonio Rebello e José Antonio Gonçalves_».
+
+Seguem-se os mesmos registos copiados na provisão anterior.
+
+Estava portanto fundada a fabrica de porcelana, mas restava descobrir o
+kaulin de que ella se obtem. Fabricava-se louça é verdade, mas esta
+louça era má faiança em vez de boa porcelana. Procuraram-se barros em
+differentes pontos do paiz, e construiram-se novos fornos, conforme
+plantas vindas de Sevres, mas nada disto deu o resultado que se
+desejava, de sorte que em 1826 o fundador contractou na Saxonia tres
+artistas para virem dirigir o fabrico da porcelana e ensinal-o aos
+operarios portuguezes.
+
+Dos tres só vieram dois, sendo apenas verdadeiro artista um, José
+Scórder, pois o outro não passava de um charlatão. Scórder, que era um
+modelador de merito, prestou importantes serviços á fabrica, creando
+bons discipulos que lhe perpetuaram o nome.
+
+Como o artista contractado na Allemanha, que não chegou a partir, apesar
+de haver recebido já um importante subsidio para as despezas da viagem,
+era quem devia tomar a direcção da officina de pintura, contractou o
+snr. José Ferreira Pinto Basto, n'aquelle mesmo anno, dois pintores de
+louça, João Maria Fabri e Manoel de Moraes, discipulos da Casa-pia de
+Lisboa. Aquelle morreu um anno depois de ter vindo para a Vista Alegre;
+este conservou-se ali até 1833, não como pintor, mas sim como esculptor,
+produzindo n'este genero bons trabalhos.
+
+Tudo parecia agourar um feliz resultado, mas tal resultado cada vez se
+ia tornando mais demorado e incerto, de sorte que a empresa teria
+succumbido ás innumeras difficuldades que surgiram de todos os lados, se
+á testa d'ella e dominando tudo não estivesse a incansavel actividade, a
+poderosa energia, e invencivel perseverança do snr. José Ferreira Pinto
+Basto.
+
+Os operarios estrangeiros conheciam o trabalho dos materiaes a que nos
+seus paizes estavam habituados, e não podiam fazer obra por aquelles que
+na Vista Alegre se lhes offereciam; a sua aptidão sendo como era
+puramente pratica não podia por si só crear ou modificar processos;
+necessitava que o genio inventivo e a sciencia viessem em seu auxilio. O
+snr. Ferreira Pinto reconheceu esta verdade, de sorte que em 1830 mandou
+seu filho o snr. Augusto Ferreira Pinto Basto, a França, a fim de
+estudar na fabrica de Sevres, verdadeira escola das artes ceramicas, os
+melhores processos e meios de investigação.
+
+Ali recebeu aquelle cavalheiro sabios conselhos e preciosas
+indicações do director d'aquella importante manufactura, o illustre
+Brogniart, que lhe fez ver a completa impossibilidade de se fabricar
+porcelana, sem o kaulin, que era o que faltava na Vista Alegre.
+
+O snr. Augusto Ferreira Pinto regressou a Portugal trazendo amostras do
+kaulin empregado em Sevres, e depois da sua chegada os ensaios e
+experiencias continuaram incessantemente na Vista Alegre, mas sempre sem
+melhor resultado, até que em 1834 se descobriu o verdadeiro kaulin.
+
+O snr. Ferreira Pinto tinha mandado vir de differentes pontos do paiz,
+por intermedio dos administradores do contracto do tabaco, de que elle
+era arrematante, amostras de quantos barros havia mais ou menos
+conhecidos, a fim de se ver se entre elles se encontrava o desejado
+kaulin. Estes barros eram todos submettidos a um exame chimico, mas com
+resultado sempre negativo para o fim que se tinha em vista.
+
+Ao mesmo tempo que se procedia a estes exames um aprendiz de oleiro,
+fazia por conta propria algumas experiencias não só com aquelles barros,
+mas com outros que a pedido seu lhe eram trasidos por operarios que dos
+concelhos de Ovar e Feira vinham trabalhar nas construcções que na Vista
+Alegre se estavam fazendo. Entre estes barros veio o kaulin de Val Rico,
+d'aquelle ultimo concelho; trouxe-o um trolha e foi reconhecido pelo
+aprendiz oleiro que, no meio da sua humilde obscuridade, prestou o
+grandiosissimo serviço á fabrica de lhe descobrir a materia prima para o
+fabrico da porcelana, serviço este que não tinha podido ser prestado por
+os administradores do contracto do tabaco, do paiz inteiro, que d'isso
+haviam sido encarregados.
+
+O descobridor pois do kaulin empregado hoje na Vista Alegre foi Luiz
+Pereira Capote, natural de Ilhavo, que falleceu em 1870.
+
+Descoberto o kaulin, principiou desde então a fabrica a produzir
+porcelana dura, datando portanto de 1834 o seu fabrico, que se foi
+aperfeiçoando gradualmente, de fórma que em 1840 principiou a Vista
+Alegre, a poder competir em qualidade com fabricas estrangeiras, o que
+não succedeu com os preços, pois produzia só caro.
+
+O elevado dos preços difficultou durante alguns annos a extracção de
+louça, tornando-a pouco conhecida. Os armazens da fabrica estavam
+atulhados de louça, quando em maio de 1846 rebentou no Minho a revolução
+popular. Os proprietarios da fabrica receiosos de que ella fosse victima
+da furia popular annunciaram a venda por lotes de toda a louça em
+deposito, venda que se realisou por preços bastante convidativos, que
+fez com que os productos da Vista Alegre se espalhassem, divulgando o
+seu bem acabado e a sua barateza. Estava aberto um novo periodo de
+prosperidade para a fabrica, mas este periodo só principiou a sentir-se
+de 1848 em diante, pois o resto do anno de 1846 e maior parte do de
+1847, a fabrica nada produziu, pois estava fechada em resultado dos
+acontecimentos politicos d'essa epocha.
+
+Prosperando sempre d'anno para anno, a fabrica chegou ao apuro em que
+hoje está, apresentando largas tendencias para progredir, tal é a activa
+e intelligente direcção que hoje tem. Para se avaliar dos progressos da
+fabrica basta dizer-se que os seus productos tem sido premiados em todas
+as exposições de Londres, Paris, Philadelphia, Vienna d'Austria, Rio
+de Janeiro e Porto; do consumo que tem obtido os mesmos productos
+são prova irrefutavel os seguintes algarismos:
+
+Em 1860 . . . . . 21:949$000
+
+Em 1870 . . . . . 26:994$000
+
+Em 1880 . . . . . 49:750$000
+
+ * * * * *
+
+Conjunctamente com a fabrica de porcelana, fundou o snr. José Ferreira
+Pinto, na Vista Alegre no mesmo anno de 1824 uma outra de vidro e
+cristal, que lhe ficou annexa. Os primeiros trabalhos foram dirigidos
+por um allemão, Francisco Miller, que havia annos já estava dirigindo a
+do Côvo, no concelho de Oliveira d'Azemeis, o qual foi substituido em
+1826 por João da Cruz e Costa, de Lisboa, que esteve a dirigir o fabrico
+do vidro até 1834.
+
+Foram desde logo bastante satisfatorios os resultados obtidos, de sorte
+que o fundador procurou pol-a logo a par das melhores do estrangeiro,
+mandando vir mestres experimentados para as differentes officinas de
+lapidação e floristagem.
+
+Para aquella contractou em 1820 na Inglaterra Samuel Hunles, que veio
+para a Vista Alegre ganhar 2$400 reis diarios, e ali esteve até 1828,
+deixando bons discipulos.
+
+O mestre de florista era italiano, e não passou de Lisboa, onde chegou
+em 1827, por alguem lhe affirmar que era muito miasmatico o clima da
+Vista Alegre. Para ali foram os aprendizes d'esta officina, que ao fim
+de tres annos de pratica foram dados por promptos, affirmando o
+mestre que um d'elles João Ferreira Ribeiro, de Vagos, estava já mais
+mestre do que elle, o que não era sem fundamento, pois veio para a Vista
+Alegre dirigir a officina de florista o que fez com talento.
+
+No periodo decorrido de 1836 a 1840, foi enorme a producção do vidro, e
+todo da melhor qualidade, pois alguns dos productos fabricados n'esta
+epocha são de uma perfeição inexcedivel.
+
+Quando n'aquelle anno o fabrico da porcelana entrou na phase de
+aperfeiçoamento e progresso a que já nos referimos, o do vidro
+principiou a decahir consideravelmente até que cessou de todo em maio de
+1846.
+
+Em meados de 1848 continuou a fabricar-se mas em muito menor quantidade
+e esta mesma só de liso, pois os lapidarios e floristas, durante aquelle
+interregno, uns tinham ido para a fabrica da Marinha Grande, outros
+applicaram-se a outros misteres, de fórma que os tempos aureos da
+fabricação do vidro na Vista Alegre, passaram para nunca mais voltarem.
+
+Em 1880 acabou de todo a fabrica de vidro, demolindo-se o respectivo
+forno, mas mesmo já até a esta epocha eram grandes as interrupções que
+se davam com o seu fabrico, estando por vezes muitos mezes sem trabalhar.
+
+ * * * * *
+
+Annexo á fabrica de porcelana e vidro, houve tambem um laboratorio
+chimico, e a elle se referem os reaes Alvarás de 1 de julho de 1824 e 3
+de março de 1826. Foi fundado como aquellas fabricas em 1824. De
+1827 a 1832 teve por director D. Euzebio Roiz, official de cavallaria do
+exercito hespanhol e chimico muito distincto, que veio para Portugal
+como emigrado em 1820. Depois da sua sahida acabou o laboratorio, do
+qual não podemos obter mais noticias.
+
+ * * * * *
+
+De 1827 a 1835 foram os productos da fabrica marcados com um V. A. entre
+duas palmas rematadas por uma corôa. Esta marca era gravada, sendo o
+carimbo aberto por Manoel de Moraes, de quem já fizemos menção. De 1838
+a 1861 não foi geralmente marcada a louça, pois só em alguns serviços
+d'almaço de maior preço apparece um V. A. dourado. De 1861 em diante é
+marcada toda a louça, tanto branca como pintada, com um V. A. em azul.
+
+ * * * * *
+
+Com o fim de crear artistas habeis para as duas fabricas de porcelana e
+vidro, fundou em 1826 o snr. José Ferreira Pinto Basto, na Vista Alegre
+um collegio com o internato, onde se ensinava, além d'um dos misteres da
+fabrica, instrucção primaria e musica.
+
+A inauguração foi feita com grande solemnidade, vindo assistir a ella o
+fundador.
+
+Os primeiros alumnos admittidos foram treze, e o director José Vicente
+Soares, de Penafiel. Esta instituição acabou em 1842, chegando a ter
+nos ultimos annos quarenta alumnos.
+
+ * * * * *
+
+Como dependencia da fabrica, ha tambem na Vista Alegre, um pequeno mas
+elegante theatro, que além da galeria ou camarote destinado aos
+proprietarios da fabrica, tem platea com capacidade para cento e oitenta
+logares. Foi fundado em 1851, realisando-se a inauguração com as
+comedias _Um duello em Campolide_, _O quarto de duas camas_, _Util e
+agradavel_.
+
+O panno de bocca e bem assim o tecto foi pintado pelo director da
+officina de pintura Chartier Rousseau. Aquelle representa a Vista da
+Praia Grande de Macau, e este Apollo e as nove musas.
+
+Anteriormente á fundação do actual theatro houveram dois, datando a
+fundação do mais antigo de 1825 ou 1827, e que foi inaugurado com a
+representação da comedia _O gallego lorpa_.
+
+ * * * * *
+
+Como dependencia do collegio organisou-se tambem em 1826 uma
+phylarmonica privativa da fabrica, e composta unica e exclusivamente de
+operarios d'ella.
+
+Esta phylarmonica ainda continua a existir e tem tido desde o seu
+principio até hoje os seguintes regentes:--José Vicente Soares, de 1820
+a 1828: Prudencio Apolinario, de 1830 a 1834; Filippe Marcelino Classe,
+de 1834 a 1838; Antonio Dias, de 1838 a 1845: João Antonio Ferreira,
+de 1847 a 1851; Antonio Dias, de 1852 a 1866; e Joaquim Martins Rosa, de
+1867, em diante.
+
+ * * * * *
+
+Os pruductos da fabrica da Vista Alegre tem sido premiados com medalhas
+de cobre e prata em todas as exposições do Londres, Paris, Philadelphia,
+Vienna d'Austria, Rio de Janeiro e Internacional do Porto.
+
+ * * * * *
+
+A fabrica da Vista Alegre tambem tomou parte muito activa nos
+acontecimentos politicos de 1846 e 1847. Quando em 14 de maio d'aquelle
+anno a cidade de Aveiro adheriu ao pronunciamento popular iniciado no
+Minho, a população operaria da Vista Alegre pronunciou-se tambem e
+fraternisando com os que n'aquella cidade se haviam revolucionado,
+marchou com elles para Cantanhede e d'aqui para Coimbra, a fim de
+receber ordens e instrucções da junta governativa, que ali se havia
+installado. De Coimbra marcharam os operarios da Vista Alegre e os
+populares d'Aveiro para Villa Nova de Gaya, onde se conservaram até que
+o Porto adheriu tambem á causa que elles defendiam.
+
+Feita a revolução no Porto em 9 d'outubro contra o _golpe de Estado_ de
+6 do mesmo mez, os operarios da Vista Alegre abraçaram logo com
+enthusiasmo a causa da junta, procedendo immediatamente á organisação
+d'um corpo de voluntarios, com o nome de Batalhão Nacional do
+Concelho d'Ilhavo. No dia 23 de outubro marchou o batalhão para o Porto,
+levando por commandante um dos proprietarios e administrador da fabrica,
+o snr. Alberto Ferreira Pinto Basto, e por major o director da mesma
+fabrica, João Maria Rissoto.
+
+No dia 28 de outubro fez o batalhão da Vista Alegre, pois era assim que
+era conhecido, a sua entrada no Porto, indo á sua frente o Visconde de
+Sá da Bandeira, que chegando n'esse mesmo dia de Lisboa, quiz honrar os
+valentes operarios, commandando-os n'aquelle dia.
+
+Organisando-se a divisão com que o Visconde de Sá da Bandeira, devia
+operar em Traz-os-montes contra as forças do Barão do Casal, o batalhão
+da Vista Alegre foi um dos escolhidos para d'ella fazerem parte, e como
+tal entrou na acção de Valle Passos, que teve logar em 10 de novembro.
+São bem conhecidos os resultados d'esta acção, para que os relatemos
+aqui. Como o nosso proposito é só fallarmos da Vista Alegre, diremos que
+o batalhão d'este nome, entrou com galhardia em fogo sustentando-o com
+vigor até mesmo depois da deserção dos regimentos 3 e 15 de infanteria.
+Não podendo, porém, resistir ao choque da cavallaria e ao d'um
+d'aquelles regimentos, que o carregára á bayoneta, o batalhão retirou
+com alguma confusão para a rectaguarda, unindo-se depois ao resto das
+forças com que Sá da Bandeira voltou para o Porto.
+
+Durante o resto da lucta não tomou parte em qualquer outro combate, mas
+guarneceu por vezes differentes pontos das linhas e alguns d'elles muito
+importantes, até que teve de depôr as armas como as demais forças
+populares, em virtude da convenção assignada em Gramido em 21 de junho
+de 1847.
+
+ * * * * *
+
+No dia 13 de cada mez ha na Vista Alegre, um mercado muito importante,
+conhecido pela triplice denominação da _Feira dos treze, da Ermida, e do
+Bispo_. Este mercado foi estabelecido a requerimento do juiz, vereadores
+e mais povo das villas da Ermida e Ilhavo, por alvará de 15 de junho de
+1693, que ordenou que o mercado mensal se tornasse em annual no dia 13
+de setembro, dia da invocação da padroeira da capella da Vista
+Alegre--Nossa Senhora da Penha de França.
+
+ * * * * *
+
+Fizemos já a historia da fabrica, é justo que agora d'ella façamos
+descripção ainda que rapida, e que digamos tambem alguma cousa do
+systema de fabrico n'ella empregado.
+
+
+DESCRIPÇÃO DA FABRICA
+
+É modestissima a apparencia exterior da fabrica, de fórma que a
+impressão por ella produzida ao forasteiro que pela vez primeira a
+visita, nem por sombras lhe dará a conhecer que elle se acha frente a
+frente com um dos mais importantes estabelecimentos industriaes não só
+do paiz, mas até da Peninsula.
+
+Correndo parallelos com um grande parque, pelo lado do norte, estão os
+armazens da louça branca e pintada, loja de vendas e escriptorio.
+
+Entre estas duas dependencias da fabrica é que fica a entrada que dá
+accesso a um pateo arborisado, á volta do qual estão os armazens já
+referidos, a casa do deposito, e officina de fórmas e moldes, e bem
+assim a das _gazetas_, deposito de material de incendios, casa onde se
+guardam os restos do antigo museu da fabrica, officina de carpentaria, e
+entrada para a estancia das lenhas.
+
+São vastos os armazens de deposito de louça pintada e branca,
+especialmente o d'esta ultima, que era onde antigamente estavam os
+fornos de estender vidraça.
+
+A officina de moldes e _gazetas_ está bem montada como todas as
+restantes da fabrica; no deposito do material de incendios, ha duas
+bombas, machados, e canecos de pau para agua, em profusão, e outros
+objectos proprios, tudo preparado e prompto para acudir a qualquer
+sinistro.
+
+É provisoria a casa onde estão os productos que compõem o chamado muzeu
+da fabrica, o que é deveras para lamentar, pois tornam-se dignos d'uma
+boa collocação, a fim de poderem ser examinados e apreciados, como merecem.
+
+A estancia das lenhas fica ao norte do edificio e está completamente
+isolada d'elle. Mede 67,m60 de comprimento e 52,m de largura. A sua
+superficie é rectangular, tendo á volta, os telheiros que abrigam a
+lenha das chuvas.
+
+D'aquelle pateo passa-se para as officinas da olaria. São duas salas
+bastante espaçosas, onde ha 38 rodas d'oleiro; junta a estas está uma
+outra mais pequena, que é a officina de aprendisagem e deposito de
+modelos. Junto d'aquellas ha um terreno ajardinado onde estão os
+telheiros para seccar a louça.
+
+Da officina de olaria passa-se a um longo corredor ao fim do qual
+estão as officinas de pintura. São duas as salas destinadas para a
+pintura, cheias de luz e bem ventiladas. Ornam-lhe as paredes esboços de
+V. Rosseau, e placas de porcelana com o retrato do fundador da fabrica,
+brasões d'armas, quadros de costumes, fructos, etc.
+
+Á direita d'aquelle corredor fica a lithographia. Montada, segundo todas
+as exigencias do fim a que é destinada, funcciona apenas de 1880 em
+diante. São bastante satisfatorios os resultados obtidos pelo processo
+lithographico, que tem a grande vantagem de ficar muito mais barato do
+que o geralmente seguido na pintura da porcelana, e aqui desde principio
+adoptado.
+
+Em seguida á lithographia fica o deposito da louça que hade ser pintada
+e do lado fronteiro a casa das _muflas_ onde ha tambem duas estufas para
+seccar a louça pintada.
+
+Da sala da pintura desce-se para o deposito do barro preparado e casa da
+amassadura, e d'aqui para a officina de trituração, onde se acham
+montados as galgas e pisões a que dá movimento uma machina a vapor.
+
+Para além da machina estão as estufas para seccar areia, alimentadas com
+o calor perdido das caldeiras, um torno a que ella dá movimento, e as
+officinas de serralheria. Parallela com esta parte do edificio, que é a
+mais vasta de todo elle, fica a estancia do carvão e differentes
+telheiros para a secca do barro. Proximo, está a officina de lavagem e
+escolha de materiaes empregados no fabrico da porcelana.
+
+Os fornos, esses, tres ficam pouco acima d'estas ultimas officinas, e o
+outro que é o maior, junto ao deposito da louça branca, ao pé do
+qual fica tambem a officina de vidrar.
+
+Ao norte da casa dos tres fornos e do lado fronteiro do caminho do
+serviço da fabrica fica a officina de esculptura, o laboratorio em que
+se opera a solução do oiro e preparação de algumas tintas. Está tambem
+ahi junto a caldeira para a calcinação do gesso.
+
+As materias primas empregadas no fabrico da porcelana são em toda a
+parte, em que ella se fabrica, as argilas kaulinicas, o quartzo e o
+feldspatho. Aquellas, vêem para a Vista Alegre, de Valle Rico, concelho
+da Feira e este de Villa Meã, Mangualde e Porto.
+
+As argilas kaulinicas são aqui lavadas e passadas por peneiras a fim de
+se separarem os corpos em diversos estados de aggregação. As areias
+grossas que dellas ficam são depois empregadas como quartzo.
+
+O quartzo e o feldspatho são escolhidos primeiramente tambem afim de
+evitar que levem grandes porções d'oxido de ferro, que ordinariamente
+lhe anda unido, depois calcinam-se e levam-se para as galgas.
+
+Os differentes materiaes que hão de compôr a porcelana, depois de
+devidamente moidos e lavados são compostos e em seguida levados ás mós
+horisontaes para os moer e misturar, e em seguida guardados em depositos
+até adquirirem um certo grau de consistencia.
+
+D'estes depositos vae a massa para a casa da amassadura onde é lançada
+em vasos de barro poroso, de fórma de pyramides conicas troncadas, a que
+se dá o nome de _coques_.
+
+D'estes _coques_ é a massa levada para uma larga banca de pedra, a fim
+de ser amassada a pés. São dois ou mais homens que amassam a porcelana
+na banca referida; amassada ella dividem-a em muitas fracções, com a
+fórma de cones, e que denominam _pélas_.
+
+Estas _pélas_ são em seguida levadas para a officina das rodas de
+oleiro, onde são separadamente amassadas á mão sobre uma pequena banca
+de marmore, a fim da massa ficar mais unida e homogenea, e bem assim
+desapparecerem alguns veios escuros que ás vezes adquire, ficando assim
+apta para ser obrada.
+
+O methodo empregado na Vista Alegre na execução das differentes peças de
+porcelana, é o de _encher_ e o de _moldar_.
+
+As caixas refractarias--_gazetas_--onde se mettem as peças para serem
+levadas aos fornos são fabricadas por meio de moldes de gesso, variando
+as suas dimensões conforme as peças que devem conter.
+
+Bem seccas as peças que sahiram da roda do oleiro, ou dos moldes,
+procede-se ao seu enfornamento, collocando-se primeiramente dentro das
+gazetas ou sem ellas.
+
+Levadas ao forno são collocadas no segundo pavimento, pois agora só
+recebem o calor brando, a que chamam--_chacote_.
+
+Recebida esta primeira cosedura, vão para a officina de vidrar. O
+vidrado é dado por immersão das peças dentro d'uma grande tina em que se
+acham diluidos em agua os corpos que compõem o esmalte.
+
+As peças mettem-se e tiram-se rapidamente ficando tambem logo seccas
+como se não houvessem recebido banho algum.
+
+O vidrado é tirado dos pontos de contacto e dado nos pontos em que a
+peça não o poude receber na parte coberta pela mão. Os retoques são
+feitos com pincel.
+
+Mettidas novamente dentro das _gazetas_, sobre cujo fundo, se lança
+alguma areia, afim de que a elle ellas se não peguem, são outra vez
+enfornadas mas agora no outro pavimento do forno, a fim de receberem o
+grande calor que termina a cosedura.
+
+As _gazetas_ são collocadas umas sobre outras, formando pilhas em toda a
+altura do forno, a que se dá o nome de _fios_.
+
+Feito o enfornamento, em que trabalham oito forneiros e um trabalhador,
+accendem-se as quatro fornalhas que tem o forno, fazendo para que a
+intensidade do lume, seja a mesma, e ao mesmo tempo em todas as
+fornalhas, a fim de estabelecer a uniformidade da temperatura.
+
+Passadas 10 horas de lume brando, a que chamam _lume de esquenta_,
+tapam-se as boccas dos fornos com tijolos refractarios, afim de
+concentrar a força do calor interiormente, começando então o grande
+calor, a que dão o nome de _lume de calda_, renovando successivamente a
+lenha nas fornalhas em maior quantidade que para lume brando,
+conservando-se assim o fogo bem activo e uniforme ordinariamente por
+espaço de vinte e quatro horas, chegando algumas vezes a trinta e seis.
+
+Conhecendo-se que está completa a cosedura, tira-se a lenha das
+fornalhas, diminuindo gradualmente d'este modo o calor dentro do forno,
+e conservando a louça dentro d'elle até que esteja completamente fria,
+para então se começar a desenfornar.
+
+De entre as peças vidradas separam-se então as que tem de ser pintadas,
+para o que são conduzidas para um armazem junto ás salas da pintura.
+
+São muitas as côres usadas na pintura da porcelana, quasi todas
+vitreficaveis e obtidas por meio de combinações de oxidos, saes
+metallicos e fundentes.
+
+Os oxidos empregados de preferencia são o oxido de choromio, o de ferro,
+o de uranio, de manganez, de zinco, de cobalto, de antimonio, de cobre,
+de estanho e de iridium.
+
+Os principaes saes empregados são o chromato de ferro, de barita, de
+chumbo e algumas vezes o chloreto de prata.
+
+Depois de pintada a louça vae á estufa para seccar as tintas e em
+seguida para dentro das _muflas_ a fim de fixar em si as tintas,
+ganhando as respectivas côres, as quaes se vetrificam com os fundentes.
+
+
+MACHINAS E FORNOS
+
+A machina a vapor, collocada na officina de trituração, a que já nos
+referimos, foi feita em Lisboa por Bachelay. Tem duas caldeiras de fogo
+central e força de 14 cavallos. Foi assente em 1855 por Daniel Werlong,
+artista de raro merito com o curso de artes e officios em Paris, que
+durante alguns annos dirigiu a officina de serralheria da fabrica.
+
+A chaminé que dá vasão ao fumo das caldeiras tem 14,m de altura e foi
+construida em 1879, por operarios do estabelecimento.
+
+A machina communica movimento por meio d'uma correia sem fim, a um
+tambor fixo no veio principal o qual o transmitte por meio de
+engrenagens aos differentes engenhos destinados a moer e misturar os
+materiaes, empregados no fabrico da porcelana.
+
+Ha quatro fornos destinados para coser a porcelana, todos com a fórma
+cylindrica, construidos com tijolos refractarios fabricados no
+estabelecimento. Cada um d'elles tem quatro fornalhas e dois andares; o
+maior tem cinco.
+
+No inferior colloca-se a louça que tem de ser esmaltada, elevando-se a
+temperatura ao rubro branco, e no superior a que tem apenas a receber o
+calor brando ou pequeno fogo que lhe dá o poder absorvente para ser
+vidrada.
+
+No _chacote_ a cosedura adquire o rubro cereja proximamente a
+temperatura da fusão de ferro. O _chacote_ é aquecido pela chamma
+perdida do primeiro compartimento.
+
+Sobre as fornalhas dos fornos ha aberturas rectangulares, chamadas
+_vigias_ por onde se _observa_ o grau de calor e se tiram as amostras,
+sobre as quaes se verifica directamente o estado da cosedura.
+
+Além dos quatro grandes fornos ha outros mais pequenos destinados a
+fixar as tintas, que são as _muflas_. Estes fornos, se tal nome se lhe
+pode applicar, são caixas feitas de argila refractaria, separadas umas
+das outras por paredes de igual natureza.
+
+Contém varios compartimentos formados por folhas de ferro, a que servem
+d'apoio calços tambem d'argila refractaria.
+
+São oito as _muflas_, tendo cada uma d'ellas fornalha independente.
+
+ * * * * *
+
+Escripta a historia da fabrica e feita a descripção d'ella, nada mais
+nos resta do que apresentar uma resenha dos seus administradores,
+directores, mestres de pintura e manufactura de porcelana, que é o
+que vamos fazer. Eil-a:
+
+
+Administradores:--Os snrs. Augusto Ferreira Pinto Basto, de 1824 a 1828;
+Alberto Ferreira Pinto Basto, de 1828 a 1856; Duarte Ferreira Pinto
+Basto, de 1856 a 1861; Domingos Ferreira Pinto Basto, de 1861 a 1882;
+Duarte Ferreira Pinto Basto Junior, de 15 de maio de 1882 em diante.
+
+Directores:--Os snrs. Antonio d'Almeida Ferreira Duque, de 1836 a 1840;
+João Maria Rissoto, de 1840 a 1878: Duarte Ferreira Pinto Basto Junior,
+de 1878 a 1882; João Antonio Ferreira, de 15 de maio de 1882 em diante.
+
+Mestres de pintura:--Os snrs. Victor Francisco Chartier Rousseau, de
+1836 a 1852; Gustavo Fortier, de 1853 a 1856; Filippe Fortier, de 1857 a
+1860; Gustavo Fortier, de 1861 a 1865; Joaquim José d'Oliveira, de 1866
+a 1881; Francisco da Rocha Freire, de 1881 em diante.
+
+Mestres de porcellana:--Os snrs. João da Silva Monteiro, de 1826 a 1833;
+João da Silva Monteiro Junior, de 1833 a 1838; João Antonio Ferreira, de
+1838 a maio de 1882. Presentemente não ha mestre de porcelana, mas sim
+dois contra-mestres, os snrs. Antonio Augusto Affonso, que tem a seu
+cargo a preparação das materias primas, fórmas e modelos, e Manoel da
+Silva Marianno, que dirige a manufactura.
+
+
+Fim.
+
+
+
+
+PREÇO 200 REIS
+
+ * * * * *
+
+OBRAS DO MESMO AUCTOR
+
+Memorias de Aveiro.
+
+D. Duarte de Menezes--esboço biographico.
+
+O Districto de Aveiro; noticia geographica, estatistica, seraldica,
+archeologica e biographica da cidade de Aveiro e todas as villas e
+freguezias do seu districto.
+
+A mulher atravez dos seculos; estudo historico sobre a condição
+politica, civil, moral e religiosa da mulher: 1.ª parte--sociedades
+primitivas, China, India, Persia, Assyria, Egypto e Israel.
+
+D. Joanna de Portugal (a princeza santa) esboço biographico.
+
+ * * * * *
+
+EM VIA DE PUBLICAÇÃO
+
+Luctas caseiras--Portugal de 1836 a 1851.
+
+Aveiro e o seu concelho.
+
+JOAQUIM DE VASCONCELLOS E MARQUES GOMES
+
+Exposição districtal de Aveiro em 1882--Reliquias da arte nacional.
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of A Vista Alegre: apontamentos para a
+sua historia, by João Augusto Marques Gomes
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A VISTA ALEGRE: APONTAMENTOS ***
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+Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
+and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
+works. See paragraph 1.E below.
+
+1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
+individual work is in the public domain in the United States and you are
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+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
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+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
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+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
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+ <title>A Vista Alegre, por Marques Gomes</title>
+ <meta name="Author" content="J. A. Marques Gomes">
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+The Project Gutenberg EBook of A Vista Alegre: apontamentos para a sua
+historia, by João Augusto Marques Gomes
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: A Vista Alegre: apontamentos para a sua historia
+
+Author: João Augusto Marques Gomes
+
+Release Date: November 11, 2010 [EBook #34276]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A VISTA ALEGRE: APONTAMENTOS ***
+
+
+
+
+Produced by Pedro Saborano
+
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+
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<div style="text-align:center; border:solid 2px #000; border-top: solid 5px; border-right: solid 5px;">
+
+<p style="font-size:2.5em;">A VISTA ALEGRE</p>
+
+<p style="font-size:1.8em;">APONTAMENTOS PARA A SUA HISTORIA</p>
+
+<p>POR</p>
+
+<p style="font-size:2em;">J. A. M<small>ARQUES</small> G<small>OMES</small></p>
+
+<p style="font-size:1.2em;">SOCIO CORRESPONDENTE DO INSTITUTO DE COIMBRA<br>
+E DAS SOCIEDADES<br>
+DE GEOGRAPHIA DE LISBOA E PORTO</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p style="font-size:1.4em;"><strong>PORTO</strong><br>
+T<small>YP.</small> C<small>OMMERCIO E</small> I<small>NDUSTRIA</small><br>
+<small>22, Rua do Corpo da Guarda, 22</small><br>
+1883</p>
+
+</div>
+
+<p><span class="pn">{1}</span></p>
+
+<div style="text-align:center;">
+<p style="font-size:2em;">A VISTA ALEGRE</p>
+
+<p style="font-size:1.6em;">APONTAMENTOS PARA A SUA HISTORIA</p>
+
+<p>POR</p>
+
+<p style="font-size:1.4em;">J. A. M<small>ARQUES</small> G<small>OMES</small></p>
+
+<p style="font-size:1.2em;">SOCIO CORRESPONDENTE DO INSTITUTO DE COIMBRA<br>
+E DAS SOCIEDADES<br>
+DE GEOGRAPHIA DE LISBOA E PORTO</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p style="font-size:1.4em;"><strong>PORTO</strong><br>
+T<small>YP.</small> C<small>OMMERCIO E</small> I<small>NDUSTRIA</small><br>
+<small>22, Rua do Corpo da Guarda, 22</small><br>
+1883</p>
+</div>
+
+<p><span class="pn">{2}<br>{3}</span></p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<div style="text-align:center;">
+<p style="font-size:1.6em;">AO SENHOR</p>
+
+<p style="font-size:1.8em;">Duarte Ferreira Pinto Basto Junior</p>
+</div>
+<p><span class="pn">{4}<br>{5}</span></p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<div id="corpo">
+
+<p>A menos de dois kilometros de Ilhavo e sobranceira
+ao braço da ria de Aveiro, que liga a chamada
+Calle da Villa com o Bôcco, fica a Vista Alegre. Quadra
+bem este titulo á risonha povoação em que um dos
+homens mais prestimosos e emprehendedores que Portugal
+tem conhecido no presente seculo, veio fundar a
+fabrica de porcelanas, que do local toma o nome.</p>
+
+<p>A Vista Alegre como povoação em si, tem tambem
+como o importante estabelecimento que a tornou conhecida
+tanto no paiz como no estrangeiro, uma historia
+sua de quem a lenda por mais d'uma vez se apossou
+já, deturpando-a.</p>
+
+<p>Não nos cançaremos em lhe procurar a etymologia
+pois é fóra de duvida que o nome lhe proveio do formosissimo
+panorama, que a contorna, moldurando-lhe
+o rosto gentil.<span class="pn">{6}</span></p>
+
+<p>Anteriormente á fundação da fabrica, a Vista Alegre
+não tinha fóros de povoação, era uma quinta apenas. Um
+templo formosissimo e uma casa modesta que servia
+de habitação aos proprietarios da quinta, eram os unicos
+edificios, que ali existiam, e isto ainda no primeiro
+quartel do seculo <small>XIX</small>.</p>
+
+<p>A fundação d'um tão bello templo, como é o de
+Nossa Senhora da Penha de França, n'um sitio tão ermo,
+como era a Vista Alegre, fez com que muitos principiassem
+a architectar romances mais ou menos verosimeis.
+Imaginaram-se desterros e deportações, e bem
+assim fofo ninho de criminosos amores d'um prelado
+illustre com uma dama de elevado nascimento e freira
+professa n'um dos conventos de Lisboa.</p>
+
+<p>Não longe da Vista Alegre, a um kilometro para
+o sul, fica o antigo logar da Ermida, villa e concelho
+até 1834 a quem D. Manoel deu foral em 8 de junho
+de 1514. N'esta povoação houve um praso, cuja origem
+data de seculos, tendo por cabeça uma grande
+quinta denominada o Paço da Ermida. Este praso e
+quinta andava no senhorio dos Mouras Manoeis, familia
+muito illustre, pois trazem a sua descendencia de D.
+Branca de Sousa, filha de Lopo Dias de Sousa, grão-mestre
+da Ordem de Christo.</p>
+
+<p>Alguns escriptores teem confundido a quinta da Ermida
+com a da Vista Alegre, e affirmado que foi seu
+proprietario o bispo de Miranda, D. Manoel de Moura
+Manoel.</p>
+
+<p>Nem a quinta da Vista Alegre já foi conhecida por
+quinta da Ermida, nem tão pouco aquelle prelado foi
+dono de qualquer d'ellas.</p>
+
+<p>É fóra de duvida que D. Manoel de Moura Manoel
+vinha frequentes vezes passar alguns dias e ás vezes,<span class="pn">{7}</span>
+mezes até, á quinta da Ermida, que conjunctamente
+com o praso do mesmo nome pertencia a seu irmão
+primogenito Ruy de Moura Manoel. Durante a sua estada
+aqui, travou relações com o proprietario da quinta
+da Vista Alegre, o Dr. Manoel Furtado Botelho, relações
+que se foram tornando cada vez mais intimas de
+sorte que passados annos edificou em terrenos dependentes
+da mesma quinta a Capella de Nossa Senhora
+da Penha de França.</p>
+
+<p>Por morte de Ruy de Moura Manoel, passou a
+quinta da Ermida para seu filho Rodrigo de Moura Manoel,
+que tendo casado com D. Rosalia da Silva, filha
+de Luiz Lobo da Silva, governador e capitão general
+de Angola morreu sem successão, pelo que os seus
+bens passaram para suas irmãs. A Ermida pertenceu a
+D. Maria Maximilianna, casada com Jeronimo de Castilho.
+Por morte d'este, ficou sendo senhor d'ella seu
+filho Jeronimo Antonio de Castilho que conjunctamente
+com sua mulher D. Joaquina Izabel Freire de Castro,
+a vendeu por escriptura lavrada nas notas do tabellião
+da então villa de Aveiro, Manoel de Sousa Bastos em
+15 de janeiro de 1727, a Zeferino Rodrigues Caudello.
+Em 17 de março de 1812 fez venda da mesma quinta
+ao snr. José Ferreira Pinto Basto, D. Bernarda Thereza
+Umbelina Caudello de Maviz Sarmento, néta do referido
+Zeferino Rodrigues Caudello.</p>
+
+<p>O proprietario da quinta da Vista Alegre Dr. Manoel
+Furtado Botelho, tendo fallecido em 9 de setembro
+de 1733, dispoz dos seus bens como se vê da
+parte do seu testamento que passâmos a transcrever
+do livro dos obitos da freguezia de Ilhavo, no anno de
+1733: «que seria sepultado na capella de Nossa Senhora
+da Penha de França, e deixava entre outras missas,<span class="pn">{8}</span>
+cincoenta pela alma do seu amigo o snr. Bispo que
+foi de Miranda. Instituia por sua universal herdeira D.
+Theodora de Castro Moura Manoel, de seus bens, e
+que esta poderia vender d'elles o que lhe parecesse
+para dividas e ser freira sem constrangimento de pessoa
+alguma nem justiça alguma lhe tomaria conta, nem
+lhe fariam inventario; e os bens que ficassem por sua
+morte d'ella, iriam ao usufructo do seu testamenteiro
+o padre licenciado Domingos Ferreira da Graça, cura
+de Ilhavo, e por morte d'este a Nossa Senhora da Penha
+de França da Vista Alegre, que entrando na posse
+seria obrigada a fabrica da capella a fazer uma festa
+á dita Senhora em 8 de setembro de cada anno, da
+qual o capellão daria contas ao Dr. Vizitador.»</p>
+
+<p>Não foram, ao que parece, totalmente cumpridas
+as disposições do testador, pois é certo que os seus
+bens tiveram um destino muito differente do que o que
+lhe havia marcado.</p>
+
+<p>D. Theodora de Castro Moura Manoel era como
+o proprio nome o indica filha do bispo de Miranda, a
+quem pertencia tambem o appellido <em>Castro</em> pois o houve
+de sua mãe, D. Maria de Castro. Aquella senhora, destinada
+segundo parece para a vida claustral, não tomou
+o habito, nem tão pouco chegou a casar, mas teve um
+filho, a quem deu o nome de seu pae, d'ella, Manoel
+Pereira de Moura Manoel, que ordenando-se foi abbade
+da freguezia de S. Romão de Guimarães.</p>
+
+<p>O appellido <em>Pereira</em>, do mesmo modo que o de <em>Castro</em>
+era tambem pertença do bispo, pois era segundo
+neto de João Rodrigues da Costa e de sua mulher D.
+Isabel <em>Pereira</em>.</p>
+
+<p>O abbade Manoel Pereira de Moura Manoel morreu
+ainda em vida de sua mãe, mas não sem deixar<span class="pn">{9}</span>
+successão, pois teve uma filha de D. Clara Maria de
+Barros, natural de Gondar, no concelho de Guimarães,
+D. Josepha Caetana de Castro, que casou em 20 de
+novembro de 1748 com o capitão Manoel Alvares Brandão,
+de Santa Marinha de Taboa, no bispado de Coimbra.
+D'este consorcio nasceram duas filhas e um filho
+que todos foram baptisados na egreja de S. Salvador
+de Ilhavo, a cuja parochia pertence a Vista Alegre.</p>
+
+<p>D. Theodora de Castro Moura Manoel falleceu em
+1767, sendo sepultada na capella de Nossa Senhora da
+Penha de França, quaes porém as suas disposições
+testamentárias se as deixou, são desconhecidas.</p>
+
+<p>O testamenteiro do dr. Manoel Furtado Botelho,
+o padre licenciado Domingos Ferreira da Graça, para
+quem devia passar o usufructo da herança que aquelle
+havia deixado a D. Theodora de Castro Moura Manoel,
+sobreviveu ainda a esta, pois só falleceu em 7 de maio
+de 1772, mas se elle usufruiu ou não a herança é que
+é ponto muito duvidoso, sendo certo porém que tal
+herança por venda ficticia ou por outro qualquer meio,
+nunca chegou a pertencer á fabrica da capella de Nossa
+Senhora da Penha de França, pois passou para o capitão
+Manoel Alvares Brandão e d'este para seus filhos,
+um dos quaes Alexandre de Castro Brandão, que foi
+capitão-mór de Cantanhede, vendeu em 1815 a quinta
+e capella da Vista Alegre ao snr. José Ferreira Pinto
+Basto.</p>
+
+<p>Esboçamos a historia da Vista Alegre, agora resta-nos
+reunir aqui alguns apontamentos biographicos
+do fundador da capella de Nossa Senhora da Penha de
+França e fazer uma descripção ainda que rapida da
+mesma capella.</p>
+
+<p>D. Manoel de Moura Manoel nasceu em Serpa,<span class="pn">{10}</span>
+sendo seus paes, Lopo Alvares de Moura e D. Maria
+de Castro. Filho segundo d'uma casa vinculada como
+era a sua, e não querendo seguir a carreira das armas,
+abraçou a que lhe restava, segundo o seu nascimento&mdash;a
+ecclesiastica. Seguindo os estudos superiores
+na Universidade de Coimbra, doutorou-se em Canones,
+e na qualidade de oppositor a uma das cadeiras
+d'esta faculdade, foi eleito collegial do Real Collegio
+de Paulo em 28 de julho de 1638, sendo reitor do
+mesmo o dr. Ambrosio Trigueiros Semmedo.</p>
+
+<p>Em 17 de dezembro de 1660 foi nomeado conego
+doutoral da Sé de Lamego, d'onde passou para a de
+Braga por promoção que obteve no 1.º de maio de
+1666.</p>
+
+<p>Nomeado deputado da Inquisição de Évora passou
+para Inquisidor da de Coimbra em 13 de outubro de
+1663, e a deputado do Conselho Geral do Santo Officio
+em 13 de abril de 1674.</p>
+
+<p>Eleito em lista triplice para reitor da Universidade,
+foi provido n'este logar por el-rei D. Pedro <small>II</small>, em
+23 de agosto de 1683, que o nomeou por essa occasião
+sumilher da cortina. Havendo prestado juramento
+em 16 de novembro daquelle anno, governou a Universidade
+até o 1.º de fevereiro de 1690 em que foi
+eleito o seu successor D. Nuno da Silva Telles.</p>
+
+<p>Durante o seu reitorado residiu por differentes
+vezes em Lisboa, principalmente nos annos de 1688 e
+1689.</p>
+
+<p>Escolhido para bispo de Miranda em 28 de abril
+de 1689, foi sagrado em outubro do mesmo anno na
+egreja parochial de Nossa Senhora dos Anjos de Lisboa,
+pelo cardeal D. Verissimo de Lencastre, sendo<span class="pn">{11}</span>
+assistentes D. Fr. Luiz da Silva, bispo da Guarda, e
+D. Simão da Gama, bispo do Algarve.</p>
+
+<p>Fazendo jornada para as Caldas de S. Pedro do
+Sul, adoeceu gravemente nos Ferreiros, proximo a Vizeu,
+e ahi falleceu em 7 de setembro de 1699. Durante
+a doença foi-lhe enfermeiro sollicito o bispo d'aquella
+diocese, D. Jeronimo Soares, que assistiu tambem ao
+seu funeral e ordenou que fosse sepultado na capella-mór
+da egreja d'aquella freguezia, d'onde as suas cinzas
+foram trasladadas para a Vista Alegre em 1706.</p>
+
+<p>Ignora-se o anno em que D. Manoel de Moura Manoel
+mandou edificar a capella de Nossa Senhora da
+Penha de França, mas ainda assim parece não haver
+duvida que foi já depois de estar bispo em Miranda.</p>
+
+<p>É de bello aspecto a frontaria do templo, avistando-se
+a algumas leguas de distancia os corucheus das
+suas duas torres. O interior não é menos elegante.
+As paredes do corpo da capella são forradas d'alto a
+baixo de bons azulejos, todos coevos da sua fundação&mdash;fins do seculo <small>XVII</small>,&mdash;é a aboboda ornatada de boas
+pinturas a fresco. Tem dois altares lateraes de boa talha
+dourada, dedicados ambos á Virgem, sob a invocação
+do Rosario e da Conceição. O retabulo e altar
+da capella-mór são trabalhos primorosos em fino marmore
+de Italia.</p>
+
+<p>Embebido na parede da mesma capella e do lado
+da epistola, está o tumulo do fundador, fabricado primorosamente
+de granito de Ançã.</p>
+
+<p>A urna funerária é sustentada por tres leões de
+farta juba, que parecem prestes a ser esmagados pelo
+seu peso.</p>
+
+<p>No centro da urna, levantado em alto relevo, está<span class="pn">{12}</span>
+um escudo oval partido, com as armas dos Mouras
+Manoeis, tendo por timbre um chapeu episcopal.</p>
+
+<p>Sobre ella está a figura do bispo, de vestes prelaticias,
+meia deitada, com a mão esquerda sobre o
+peito e a direita estendida com que a apontar para o
+Tempo, que está ao fundo sobraçando o panno mortuario
+que deve cobrir o sarcophago.</p>
+
+<p>A execução é primorosa, conhecendo-se até nos
+mais pequenos lavores o primor do cinzel que o trabalhou.</p>
+
+<p>O povo rude das aldeias visinhas, acredita que tal
+obra não podia ser executada por mãos de homens, e
+por isso attribue-a ao diabo, creando uma lenda que
+o snr. Brito Aranha reproduziu já no seu bello livro
+<em>Memorias historico-estatisticas de algumas villas e povoações
+de Portugal</em>.</p>
+
+<p>O nome do esculptor Claudio de Laplada cahiu com
+effeito no olvido, de sorte que o forasteiro, que visitando
+a Vista Alegre perguntasse quem havia feito o
+tumulo do bispo, recebia sempre em resposta aquella
+lenda.</p>
+
+<p>Fronteiro a este tumulo, está um outro, muito
+mais modesto, sem duvida, mas ainda assim digno de
+ser apreciado, como obra que é do mesmo artista. Sobre
+uma urna funeraria, onde se vê tambem um escudo,
+com as armas dos Castros, está sentada uma figura
+de mulher sustentando na mão esquerda um baixo
+relevo, representando uma cabeça de freira, allusão
+sem duvida á vida monachal que o bispo desejava
+que sua filha D. Theodora de Castro Moura Manoel
+abraçasse, pois era, como as treze arruellas dos Castros
+do escudo o indicam, para ella destinado o moimento.<span class="pn">{13}</span></p>
+
+<p>Por debaixo d'este tumulo e por tanto fronteiro
+ao do bispo está uma grande lapide de marmore branco,
+tendo gravada a seguinte inscripção latina:</p>
+
+<p class="centrado"><em>Deo opt.º Max.º<br>
+Deiparae virgini<br>
+Diei ultimae</em></p>
+
+<p class="centrado"><em>Supremo Judicio&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Supremus Judex:<br>
+Rectrici universi&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Rector universitatis:<br>
+Episcopo animarum&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Animosus episcopus.</em></p>
+
+<p class="centrado"><em>In<br>
+Mortis asylum, voti titulum, gratitudinis<br>
+tropheum,<br>
+Hoc templum, hanc aram, hunc tumulum<br>
+dedicat sacrat signat<br>
+Ill.<sup>mus</sup> et R.<sup>mus</sup> Dõnus<br>
+D. Emmanuel de Moura Manuel<br>
+Qui<br>
+A B. Ferdinando Castellae Rege progenitus,<br>
+sanctorum soboles, electum genus est:<br>
+Armis et literis, ordine, et cursu manens,<br>
+stella micans, et dimicans fuit:<br>
+Aulae supernae cum Pontificibus ascriptus<br>
+simili gloria sacerdos Christi erit.<br>
+Favente natura, comite, virtute, auxiliante<br>
+gratia.<br>
+Cui<br>
+Ortum dedere Serpae ter maxime conjuges<br>
+Lupus Alvares de Moura,<br>
+commendator de Trancoso,<br>
+Trium Ecclesiarum Patronus, Trium<br>
+maioratuum Dõnus<br>
+Et D. Maria de Castro<span class="pn">{14}</span><br>
+Ex Imperiali Emmanuelium stirpe pari<br>
+nobilitate decorata.<br>
+Quem<br>
+Serenissimi Portugaliae Reges<br>
+Destinarunt caducco, Selegerunt consilio:<br>
+Sancti Officii Tribunal<br>
+Judicem habuit Deputatum Inquisitorum<br>
+dignissimum:<br>
+Academia Conimbricensis<br>
+Collegam educavit, Rectorem coluit.<br>
+Ecclesiae Luzitanae<br>
+Canonicum nutrierunt alumnum, et sponsum<br>
+receperunt Episcopum.<br>
+Tot gradus Providentia Supponente,<br>
+Ut meritis augeretur, quod sanguini<br>
+debebatur.<br>
+Cujus<br>
+Magnutudinem Integritatem Sapientiam<br>
+Multiplex fama loquitur,<br>
+Ipsa Juvidia fatetur,<br>
+Hoc opus salamonicum testatur.<br>
+Quo<br>
+Arca coronata, suffulciens, Propitiatorium,<br>
+Custodit miraculosum simulachrum<br>
+Virgae Virginis quae rupit rupem.<br>
+De cujus nativitate, quam celebrat, gaudens,<br>
+Sub cujus umbra, quam desiderat, sedens,<br>
+Zoculo fecit locum;<br>
+Munimentum construxit monumento.<br>
+Herculeas columnas, vel potius Machabaicas,<br>
+Saxeas fixit, non terreas finxil,<br>
+Ut viderentur ab omnibus navigantibus mare:<br>
+Non plus ultra.<span class="pn">{15}</span><br>
+Hujus tanti viri si effigiem quaeris,<br>
+Inspict utrumque antrum:<br>
+Franci&mdash;hispanicum scilicet, et<br>
+Bethlemiticum.<br>
+Quibus<br>
+Ut simon dormit; ut Pastor vigilat;<br>
+Immo etiam vigilat, cum dormit;<br>
+Nam illic spiritus inter vigiles associatur<br>
+Caelesti militiae,<br>
+Dum hoc corpus, virginis protectione securum<br>
+Requiescit in pace.<br>
+Hoc Epitaphium insculptum Fuit anno<br>
+Domini 1697.</em></p>
+
+<hr style="width: 20%;">
+
+<p class="centrado"><big>TRADUCÇÃO</big></p>
+
+<p class="centrado">Ao Deus Omnipotente<br>
+Á Virgem Mãe de Deus<br>
+para o ultimo dia.</p>
+
+<p class="centrado">Juizo supremo<br>
+Moderador do Universo<br>
+Bispo das almas.</p>
+
+<p class="centrado">Supremo Juiz<br>
+Reitor da Universidade<br>
+Bispo animoso<br>
+Para<br>
+Asylo na morte, satisfação d'um voto<br>
+monumento de sua gratidão<br>
+dedica este templo, consagra este altar;<br>
+erige este tumulo<span class="pn">{16}</span><br>
+o Ill.<sup>mo</sup> e Rev.<sup>mo</sup> Snr.<br>
+D. Manoel de Moura Manoel,<br>
+a quem<br>
+O sangue do bemaventurado D. Fernando<br>
+Rei de Castella<br>
+Communicou as virtudes d'uma raça d'eleições<br>
+nunca desmentidas:<br>
+&mdash;nas armas, nas letras, na gerarchia;&mdash;<br>
+no progredir<br>
+Astro de brilho constante,<br>
+Inscripto entre os Pontifices na superna<br>
+Curia partilhara similhante<br>
+gloria no sacerdocio de Christo:<br>
+Não lh'o nega a natureza; acompanha-o<br>
+a virtude, auxilia-o a graça.<br>
+Viu a luz em Serpa<br>
+gerado dos preclarissimos esposos<br>
+&mdash;Lopo Alvares de Moura&mdash;<br>
+Commendador de Trancoso,<br>
+Padroeiro de tres Egrejas e Senhor<br>
+de tres morgados,<br>
+e&mdash;D. Maria de Castro&mdash;<br>
+descendencia não menos illustre:<br>
+da familia imperial dos Manoeis.<br>
+Os Serenissimos Reis de Portugal<br>
+destinaram-o para o Caducco, e elegeram-o<br>
+para o seu Conselho;<br>
+O Tribunal do Santo Officio<br>
+no cargo de Juiz deputado o possuiu como<br>
+lustre de inquisidores.<br>
+A Academia Conimbricense<br>
+houve-o por collega, e o recebeu<br>
+por seu Reitor.<span class="pn">{17}</span><br>
+As Egrejas de Portugal<br>
+o occuparam no tirocinio de Conego,<br>
+venerando-o depois como Bispo.<br>
+Permittiu a Providencia quando passasse por<br>
+estas provas, para que adquirisse<br>
+pelos meritos o que ao sangue era devido.<br>
+A fama sem descanço apregoou<br>
+a sua magnanimidade, inteireza, sabedoria, e<br>
+mesmo a inveja isto confessa;<br>
+e testemunha-o esta obra Salomniaca<br>
+em que<br>
+qual arca curvada, para abrigo, Propiciatorio,<br>
+se venera a miraculosa imagem<br>
+da vara da Virgem, que fende a rocha,<br>
+Em honra da sua natividade, que celebra<br>
+jubiloso levantou grande monumento<br>
+em pequeno recinto, esperando<br>
+repousar á sua sombra, porque aspira.<br>
+N'elle<br>
+Construiu para defesa do monumento<br>
+Columnas d'Hercules ou antes Machabaicas<br>
+fortes, e não frageis;<sup><A href="#nota1" name="m_nota1">[1]</A></sup><br>
+para que todos quantos correm o mar<br>
+saibam<br>
+que se não pode passar além.<br>
+Se desejas conhecer o retrato de tão<br>
+illustre varão, busca-o nas duas grutas,<br>
+na franca hispanica e na bethelemica.<br>
+Se<br>
+n'ellas como Pedro dorme, está vigilante<span class="pn">{18}</span><br>
+como pastor;<br>
+ou antes seu somno é a vigilia;<br>
+pois além se associa á celeste milicia entre<br>
+os vigilantes espiritos,<br>
+aqui o seu corpo está sob a guarda da Virgem,<br>
+Repousa em paz.<br>
+Este epitaphio foi feito no anno<br>
+de Christo de 1697.</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<div class="rodape">
+<p><sup><A href="#m_nota1" name="nota1">[1]</A></sup>
+Refere-se ás torres da capella.</p>
+</div>
+
+<p>Um outro monumento antigo da Vista Alegre, é
+a fonte do Carapichel, hoje quasi soterrada, mandada
+construir em 1696 pelo bispo D. Manoel de Moura Manoel,
+e notavel pela sua fórma e excellente agua, e
+muito principalmente por uma inscripção em caracteres
+gothicos e que é a que passamos a transcrever:</p>
+
+<blockquote class="poema">
+<p>&nbsp;&nbsp;«Esta fonte, ó navegante,<br>
+cuja liquida corrente<br>
+cristaes prodiga desata<br>
+attenções vistosa prende.<br>
+&nbsp;&nbsp;Esta nympha que ao Vouga<br>
+só em leguas mais de sete<br>
+adoça as aguas salgadas,<br>
+feita Nayade ou Nereide.<br>
+&nbsp;&nbsp;Esta agua que o bem commum<br>
+á vara liberal deve<br>
+de um sabio pastor sacro<br>
+militar, juiz, regente.<br>
+&nbsp;&nbsp;Esta veia cuja origem<br>
+a do Paraiso excede;<br>
+pois da casa da Senhora<br>
+mais bem nascida descende.<span class="pn">{19}</span><br>
+&nbsp;&nbsp;Contém todas as virtudes<br>
+das fontes mais excellentes<br>
+e dá remedios á vida<br>
+depois de dar morte á sede<br>
+se a frequentas por agrado.</p>
+
+<hr style="width: 20%;">
+
+<p>&nbsp;&nbsp;«Sendo aos narcisos enfeite<br>
+é das graças Natalis<br>
+e das musas Hippocrene<br>
+e Aratuhsa de Alpheo<br>
+mas por modo differente:<br>
+pois de um rio a outro rio<br>
+aquella foge, esta segue.<br>
+&nbsp;&nbsp;Egeria de melhor Numa<br>
+que magnifico e prudente<br>
+na arca o numero invoca<br>
+no tanque a prata dispende.<br>
+&nbsp;&nbsp;Biblis que, sem culpa, ao rio<br>
+irmão por parte de Thetis<br>
+murmurando a esquivança<br>
+vae abraçar docemente.<br>
+&nbsp;&nbsp;Fonte emfim do sol contigua<br>
+ao templo de Deus dos Deuses<br>
+contra a calma a fonte fria<br>
+para o frio fonte quente.<br>
+&nbsp;&nbsp;Se a buscas por medicina<br>
+é qual a de Circe ou Séthys.</p>
+
+<hr style="width: 20%;">
+
+<p>&nbsp;&nbsp;«Fonte que as doenças cura<br>
+cristal que a vista esclarece<span class="pn">{20}</span><br>
+iguala a fonte de Marsyas<br>
+&nbsp;&nbsp;com benéfica antitheses:<br>
+pois se aquella pedras cria<br>
+est'outra pedras derrete.<br>
+&nbsp;&nbsp;Não se turba com as vozes,<br>
+antes para que a celebrem,<br>
+sarando-as como a de Samos<br>
+as louva como a de Eleasis.<br>
+&nbsp;&nbsp;Ao que estuda suas margens<br>
+activa a memoria sempre<br>
+como a fonte de Beocia,<br>
+opposta ao curso de Lethes.<br>
+&nbsp;&nbsp;A quem da fonte Salmacis<br>
+bebeu as aguas ardentes<br>
+esta agua banhando as fontes<br>
+livra do amor, qual Seleno,<br>
+e quando perdido abrindes<br>
+achas no Vouga ou heyncestes<br>
+esta qual fonte de Erigon</p>
+
+<hr style="width: 20%;">
+
+<p>«faz com que o vinho aborreces.<br>
+&nbsp;&nbsp;Se por devoção visitas<br>
+sua affluencia perenne<br>
+é choro com que olhos pios<br>
+na capella á Virgem servem.<br>
+&nbsp;&nbsp;É fonte de Jerichó<br>
+que as plantas da rosa vestem<br>
+e que outro Eliseu com Moura<br>
+fez suave, lenta e fertil.<br>
+&nbsp;&nbsp;É fonte prophetisada
+se tanto póde dizer-se<span class="pn">{21}</span><br>
+pois sae do templo santo<br>
+e vae regando a torrente.<br>
+&nbsp;&nbsp;Do mar de graças Maria<br>
+o rio e fonte procedem<br>
+mas lá junto á lapa mana<br>
+cá da mesma penha desce.<br>
+&nbsp;&nbsp;Bebe, pois, bebe á vontade<br>
+acharás que é (muitas vezes)<br>
+tão util para a saude<br>
+quão para a vista alegre.»</p>
+</blockquote>
+
+<hr style="width: 20%;">
+
+<p>Historiamos ainda que a largos traços a historia
+da Vista Alegre e fizemos a descripção dos seus monumentos
+antigos, agora é mister que nos occupemos
+da sua historia moderna e do importante estabelecimento
+que a fez florescer e tornou conhecida no mundo
+da Arte.</p>
+
+<p>Os portuguezes que haviam sido os primeiros povos
+da Europa, que introduziram a porcelana oriental
+no commercio do Occidente, foram quasi que os ultimos
+a ensaiarem o seu fabrico. Datam apenas do ultimo
+quartel do seculo <small>XVIII</small> estes ensaios, realisados
+em Lisboa pelo brigadeiro Bartholomeu da Costa e no
+Rio de Janeiro, pelo professor regio, João Manso Pereira.</p>
+
+<p>Parece que as experiencias de Bartholomeu da
+Costa para obter a porcelana dura, foram feitas na
+antiga fabrica do Rato, empregando como materia prima,
+differentes barros explorados nas visinhanças de
+Aveiro.<span class="pn">{22}</span></p>
+
+<p>Ignora-se hoje quaes seriam estes barros, não
+obstante o affirmar-se, não sabemos com que fundamento,
+que foi o de Talhadella, concelho de Albergaria.
+O que é certo porém é que no arsenal do Exercito
+em Lisboa, quando se estudava o melhor systema
+de fundir a estatua de El-Rei D. José <small>I</small>, se reuniu uma
+importante collecção de barros de differentes pontos
+do paiz, contando-se n'este numero o de Talhadella,
+que foi o preferido para a edificação do forno onde se
+deluiu o metal.</p>
+
+<p>As qualidades refractarias d'este barro eram conhecidas
+já então, pois havia annos antes que um chimico
+francez,&mdash;Drout, o havia descoberto, fazendo até
+com elle magnificos tijolos refractarios, para o que estabeleceu
+um forno nas proximidades d'Aveiro, segundo
+affirma Raton.</p>
+
+<p>Dos resultados obtidos por Bartholomeu da Costa
+para o fabrico da porcelana, são hoje apenas conhecidas
+uma medalha representando em relevo a estatua
+equestre do Terreiro do Paço, e uns camafeus com o
+busto de D. Maria <small>I</small>. Tanto aquella, como estes, são
+copias de medalhas abertas em 1775, por um dos
+nossos mais notaveis gravadores e illustre filho d'Aveiro&mdash;João de Figueiredo.</p>
+
+<p>Depois d'estas tentativas para obter uma verdadeira
+porcelana outras se fizeram em Coimbra, mas
+sem melhor, ou nem mesmo igual, resultado, até que
+o snr. José Ferreira Pinto Basto, estabeleceu um pequeno
+laboratorio chimico no jardim do seu palacio do
+largo das Duas Egrejas em Lisboa, isto em 1820 ou
+1822, afim de descobrir barros com os requisitos necessarios
+para fabricar porcelana.</p>
+
+<p>Parece que quem incutiu no animo esclarecido<span class="pn">{23}</span>
+d'aquelle benemerito patriota esta ideia foi o general
+José Pedro Celestino Soares, que possuia alguns dos
+produtos obtidos por Bartholomeu da Costa.</p>
+
+<p>Foram, segundo consta, pouco animadores os resultados
+agora obtidos pelo snr. José Ferreira Pinto
+Basto, mas como o seu animo emprehendedor não tolerava
+peias nem tão pouco afrouxava perante qualquer
+contrariedade fosse ella qual fosse, resolveu proseguir
+as experiencias iniciadas, fundando desde logo uma
+grande fabrica.</p>
+
+<p>O local aprazado foi Aveiro, e isto por a tradicção
+indicar como sendo d'aqui o barro de que Bartholomeu
+da Costa obteve a sua chamada porcelana.</p>
+
+<p>Apesar de possuir as duas magnificas propriedades
+da Ermida e da Vista Alegre, o snr. José Ferreira
+Pinto Basto, quiz estabelecer a nova fabrica na propria
+cidade, e para isso entabolou negociações com o proprietario
+da Quinta dos Santos Martyres, para a adquirir,
+o que não poude conseguir por esta propriedade
+fazer parte de um antigo vinculo. Attenta esta difficuldade,
+resolveu então estabelecer a fabrica na Vista
+Alegre, para o que se principiaram a fazer ali differentes
+edificações.</p>
+
+<p>Foi em janeiro de 1824, que principiaram os trabalhos
+para a fabrica, a que veio presidir um dos filhos
+do fundador, o snr. Augusto Ferreira Pinto Basto.</p>
+
+<p>Uma das obras que primeiro se concluiu foi um
+pequeno forno para cozer louça, feito segundo as indicações
+e immediata direcção de Domingos Raimão,
+oleiro d'uma fabrica de Coimbra.</p>
+
+<p>Em abril fizeram-se as primeiras experiencias para
+obter a porcelana. Realisou-as Bento Fernandes, mestre
+de olaria na fabrica de Rato, com o barro de Util,<span class="pn">{24}</span>
+concelho de Cantanhede,&mdash;e o de Talhadella, do concelho
+de Albergaria a Velha. Foi pouco satisfatorio o
+resultado obtido, mas ainda assim a ideia da fundação
+da fabrica não soffreu quebra de sorte que o snr. José
+Ferreira Pinto Basto pediu a El-Rei D. João <small>VI</small> para
+que lhe fossem concedidos os privilegios de que gosava
+a fabrica de vidros da Marinha Grande, o que
+obteve como consta dos documentos que segue:</p>
+
+<p>«D. João, por graça de Deus, rei do reino unido
+de Portugal, Brazil e Algarves, d'aquem e d'além mar
+em Africa, Senhor de Guiné, etc., etc.</p>
+
+<p>Faço saber que José Ferreira Pinto Basto me representou
+por sua petição, que elle pretendia erigir
+para estabelecimento de todos os seus filhos com egual
+interesse, ainda mesmo os menores logo que cheguem
+á idade competente, uma grande fabrica de louça, porcelana, vidraria e processos chimicos, na sua quinta
+chamada da Vista Alegre da Ermida, freguezia de Ilhavo,
+comarca de Aveiro, visinha á barra, pedindo-me
+que eu houvesse por bem de auctorisar este estabelecimento
+na fórma proposta e conceder-lhe a isenção
+de direitos de todos os materiaes que necessarios lhe
+forem para a sua laboração; assim como tambem das
+manufacturas que exportar para o Brazil ou para qualquer
+parte deste reino e dos paizes estrangeiros, e
+todas as mais graças, privilegios e isenções de que
+gosam, ou gosarem de futuro as fabricas nacionaes, e
+particularmente a dos vidros da Marinha Grande, no
+que lhe forem applicaveis; e tendo em consideração,
+ao dito requerimento, e constando-me por informação
+do corregedor da comarca, a que mandei proceder,
+que o projectado estabelecimento deve ser de grande
+utilidade para os povos pela vastidão dos seus differentes<span class="pn">{25}</span>
+ramos; que é construido em edificio proprio, em
+que já se teem feito avultadissimas despezas; que o
+seu local é o mais vantajoso por ficar nas margens de
+um rio navegavel, rodeado de pinheiros e outras materias
+combustiveis, assim como de excellentes barros,
+areias finas e brancas, e seixo crystallisado, tudo proprio
+para as vidrarias e porcelanas, como se tem verificado
+por felizes ensaios; e finalmente que o supplicante
+é um dos negociantes mais ricos e grande proprietario
+de muitos predios, tanto n'aquella comarca,
+como nas do Porto e Penafiel, sendo além d'isso dotado
+de um genio emprehendedor, a quem as difficuldades
+não embaraçam, nem desanimam as despezas; por todos
+estes motivos: hei por bem de approvar o mesmo
+estabelecimento na fórma pedida, concedendo-lhe todas
+as graças, privilegios, e isenções de que gosam ou
+vierem a gosar as outras fabricas de identica natureza:
+e mando a todas as justiças e mais pessoas a quem o
+conhecimento d'esta pertencer, que assim o cumpram
+e façam cumprir como n'ella se contêm, sem duvida
+ou embaraço algum.</p>
+
+<p>El-Rei nosso senhor o mandou pelos ministros
+abaixo assignados, deputados da real junta do commercio,
+agricultura, fabricas e navegação. <em>Anselmo de Souza
+Machado Corrêa de Mello</em> a fez. Lisboa, em 1 de julho
+de 1824.&mdash;D'esta 800 reis.&mdash;No impedimento do deputado
+secretario, <em>José Antonio Gonçalves</em> a fez escrever.&mdash;(Assignados) <em>José Manoel Placido de Moraes e
+José Antonio Gonçalves</em>».</p>
+
+<p>«Seguem-se os registos da real junta do commercio
+de 22 de fevereiro de 1826; da alfandega de Lisboa
+de 23 de fevereiro de 1826: da alfandega do Porto
+de 1 de maio de 1826; da alfandega de Aveiro de<span class="pn">{26}</span>
+19 de maio de 1826; da alfandega de Villa do Conde
+de 9 de junho de 1825».</p>
+
+<hr style="width: 20%;">
+
+<p>«D. João, por graça de Deus, imperador do Brazil,
+e rei de Portugal e dos Algarves, d'aquem e d'além
+mar em Africa, Senhor de Guiné, etc., etc.</p>
+
+<p>Faço saber aos que esta provisão virem, que subindo
+á minha imperial e real presença, pela real junta
+do commercio, a consulta a que mandei proceder sobre
+o requerimento de José Ferreira Pinto Basto, em que
+pedia privilegio exclusivo por vinte annos, para o fabrico
+de porcelana, vidraria, e processos chimicos da
+sua fabrica, estabelecida e approvada por provisão de
+1 de julho de 1824, na sua quinta da Vista Alegre,
+sita no termo e freguezia de Ilhavo, comarca de Aveiro,
+supplicando igualmente a prohibição absoluta de se
+exportarem as materias primas da mesma porcelana,
+para que outros emprehendedores não usem tirar commodo
+dos assiduos trabalhos, fadigas e grandes despezas,
+que empregou na descoberta das referidas materias
+nas visinhanças do Porto e Aveiro, sendo elle o
+primeiro descobridor. E constando pela mencionada
+consulta e averiguações que lhe precederam, estar o
+supplicante nas circumstancias de obter as graças que
+implora: fui servido conformar-me com o parecer d'ella,
+por minha immediata resolução de 5 de dezembro
+do dito anno: e hei por bem conceder ao supplicante
+o exclusivo que pede por tempo de vinte annos, ampliando
+o de quatorze, que a lei em geral permitte;
+em attenção á utilidade e circumstancias particulares
+d'este estabelecimento; ficando-lhe outrosim concedida<span class="pn">{27}</span>
+a absoluta prohibição de se exportarem as materias
+primas para a porcelana, descobertas pelo supplicante,
+e confirmados os mesmos privilegios e prorogativas
+de que gosam as mais fabricas do reino como se expressa,
+na primeira provisão. E mando ás justiças e
+mais pessoas a quem o conhecimento d'esta pertencer,
+que a cumpram e guardem conforme n'ella se contém,
+fazendo tranzito pela chancellaria mór do reino».</p>
+
+<p>Pagou de novos direitos 540 reis, que se carregaram
+ao thesoureiro d'elles a fl. 165 v. do livro 40.º e
+se registou o conhecimento a fl. 119 v. do livro 96.º</p>
+
+<p>O imperador e rei nosso senhor o mandou pelos
+ministros abaixo assignados deputados da real junta
+do commercio, agricultura, fabricas e navegação.&mdash;<em>José Antonio Ribeiro Soares</em> a fez em Lisboa, a 3 de
+março de 1826.&mdash;D'esta 800 reis.&mdash;Na ausencia do
+deputado secretario, a fez escrever e assignou <em>Luiz
+Antonio Rebello e José Antonio Gonçalves</em>».</p>
+
+<p>Seguem-se os mesmos registos copiados na provisão
+anterior.</p>
+
+<p>Estava portanto fundada a fabrica de porcelana,
+mas restava descobrir o kaulin de que ella se obtem.
+Fabricava-se louça é verdade, mas esta louça era má
+faiança em vez de boa porcelana. Procuraram-se barros
+em differentes pontos do paiz, e construiram-se
+novos fornos, conforme plantas vindas de Sevres, mas
+nada disto deu o resultado que se desejava, de sorte
+que em 1826 o fundador contractou na Saxonia tres
+artistas para virem dirigir o fabrico da porcelana e
+ensinal-o aos operarios portuguezes.</p>
+
+<p>Dos tres só vieram dois, sendo apenas verdadeiro
+artista um, José Scórder, pois o outro não passava de
+um charlatão. Scórder, que era um modelador de merito,<span class="pn">{28}</span>
+prestou importantes serviços á fabrica, creando
+bons discipulos que lhe perpetuaram o nome.</p>
+
+<p>Como o artista contractado na Allemanha, que não
+chegou a partir, apesar de haver recebido já um importante
+subsidio para as despezas da viagem, era
+quem devia tomar a direcção da officina de pintura,
+contractou o snr. José Ferreira Pinto Basto, n'aquelle
+mesmo anno, dois pintores de louça, João Maria Fabri
+e Manoel de Moraes, discipulos da Casa-pia de Lisboa.
+Aquelle morreu um anno depois de ter vindo para a
+Vista Alegre; este conservou-se ali até 1833, não como
+pintor, mas sim como esculptor, produzindo n'este genero
+bons trabalhos.</p>
+
+<p>Tudo parecia agourar um feliz resultado, mas tal
+resultado cada vez se ia tornando mais demorado e
+incerto, de sorte que a empresa teria succumbido ás
+innumeras difficuldades que surgiram de todos os lados,
+se á testa d'ella e dominando tudo não estivesse
+a incansavel actividade, a poderosa energia, e invencivel
+perseverança do snr. José Ferreira Pinto Basto.</p>
+
+<p>Os operarios estrangeiros conheciam o trabalho
+dos materiaes a que nos seus paizes estavam habituados,
+e não podiam fazer obra por aquelles que na Vista
+Alegre se lhes offereciam; a sua aptidão sendo como
+era puramente pratica não podia por si só crear ou
+modificar processos; necessitava que o genio inventivo
+e a sciencia viessem em seu auxilio. O snr. Ferreira
+Pinto reconheceu esta verdade, de sorte que em 1830
+mandou seu filho o snr. Augusto Ferreira Pinto Basto,
+a França, a fim de estudar na fabrica de Sevres, verdadeira
+escola das artes ceramicas, os melhores processos
+e meios de investigação.</p>
+
+<p>Ali recebeu aquelle cavalheiro sabios conselhos e<span class="pn">{29}</span>
+preciosas indicações do director d'aquella importante
+manufactura, o illustre Brogniart, que lhe fez ver a
+completa impossibilidade de se fabricar porcelana, sem
+o kaulin, que era o que faltava na Vista Alegre.</p>
+
+<p>O snr. Augusto Ferreira Pinto regressou a Portugal
+trazendo amostras do kaulin empregado em Sevres,
+e depois da sua chegada os ensaios e experiencias continuaram
+incessantemente na Vista Alegre, mas sempre
+sem melhor resultado, até que em 1834 se descobriu
+o verdadeiro kaulin.</p>
+
+<p>O snr. Ferreira Pinto tinha mandado vir de differentes
+pontos do paiz, por intermedio dos administradores
+do contracto do tabaco, de que elle era arrematante,
+amostras de quantos barros havia mais ou menos
+conhecidos, a fim de se ver se entre elles se encontrava
+o desejado kaulin. Estes barros eram todos submettidos
+a um exame chimico, mas com resultado sempre
+negativo para o fim que se tinha em vista.</p>
+
+<p>Ao mesmo tempo que se procedia a estes exames
+um aprendiz de oleiro, fazia por conta propria algumas
+experiencias não só com aquelles barros, mas com outros
+que a pedido seu lhe eram trasidos por operarios
+que dos concelhos de Ovar e Feira vinham trabalhar
+nas construcções que na Vista Alegre se estavam fazendo.
+Entre estes barros veio o kaulin de Val Rico,
+d'aquelle ultimo concelho; trouxe-o um trolha e foi reconhecido
+pelo aprendiz oleiro que, no meio da sua
+humilde obscuridade, prestou o grandiosissimo serviço
+á fabrica de lhe descobrir a materia prima para o fabrico
+da porcelana, serviço este que não tinha podido
+ser prestado por os administradores do contracto do
+tabaco, do paiz inteiro, que d'isso haviam sido encarregados.<span class="pn">{30}</span></p>
+
+<p>O descobridor pois do kaulin empregado hoje na
+Vista Alegre foi Luiz Pereira Capote, natural de Ilhavo,
+que falleceu em 1870.</p>
+
+<p>Descoberto o kaulin, principiou desde então a fabrica
+a produzir porcelana dura, datando portanto de
+1834 o seu fabrico, que se foi aperfeiçoando gradualmente,
+de fórma que em 1840 principiou a Vista Alegre,
+a poder competir em qualidade com fabricas estrangeiras,
+o que não succedeu com os preços, pois
+produzia só caro.</p>
+
+<p>O elevado dos preços difficultou durante alguns
+annos a extracção de louça, tornando-a pouco conhecida.
+Os armazens da fabrica estavam atulhados de
+louça, quando em maio de 1846 rebentou no Minho a
+revolução popular. Os proprietarios da fabrica receiosos
+de que ella fosse victima da furia popular annunciaram
+a venda por lotes de toda a louça em deposito,
+venda que se realisou por preços bastante convidativos,
+que fez com que os productos da Vista Alegre se espalhassem,
+divulgando o seu bem acabado e a sua barateza.
+Estava aberto um novo periodo de prosperidade
+para a fabrica, mas este periodo só principiou a sentir-se
+de 1848 em diante, pois o resto do anno de 1846
+e maior parte do de 1847, a fabrica nada produziu,
+pois estava fechada em resultado dos acontecimentos
+politicos d'essa epocha.</p>
+
+<p>Prosperando sempre d'anno para anno, a fabrica
+chegou ao apuro em que hoje está, apresentando largas
+tendencias para progredir, tal é a activa e intelligente
+direcção que hoje tem. Para se avaliar dos progressos
+da fabrica basta dizer-se que os seus productos
+tem sido premiados em todas as exposições de
+Londres, Paris, Philadelphia, Vienna d'Austria, Rio de<span class="pn">{31}</span>
+Janeiro e Porto; do consumo que tem obtido os mesmos
+productos são prova irrefutavel os seguintes algarismos:</p>
+
+<p>Em 1860 . . . . . 21:949$000</p>
+
+<p>Em 1870 . . . . . 26:994$000</p>
+
+<p>Em 1880 . . . . . 49:750$000</p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>Conjunctamente com a fabrica de porcelana, fundou
+o snr. José Ferreira Pinto, na Vista Alegre no
+mesmo anno de 1824 uma outra de vidro e cristal,
+que lhe ficou annexa. Os primeiros trabalhos foram
+dirigidos por um allemão, Francisco Miller, que havia
+annos já estava dirigindo a do Côvo, no concelho de
+Oliveira d'Azemeis, o qual foi substituido em 1826 por
+João da Cruz e Costa, de Lisboa, que esteve a dirigir
+o fabrico do vidro até 1834.</p>
+
+<p>Foram desde logo bastante satisfatorios os resultados
+obtidos, de sorte que o fundador procurou pol-a
+logo a par das melhores do estrangeiro, mandando vir
+mestres experimentados para as differentes officinas de
+lapidação e floristagem.</p>
+
+<p>Para aquella contractou em 1820 na Inglaterra
+Samuel Hunles, que veio para a Vista Alegre ganhar
+2$400 reis diarios, e ali esteve até 1828, deixando
+bons discipulos.</p>
+
+<p>O mestre de florista era italiano, e não passou de
+Lisboa, onde chegou em 1827, por alguem lhe affirmar
+que era muito miasmatico o clima da Vista Alegre.
+Para ali foram os aprendizes d'esta officina, que ao fim
+de tres annos de pratica foram dados por promptos,<span class="pn">{32}</span>
+affirmando o mestre que um d'elles João Ferreira Ribeiro,
+de Vagos, estava já mais mestre do que elle, o
+que não era sem fundamento, pois veio para a Vista
+Alegre dirigir a officina de florista o que fez com talento.</p>
+
+<p>No periodo decorrido de 1836 a 1840, foi enorme
+a producção do vidro, e todo da melhor qualidade, pois
+alguns dos productos fabricados n'esta epocha são de
+uma perfeição inexcedivel.</p>
+
+<p>Quando n'aquelle anno o fabrico da porcelana entrou
+na phase de aperfeiçoamento e progresso a que
+já nos referimos, o do vidro principiou a decahir consideravelmente
+até que cessou de todo em maio de
+1846.</p>
+
+<p>Em meados de 1848 continuou a fabricar-se mas
+em muito menor quantidade e esta mesma só de liso,
+pois os lapidarios e floristas, durante aquelle interregno,
+uns tinham ido para a fabrica da Marinha Grande,
+outros applicaram-se a outros misteres, de fórma que
+os tempos aureos da fabricação do vidro na Vista Alegre,
+passaram para nunca mais voltarem.</p>
+
+<p>Em 1880 acabou de todo a fabrica de vidro, demolindo-se
+o respectivo forno, mas mesmo já até a
+esta epocha eram grandes as interrupções que se davam
+com o seu fabrico, estando por vezes muitos mezes
+sem trabalhar.</p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>Annexo á fabrica de porcelana e vidro, houve tambem
+um laboratorio chimico, e a elle se referem os
+reaes Alvarás de 1 de julho de 1824 e 3 de março de<span class="pn">{33}</span>
+1826. Foi fundado como aquellas fabricas em 1824.
+De 1827 a 1832 teve por director D. Euzebio Roiz,
+official de cavallaria do exercito hespanhol e chimico
+muito distincto, que veio para Portugal como emigrado
+em 1820. Depois da sua sahida acabou o laboratorio,
+do qual não podemos obter mais noticias.</p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>De 1827 a 1835 foram os productos da fabrica
+marcados com um V. A. entre duas palmas rematadas
+por uma corôa. Esta marca era gravada, sendo o carimbo
+aberto por Manoel de Moraes, de quem já fizemos
+menção. De 1838 a 1861 não foi geralmente marcada
+a louça, pois só em alguns serviços d'almaço de
+maior preço apparece um V. A. dourado. De 1861 em
+diante é marcada toda a louça, tanto branca como pintada,
+com um V. A. em azul.</p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>Com o fim de crear artistas habeis para as duas
+fabricas de porcelana e vidro, fundou em 1826 o snr.
+José Ferreira Pinto Basto, na Vista Alegre um collegio
+com o internato, onde se ensinava, além d'um dos
+misteres da fabrica, instrucção primaria e musica.</p>
+
+<p>A inauguração foi feita com grande solemnidade,
+vindo assistir a ella o fundador.</p>
+
+<p>Os primeiros alumnos admittidos foram treze, e
+o director José Vicente Soares, de Penafiel. Esta instituição<span class="pn">{34}</span>
+acabou em 1842, chegando a ter nos ultimos
+annos quarenta alumnos.</p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>Como dependencia da fabrica, ha tambem na Vista
+Alegre, um pequeno mas elegante theatro, que além
+da galeria ou camarote destinado aos proprietarios
+da fabrica, tem platea com capacidade para cento e oitenta
+logares. Foi fundado em 1851, realisando-se a inauguração
+com as comedias <em>Um duello em Campolide</em>, <em>O
+quarto de duas camas</em>, <em>Util e agradavel</em>.</p>
+
+<p>O panno de bocca e bem assim o tecto foi pintado
+pelo director da officina de pintura Chartier Rousseau.
+Aquelle representa a Vista da Praia Grande de Macau,
+e este Apollo e as nove musas.</p>
+
+<p>Anteriormente á fundação do actual theatro houveram
+dois, datando a fundação do mais antigo de
+1825 ou 1827, e que foi inaugurado com a representação
+da comedia <em>O gallego lorpa</em>.</p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>Como dependencia do collegio organisou-se tambem
+em 1826 uma phylarmonica privativa da fabrica,
+e composta unica e exclusivamente de operarios d'ella.</p>
+
+<p>Esta phylarmonica ainda continua a existir e tem
+tido desde o seu principio até hoje os seguintes regentes:&mdash;José Vicente Soares, de 1820 a 1828: Prudencio
+Apolinario, de 1830 a 1834; Filippe Marcelino
+Classe, de 1834 a 1838; Antonio Dias, de 1838 a<span class="pn">{35}</span>
+1845: João Antonio Ferreira, de 1847 a 1851; Antonio
+Dias, de 1852 a 1866; e Joaquim Martins Rosa,
+de 1867, em diante.</p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>Os pruductos da fabrica da Vista Alegre tem sido
+premiados com medalhas de cobre e prata em todas
+as exposições do Londres, Paris, Philadelphia, Vienna
+d'Austria, Rio de Janeiro e Internacional do Porto.</p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>A fabrica da Vista Alegre tambem tomou parte
+muito activa nos acontecimentos politicos de 1846 e
+1847. Quando em 14 de maio d'aquelle anno a cidade
+de Aveiro adheriu ao pronunciamento popular iniciado
+no Minho, a população operaria da Vista Alegre
+pronunciou-se tambem e fraternisando com os que n'aquella
+cidade se haviam revolucionado, marchou com
+elles para Cantanhede e d'aqui para Coimbra, a fim de
+receber ordens e instrucções da junta governativa, que
+ali se havia installado. De Coimbra marcharam os
+operarios da Vista Alegre e os populares d'Aveiro para
+Villa Nova de Gaya, onde se conservaram até que o
+Porto adheriu tambem á causa que elles defendiam.</p>
+
+<p>Feita a revolução no Porto em 9 d'outubro contra
+o <em>golpe de Estado</em> de 6 do mesmo mez, os operarios
+da Vista Alegre abraçaram logo com enthusiasmo a
+causa da junta, procedendo immediatamente á organisação
+d'um corpo de voluntarios, com o nome de Batalhão<span class="pn">{36}</span>
+Nacional do Concelho d'Ilhavo. No dia 23 de outubro
+marchou o batalhão para o Porto, levando por
+commandante um dos proprietarios e administrador da
+fabrica, o snr. Alberto Ferreira Pinto Basto, e por
+major o director da mesma fabrica, João Maria Rissoto.</p>
+
+<p>No dia 28 de outubro fez o batalhão da Vista Alegre,
+pois era assim que era conhecido, a sua entrada
+no Porto, indo á sua frente o Visconde de Sá da Bandeira,
+que chegando n'esse mesmo dia de Lisboa, quiz
+honrar os valentes operarios, commandando-os n'aquelle
+dia.</p>
+
+<p>Organisando-se a divisão com que o Visconde de Sá
+da Bandeira, devia operar em Traz-os-montes contra as
+forças do Barão do Casal, o batalhão da Vista Alegre
+foi um dos escolhidos para d'ella fazerem parte, e
+como tal entrou na acção de Valle Passos, que teve
+logar em 10 de novembro. São bem conhecidos os resultados
+d'esta acção, para que os relatemos aqui. Como
+o nosso proposito é só fallarmos da Vista Alegre,
+diremos que o batalhão d'este nome, entrou com galhardia
+em fogo sustentando-o com vigor até mesmo
+depois da deserção dos regimentos 3 e 15 de infanteria.
+Não podendo, porém, resistir ao choque da cavallaria
+e ao d'um d'aquelles regimentos, que o carregára
+á bayoneta, o batalhão retirou com alguma confusão
+para a rectaguarda, unindo-se depois ao resto das
+forças com que Sá da Bandeira voltou para o Porto.</p>
+
+<p>Durante o resto da lucta não tomou parte em
+qualquer outro combate, mas guarneceu por vezes differentes
+pontos das linhas e alguns d'elles muito importantes,
+até que teve de depôr as armas como as
+demais forças populares, em virtude da convenção assignada
+em Gramido em 21 de junho de 1847.<span class="pn">{37}</span></p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>No dia 13 de cada mez ha na Vista Alegre, um
+mercado muito importante, conhecido pela triplice
+denominação da <em>Feira dos treze, da Ermida, e do Bispo</em>.
+Este mercado foi estabelecido a requerimento do juiz,
+vereadores e mais povo das villas da Ermida e Ilhavo,
+por alvará de 15 de junho de 1693, que ordenou que
+o mercado mensal se tornasse em annual no dia 13 de
+setembro, dia da invocação da padroeira da capella da
+Vista Alegre&mdash;Nossa Senhora da Penha de França.</p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>Fizemos já a historia da fabrica, é justo que agora
+d'ella façamos descripção ainda que rapida, e que digamos
+tambem alguma cousa do systema de fabrico
+n'ella empregado.</p>
+
+<p class="centrado">DESCRIPÇÃO DA FABRICA</p>
+
+<p>É modestissima a apparencia exterior da fabrica,
+de fórma que a impressão por ella produzida ao forasteiro
+que pela vez primeira a visita, nem por sombras
+lhe dará a conhecer que elle se acha frente a frente
+com um dos mais importantes estabelecimentos industriaes
+não só do paiz, mas até da Peninsula.</p>
+
+<p>Correndo parallelos com um grande parque, pelo
+lado do norte, estão os armazens da louça branca e
+pintada, loja de vendas e escriptorio.</p>
+
+<p>Entre estas duas dependencias da fabrica é que<span class="pn">{38}</span>
+fica a entrada que dá accesso a um pateo arborisado, á
+volta do qual estão os armazens já referidos, a casa do
+deposito, e officina de fórmas e moldes, e bem assim
+a das <em>gazetas</em>, deposito de material de incendios, casa
+onde se guardam os restos do antigo museu da fabrica,
+officina de carpentaria, e entrada para a estancia das
+lenhas.</p>
+
+<p>São vastos os armazens de deposito de louça pintada
+e branca, especialmente o d'esta ultima, que era onde
+antigamente estavam os fornos de estender vidraça.</p>
+
+<p>A officina de moldes e <em>gazetas</em> está bem montada
+como todas as restantes da fabrica; no deposito do material
+de incendios, ha duas bombas, machados, e canecos
+de pau para agua, em profusão, e outros objectos
+proprios, tudo preparado e prompto para acudir a
+qualquer sinistro.</p>
+
+<p>É provisoria a casa onde estão os productos que
+compõem o chamado muzeu da fabrica, o que é deveras
+para lamentar, pois tornam-se dignos d'uma boa
+collocação, a fim de poderem ser examinados e apreciados,
+como merecem.</p>
+
+<p>A estancia das lenhas fica ao norte do edificio e está
+completamente isolada d'elle. Mede 67,<sup>m</sup>60 de comprimento
+e 52,<sup>m</sup> de largura. A sua superficie é rectangular,
+tendo á volta, os telheiros que abrigam a lenha
+das chuvas.</p>
+
+<p>D'aquelle pateo passa-se para as officinas da olaria.
+São duas salas bastante espaçosas, onde ha 38 rodas
+d'oleiro; junta a estas está uma outra mais pequena,
+que é a officina de aprendisagem e deposito de modelos.
+Junto d'aquellas ha um terreno ajardinado onde
+estão os telheiros para seccar a louça.</p>
+
+<p>Da officina de olaria passa-se a um longo corredor<span class="pn">{39}</span>
+ao fim do qual estão as officinas de pintura. São duas
+as salas destinadas para a pintura, cheias de luz e bem
+ventiladas. Ornam-lhe as paredes esboços de V. Rosseau,
+e placas de porcelana com o retrato do fundador
+da fabrica, brasões d'armas, quadros de costumes,
+fructos, etc.</p>
+
+<p>Á direita d'aquelle corredor fica a lithographia.
+Montada, segundo todas as exigencias do fim a que é
+destinada, funcciona apenas de 1880 em diante. São
+bastante satisfatorios os resultados obtidos pelo processo
+lithographico, que tem a grande vantagem de ficar
+muito mais barato do que o geralmente seguido na
+pintura da porcelana, e aqui desde principio adoptado.</p>
+
+<p>Em seguida á lithographia fica o deposito da louça
+que hade ser pintada e do lado fronteiro a casa das
+<em>muflas</em> onde ha tambem duas estufas para seccar a louça
+pintada.</p>
+
+<p>Da sala da pintura desce-se para o deposito do
+barro preparado e casa da amassadura, e d'aqui para
+a officina de trituração, onde se acham montados as
+galgas e pisões a que dá movimento uma machina a
+vapor.</p>
+
+<p>Para além da machina estão as estufas para seccar
+areia, alimentadas com o calor perdido das caldeiras,
+um torno a que ella dá movimento, e as officinas de
+serralheria. Parallela com esta parte do edificio, que é
+a mais vasta de todo elle, fica a estancia do carvão e
+differentes telheiros para a secca do barro. Proximo,
+está a officina de lavagem e escolha de materiaes empregados
+no fabrico da porcelana.</p>
+
+<p>Os fornos, esses, tres ficam pouco acima d'estas ultimas
+officinas, e o outro que é o maior, junto ao deposito<span class="pn">{40}</span>
+da louça branca, ao pé do qual fica tambem a
+officina de vidrar.</p>
+
+<p>Ao norte da casa dos tres fornos e do lado fronteiro
+do caminho do serviço da fabrica fica a officina de esculptura,
+o laboratorio em que se opera a solução do oiro
+e preparação de algumas tintas. Está tambem ahi junto
+a caldeira para a calcinação do gesso.</p>
+
+<p>As materias primas empregadas no fabrico da porcelana
+são em toda a parte, em que ella se fabrica,
+as argilas kaulinicas, o quartzo e o feldspatho. Aquellas,
+vêem para a Vista Alegre, de Valle Rico, concelho
+da Feira e este de Villa Meã, Mangualde e Porto.</p>
+
+<p>As argilas kaulinicas são aqui lavadas e passadas
+por peneiras a fim de se separarem os corpos em diversos
+estados de aggregação. As areias grossas que
+dellas ficam são depois empregadas como quartzo.</p>
+
+<p>O quartzo e o feldspatho são escolhidos primeiramente
+tambem afim de evitar que levem grandes porções
+d'oxido de ferro, que ordinariamente lhe anda
+unido, depois calcinam-se e levam-se para as galgas.</p>
+
+<p>Os differentes materiaes que hão de compôr a porcelana,
+depois de devidamente moidos e lavados são
+compostos e em seguida levados ás mós horisontaes
+para os moer e misturar, e em seguida guardados em
+depositos até adquirirem um certo grau de consistencia.</p>
+
+<p>D'estes depositos vae a massa para a casa da
+amassadura onde é lançada em vasos de barro poroso,
+de fórma de pyramides conicas troncadas, a que se dá
+o nome de <em>coques</em>.</p>
+
+<p>D'estes <em>coques</em> é a massa levada para uma larga
+banca de pedra, a fim de ser amassada a pés. São dois
+ou mais homens que amassam a porcelana na banca<span class="pn">{41}</span>
+referida; amassada ella dividem-a em muitas fracções,
+com a fórma de cones, e que denominam <em>pélas</em>.</p>
+
+<p>Estas <em>pélas</em> são em seguida levadas para a officina
+das rodas de oleiro, onde são separadamente amassadas
+á mão sobre uma pequena banca de marmore, a
+fim da massa ficar mais unida e homogenea, e bem
+assim desapparecerem alguns veios escuros que ás vezes
+adquire, ficando assim apta para ser obrada.</p>
+
+<p>O methodo empregado na Vista Alegre na execução
+das differentes peças de porcelana, é o de <em>encher</em>
+e o de <em>moldar</em>.</p>
+
+<p>As caixas refractarias&mdash;<em>gazetas</em>&mdash;onde se mettem
+as peças para serem levadas aos fornos são fabricadas
+por meio de moldes de gesso, variando as suas dimensões
+conforme as peças que devem conter.</p>
+
+<p>Bem seccas as peças que sahiram da roda do oleiro,
+ou dos moldes, procede-se ao seu enfornamento,
+collocando-se primeiramente dentro das gazetas ou sem
+ellas.</p>
+
+<p>Levadas ao forno são collocadas no segundo pavimento,
+pois agora só recebem o calor brando, a que
+chamam&mdash;<em>chacote</em>.</p>
+
+<p>Recebida esta primeira cosedura, vão para a officina
+de vidrar. O vidrado é dado por immersão das
+peças dentro d'uma grande tina em que se acham diluidos
+em agua os corpos que compõem o esmalte.</p>
+
+<p>As peças mettem-se e tiram-se rapidamente ficando
+tambem logo seccas como se não houvessem recebido
+banho algum.</p>
+
+<p>O vidrado é tirado dos pontos de contacto e dado
+nos pontos em que a peça não o poude receber na
+parte coberta pela mão. Os retoques são feitos com
+pincel.<span class="pn">{42}</span></p>
+
+<p>Mettidas novamente dentro das <em>gazetas</em>, sobre cujo
+fundo, se lança alguma areia, afim de que a elle ellas
+se não peguem, são outra vez enfornadas mas agora
+no outro pavimento do forno, a fim de receberem o
+grande calor que termina a cosedura.</p>
+
+<p>As <em>gazetas</em> são collocadas umas sobre outras, formando
+pilhas em toda a altura do forno, a que se dá
+o nome de <em>fios</em>.</p>
+
+<p>Feito o enfornamento, em que trabalham oito forneiros
+e um trabalhador, accendem-se as quatro fornalhas
+que tem o forno, fazendo para que a intensidade do
+lume, seja a mesma, e ao mesmo tempo em todas as
+fornalhas, a fim de estabelecer a uniformidade da temperatura.</p>
+
+<p>Passadas 10 horas de lume brando, a que chamam
+<em>lume de esquenta</em>, tapam-se as boccas dos fornos
+com tijolos refractarios, afim de concentrar a força do
+calor interiormente, começando então o grande calor,
+a que dão o nome de <em>lume de calda</em>, renovando successivamente
+a lenha nas fornalhas em maior quantidade
+que para lume brando, conservando-se assim o
+fogo bem activo e uniforme ordinariamente por espaço
+de vinte e quatro horas, chegando algumas vezes a
+trinta e seis.</p>
+
+<p>Conhecendo-se que está completa a cosedura, tira-se
+a lenha das fornalhas, diminuindo gradualmente
+d'este modo o calor dentro do forno, e conservando a
+louça dentro d'elle até que esteja completamente fria,
+para então se começar a desenfornar.</p>
+
+<p>De entre as peças vidradas separam-se então as
+que tem de ser pintadas, para o que são conduzidas
+para um armazem junto ás salas da pintura.</p>
+
+<p>São muitas as côres usadas na pintura da porcelana,<span class="pn">{43}</span>
+quasi todas vitreficaveis e obtidas por meio de
+combinações de oxidos, saes metallicos e fundentes.</p>
+
+<p>Os oxidos empregados de preferencia são o oxido
+de choromio, o de ferro, o de uranio, de manganez,
+de zinco, de cobalto, de antimonio, de cobre, de estanho
+e de iridium.</p>
+
+<p>Os principaes saes empregados são o chromato
+de ferro, de barita, de chumbo e algumas vezes o chloreto
+de prata.</p>
+
+<p>Depois de pintada a louça vae á estufa para seccar
+as tintas e em seguida para dentro das <em>muflas</em> a
+fim de fixar em si as tintas, ganhando as respectivas
+côres, as quaes se vetrificam com os fundentes.</p>
+
+<p class="centrado">MACHINAS E FORNOS</p>
+
+<p>A machina a vapor, collocada na officina de trituração,
+a que já nos referimos, foi feita em Lisboa por
+Bachelay. Tem duas caldeiras de fogo central e força
+de 14 cavallos. Foi assente em 1855 por Daniel Werlong,
+artista de raro merito com o curso de artes e officios
+em Paris, que durante alguns annos dirigiu a
+officina de serralheria da fabrica.</p>
+
+<p>A chaminé que dá vasão ao fumo das caldeiras
+tem 14,<sup>m</sup> de altura e foi construida em 1879, por operarios
+do estabelecimento.</p>
+
+<p>A machina communica movimento por meio d'uma
+correia sem fim, a um tambor fixo no veio principal o
+qual o transmitte por meio de engrenagens aos differentes
+engenhos destinados a moer e misturar os materiaes,
+empregados no fabrico da porcelana.</p>
+
+<p>Ha quatro fornos destinados para coser a porcelana,
+todos com a fórma cylindrica, construidos com<span class="pn">{44}</span>
+tijolos refractarios fabricados no estabelecimento. Cada
+um d'elles tem quatro fornalhas e dois andares; o
+maior tem cinco.</p>
+
+<p>No inferior colloca-se a louça que tem de ser esmaltada,
+elevando-se a temperatura ao rubro branco,
+e no superior a que tem apenas a receber o calor brando
+ou pequeno fogo que lhe dá o poder absorvente
+para ser vidrada.</p>
+
+<p>No <em>chacote</em> a cosedura adquire o rubro cereja proximamente
+a temperatura da fusão de ferro. O <em>chacote</em>
+é aquecido pela chamma perdida do primeiro compartimento.</p>
+
+<p>Sobre as fornalhas dos fornos ha aberturas rectangulares,
+chamadas <em>vigias</em> por onde se <em>observa</em> o
+grau de calor e se tiram as amostras, sobre as quaes
+se verifica directamente o estado da cosedura.</p>
+
+<p>Além dos quatro grandes fornos ha outros mais
+pequenos destinados a fixar as tintas, que são as <em>muflas</em>.
+Estes fornos, se tal nome se lhe pode applicar,
+são caixas feitas de argila refractaria, separadas umas
+das outras por paredes de igual natureza.</p>
+
+<p>Contém varios compartimentos formados por folhas
+de ferro, a que servem d'apoio calços tambem d'argila
+refractaria.</p>
+
+<p>São oito as <em>muflas</em>, tendo cada uma d'ellas fornalha
+independente.</p>
+
+<p class="centrado">*<br>*&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;*</p>
+
+<p>Escripta a historia da fabrica e feita a descripção
+d'ella, nada mais nos resta do que apresentar uma resenha
+dos seus administradores, directores, mestres de<span class="pn">{45}</span>
+pintura e manufactura de porcelana, que é o que vamos
+fazer. Eil-a:</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p>Administradores:&mdash;Os snrs. Augusto Ferreira
+Pinto Basto, de 1824 a 1828; Alberto Ferreira Pinto
+Basto, de 1828 a 1856; Duarte Ferreira Pinto Basto,
+de 1856 a 1861; Domingos Ferreira Pinto Basto, de
+1861 a 1882; Duarte Ferreira Pinto Basto Junior, de
+15 de maio de 1882 em diante.</p>
+
+<p>Directores:&mdash;Os snrs. Antonio d'Almeida Ferreira
+Duque, de 1836 a 1840; João Maria Rissoto, de
+1840 a 1878: Duarte Ferreira Pinto Basto Junior, de
+1878 a 1882; João Antonio Ferreira, de 15 de maio de
+1882 em diante.</p>
+
+<p>Mestres de pintura:&mdash;Os snrs. Victor Francisco
+Chartier Rousseau, de 1836 a 1852; Gustavo Fortier,
+de 1853 a 1856; Filippe Fortier, de 1857 a 1860; Gustavo
+Fortier, de 1861 a 1865; Joaquim José d'Oliveira,
+de 1866 a 1881; Francisco da Rocha Freire, de 1881
+em diante.</p>
+
+<p>Mestres de porcellana:&mdash;Os snrs. João da Silva
+Monteiro, de 1826 a 1833; João da Silva Monteiro Junior,
+de 1833 a 1838; João Antonio Ferreira, de 1838
+a maio de 1882. Presentemente não ha mestre de porcelana,
+mas sim dois contra-mestres, os snrs. Antonio
+Augusto Affonso, que tem a seu cargo a preparação
+das materias primas, fórmas e modelos, e Manoel da
+Silva Marianno, que dirige a manufactura.</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p class="centrado">Fim.</p>
+
+
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p class="centrado" style="font-size: 1.4em;">PREÇO 200 REIS</p>
+
+<hr style="border-bottom: double 6px #000;">
+
+<p class="centrado" style="font-size: 1.6em;">OBRAS DO MESMO AUCTOR</p>
+
+<p><big>Memorias de Aveiro.</big></p>
+
+<p><big>D. Duarte de Menezes</big>&mdash;esboço biographico.</p>
+
+<p><big>O Districto de Aveiro;</big> noticia geographica, estatistica,
+seraldica, archeologica e biographica da
+cidade de Aveiro e todas as villas e freguezias do
+seu districto.</p>
+
+<p><big>A mulher atravez dos seculos;</big> estudo historico
+sobre a condição politica, civil, moral e religiosa
+da mulher: 1.ª parte&mdash;sociedades primitivas,
+China, India, Persia, Assyria, Egypto e Israel.</p>
+
+<p><big>D. Joanna de Portugal</big> (a princeza santa) esboço
+biographico.</p>
+
+<hr style="width: 20%;">
+
+<p class="centrado">EM VIA DE PUBLICAÇÃO</p>
+
+<p><big>Luctas caseiras&mdash;Portugal de 1836 a 1851.</big></p>
+
+<p><big>Aveiro e o seu concelho.</big></p>
+
+<p class="centrado">JOAQUIM DE VASCONCELLOS E MARQUES GOMES</p>
+
+<p><big>Exposição districtal de Aveiro em 1882&mdash;Reliquias da arte nacional.</big></p>
+</div>
+
+
+
+
+
+
+
+<pre>
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of A Vista Alegre: apontamentos para a
+sua historia, by João Augusto Marques Gomes
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A VISTA ALEGRE: APONTAMENTOS ***
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+
+Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm
+
+Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
+electronic works in formats readable by the widest variety of computers
+including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
+because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
+people in all walks of life.
+
+Volunteers and financial support to provide volunteers with the
+assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
+goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
+remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
+and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
+
+
+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
+Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
+number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
+https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
+permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
+
+The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
+Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
+throughout numerous locations. Its business office is located at
+809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
+business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact
+information can be found at the Foundation's web site and official
+page at https://pglaf.org
+
+For additional contact information:
+ Dr. Gregory B. Newby
+ Chief Executive and Director
+ gbnewby@pglaf.org
+
+
+Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation
+
+Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
+spread public support and donations to carry out its mission of
+increasing the number of public domain and licensed works that can be
+freely distributed in machine readable form accessible by the widest
+array of equipment including outdated equipment. Many small donations
+($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
+status with the IRS.
+
+The Foundation is committed to complying with the laws regulating
+charities and charitable donations in all 50 states of the United
+States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
+considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
+with these requirements. We do not solicit donations in locations
+where we have not received written confirmation of compliance. To
+SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
+particular state visit https://pglaf.org
+
+While we cannot and do not solicit contributions from states where we
+have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
+against accepting unsolicited donations from donors in such states who
+approach us with offers to donate.
+
+International donations are gratefully accepted, but we cannot make
+any statements concerning tax treatment of donations received from
+outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
+
+Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
+methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
+ways including including checks, online payments and credit card
+donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate
+
+
+Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
+works.
+
+Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
+concept of a library of electronic works that could be freely shared
+with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
+Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
+
+
+Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
+editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
+unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
+keep eBooks in compliance with any particular paper edition.
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+Most people start at our Web site which has the main PG search facility:
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+
+This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
+including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
+Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
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