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| author | Roger Frank <rfrank@pglaf.org> | 2025-10-14 20:01:20 -0700 |
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You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: A Situação Política + +Author: Alfredo Pimenta + +Release Date: November 12, 2010 [EBook #34290] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A SITUAÇÃO POLÍTICA *** + + + + +Produced by Mike Silva + + + + + + ALFREDO PIMENTA + + A SITUAÇÃO + POLITICA + + Conferência realizada + no Salão Nobre da Liga Naval Portuguesa, + na noite de 26 Fevereiro de 1918 + + + + + 1918 + LIVRARIA FERREIRA + FERREIRA Lda., Editores + _132, 134, Rua Áurea, 136, 138_ + LISBOA + + + + + A SITUAÇÃO POLITICA + + + Imprensa Libânio da Silva--Trav. do Fala-Só, 24, Lisboa + + + + + ALFREDO PIMENTA + + A SITUAÇÃO + POLITICA + + Conferência realizada + no Salão Nobre da Liga Naval Portuguesa, + na noite de 26 Fevereiro de 1918 + + + + + 1918 + LIVRARIA FERREIRA + FERREIRA Lda., Editores + _132, 134, Rua Áurea, 136, 138_ + LISBOA + + + + +_A Revolução de 5 de Dezembro encontrou a sua sanção legal nas eleições +gerais de 28 de Abril do corrente ano. Não tiveram essas eleições o +carácter plebiscitário, nem visaram a resolução do que continuo +chamando, cada vez com mais fortes razões, o Equívoco Nacional: foram, +sim, a consagração do principio da Ordem, encarnado, pessoalmente, no +sr. Sidónio Pais. Dar um outro significado a essas eleições é afirmar +uma deplorável má-fé ou uma lastimável ignorância da psicologia +nacional. As palavras da nossa conferencia que hoje se publica não +perderam da sua virtual oportunidade. O sr. Sidónio Pais tem ao seu lado +a Nação inteira, enquanto representar o principio da Ordem. É a sua +pessoa que nos dá garantias de que esse principio é respeitado: +constatar isto, é reconhecer os inabaláveis sentimentos conservadores da +Nação. E como o regímen republicano que é diferente da pessoa do sr. +Sidónio Pais, não merece confiança à Nação, esta, nas eleições de 28 de +Abril, manifestando-se como se manifestou, deu provas evidentes do seu +sentir monárquico, cercando os deputados e senadores monárquicos de uma +votação bem significativa._ + +_A situação política só se esclarecerá definitivamente no dia em que a +Nação puder responder livremente à pergunta que se lhe faça sobre as +instituições políticas que prefere. Por ora, sabemos isto apenas: a +Nação é conservadora, e aclama quem lhe garantir, eficazmente e +honradamente, o principio da Autoridade. Nada mais._ + + +_10 de Maio de 1918._ + + + + + SR. PRESIDENTE! + MINHAS SENHORAS! + MEUS SENHORES! + +Escolhi para assunto desta conferencia a situação política, porque, +contrariamente ao que pensa o maior numero das pessoas, entendo que a +situação política em Portugal, longe de se ter esclarecido, está a +tornar-se cada vez mais confusa; e entendo também que todos aqueles que +têm responsabilidades mentais e podem contribuir de alguma maneira para +orientar a opinião pública, devem vir às tribunas das conferencias dizer +da sua razão. Não bastam os artigos dos jornais e as notas oficiosas do +governo para se compreender a situação, e a apresentar à opinião +pública como ela deve ser apresentada. + +É preciso, pois, repito, que aqueles que tem o orgulho legítimo ou a +vaidade, se quiserem, de pensar por si próprios, e não pela cabeça dos +outros, venham, junto da opinião pública, ilustrá-la, oriental-a e +indicar-lhe o caminho que deve ser seguido. + + + + +A Revolução de 5 de Dezembro + + +a) FACTORES POSITIVOS E NEGATIVOS + +A situação política, criada com a revolução de 5 de Dezembro, é +absolutamente diversa da que existia antes. Vivia-se numa tirania de +mediocretes. Muitas vezes se fala em ditadura tirana. Mas o que então +verdadeiramente existia era uma mediocracia mesquinha dominando cinco +milhões de habitantes, o que era indigno de uma nação com um passado +como o nosso. Podíamos ter um César dominador e forte. Mas não era +isso o que tínhamos. Havia, apenas, pequeninos poderes anónimos e +ocultos que desapareciam à mais simples análise, que se furtavam à +crítica séria que sobre eles quiséssemos exercer. Era qualquer coisa de +incómodo e de irritante, mas que não provocava momentos de cólera, pois +apenas provocava o tédio. Fora dos partidos republicanos, não havia +ímpetos de raiva: sentia-se aborrecimento. Bocejava-se. + +O 5 de Dezembro representa assim uma tentativa de salvar o regímen +republicano. Esse acontecimento teve factores positivos e negativos. Os +factores positivos foram o Sr. Sidónio Pais, com a mocidade da Escola de +Guerra e os elementos que a esta se juntaram; os negativos foram os +constituídos pela atmosfera em que se vivia e pela repulsa que o regímen +republicano, em sete anos de demagogia impune, soube criar-se. + +Por parte dos partidos monárquicos, existia a expectativa, não só em +obediência às ordens de El-Rei, mas também porque assim o exigiam os +superiores e sagrados interesses da Causa monárquica--à qual convém +que o regímen republicano liquide inteiramente as responsabilidades dos +compromissos que contraiu. + +Se, antes de 5 de Dezembro, eu dissesse aos que me escutam neste momento +que se ia tentar resolver o problema da ordem e que seria o Sr. Sidónio +Pais que dirigiria tal tentativa, ninguém me acreditaria, porque ninguém +o categorizava, ninguém o conhecendo. + +Mas o 5 de Dezembro apareceu, e quando, na tarde desse dia, correu a boa +nova de que o Triunvirato tiranete encontrara alguém--que lhe fazia +frente, houve uma esperança como aquela que acolheu a tentativa do +governo de Pimenta de Castro. + +E na hora em que o Sr. Leote de Rego (que tanto se louva de ter feito +arrear a bandeira alemã dos navios mercantes) teve de arrear a sua +bandeira de Comandante da Divisão Naval, o país respirou,--porque viu +dominada a demagogia, ou por que viu efectivar-se o seu ideal e a sua +aspiração? + +A Nação viu, com agrado, que se caminhava para uma coisa melhor do que a +que estava, que se caminhava para a resolução do problema da ordem +pública, problema que há cinquenta anos está sem solução e tem +pervertido a alma da nação, inutilizando-lhe todas as suas forças. Esse +problema que se espalhou por todos os países, nuns mais cedo, noutros +mais tarde, surgiu para nós, quando quisemos adaptar a este país, uma +nova constituição de vida política, que nunca chegou a aclimatar-se e a +vingar. + +A situação que tínhamos em Portugal, em 5 de Dezembro de 1917, era +lógica e era a conclusão matemática de tudo o que se tinha feito desde +que se implantou entre nós o constitucionalismo. Essa situação tem +raízes profundas, tem enormes raízes no passado, mas começou a +manifestar-se acentuadamente, quando quisemos adaptar à Nação Portuguesa +um regímen para que a sua alma nunca esteve preparada. E a prova disto +está em que todos nós respiramos mais tranquilamente neste regímen +ditatorial, porque, em Portugal, nunca se têm tão garantidas as +liberdades mais comezinhas como quando há suspensão de liberdades... + +Por mais que queiramos iludir-nos, por mais que queiramos falar nos +imortais princípios, todos sentimos isto, todos preferimos o Sr. Sidónio +Pais, tendo na mão todos os poderes do Estado, dos quais não tem +abusado, antes, talvez, não tenha sabido usar inteiramente,--a termos a +centena de legisladores no Parlamento e na Liberdade, porque neste caso, +nunca sabemos quem toma a responsabilidade de um acto que se pratica ou +de uma medida que se adopta, porque tudo foge e desaparece diante do +anonimato da chamada Soberania Nacional. Se a inteligência lúcida de um +homem fez com que se arregimentasse a seu lado a mocidade da Escola de +Guerra e se disciplinasse, debaixo do seu comando, uma determinada força +do exército, e eis os factores positivos, o resto estava feito: era o +ambiente que o regímen republicano criou desde 5 de Outubro de 1910. Já +antes os republicanos se tinham incompatibilizado com o sentimento +nacional, sancionando, se não directamente, pelo menos indirectamente, o +regicídio, premiando um regicida nas pessoas de sua família, e +fazendo uma apoteose monstruosa, impossível em qualquer país civilizado +de Europa. + + +b) SUA FUNÇÃO NORMAL + +Quando o triunvirato Afonso Costa, António José de Almeida e Norton de +Matos foi vencido, e o Sr. Sidónio Pais se encontrou senhor deste país, +uma função, principalmente, tinha o triunfador a executar: constituir-se +em ditadura militar, necessária neste país em que a disciplina e a ordem +são vocábulos sem sentido. + +Somos um país absolutamente apaizanado. Cada um de nós é um rebelde +contra as leis e contra a disciplina; nos mais pequenos actos da nossa +vida, só estamos bem quando afirmamos o que julgamos ser a nossa +independência. A concepção da Pátria é meramente negativa, provisória, e +material. A colectividade apenas existe para nos servir. Sob o ponto de +vista do regímen republicano, cada um dos republicanos é-o à sua +maneira, de modo que a república de um não é a república dos outros. +E é preciso, digamo-lo entre parênteses, que entre os monárquicos não +suceda o mesmo... + +Era necessária, pois, a ditadura militar que não devia ter por fim fazer +uma reforma da Constituição, mas sim, exclusivamente, pôr termo ao que +eu chamo o Equívoco nacional. Porque nós temos vivido, estamos vivendo +num grande e perigoso equívoco. + +Há muito tempo que de um e outro lado ouço dizer: «_A Nação está +comigo_»; mas não há maneira de se saber com quem a Nação está. Quando +aparece um triunfador, a Nação aclama-o. Mas o que significa isso, se as +turbas, as multidões, em Portugal, são mais mutáveis, nos seus +movimentos e expansões, de que a superfície do mar na sua cor? + +Eu não me deixo comover pelas manifestações das ruas e pelos vivas; o +que quero é ver levantadas as forças vivas da nação. Não são os lenços +das senhoras flutuando nas janelas, não são as palmas e os bravos que se +dão nas salas ou nas ruas, que dão força ao governo no poder. Isso +pode até perturbar o espírito dos governos ou dos triunfadores, e +inutilizar-lhes a acção. + +A resolução do Equívoco nacional a que me referi é a chave do problema +português. Enquanto não for resolvido, o problema da ordem está de pé. +Resolvê-lo militarmente era a função normal da revolução de 5 de Dezembro. + + +c) SUAS CONSEQUÊNCIAS PRATICAS + +A revolução de 5 de Dezembro, no entretanto, deu um governo heterogéneo, +mesclado, que não se sabe se está integrado no pensamento do seu +presidente, nem se sabe se tem ligação com este ou aquele partido; deu +um governo indeciso e incaracterístico, sem unidade de vistas e parece +que sem unidade de finalidade. + +As ligações políticas de alguns dos membros do governo tiram-lhe toda a +força e homogeneidade, e a singeleza de direcção e de objectivo que +devia ter, e mais do que nunca é necessária. + + + + +A Nação e a Revolução de 5 de Dezembro + + +APOIO TEÓRICO E MESSIANISMO. + +A atitude da Nação perante os resultados da revolução de 5 de Dezembro +não é nem podia ser aquilo que sonharam os seus autores. + +A Nação, perante a revolução de 5 de Dezembro, fez o que é muito próprio +do povo português: deitou foguetes, pôs bandeiras nas janelas, deu +palmas, veio para a rua dizer coisas bonitas,--toda a expansão do +meridional satisfeito. Por toda a parte, a pessoa do Presidente da +República foi festejada. Estabeleceu-se uma alegria tão grande, como se +El-Rei D. Sebastião tivesse voltado... + +Eu nunca fui homem que acompanhasse as aclamações da multidão; todavia, +quando o Sr. Sidónio Pais regressou da sua viagem ao norte, fui ver a +sua chegada. + +Quando o vi entrar no Rossio, e assisti às aclamações que lhe faziam, eu +senti que era muito melhor que lhas não fizessem, porque o colocavam +tão alto que eu temo pela boa conclusão da sua obra. Não era um simples +oficial de artilharia, comandante de forças revolucionárias, que +chegava: era mais alguém, era personalidade mais majestosa; era quase um +César, faltando-lhe só trazer Afonso Costa preso por uma cadeia, como na +antiga Roma se fazia aos escravos... + +Esta altura em que puseram o Sr. Sidónio Pais dá bem a nota do estado de +alma da Nação, da facilidade com que o país se desvaria, e eu receio +muito pelas perturbações nervosas causadas pelas alturas naqueles a quem +as multidões tão alto erguem... + +Esse entusiasmo indescritível era meramente teórico e não passou disso; +mas, repito, não é só de aclamações, vivas, lenços e flores, que os +governos necessitam para realizarem a sua obra com energia e decisão. + +A Nação deve pensar bem que não é desta forma que se resolvem as +questões pendentes, não é desta forma que se resolve o problema da +nacionalidade a que logo me referirei. + +Longe de mim a intenção de empanar a obra gloriosa de 5 de Dezembro, +tanto mais que nunca será suficientemente grande a gratidão que possamos +e devemos afirmar ao homem que conseguiu fazer uma coisa que até ali +ninguém tivera a coragem de realizar: arrostar com Afonso Costa. + +A situação era assim parecida com a que nos oferece uma larga praça onde +numerosa garotada se apedrejasse e apedrejasse os transeuntes pacíficos +e indefesos. Não podíamos atravessar essa praça sem correr o risco de +sermos atingidos pelas pedras. Havia, é certo, uma esquadra de polícia; +mas os seus agentes não se arriscavam a pacificar a praça e a garantir a +integridade da cabeça aos que passavam. Por fim, aparece um mantenedor +da ordem com seus agentes: é o Sr. Sidónio Pais: corre, afasta, domina a +garotada. Ela, porém, existe ainda, embora longe, para lá das +embocaduras das ruas... Só quando ela desaparecer, se poderá então dizer +que a ordem está completamente mantida. + +O prestigio do Sr. Sidónio Pais apoia-se num facto puramente negativo: o +terror do democratismo. A sua situação por ora é apenas a de um +mantenedor da ordem que nos guarda, e a quem defendemos para que nos +guarde. + +Ora não há só o problema da ordem a resolver: há o problema financeiro, +o problema económico e o problema internacional que é gravíssimo. Pode o +Sr. Sidónio Pais resolvê-los ou resolver algum deles? Não sei; mas só a +resolução certa de todos eles ou de alguns lhe dará a categoria de +estadista, e colocará legitimamente num alto pedestal a quem o +conseguir. Para esse desiderato, devemos reservar todas as nossas energias. + +Somos um povo messiânico... Mas porque não pôde ainda ser outro o apoio +da Nação? Porquê? Vamos vê-lo. + + + + +O regímen republicano português + + +a) A SUA ACÇÃO COMO ELEMENTO DE DISSOLUÇÃO NACIONAL + +O regímen republicano português cavou um grande abismo entre si e a +nação; tem sido sempre, infatigavelmente, um elemento de dissolução +nacional, porque, ao proclamar-se, olhou para a nação e perguntou: qual +é o principal problema a resolver? A ordem pública?, o pão?, a situação +internacional?, o ensino?, o trabalho? Não! O primeiro problema, o +fundamental, aquele em que todos têm os olhos, aquele que representa a +aspiração colectiva e a máxima urgência,--é o da expulsão dos Jesuítas! +E começou-se por aí. Andavam todos os lares domésticos portugueses +desassossegados, inquietos; todas as famílias estavam oprimidas, vivendo +sob pesadelos enormes, por falta de uma lei que estabelecesse o +divórcio. E veio a lei do divórcio. A seguir, surge a _lei da separação_ +e atrás disto, a república nada mais nos deu que constitua seu +património e sua glória, porque para mais não chegou o seu conhecimento +da vida pública... O resto é a multidão dos pequeninos expedientes, +daquelas pequeninas providências que vieram atrás da lei do divórcio, da +expulsão dos Jesuítas e da lei da separação. + +Nos centros, nos comícios, nas batuques partidários, onde se planeiam +ataques e ódios contra os monárquicos, foram esses os problemas que +unicamente preocuparam toda a atenção dos grandes estadistas e dos +grandes legisladores de 1910. Não se fez uma obra positiva; e até o que +podia ser bom por acaso, até isso nunca o fizeram senão por mal... + +No meu bairro está a construir-se um edifício que é destinado à +_Maternidade_. Imaginam que esta Maternidade se está erguendo por amor à +mãe? Não; pois o lugar é impróprio e detestável; mas porque se estava +levantando ali uma capela ao Sagrado Coração de Jesus, vá de fazer a +maldade, de pregar a partidinha, de pôr a nota mesquinha e irritante: +arrasam-se os alicerces da capela e ergue-se a Maternidade. Não há +uma só medida que possamos dizer que seja ampla, genérica e +absolutamente boa; todas tem um fundo antipático de maldade; em todas +elas, há um bico de alfinete envenenado... O país olhou o regímen +republicano, um pouco convencido de que chegara a hora de viver +tranquilo. Estava cansado de lutas civis, de lutas políticas, de +campanhas de descrédito; e o novo regímen, em vez de procurar aproveitar +a aura que o bafejava, começou a provocar represálias, ódios, invejas e +más vontades, incompatibilizando-se de tal maneira com a Nação, que, +perante o movimento de 5 de Dezembro, ela limitou-se às palmas, aos +vivas e aos apoiados, a isso que eu chamo o apoio teórico. + + +b) O SEU NEGATIVISMO SISTEMÁTICO + +O regímen republicano é essencialmente negativo. Para ele, só há um +facto permanente: o perigo monárquico. Os republicanos dizem, repetem e +decretam que a Monarquia jamais volta a Portugal; mas desde manhã +até à noite e de noite até pela manhã, não pensam noutra coisa senão na +volta da Monarquia a Portugal. Se ela nunca mais volta, se a República é +amada por toda a Nação, se a Nação quer a República, se a Nação é +republicana, onde está o perigo monárquico? Eles bem sentem que tudo +lhes é provisório, a começar pelo chefe do Estado cujas funções são +constitucionalmente provisórias... + +Se um pobre campónio, um dia, no meio das suas terras, ignorando ainda +que já está a República, solta um viva à Monarquia, logo no dia seguinte +os jornais republicanos publicam telegramas em normando, afirmando +desconsoladamente que a Monarquia foi proclamada na aldeia de tal, e que +a República está em perigo... Se os partidos republicanos tivessem a +consciência tranquila e a certeza de que a Nação estava contente com a +República, não andavam tão preocupados e aterrados com o fantasma da +Monarquia! De resto, todos eles sabem que ela voltará. + +Um dos chefes republicanos mais célebres e que tem a vantagem de ser +um veemente homem de bem, disse-me por mais de uma vez, que a República +era inadaptável a Portugal. Mas disse-mo a mim, e não o diz em público, +por falta de coragem e honradez cívica. + +A falta de sinceridade e a negação sistemática da evidente verdade +afastam o regímen republicano da Nação, e fazem com que esse regímen, +ainda mesmo sob a modalidade especial e simpática que lhe dá o Sr. +Sidónio Pais não possa encontrar já, hoje, outro apoio que não seja o +apoio meramente teórico que está tendo. + + +c) A FALÊNCIA DA SUA MENTALIDADE + +E a que é devida toda esta situação que se criou o regímen republicano? +É devida aos maus instintos ingénitos dos homens que a servem? Não, +porque a maior parte deles apesar da aguarrás e das forcas que prometem +são incapazes de matar uma mosca. O motivo é outro: é a falência da +mentalidade dos seus dirigentes. Ao olharmos os seus espíritos, o que +sentimos é a impressão de que são espíritos fechados, curtos, sem +horizontes e janelas. Sentimos que há uma urgente e absoluta necessidade +de os naftalinizarmos, de abrirmos as suas janelas e deixarmos entrar +neles o sol, a luz e o ar... + +Leram um dia Rousseau, Lamartine, Louis Blanc, Guizot, e ficaram por aí. +E no entretanto, quanto se tem andado já! + +Entre a mentalidade deles e a da Europa há um abismo! + +O estrangeiro, estudando e analisando o nosso país, no momento actual, +fica espantado de ver estes pequeninos, estes microscópicos indivíduos +manejando cinco milhões de homens, e não compreende que possa ser assim. + +E chamam-nos reaccionários, atrasados. Mas nós, os monárquicos, andamos +a par das modernas doutrinas sociais, não desconhecemos os modernos +processos científicos, e não ignoramos as sucessivas transformações +doutrinárias e práticas da Política; conhecemos a lição dos factos dos +últimos tempos; e aproveitamos com a lição da guerra; enquanto que eles, +os espíritos republicanos, paralíticos, fechados em 89, nada mais +sabem, nada mais vêm, nada mais aprendem. + +Até já houve um chefe de partido que chegou a dizer que ele, paisano, +com um exército disciplinado, venceria os alemães! São espíritos +_arriérés_, incultos, primitivos, inadaptáveis à vida moderna. + +Não há maneira de os fazermos compreender que os povos têm que se +adaptar a necessidades superiores às suas teorias fantasistas; não há +maneira de convencer esses espíritos, imbecilizados alguns, de que devem +parar na sua experiência nefasta, de que devem parar na sua teimosia +criminosa, de que devem parar na sua birra indigna, e de que não devem +cavar mais fundo a sepultura da Nação! + +Nós tivemos uma serie de reis que, quaisquer que fossem os seus defeitos +e os seus erros, fizeram a Nação, engrandeceram a Nação, alargaram os +seus domínios, acrescentaram à glória do passado nova glória. Não há +maneira de convencer os espíritos republicanos de que essa serie de reis +nos merece respeito e amor, e que a Nação inteira aspira e quer +voltar às suas instituições tradicionais. + +Quando Portugal, pequeno como é, sem exército e sem marinha, vivia no +regímen monárquico, tinha uma situação internacional invejável +demonstrada pelas atenções que nos dispensavam, com a sua presença, os +soberanos das mais fortes nações estrangeiras; e hoje, se queremos +vencer a antipatia europeia, temos que praticar actos que não nos +dignificam nem impõem. + +A República... a República... Temos agora um governo digno de nós todos, +porque digno de todos nós se apresenta o Sr. Sidónio Pais. Mas esta +situação não é eterna. Quando cair, será a ocasião de se restaurar a +Monarquia, para não termos de voltar ao demagogismo... + + + + +A República nova + + +Há hoje uma forma republicana a que o Sr. Sidónio Pais chama _República +nova_. Quer dizer: existe hoje o contrário do que existia, há alguma +coisa que nós ainda não tínhamos visto. + +Quero acreditar que estejamos numa nova República e, pela minha parte, +confesso que contra esta nova República não senti ainda a mais pequena +animosidade ou oposição. + +Há quem se queixe. E julgo mesmo que certas restrições atingem certos +jornais. Eu aplaudo. Não são doutrinários os jornais que querem sair. +São folhas impressas, órgãos de insulto, de calúnia ou de infâmia. O +governo não deixa que elas saiam? Acho que o governo faz muito bem! Isso +não pode magoar o meu liberalismo. Porque eu recordo-me muito bem de que +quando foi do governo Pimenta de Castro, esse governo mole e +bonacheirão, manso e lunático, honesto mas inexperiente, _O Mundo_, +esse saudoso órgão do republicanismo puro, não se cansou de acusar o +governo de estar vendido à Espanha. E o general Pimenta de Castro com +cuja amizade me honrei e, me honro, como eu lhe chamasse a atenção para +a calúnia, não quis ler, não quis saber, como não quis saber de muitas +outras coisas. As consequências foram o 14 de Maio! Não deixa o actual +governo preparar-se uma situação igual, proibindo estas gazetas de +aparecer em público? Faz muito bem! Mas o governo tem uma tríplice +função a desempenhar. Além da função superiormente política e importante +para ele e para o regímen, de alterar as bases do actual sistema +político republicano, tem ainda a função penal e moral: penal, mandando +para a África, como o tem feito, os incorrigíveis, os reincidentes do +crime comum, sejam ou não sócios do democratismo; e moral, castigando os +abusos e os erros do partido democrático e do governo transacto. Se +puder desempenhar estas funções, é caso para o felicitarmos... + +Quanto ao aspecto político da sua missão, levanta-se, actualmente, +uma celeuma enorme sobre se deve continuar o regímen parlamentar ou deve +adoptar-se o regímen presidencialista. Como observador e crítico, acho +interessante o assunto. + +Entendo que nós, como monárquicos, temos de nos manter alheios a essa +questão. Somos o partido dos monárquicos,--não somos ainda partido +monárquico. Não temos organização definida, embora tenhamos a chave +dela, que é o Rei. + +O partido monárquico lançar na urna, como monárquico, o seu voto, para a +eleição presidencial, é fazer uma afirmação de princípio republicano, e +revogar a base fundamental do seu doutrinarismo monárquico. Mas se é +preciso, para se evitar um mal maior, impedir que o Sr. Sidónio Pais +saia do Poder, concorramos individualmente a dar-lhe a força precisa. + +Neste caso, não é um partido monárquico que intervém, são os indivíduos +monárquicos que o fazem. É uma ficção necessária. + +Esta questão que se formula sobre regímen parlamentar e regímen +presidencialista é salutar, porque vai acostumando o país a pôr de parte +o regímen parlamentar, e ensina a opinião pública a reconhecer a +possibilidade da existência de um governo responsável e independente das +tricas e habilidades parlamentares. Eu compreendo a relutância dos +republicanos pelo presidencialismo. + +Os republicanos, verdadeiramente, não podem ser presidencialistas, e por +isso, faz bem o Sr. Afonso Costa, do fundo do seu exílio de Elvas, em +protestar contra o presidencialismo, como o Sr. António José de Almeida +que não sabe o que seja isso, ou o Sr. Brito Camacho a quem o +presidencialismo não convém. A República ou é parlamentar, caminhando a +passos largos para o anarquismo, ou é presidencialista e, então, deixa +de ser autêntica república. Os presidencialistas não são republicanos +puros, são republicanos monarquizados. + +Oxalá triunfe o principio presidencialista! + +Quando fui evolucionista, nesse tempo em que andei quatro anos a malhar +em ferro frio, eu pedia uma república presidencialista com poderes +vitalícios para o chefe do Estado. Isso dá-me um tal ou qual desejo de +assistir à experiência. + +Faço pois votos por que a nação se habitue à diminuição das funções e +atribuições do parlamento, e entendo que os monárquicos devem, +individualmente dar todo o apoio e aplauso, escrito e falado, ao +princípio presidencialista, que é o mais benéfico e salutar dentro das +doutrinas republicanas. + +Esta República nova tem um ambiente conservador e tem por cooperadores +os elementos monárquicos. É, por consequência, uma república de carácter +paradoxal, contra a qual os verdadeiros republicanos se apresentam em +acto de hostilidade, não tendo ainda entrado no caminho das violências, +porque têm medo; mas fá-lo-hão, quando virem que o sr. Sidónio Pais +enfraquece. Mas como os povos não se governam com instituições +paradoxais, esta situação tem que se esclarecer. Quando se esclarecerá? +Não sabemos. Ninguém o sabe. + + + + +Os monárquicos e a Republica nova + + +Qual deve ser a atitude dos monárquicos perante a republica nova? + +Antes de 5 de Dezembro, havia duas correntes caracterizadas: a corrente +conservadora e a corrente demagógica. + +Agora, aparece-nos em campo uma terceira corrente que cria uma situação +complicada porque isto que está já não é República, não sendo ainda a +Monarquia. Já não é República, porque lhe falta Afonso Costa. Ainda não +é a Monarquia, porque lhe falta o Rei. Ora a nossa atitude é clara. + +Antes de 5 de Dezembro, diziam os republicanos que os monárquicos +desobedeciam às ordens do Rei, porque este lhes ordenava se colocassem +ao lado dos governos no que respeita à guerra, e os monárquicos não o +faziam,--acusação caluniosa, aliás, como é sabido. + +Mudou-se de situação, e veio um governo que não nos insulta, que não +nos maltrata e que mantém a ordem, e nós com muito mais facilidade, +agora, cumprimos as ordens do Rei, e damos apoio a esse governo. Se +antes da revolução de 5 de Dezembro, fervia pancadaria rija nos +monárquicos porque estes não apoiavam os governos democráticos e da +sacrílega união sagrada, agora, ferve a mesma rija pancadaria porque +apoiam um governo honesto e de honradas intenções. + +Os republicanos são curiosos: dão aos monárquicos, em Portugal, direito +de cidade e de existência, com a condição de serem ou afonsistas, ou +almeidistas, ou camachistas; simplesmente monárquicos, monárquicos _tout +court_, monárquicos puros, não os admitem, os republicanos. + +Neste país, dão-se coisas que só neste país são possíveis! + +Ora nós não podíamos e não devíamos adoptar diante do actual governo +outra atitude que não fosse a que adoptamos, porque nós não somos +desordeiros, e perderíamos todo o nosso prestígio político, dando uma +prova de falta de senso e falta de patriotismo, se nos colocássemos +numa situação anarquista e destruidora, perante o Sr. Sidónio Pais. As +forças vivas da nação diriam que éramos anarquistas, porque estávamos +contra todos os poderes. Apoiamos francamente e dedicadamente este +governo, porque este é um governo diferente de todos os outros. Apoiar +este governo, e neste momento, é nosso dever, não porque ele nos traga a +Monarquia, mas porque nos traz a Ordem. + +Fazer a Monarquia... + +Se dependesse de eu abrir a minha mão o proclamar-se, agora, a +Monarquia, eu fechal-a-ia e pediria a toda a gente que ma apertasse bem, +a fim de que, nesta ocasião, a Monarquia se não fizesse, pois que, +actualmente, não nos convém. Ela há de vir no momento oportuno, porque +não depende da vontade deste ou daquele, a evolução de acontecimentos +políticos e sociais dessa natureza. + +O apoio ao Sr. Sidónio Pais é lógico e legítimo, porque ele está +cumprindo com os nossos deveres internacionais, com aqueles deveres a +que nos ligam tratados seculares, obra dos Reis e do Passado; e +ainda porque o Sr. Sidónio Pais está restabelecendo a ordem dentro das +condições que lhe são possíveis com a existência das instituições +republicanas. Mas este apoio que nós lhe damos, e a que eu chamo +meramente teórico e aplauditivo, não pode ir além, porque não poderá o +Sr. Sidónio Pais nem ninguém, seja quem for! fazer esquecer aos +monárquicos o que o regímen republicano tem feito em Portugal, e lhes +tem feito a eles, como eu nunca poderei esquecer o que me fizeram os +democráticos--em insultos, em agravos, em ofensas e agressões. Receios +de uma consolidação republicana, só os terão os espíritos superficiais. + +É preciso levar ao espírito dos monárquicos a convicção de que a +Monarquia não pode e não deve vir somente pelos erros dos republicanos; +deve vir e há-de vir, sim, pela força da sua própria constituição, +porque o organismo da nacionalidade se integrou na forma monárquica e só +a ela se adapta. A Monarquia há de vir porque é uma conclusão lógica +dos acontecimentos, e não está no poder dos demagógicos afasta-los, +como não está no poder contrário apressa-los. Eu prefiro que ela venha +depois de um grande período de paz, de ordem, de sossego e de progresso, +dentro da República, a que venha sobre os ódios fomentados pelos +democráticos. Eu prefiro que a Monarquia venha quando a situação social +portuguesa esteja mais ou menos regulada, a que venha neste momento em +que se encontram ainda vivas todas as questões difíceis que uma longa +indisciplina impune agravou. Nós todos que amamos a nação devemos +estimar e desejar que, dentro da forma republicana, se aplanem todas as +dificuldades, de modo que a Monarquia possa receber o país no melhor +estado possível. + +Se devemos apoio ao Sr. Sidónio Pais, no problema da ordem pública, é +porque não temos outro caminho a seguir, porque esse é o problema +fundamental português, sem a resolução do qual todas as tentativas de +resolver os outros são estéreis. Sobre o problema da ordem, sempre assim +pensei. + +Eu nunca tenho de me arrepender do que a este respeito preguei +noutros tempos, porque, por muitos que fossem os meus exageros e +desvios, uma coisa nunca fiz: foi defender actos de desordem, de +violência, ou de anarquia; coloquei-me sempre no ponto de vista de um +homem com responsabilidades de governo. Acima de tudo, primeiro que +tudo, a ordem--que se baseia na educação. + +Eu não quero só instrução, não; o que quero é educação. Não ensinem o +povo a ler, enquanto não estiver bem educado, porque se sabe ler, sem +ser educado, começa a disparatar. + +O povo que não está educado, se sabe ler, aprende a fazer ingredientes e +máquinas explosivas, praticando todas as tolices possíveis e +imagináveis, querendo imitar os lunáticos e fantasistas que aparecem +pela Europa a propagar desordens e tolices. Quando o povo tiver bem +profundo o sentimento da ordem, então que aprenda a ler à vontade. É +preciso que o povo não deixe de ser criminoso somente por medo ao código +ou à polícia. Cada vez que se funda uma escola, ergo as mãos ao céu, +porque nós só sabemos deseducar, só sabemos fomentar a indisciplina e a +desordem, só sabemos ensinar ler o que não deve ser lido, e se não sabe +compreender. + +Nós temos partidos anarquistas, sindicalistas e socialistas que ignoram +o que são essas doutrinas e que, com a sua falta de educação, ao lerem +Kropotkine, um pobre príncipe exilado que está agora na Rússia a ver a +prática dos seus dizeres, dão no roubo e no assassinato. + +Eu assisti a alguns dos desvairamentos e aos excessos e aos roubos que +ultimamente se deram nas ruas da cidade. + +Querem saber o que vi os assaltantes roubar e usar? Não era só o +bacalhau, o feijão ou a batata que lhes pudessem servir para a +alimentação; eram serpentinas e máscaras de Carnaval que espatifavam, +garrafas de Champanhe e de licores que não podiam beber, porque o seu +paladar não está preparado para tais bebidas, eram botas de luxo, +sapatos de luxo que não podiam calçar,--enfim a exibição do crime, na +sua forma mais hedionda. + +E até ouvi que merceeiros houve que tendo tirado das suas lojas os +géneros que tinham, fingindo-se roubados, iam depois, comprar aos +desgraçados das ruas os géneros saqueados para os venderem por alto +preço! Aqui têm o que é a falta de educação! + +Apesar das falsas ideias dos tribunos inflamados que advogam a +instrução, eu continuo pois a pedir para este povo educação, educação e +educação; e só depois, é que pedirei a instrução. + +Trata-se de um povo em que cada um quer ser independente, em que cada um +só pensa em mandar e não obedecer, porque ninguém pensa em que é muito +mais nobre obedecer do que mandar, exorbitando, ou sem capacidade para o +mando. + +Apoiado o governo no problema da ordem, temos que lhe dar apoio também +no problema da guerra. A entrada de Portugal na guerra, para mim, é +ainda hoje um mistério e se não é um _bluff_, é, pelo menos, um problema +que precisava ser muito esclarecido. Convenço-me disso pela relutância +que tem havido na publicação de certos documentos, e na apresentação +de certas condições. Mas, houvesse o que houvesse, a verdade é que +estamos ligados à Gran-Bretanha, por efeito de tratados antigos e que +não datam, se não estou em erro, do regímen republicano, e temos que +cumprir aquilo a que nos comprometemos. No problema da guerra há, pois, +que dar força ao governo para que ele continue a obra estabelecida pelas +condições especiaes em que se encontrava a nação. + +Mas o problema de que fundamentalmente nos separamos do governo, e +perante o qual nos encontramos, portanto, em campos opostos, é o que eu +chamo o problema da Nacionalidade. + +O Sr. Sidónio Pais demonstrou pelas suas palavras, e o seu governo +também o demonstrou por actos, que se deixa embalar muito pelas quimeras +impossíveis, pois quer normalizar a vida política da nação fazendo +ingressar os monárquicos na República. Não pode ser! Diante das palavras +proclamadas pelo chefe do Estado, devemo-nos manter na maior reserva e +na mais firme expectativa. + +E a conhecida reforma da lei da Separação destruiu as ilusões que +pudéssemos ter alimentado. + +Não nos é possível ingressar na República, porque somos monárquicos, +porque a República não se adapta ao sentimento nacional, porque a nação +tem oito séculos de tradições monárquicas, porque os ensinamentos da +política europeia nos indicam que as nações são tanto mais fortes quanto +mais forte é o seu regímen monárquico, e porque na Europa (a guerra o +mostra) o principio democrático está sendo vencido pelo principio +monárquico. A Rússia é o exemplo vivo. + +Por outro lado, a reforma da lei da Separação não foi feita em homenagem +à Igreja, mas sim, como o próprio relatório confessa, para fazer +desaparecer uma arma que se manejava contra a República! + +Sempre a defesa egoísta da República! + +Em homenagem à Igreja e ao sentimento católico da nação, o regímen +republicano devia rasgar completamente a lei da Separação. Não +compreendo como o regímen republicano quer resolver a questão +religiosa, sem ouvir a Igreja. + +Em 1910, havia algum conflito entre o Estado e a Igreja? Não. Havia um +regímen concordatário bom ou mau, não o discuto. Se não havia conflito, +porque foi o regímen republicano levantá-lo? Podia decretar que não +reconhecia a religião católica, e o Estado passava a viver independente +dela, como vive independente de quaisquer academias ou associações. +Queria o Estado alterar as suas relações com a Igreja? Entendia-se com +as suas autoridades superiores. O que não se compreende é que um regímen +que não é católico se disponha a reformar as coisas da Igreja. + +A reforma da lei da Separação restabeleceu a permissão do uso de hábitos +talares e deu aos seminários liberdade para regularem e dirigirem o seu +ensino interno; mas dizer que isso resolve o problema religioso em +Portugal não é verdade. Só se resolverá inteiramente o problema +religioso, quando à Igreja católica forem dadas regalias e privilégios +especiais em face das outras religiões, porque seria de uma +ingratidão profunda esquecer os múltiplos serviços que se devem à Igreja +católica. De resto, isto está mais ou menos no espírito público. + +Logo depois de 5 de Outubro, houve muitos aplausos à propaganda +anti-clerical, mas a nação, hoje, está convencida de que o perigo +clerical é uma lenda, e que a Igreja é um elemento insubstituível de +ponderação e ordem. + + + + +Conclusões. + + +A nossa aspiração é a Monarquia e, por isso, temos que estar preparados +para ela. Não sou revolucionário nem conspirador. O sentido das minhas +palavras é muito outro. Não tenhamos ilusões, nem esquecimentos: a +situação do Sr. Sidónio Pais não é eterna e, quando ela findar, ou +regressa Afonso Costa ou temos uma Monarquia. + +Os monárquicos têm pois que estar preparados, não para colocarem nas +janelas as bandeiras azuis e brancas, mas para estabelecerem nas suas +fileiras uma disciplina segura e uma obediência plena e absoluta ao Rei. + +A Monarquia só pode ser eficaz, só pode trazer a normalidade e a +tranquilidade ao país, quando não houver no pensamento de cada um de +nós, resíduos republicanos, preocupações liberalistas, aspirações +democráticas ou fantasias e quimeras de 1789; só pode ser eficaz e +trazer a normalidade, quando olharmos para o símbolo da nossa causa e +dos nossos princípios, e lhe obedecermos inteiramente; quando formos +como que um exército que só é perfeito quando obedece ao seu general; +quando pusermos o Rei acima das nossas dissensões pessoais, e tão alto +que só o vejamos pelas suas altas qualidades de majestade perfeita, e de +supremo e legítimo representante da nação; tão alto como ele nunca +esteve durante os oitenta anos de constitucionalismo. A Monarquia só +pode ser eficaz e trazer normalidade, quando o Rei se não veja obrigado +a tirar o poder a um para contentar outro, a dar o poder àquele para +contentar aqueloutro; quando não fizermos chegar aos ouvidos do Rei, e +nem mesmo aos últimos degraus do seu trono, as nossas questões pessoais, +as nossas birras e os nossos despeitos e quando fizermos com que não +haja outra coisa senão servidores da nação. É para isto que entendo que +todos nos devemos preparar. + +Os novos, que não têm ainda a inteligência estragada pelos vícios +doutros tempos, que não viram directamente tudo quanto se passou antes +do advento da República, devem levar ao espírito dos monárquicos a +consciência da necessidade desta orientação. Os velhos que assistiram, e +muitos foram cúmplices, ao que se passou, e os que não são nem velhos +nem novos, todos esses devem seguir os novos. + +Foi com os novos que o Sr. Sidónio Pais se encontrou e é também com os +novos que a Monarquia se há de encontrar. + +Eu pertenço a uma geração de sacrifícios, a uma geração de vítimas, que +nasceu ouvindo as maiores acusações sem provas, e bebeu essas +campanhas negativas e difamatórias como bebemos a água que nos dão ou +recebemos o ar que respiramos. Os novos têm de se agrupar e fazer deste +país, uma nação com um poder político que seja legítimo e autêntico, +cuja força, disciplinada, se estenda do exército à indústria e do +operariado às academias, na orientação que eu levo e que levam os meus +amigos integralistas. + +Só quando a nação atingir esse período encontrará a sua hora de salvação +e nova grandeza. + +Não se seduzam pelas velhas teorias da Liberdade, Igualdade e +Fraternidade que seduziram os nossos pais e com que nos embalaram na +infância. Estudem, pensem e reflictam, não se deixando levar por +quimeras risonhas de outros tempos. Olhem para o que se passa por essa +Europa fora, vejam o que é a disciplina, a organização, a submissão ao +poder, o que é o respeito ao mando, o que são as forças organizadas +diante de forças improvisadas. Vejam tudo isso e aprendam em tudo isso. + +Quando a Nação Portuguesa concentrar em si o máximo de energia e o +máximo de disciplina, a nação se salvará. Contribuamos todos para que +esse momento não tarde. + + +Tenho dito. + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of A Situação Política, by Alfredo Pimenta + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A SITUAÇÃO POLÍTICA *** + +***** This file should be named 34290-8.txt or 34290-8.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/4/2/9/34290/ + +Produced by Mike Silva + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. Special rules, +set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to +copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to +protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. 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You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: A Situação Política + +Author: Alfredo Pimenta + +Release Date: November 12, 2010 [EBook #34290] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A SITUAÇÃO POLÍTICA *** + + + + +Produced by Mike Silva + + + + + +</pre> + +<p> </p> + +<div style="text-align: center; padding: 1em; border:solid 2px #000;"> +<p style="font-size: 1.6em;"><u>ALFREDO PIMENTA</u></p> + +<p style="font-size: 2.5em;">A SITUAÇÃO<br> +POLITICA</p> + +<p style="font-size: 1.2em;">Conferência realizada<br> +no Salão Nobre da Liga Naval Portuguesa,<br> +na noite de 26 Fevereiro de 1918</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p><small>1918</small><br> +<span style="font-size: 1.2em;">L<small>IVRARIA </small>F<small>ERREIRA</small></span><br> +<small>FERREIRA L.<sup>da</sup>, Editores <br> +<i>132, 134, Rua Áurea, 136, 138</i> <br> +LISBOA</small></p> +</div> + + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<div style="text-align: center;"> + +<p style="font-size: 1.6em;">A SITUAÇÃO POLITICA</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<hr> +<p style="font-size:small;">Imprensa Libânio da Silva--Trav. do Fala-Só, 24, Lisboa</p> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<p style="font-size: 1.6em;"><u>ALFREDO PIMENTA</u></p> + +<p style="font-size: 2.5em;">A SITUAÇÃO<br> +POLITICA</p> + +<p style="font-size: 1.2em;">Conferência realizada<br> +no Salão Nobre da Liga Naval Portuguesa,<br> +na noite de 26 Fevereiro de 1918</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p><small>1918</small><br> +<span style="font-size: 1.2em;">L<small>IVRARIA </small>F<small>ERREIRA</small></span><br> +<small>FERREIRA L.<sup>da</sup>, Editores <br> +<i>132, 134, Rua Áurea, 136, 138</i> <br> +LISBOA</small></p> +</div> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<div id="corpo"> + +<p> <span class="pn">{5}</span></p> + + +<p><i>A Revolução de 5 de Dezembro encontrou a sua sanção legal nas eleições +gerais de 28 de Abril do corrente ano. Não tiveram essas eleições o carácter +plebiscitário, nem visaram a resolução do que continuo chamando, cada vez com +mais fortes razões, o Equívoco Nacional: foram, sim, a consagração do principio +da Ordem, encarnado, pessoalmente, no sr. Sidónio Pais. Dar um outro +significado a essas eleições é afirmar uma deplorável má-fé ou uma lastimável +ignorância da psicologia nacional. As palavras da nossa conferencia que hoje se +publica<span class="pn">{6}</span> não perderam da sua virtual oportunidade. O sr. Sidónio Pais tem +ao seu lado a Nação inteira, enquanto representar o principio da Ordem. É a sua +pessoa que nos dá garantias de que esse principio é respeitado: constatar isto, +é reconhecer os inabaláveis sentimentos conservadores da Nação. E como o +regímen republicano que é diferente da pessoa do sr. Sidónio Pais, não merece +confiança à Nação, esta, nas eleições de 28 de Abril, manifestando-se como se +manifestou, deu provas evidentes do seu sentir monárquico, cercando os +deputados e senadores monárquicos de uma votação bem significativa.</i></p> + +<p><i>A situação política só se esclarecerá definitivamente no dia em que a +Nação puder responder livremente à pergunta que se lhe faça sobre as +instituições políticas que prefere. Por ora, sabemos isto apenas: a Nação é +conservadora, e aclama quem lhe garantir, eficazmente e honradamente, o +principio da Autoridade. Nada mais.</i></p> + +<p> </p> + +<p><i>10 de Maio de 1918.</i></p> + +<p> </p> + +<p> <span class="pn">{7}</span></p> + +<p> </p> + +<p> </p> + +<div style="margin-left: 40%;"> +<p style="margin: 0;">S<small>R. </small>P<small>RESIDENTE!</small></p> + +<p style="margin: 0;">M<small>INHAS </small>S<small>ENHORAS!</small></p> + +<p style="margin: 0;">M<small>EUS </small>S<small>ENHORES!</small></p> +</div> +<p> </p> + +<p>Escolhi para assunto desta conferencia a situação política, porque, +contrariamente ao que pensa o maior numero das pessoas, entendo que a situação +política em Portugal, longe de se ter esclarecido, está a tornar-se cada vez +mais confusa; e entendo também que todos aqueles que têm responsabilidades +mentais e podem contribuir de alguma maneira para orientar a opinião pública, +devem vir às tribunas das conferencias dizer da sua razão. Não bastam os +artigos dos jornais e as notas oficiosas do governo para se compreender<span class="pn">{8}</span> a +situação, e a apresentar à opinião pública como ela deve ser apresentada.</p> + +<p>É preciso, pois, repito, que aqueles que tem o orgulho legítimo ou a +vaidade, se quiserem, de pensar por si próprios, e não pela cabeça dos outros, +venham, junto da opinião pública, ilustrá-la, oriental-a e indicar-lhe o +caminho que deve ser seguido.</p> + +<h1>A Revolução de 5 de Dezembro</h1> + +<h2>a) <small>FACTORES POSITIVOS E NEGATIVOS</small></h2> + +<p>A situação política, criada com a revolução de 5 de Dezembro, é +absolutamente diversa da que existia antes. Vivia-se numa tirania de +mediocretes. Muitas vezes se fala em ditadura tirana. Mas o que então +verdadeiramente existia era uma mediocracia mesquinha dominando cinco milhões +de habitantes, o que era indigno de uma nação com um passado como o nosso. +Podíamos ter um César dominador e forte. Mas<span class="pn">{9}</span> não era isso o que tínhamos. +Havia, apenas, pequeninos poderes anónimos e ocultos que desapareciam à mais +simples análise, que se furtavam à crítica séria que sobre eles quiséssemos +exercer. Era qualquer coisa de incómodo e de irritante, mas que não provocava +momentos de cólera, pois apenas provocava o tédio. Fora dos partidos +republicanos, não havia ímpetos de raiva: sentia-se aborrecimento. Bocejava-se. +</p> + +<p>O 5 de Dezembro representa assim uma tentativa de salvar o regímen +republicano. Esse acontecimento teve factores positivos e negativos. Os +factores positivos foram o Sr. Sidónio Pais, com a mocidade da Escola de Guerra +e os elementos que a esta se juntaram; os negativos foram os constituídos pela +atmosfera em que se vivia e pela repulsa que o regímen republicano, em sete +anos de demagogia impune, soube criar-se.</p> + +<p>Por parte dos partidos monárquicos, existia a expectativa, não só em +obediência às ordens de El-Rei, mas também porque assim o exigiam os superiores +e sagrados interesses da Causa monárquica--à qual convém<span class="pn">{10}</span> que o regímen +republicano liquide inteiramente as responsabilidades dos compromissos que +contraiu.</p> + +<p>Se, antes de 5 de Dezembro, eu dissesse aos que me escutam neste momento que +se ia tentar resolver o problema da ordem e que seria o Sr. Sidónio Pais que +dirigiria tal tentativa, ninguém me acreditaria, porque ninguém o categorizava, +ninguém o conhecendo.</p> + +<p>Mas o 5 de Dezembro apareceu, e quando, na tarde desse dia, correu a boa +nova de que o Triunvirato tiranete encontrara alguém--que lhe fazia frente, +houve uma esperança como aquela que acolheu a tentativa do governo de Pimenta +de Castro.</p> + +<p>E na hora em que o Sr. Leote de Rego (que tanto se louva de ter feito arrear +a bandeira alemã dos navios mercantes) teve de arrear a sua bandeira de +Comandante da Divisão Naval, o país respirou,--porque viu dominada a demagogia, +ou por que viu efectivar-se o seu ideal e a sua aspiração?</p> + +<p>A Nação viu, com agrado, que se caminhava para uma coisa melhor do que a que +estava, que se caminhava para a resolução<span class="pn">{11}</span> do problema da ordem pública, +problema que há cinquenta anos está sem solução e tem pervertido a alma da +nação, inutilizando-lhe todas as suas forças. Esse problema que se espalhou por +todos os países, nuns mais cedo, noutros mais tarde, surgiu para nós, quando +quisemos adaptar a este país, uma nova constituição de vida política, que nunca +chegou a aclimatar-se e a vingar.</p> + +<p>A situação que tínhamos em Portugal, em 5 de Dezembro de 1917, era lógica e +era a conclusão matemática de tudo o que se tinha feito desde que se implantou +entre nós o constitucionalismo. Essa situação tem raízes profundas, tem enormes +raízes no passado, mas começou a manifestar-se acentuadamente, quando quisemos +adaptar à Nação Portuguesa um regímen para que a sua alma nunca esteve +preparada. E a prova disto está em que todos nós respiramos mais tranquilamente +neste regímen ditatorial, porque, em Portugal, nunca se têm tão garantidas as +liberdades mais comezinhas como quando há suspensão de liberdades...<span class="pn">{12}</span></p> + +<p>Por mais que queiramos iludir-nos, por mais que queiramos falar nos imortais +princípios, todos sentimos isto, todos preferimos o Sr. Sidónio Pais, tendo na +mão todos os poderes do Estado, dos quais não tem abusado, antes, talvez, não +tenha sabido usar inteiramente,--a termos a centena de legisladores no +Parlamento e na Liberdade, porque neste caso, nunca sabemos quem toma a +responsabilidade de um acto que se pratica ou de uma medida que se adopta, +porque tudo foge e desaparece diante do anonimato da chamada Soberania +Nacional. Se a inteligência lúcida de um homem fez com que se arregimentasse a +seu lado a mocidade da Escola de Guerra e se disciplinasse, debaixo do seu +comando, uma determinada força do exército, e eis os factores positivos, o +resto estava feito: era o ambiente que o regímen republicano criou desde 5 de +Outubro de 1910. Já antes os republicanos se tinham incompatibilizado com o +sentimento nacional, sancionando, se não directamente, pelo menos +indirectamente, o regicídio, premiando um regicida nas<span class="pn">{13}</span> pessoas de sua +família, e fazendo uma apoteose monstruosa, impossível em qualquer país +civilizado de Europa.</p> + +<h2>b) <small>SUA FUNÇÃO NORMAL</small></h2> + +<p>Quando o triunvirato Afonso Costa, António José de Almeida e Norton de Matos +foi vencido, e o Sr. Sidónio Pais se encontrou senhor deste país, uma função, +principalmente, tinha o triunfador a executar: constituir-se em ditadura +militar, necessária neste país em que a disciplina e a ordem são vocábulos sem +sentido.</p> + +<p>Somos um país absolutamente apaizanado. Cada um de nós é um rebelde contra +as leis e contra a disciplina; nos mais pequenos actos da nossa vida, só +estamos bem quando afirmamos o que julgamos ser a nossa independência. A +concepção da Pátria é meramente negativa, provisória, e material. A +colectividade apenas existe para nos servir. Sob o ponto de vista do regímen +republicano, cada um dos republicanos é-o à sua maneira, de modo que a +república de um não é a república<span class="pn">{14}</span> dos outros. E é preciso, digamo-lo +entre parênteses, que entre os monárquicos não suceda o mesmo...</p> + +<p>Era necessária, pois, a ditadura militar que não devia ter por fim fazer uma +reforma da Constituição, mas sim, exclusivamente, pôr termo ao que eu chamo o +Equívoco nacional. Porque nós temos vivido, estamos vivendo num grande e +perigoso equívoco.</p> + +<p>Há muito tempo que de um e outro lado ouço dizer: «<i>A Nação está +comigo</i>»; mas não há maneira de se saber com quem a Nação está. Quando +aparece um triunfador, a Nação aclama-o. Mas o que significa isso, se as +turbas, as multidões, em Portugal, são mais mutáveis, nos seus movimentos e +expansões, de que a superfície do mar na sua cor?</p> + +<p>Eu não me deixo comover pelas manifestações das ruas e pelos vivas; o que +quero é ver levantadas as forças vivas da nação. Não são os lenços das senhoras +flutuando nas janelas, não são as palmas e os bravos que se dão nas salas ou +nas ruas, que dão força ao governo no poder.<span class="pn">{15}</span> Isso pode até perturbar o +espírito dos governos ou dos triunfadores, e inutilizar-lhes a acção.</p> + +<p>A resolução do Equívoco nacional a que me referi é a chave do problema +português. Enquanto não for resolvido, o problema da ordem está de pé. +Resolvê-lo militarmente era a função normal da revolução de 5 de Dezembro.</p> + +<h2>c) <small>SUAS CONSEQUÊNCIAS PRATICAS</small></h2> + +<p>A revolução de 5 de Dezembro, no entretanto, deu um governo heterogéneo, +mesclado, que não se sabe se está integrado no pensamento do seu presidente, +nem se sabe se tem ligação com este ou aquele partido; deu um governo indeciso +e incaracterístico, sem unidade de vistas e parece que sem unidade de +finalidade.</p> + +<p>As ligações políticas de alguns dos membros do governo tiram-lhe toda a +força e homogeneidade, e a singeleza de direcção e de objectivo que devia ter, +e mais do que nunca é necessária.<span class="pn">{16}</span></p> + +<h1>A Nação e a Revolução de 5 de Dezembro</h1> + +<h2><small>APOIO TEÓRICO E MESSIANISMO.</small></h2> + +<p>A atitude da Nação perante os resultados da revolução de 5 de Dezembro não é +nem podia ser aquilo que sonharam os seus autores.</p> + +<p>A Nação, perante a revolução de 5 de Dezembro, fez o que é muito próprio do +povo português: deitou foguetes, pôs bandeiras nas janelas, deu palmas, veio +para a rua dizer coisas bonitas,--toda a expansão do meridional satisfeito. Por +toda a parte, a pessoa do Presidente da República foi festejada. Estabeleceu-se +uma alegria tão grande, como se El-Rei D. Sebastião tivesse voltado...</p> + +<p>Eu nunca fui homem que acompanhasse as aclamações da multidão; todavia, +quando o Sr. Sidónio Pais regressou da sua viagem ao norte, fui ver a sua +chegada.</p> + +<p>Quando o vi entrar no Rossio, e assisti às aclamações que lhe faziam, eu +senti que<span class="pn">{17}</span> era muito melhor que lhas não fizessem, porque o colocavam tão +alto que eu temo pela boa conclusão da sua obra. Não era um simples oficial de +artilharia, comandante de forças revolucionárias, que chegava: era mais alguém, +era personalidade mais majestosa; era quase um César, faltando-lhe só trazer +Afonso Costa preso por uma cadeia, como na antiga Roma se fazia aos escravos... +</p> + +<p>Esta altura em que puseram o Sr. Sidónio Pais dá bem a nota do estado de +alma da Nação, da facilidade com que o país se desvaria, e eu receio muito +pelas perturbações nervosas causadas pelas alturas naqueles a quem as multidões +tão alto erguem...</p> + +<p>Esse entusiasmo indescritível era meramente teórico e não passou disso; mas, +repito, não é só de aclamações, vivas, lenços e flores, que os governos +necessitam para realizarem a sua obra com energia e decisão.</p> + +<p>A Nação deve pensar bem que não é desta forma que se resolvem as questões +pendentes, não é desta forma que se resolve<span class="pn">{18}</span> o problema da nacionalidade a +que logo me referirei.</p> + +<p>Longe de mim a intenção de empanar a obra gloriosa de 5 de Dezembro, tanto +mais que nunca será suficientemente grande a gratidão que possamos e devemos +afirmar ao homem que conseguiu fazer uma coisa que até ali ninguém tivera a +coragem de realizar: arrostar com Afonso Costa.</p> + +<p>A situação era assim parecida com a que nos oferece uma larga praça onde +numerosa garotada se apedrejasse e apedrejasse os transeuntes pacíficos e +indefesos. Não podíamos atravessar essa praça sem correr o risco de sermos +atingidos pelas pedras. Havia, é certo, uma esquadra de polícia; mas os seus +agentes não se arriscavam a pacificar a praça e a garantir a integridade da +cabeça aos que passavam. Por fim, aparece um mantenedor da ordem com seus +agentes: é o Sr. Sidónio Pais: corre, afasta, domina a garotada. Ela, porém, +existe ainda, embora longe, para lá das embocaduras das ruas... Só quando ela +desaparecer, se poderá então dizer que a ordem está completamente +mantida.<span class="pn">{19}</span></p> + +<p>O prestigio do Sr. Sidónio Pais apoia-se num facto puramente negativo: o +terror do democratismo. A sua situação por ora é apenas a de um mantenedor da +ordem que nos guarda, e a quem defendemos para que nos guarde.</p> + +<p>Ora não há só o problema da ordem a resolver: há o problema financeiro, o +problema económico e o problema internacional que é gravíssimo. Pode o Sr. +Sidónio Pais resolvê-los ou resolver algum deles? Não sei; mas só a resolução +certa de todos eles ou de alguns lhe dará a categoria de estadista, e colocará +legitimamente num alto pedestal a quem o conseguir. Para esse desiderato, +devemos reservar todas as nossas energias.</p> + +<p>Somos um povo messiânico... Mas porque não pôde ainda ser outro o apoio da +Nação? Porquê? Vamos vê-lo.<span class="pn">{20}</span></p> + +<h1>O regímen republicano português</h1> + +<h2>a) <small>A SUA ACÇÃO COMO ELEMENTO DE DISSOLUÇÃO NACIONAL</small></h2> + +<p>O regímen republicano português cavou um grande abismo entre si e a nação; +tem sido sempre, infatigavelmente, um elemento de dissolução nacional, porque, +ao proclamar-se, olhou para a nação e perguntou: qual é o principal problema a +resolver? A ordem pública?, o pão?, a situação internacional?, o ensino?, o +trabalho? Não! O primeiro problema, o fundamental, aquele em que todos têm os +olhos, aquele que representa a aspiração colectiva e a máxima urgência,--é o da +expulsão dos Jesuítas! E começou-se por aí. Andavam todos os lares domésticos +portugueses desassossegados, inquietos; todas as famílias estavam oprimidas, +vivendo sob pesadelos enormes, por falta de uma lei que estabelecesse o +divórcio. E veio a lei do divórcio. A seguir, surge a <i>lei da separação</i> e +atrás<span class="pn">{21}</span> disto, a república nada mais nos deu que constitua seu património e +sua glória, porque para mais não chegou o seu conhecimento da vida pública... O +resto é a multidão dos pequeninos expedientes, daquelas pequeninas providências +que vieram atrás da lei do divórcio, da expulsão dos Jesuítas e da lei da +separação.</p> + +<p>Nos centros, nos comícios, nas batuques partidários, onde se planeiam +ataques e ódios contra os monárquicos, foram esses os problemas que unicamente +preocuparam toda a atenção dos grandes estadistas e dos grandes legisladores de +1910. Não se fez uma obra positiva; e até o que podia ser bom por acaso, até +isso nunca o fizeram senão por mal...</p> + +<p>No meu bairro está a construir-se um edifício que é destinado à +<i>Maternidade</i>. Imaginam que esta Maternidade se está erguendo por amor à +mãe? Não; pois o lugar é impróprio e detestável; mas porque se estava +levantando ali uma capela ao Sagrado Coração de Jesus, vá de fazer a maldade, +de pregar a partidinha, de pôr a nota mesquinha e irritante: arrasam-se<span class="pn">{22}</span> +os alicerces da capela e ergue-se a Maternidade. Não há uma só medida que +possamos dizer que seja ampla, genérica e absolutamente boa; todas tem um fundo +antipático de maldade; em todas elas, há um bico de alfinete envenenado... O +país olhou o regímen republicano, um pouco convencido de que chegara a hora de +viver tranquilo. Estava cansado de lutas civis, de lutas políticas, de +campanhas de descrédito; e o novo regímen, em vez de procurar aproveitar a aura +que o bafejava, começou a provocar represálias, ódios, invejas e más vontades, +incompatibilizando-se de tal maneira com a Nação, que, perante o movimento de 5 +de Dezembro, ela limitou-se às palmas, aos vivas e aos apoiados, a isso que eu +chamo o apoio teórico.</p> + +<h2>b) <small>O SEU NEGATIVISMO SISTEMÁTICO</small></h2> + +<p>O regímen republicano é essencialmente negativo. Para ele, só há um facto +permanente: o perigo monárquico. Os republicanos dizem, repetem e decretam que +a<span class="pn">{23}</span> Monarquia jamais volta a Portugal; mas desde manhã até à noite e de +noite até pela manhã, não pensam noutra coisa senão na volta da Monarquia a +Portugal. Se ela nunca mais volta, se a República é amada por toda a Nação, se +a Nação quer a República, se a Nação é republicana, onde está o perigo +monárquico? Eles bem sentem que tudo lhes é provisório, a começar pelo chefe do +Estado cujas funções são constitucionalmente provisórias...</p> + +<p>Se um pobre campónio, um dia, no meio das suas terras, ignorando ainda que +já está a República, solta um viva à Monarquia, logo no dia seguinte os jornais +republicanos publicam telegramas em normando, afirmando desconsoladamente que a +Monarquia foi proclamada na aldeia de tal, e que a República está em perigo... +Se os partidos republicanos tivessem a consciência tranquila e a certeza de que +a Nação estava contente com a República, não andavam tão preocupados e +aterrados com o fantasma da Monarquia! De resto, todos eles sabem que ela +voltará.</p> + +<p>Um dos chefes republicanos mais célebres<span class="pn">{24}</span> e que tem a vantagem de ser +um veemente homem de bem, disse-me por mais de uma vez, que a República era +inadaptável a Portugal. Mas disse-mo a mim, e não o diz em público, por falta +de coragem e honradez cívica.</p> + +<p>A falta de sinceridade e a negação sistemática da evidente verdade afastam o +regímen republicano da Nação, e fazem com que esse regímen, ainda mesmo sob a +modalidade especial e simpática que lhe dá o Sr. Sidónio Pais não possa +encontrar já, hoje, outro apoio que não seja o apoio meramente teórico que está +tendo.</p> + +<h2>c) <small>A FALÊNCIA DA SUA MENTALIDADE</small></h2> + +<p>E a que é devida toda esta situação que se criou o regímen republicano? É +devida aos maus instintos ingénitos dos homens que a servem? Não, porque a +maior parte deles apesar da aguarrás e das forcas que prometem são incapazes de +matar uma mosca. O motivo é outro: é a falência da mentalidade dos seus +dirigentes. Ao olharmos os seus espíritos, o que sentimos é a<span class="pn">{25}</span> impressão +de que são espíritos fechados, curtos, sem horizontes e janelas. Sentimos que +há uma urgente e absoluta necessidade de os naftalinizarmos, de abrirmos as +suas janelas e deixarmos entrar neles o sol, a luz e o ar...</p> + +<p>Leram um dia Rousseau, Lamartine, Louis Blanc, Guizot, e ficaram por aí. E +no entretanto, quanto se tem andado já!</p> + +<p>Entre a mentalidade deles e a da Europa há um abismo!</p> + +<p>O estrangeiro, estudando e analisando o nosso país, no momento actual, fica +espantado de ver estes pequeninos, estes microscópicos indivíduos manejando +cinco milhões de homens, e não compreende que possa ser assim.</p> + +<p>E chamam-nos reaccionários, atrasados. Mas nós, os monárquicos, andamos a +par das modernas doutrinas sociais, não desconhecemos os modernos processos +científicos, e não ignoramos as sucessivas transformações doutrinárias e +práticas da Política; conhecemos a lição dos factos dos últimos tempos; e +aproveitamos com a lição da guerra; enquanto que eles, os<span class="pn">{26}</span> espíritos +republicanos, paralíticos, fechados em 89, nada mais sabem, nada mais vêm, nada +mais aprendem.</p> + +<p>Até já houve um chefe de partido que chegou a dizer que ele, paisano, com um +exército disciplinado, venceria os alemães! São espíritos <i>arriérés</i>, +incultos, primitivos, inadaptáveis à vida moderna.</p> + +<p>Não há maneira de os fazermos compreender que os povos têm que se adaptar a +necessidades superiores às suas teorias fantasistas; não há maneira de +convencer esses espíritos, imbecilizados alguns, de que devem parar na sua +experiência nefasta, de que devem parar na sua teimosia criminosa, de que devem +parar na sua birra indigna, e de que não devem cavar mais fundo a sepultura da +Nação!</p> + +<p>Nós tivemos uma serie de reis que, quaisquer que fossem os seus defeitos e +os seus erros, fizeram a Nação, engrandeceram a Nação, alargaram os seus +domínios, acrescentaram à glória do passado nova glória. Não há maneira de +convencer os espíritos republicanos de que essa serie de reis nos merece +respeito e amor, e que a Nação inteira<span class="pn">{27}</span> aspira e quer voltar às suas +instituições tradicionais.</p> + +<p>Quando Portugal, pequeno como é, sem exército e sem marinha, vivia no +regímen monárquico, tinha uma situação internacional invejável demonstrada +pelas atenções que nos dispensavam, com a sua presença, os soberanos das mais +fortes nações estrangeiras; e hoje, se queremos vencer a antipatia europeia, +temos que praticar actos que não nos dignificam nem impõem.</p> + +<p>A República... a República... Temos agora um governo digno de nós todos, +porque digno de todos nós se apresenta o Sr. Sidónio Pais. Mas esta situação +não é eterna. Quando cair, será a ocasião de se restaurar a Monarquia, para não +termos de voltar ao demagogismo...<span class="pn">{28}</span></p> + +<p> </p> + +<h1>A República nova</h1> + +<p>Há hoje uma forma republicana a que o Sr. Sidónio Pais chama <i>República +nova</i>. Quer dizer: existe hoje o contrário do que existia, há alguma coisa +que nós ainda não tínhamos visto.</p> + +<p>Quero acreditar que estejamos numa nova República e, pela minha parte, +confesso que contra esta nova República não senti ainda a mais pequena +animosidade ou oposição.</p> + +<p>Há quem se queixe. E julgo mesmo que certas restrições atingem certos +jornais. Eu aplaudo. Não são doutrinários os jornais que querem sair. São +folhas impressas, órgãos de insulto, de calúnia ou de infâmia. O governo não +deixa que elas saiam? Acho que o governo faz muito bem! Isso não pode magoar o +meu liberalismo. Porque eu recordo-me muito bem de que quando foi do governo +Pimenta de Castro, esse governo mole e bonacheirão, manso e lunático, honesto +mas inexperiente, <i>O Mundo</i>, esse<span class="pn">{29}</span> saudoso órgão do republicanismo +puro, não se cansou de acusar o governo de estar vendido à Espanha. E o general +Pimenta de Castro com cuja amizade me honrei e, me honro, como eu lhe chamasse +a atenção para a calúnia, não quis ler, não quis saber, como não quis saber de +muitas outras coisas. As consequências foram o 14 de Maio! Não deixa o actual +governo preparar-se uma situação igual, proibindo estas gazetas de aparecer em +público? Faz muito bem! Mas o governo tem uma tríplice função a desempenhar. +Além da função superiormente política e importante para ele e para o regímen, +de alterar as bases do actual sistema político republicano, tem ainda a função +penal e moral: penal, mandando para a África, como o tem feito, os +incorrigíveis, os reincidentes do crime comum, sejam ou não sócios do +democratismo; e moral, castigando os abusos e os erros do partido democrático e +do governo transacto. Se puder desempenhar estas funções, é caso para o +felicitarmos...</p> + +<p>Quanto ao aspecto político da sua missão,<span class="pn">{30}</span> levanta-se, actualmente, uma +celeuma enorme sobre se deve continuar o regímen parlamentar ou deve adoptar-se +o regímen presidencialista. Como observador e crítico, acho interessante o +assunto.</p> + +<p>Entendo que nós, como monárquicos, temos de nos manter alheios a essa +questão. Somos o partido dos monárquicos,--não somos ainda partido monárquico. +Não temos organização definida, embora tenhamos a chave dela, que é o Rei.</p> + +<p>O partido monárquico lançar na urna, como monárquico, o seu voto, para a +eleição presidencial, é fazer uma afirmação de princípio republicano, e revogar +a base fundamental do seu doutrinarismo monárquico. Mas se é preciso, para se +evitar um mal maior, impedir que o Sr. Sidónio Pais saia do Poder, concorramos +individualmente a dar-lhe a força precisa.</p> + +<p>Neste caso, não é um partido monárquico que intervém, são os indivíduos +monárquicos que o fazem. É uma ficção necessária.</p> + +<p>Esta questão que se formula sobre regímen<span class="pn">{31}</span> parlamentar e regímen +presidencialista é salutar, porque vai acostumando o país a pôr de parte o +regímen parlamentar, e ensina a opinião pública a reconhecer a possibilidade da +existência de um governo responsável e independente das tricas e habilidades +parlamentares. Eu compreendo a relutância dos republicanos pelo +presidencialismo.</p> + +<p>Os republicanos, verdadeiramente, não podem ser presidencialistas, e por +isso, faz bem o Sr. Afonso Costa, do fundo do seu exílio de Elvas, em protestar +contra o presidencialismo, como o Sr. António José de Almeida que não sabe o +que seja isso, ou o Sr. Brito Camacho a quem o presidencialismo não convém. A +República ou é parlamentar, caminhando a passos largos para o anarquismo, ou é +presidencialista e, então, deixa de ser autêntica república. Os +presidencialistas não são republicanos puros, são republicanos monarquizados. +</p> + +<p>Oxalá triunfe o principio presidencialista!</p> + +<p>Quando fui evolucionista, nesse tempo em que andei quatro anos a malhar +em<span class="pn">{32}</span> ferro frio, eu pedia uma república presidencialista com poderes +vitalícios para o chefe do Estado. Isso dá-me um tal ou qual desejo de assistir +à experiência.</p> + +<p>Faço pois votos por que a nação se habitue à diminuição das funções e +atribuições do parlamento, e entendo que os monárquicos devem, individualmente +dar todo o apoio e aplauso, escrito e falado, ao princípio presidencialista, +que é o mais benéfico e salutar dentro das doutrinas republicanas.</p> + +<p>Esta República nova tem um ambiente conservador e tem por cooperadores os +elementos monárquicos. É, por consequência, uma república de carácter +paradoxal, contra a qual os verdadeiros republicanos se apresentam em acto de +hostilidade, não tendo ainda entrado no caminho das violências, porque têm +medo; mas fá-lo-hão, quando virem que o sr. Sidónio Pais enfraquece. Mas como +os povos não se governam com instituições paradoxais, esta situação tem que se +esclarecer. Quando se esclarecerá? Não sabemos. Ninguém o sabe.<span class="pn">{33}</span></p> + +<p> </p> + +<h1>Os monárquicos e a Republica nova</h1> + +<p>Qual deve ser a atitude dos monárquicos perante a republica nova?</p> + +<p>Antes de 5 de Dezembro, havia duas correntes caracterizadas: a corrente +conservadora e a corrente demagógica.</p> + +<p>Agora, aparece-nos em campo uma terceira corrente que cria uma situação +complicada porque isto que está já não é República, não sendo ainda a +Monarquia. Já não é República, porque lhe falta Afonso Costa. Ainda não é a +Monarquia, porque lhe falta o Rei. Ora a nossa atitude é clara.</p> + +<p>Antes de 5 de Dezembro, diziam os republicanos que os monárquicos +desobedeciam às ordens do Rei, porque este lhes ordenava se colocassem ao lado +dos governos no que respeita à guerra, e os monárquicos não o faziam,--acusação +caluniosa, aliás, como é sabido.</p> + +<p>Mudou-se de situação, e veio um governo<span class="pn">{34}</span> que não nos insulta, que não +nos maltrata e que mantém a ordem, e nós com muito mais facilidade, agora, +cumprimos as ordens do Rei, e damos apoio a esse governo. Se antes da revolução +de 5 de Dezembro, fervia pancadaria rija nos monárquicos porque estes não +apoiavam os governos democráticos e da sacrílega união sagrada, agora, ferve a +mesma rija pancadaria porque apoiam um governo honesto e de honradas intenções. +</p> + +<p>Os republicanos são curiosos: dão aos monárquicos, em Portugal, direito de +cidade e de existência, com a condição de serem ou afonsistas, ou almeidistas, +ou camachistas; simplesmente monárquicos, monárquicos <i>tout court</i>, +monárquicos puros, não os admitem, os republicanos.</p> + +<p>Neste país, dão-se coisas que só neste país são possíveis!</p> + +<p>Ora nós não podíamos e não devíamos adoptar diante do actual governo outra +atitude que não fosse a que adoptamos, porque nós não somos desordeiros, e +perderíamos todo o nosso prestígio político, dando uma prova de falta de senso +e falta<span class="pn">{35}</span> de patriotismo, se nos colocássemos numa situação anarquista e +destruidora, perante o Sr. Sidónio Pais. As forças vivas da nação diriam que +éramos anarquistas, porque estávamos contra todos os poderes. Apoiamos +francamente e dedicadamente este governo, porque este é um governo diferente de +todos os outros. Apoiar este governo, e neste momento, é nosso dever, não +porque ele nos traga a Monarquia, mas porque nos traz a Ordem.</p> + +<p>Fazer a Monarquia...</p> + +<p>Se dependesse de eu abrir a minha mão o proclamar-se, agora, a Monarquia, eu +fechal-a-ia e pediria a toda a gente que ma apertasse bem, a fim de que, nesta +ocasião, a Monarquia se não fizesse, pois que, actualmente, não nos convém. Ela +há de vir no momento oportuno, porque não depende da vontade deste ou daquele, +a evolução de acontecimentos políticos e sociais dessa natureza.</p> + +<p>O apoio ao Sr. Sidónio Pais é lógico e legítimo, porque ele está cumprindo +com os nossos deveres internacionais, com aqueles deveres a que nos ligam +tratados<span class="pn">{36}</span> seculares, obra dos Reis e do Passado; e ainda porque o Sr. +Sidónio Pais está restabelecendo a ordem dentro das condições que lhe são +possíveis com a existência das instituições republicanas. Mas este apoio que +nós lhe damos, e a que eu chamo meramente teórico e aplauditivo, não pode ir +além, porque não poderá o Sr. Sidónio Pais nem ninguém, seja quem for! fazer +esquecer aos monárquicos o que o regímen republicano tem feito em Portugal, e +lhes tem feito a eles, como eu nunca poderei esquecer o que me fizeram os +democráticos--em insultos, em agravos, em ofensas e agressões. Receios de uma +consolidação republicana, só os terão os espíritos superficiais.</p> + +<p>É preciso levar ao espírito dos monárquicos a convicção de que a Monarquia +não pode e não deve vir somente pelos erros dos republicanos; deve vir e há-de +vir, sim, pela força da sua própria constituição, porque o organismo da +nacionalidade se integrou na forma monárquica e só a ela se adapta. A Monarquia +há de vir porque é uma conclusão lógica dos<span class="pn">{37}</span> acontecimentos, e não está no +poder dos demagógicos afasta-los, como não está no poder contrário apressa-los. +Eu prefiro que ela venha depois de um grande período de paz, de ordem, de +sossego e de progresso, dentro da República, a que venha sobre os ódios +fomentados pelos democráticos. Eu prefiro que a Monarquia venha quando a +situação social portuguesa esteja mais ou menos regulada, a que venha neste +momento em que se encontram ainda vivas todas as questões difíceis que uma +longa indisciplina impune agravou. Nós todos que amamos a nação devemos estimar +e desejar que, dentro da forma republicana, se aplanem todas as dificuldades, +de modo que a Monarquia possa receber o país no melhor estado possível.</p> + +<p>Se devemos apoio ao Sr. Sidónio Pais, no problema da ordem pública, é porque +não temos outro caminho a seguir, porque esse é o problema fundamental +português, sem a resolução do qual todas as tentativas de resolver os outros +são estéreis. Sobre o problema da ordem, sempre assim pensei.</p> + +<p>Eu nunca tenho de me arrepender do<span class="pn">{38}</span> que a este respeito preguei noutros +tempos, porque, por muitos que fossem os meus exageros e desvios, uma coisa +nunca fiz: foi defender actos de desordem, de violência, ou de anarquia; +coloquei-me sempre no ponto de vista de um homem com responsabilidades de +governo. Acima de tudo, primeiro que tudo, a ordem--que se baseia na educação. +</p> + +<p>Eu não quero só instrução, não; o que quero é educação. Não ensinem o povo a +ler, enquanto não estiver bem educado, porque se sabe ler, sem ser educado, +começa a disparatar.</p> + +<p>O povo que não está educado, se sabe ler, aprende a fazer ingredientes e +máquinas explosivas, praticando todas as tolices possíveis e imagináveis, +querendo imitar os lunáticos e fantasistas que aparecem pela Europa a propagar +desordens e tolices. Quando o povo tiver bem profundo o sentimento da ordem, +então que aprenda a ler à vontade. É preciso que o povo não deixe de ser +criminoso somente por medo ao código ou à polícia. Cada vez que se funda uma +escola, ergo as mãos ao<span class="pn">{39}</span> céu, porque nós só sabemos deseducar, só sabemos +fomentar a indisciplina e a desordem, só sabemos ensinar ler o que não deve ser +lido, e se não sabe compreender.</p> + +<p>Nós temos partidos anarquistas, sindicalistas e socialistas que ignoram o +que são essas doutrinas e que, com a sua falta de educação, ao lerem +Kropotkine, um pobre príncipe exilado que está agora na Rússia a ver a prática +dos seus dizeres, dão no roubo e no assassinato.</p> + +<p>Eu assisti a alguns dos desvairamentos e aos excessos e aos roubos que +ultimamente se deram nas ruas da cidade.</p> + +<p>Querem saber o que vi os assaltantes roubar e usar? Não era só o bacalhau, o +feijão ou a batata que lhes pudessem servir para a alimentação; eram +serpentinas e máscaras de Carnaval que espatifavam, garrafas de Champanhe e de +licores que não podiam beber, porque o seu paladar não está preparado para tais +bebidas, eram botas de luxo, sapatos de luxo que não podiam calçar,--enfim a +exibição do crime, na sua forma mais hedionda.<span class="pn">{40}</span></p> + +<p>E até ouvi que merceeiros houve que tendo tirado das suas lojas os géneros +que tinham, fingindo-se roubados, iam depois, comprar aos desgraçados das ruas +os géneros saqueados para os venderem por alto preço! Aqui têm o que é a falta +de educação!</p> + +<p>Apesar das falsas ideias dos tribunos inflamados que advogam a instrução, eu +continuo pois a pedir para este povo educação, educação e educação; e só +depois, é que pedirei a instrução.</p> + +<p>Trata-se de um povo em que cada um quer ser independente, em que cada um só +pensa em mandar e não obedecer, porque ninguém pensa em que é muito mais nobre +obedecer do que mandar, exorbitando, ou sem capacidade para o mando.</p> + +<p>Apoiado o governo no problema da ordem, temos que lhe dar apoio também no +problema da guerra. A entrada de Portugal na guerra, para mim, é ainda hoje um +mistério e se não é um <i>bluff</i>, é, pelo menos, um problema que precisava +ser muito esclarecido. Convenço-me disso pela relutância que tem havido na +publicação de<span class="pn">{41}</span> certos documentos, e na apresentação de certas condições. +Mas, houvesse o que houvesse, a verdade é que estamos ligados à Gran-Bretanha, +por efeito de tratados antigos e que não datam, se não estou em erro, do +regímen republicano, e temos que cumprir aquilo a que nos comprometemos. No +problema da guerra há, pois, que dar força ao governo para que ele continue a +obra estabelecida pelas condições especiaes em que se encontrava a nação.</p> + +<p>Mas o problema de que fundamentalmente nos separamos do governo, e perante o +qual nos encontramos, portanto, em campos opostos, é o que eu chamo o problema +da Nacionalidade.</p> + +<p>O Sr. Sidónio Pais demonstrou pelas suas palavras, e o seu governo também o +demonstrou por actos, que se deixa embalar muito pelas quimeras impossíveis, +pois quer normalizar a vida política da nação fazendo ingressar os monárquicos +na República. Não pode ser! Diante das palavras proclamadas pelo chefe do +Estado, devemo-nos manter na maior reserva e na mais firme expectativa.<span class="pn">{42}</span> +</p> + +<p>E a conhecida reforma da lei da Separação destruiu as ilusões que pudéssemos +ter alimentado.</p> + +<p>Não nos é possível ingressar na República, porque somos monárquicos, porque +a República não se adapta ao sentimento nacional, porque a nação tem oito +séculos de tradições monárquicas, porque os ensinamentos da política europeia +nos indicam que as nações são tanto mais fortes quanto mais forte é o seu +regímen monárquico, e porque na Europa (a guerra o mostra) o principio +democrático está sendo vencido pelo principio monárquico. A Rússia é o exemplo +vivo.</p> + +<p>Por outro lado, a reforma da lei da Separação não foi feita em homenagem à +Igreja, mas sim, como o próprio relatório confessa, para fazer desaparecer uma +arma que se manejava contra a República!</p> + +<p>Sempre a defesa egoísta da República!</p> + +<p>Em homenagem à Igreja e ao sentimento católico da nação, o regímen +republicano devia rasgar completamente a lei da Separação. Não compreendo como +o regímen<span class="pn">{43}</span> republicano quer resolver a questão religiosa, sem ouvir a +Igreja.</p> + +<p>Em 1910, havia algum conflito entre o Estado e a Igreja? Não. Havia um +regímen concordatário bom ou mau, não o discuto. Se não havia conflito, porque +foi o regímen republicano levantá-lo? Podia decretar que não reconhecia a +religião católica, e o Estado passava a viver independente dela, como vive +independente de quaisquer academias ou associações. Queria o Estado alterar as +suas relações com a Igreja? Entendia-se com as suas autoridades superiores. O +que não se compreende é que um regímen que não é católico se disponha a +reformar as coisas da Igreja.</p> + +<p>A reforma da lei da Separação restabeleceu a permissão do uso de hábitos +talares e deu aos seminários liberdade para regularem e dirigirem o seu ensino +interno; mas dizer que isso resolve o problema religioso em Portugal não é +verdade. Só se resolverá inteiramente o problema religioso, quando à Igreja +católica forem dadas regalias e privilégios especiais em face<span class="pn">{44}</span> das outras +religiões, porque seria de uma ingratidão profunda esquecer os múltiplos +serviços que se devem à Igreja católica. De resto, isto está mais ou menos no +espírito público.</p> + +<p>Logo depois de 5 de Outubro, houve muitos aplausos à propaganda +anti-clerical, mas a nação, hoje, está convencida de que o perigo clerical é +uma lenda, e que a Igreja é um elemento insubstituível de ponderação e ordem. +</p> + +<p> </p> + +<h1>Conclusões.</h1> + +<p>A nossa aspiração é a Monarquia e, por isso, temos que estar preparados para +ela. Não sou revolucionário nem conspirador. O sentido das minhas palavras é +muito outro. Não tenhamos ilusões, nem esquecimentos: a situação do Sr. Sidónio +Pais não é eterna e, quando ela findar, ou regressa Afonso Costa ou temos uma +Monarquia.</p> + +<p>Os monárquicos têm pois que estar preparados,<span class="pn">{45}</span> não para colocarem nas +janelas as bandeiras azuis e brancas, mas para estabelecerem nas suas fileiras +uma disciplina segura e uma obediência plena e absoluta ao Rei.</p> + +<p>A Monarquia só pode ser eficaz, só pode trazer a normalidade e a +tranquilidade ao país, quando não houver no pensamento de cada um de nós, +resíduos republicanos, preocupações liberalistas, aspirações democráticas ou +fantasias e quimeras de 1789; só pode ser eficaz e trazer a normalidade, quando +olharmos para o símbolo da nossa causa e dos nossos princípios, e lhe +obedecermos inteiramente; quando formos como que um exército que só é perfeito +quando obedece ao seu general; quando pusermos o Rei acima das nossas +dissensões pessoais, e tão alto que só o vejamos pelas suas altas qualidades de +majestade perfeita, e de supremo e legítimo representante da nação; tão alto +como ele nunca esteve durante os oitenta anos de constitucionalismo. A +Monarquia só pode ser eficaz e trazer normalidade, quando o Rei se não veja +obrigado a tirar o<span class="pn">{46}</span> poder a um para contentar outro, a dar o poder àquele +para contentar aqueloutro; quando não fizermos chegar aos ouvidos do Rei, e nem +mesmo aos últimos degraus do seu trono, as nossas questões pessoais, as nossas +birras e os nossos despeitos e quando fizermos com que não haja outra coisa +senão servidores da nação. É para isto que entendo que todos nos devemos +preparar.</p> + +<p>Os novos, que não têm ainda a inteligência estragada pelos vícios doutros +tempos, que não viram directamente tudo quanto se passou antes do advento da +República, devem levar ao espírito dos monárquicos a consciência da necessidade +desta orientação. Os velhos que assistiram, e muitos foram cúmplices, ao que se +passou, e os que não são nem velhos nem novos, todos esses devem seguir os +novos.</p> + +<p>Foi com os novos que o Sr. Sidónio Pais se encontrou e é também com os novos +que a Monarquia se há de encontrar.</p> + +<p>Eu pertenço a uma geração de sacrifícios, a uma geração de vítimas, que +nasceu<span class="pn">{47}</span> ouvindo as maiores acusações sem provas, e bebeu essas campanhas +negativas e difamatórias como bebemos a água que nos dão ou recebemos o ar que +respiramos. Os novos têm de se agrupar e fazer deste país, uma nação com um +poder político que seja legítimo e autêntico, cuja força, disciplinada, se +estenda do exército à indústria e do operariado às academias, na orientação que +eu levo e que levam os meus amigos integralistas.</p> + +<p>Só quando a nação atingir esse período encontrará a sua hora de salvação e +nova grandeza.</p> + +<p>Não se seduzam pelas velhas teorias da Liberdade, Igualdade e Fraternidade +que seduziram os nossos pais e com que nos embalaram na infância. Estudem, +pensem e reflictam, não se deixando levar por quimeras risonhas de outros +tempos. Olhem para o que se passa por essa Europa fora, vejam o que é a +disciplina, a organização, a submissão ao poder, o que é o respeito ao mando, o +que são as forças organizadas diante de forças improvisadas. Vejam tudo isso e +aprendam em tudo isso.<span class="pn">{48}</span></p> + +<p>Quando a Nação Portuguesa concentrar em si o máximo de energia e o máximo de +disciplina, a nação se salvará. Contribuamos todos para que esse momento não +tarde.</p> + +<p> </p> + +<p>Tenho dito.</p> + +</div> + + + + + + + +<pre> + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of A Situação Política, by Alfredo Pimenta + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A SITUAÇÃO POLÍTICA *** + +***** This file should be named 34290-h.htm or 34290-h.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/4/2/9/34290/ + +Produced by Mike Silva + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. 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