diff options
| -rw-r--r-- | .gitattributes | 3 | ||||
| -rw-r--r-- | 27542-8.txt | 1263 | ||||
| -rw-r--r-- | 27542-8.zip | bin | 0 -> 25310 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 27542-h.zip | bin | 0 -> 26585 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 27542-h/27542-h.htm | 1285 | ||||
| -rw-r--r-- | LICENSE.txt | 11 | ||||
| -rw-r--r-- | README.md | 2 |
7 files changed, 2564 insertions, 0 deletions
diff --git a/.gitattributes b/.gitattributes new file mode 100644 index 0000000..6833f05 --- /dev/null +++ b/.gitattributes @@ -0,0 +1,3 @@ +* text=auto +*.txt text +*.md text diff --git a/27542-8.txt b/27542-8.txt new file mode 100644 index 0000000..fdd7ae4 --- /dev/null +++ b/27542-8.txt @@ -0,0 +1,1263 @@ +The Project Gutenberg EBook of O Centenario de José Estevão, by +Sebastião de Magalhães Lima + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: O Centenario de José Estevão + Homenagem da Maçonaria Portugueza + +Author: Sebastião de Magalhães Lima + +Release Date: December 16, 2008 [EBook #27542] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CENTENARIO DE JOSÉ ESTEVÃO *** + + + + +Produced by Pedro Saborano. A partir da digitalização +disponibilizada pela bibRIA. + + + + + + +O Centenario de José Estevão + +DISCURSO + +PRONUNCIADO NO THEATRO DE AVEIRO + +EM NOME DA + +Maçonaria Portugueza + + + +MAGALHÃES LIMA + +O Centenario de José Estevão + +HOMENAGEM + +DA + +Maçonaria Portugueza. + +LISBOA + +Composto e impresso na Typ. La Bécarre, de F. Carneiro & C.ª + +47, Rua Nova do Almada, 49 + +1910 + + + +_Aos_ + +Maçons Portuguezes + +_Meus companheiros e meus Irmãos_ + +Lisboa, 26 de Dezembro de 1909. + +_Magalhães Lima_ + + + + +SENHORAS E SENHORES: + + +A vossa manifestação toca profundamente o meu ser, faz vibrar a minha +alma, não porque me lisongeie o applauso do publico, o applauso da +galeria, que é tudo quanto ha de mais ephemero como ephemera é a espuma +do mar que o vento leva (os persas adoravam o sol, quando estava no seu +zenith e apedrejavam-no, quando desapparecia no horisonte; as folhas do +loureiro são narcoticas, entorpecem e provocam o somno, e os idolos só +são idolos, ai d'elles! emquanto se lhes não vêem os pés de barro!) mas +porque reconheço quanto ha de sincero, de espontaneo, de effusivo e de +tocante na vossa homenagem. + + + + +Aveiro, pátria de José Estevão + + +Bem se póde dizer, senhoras e senhores, que fômos criados e embalados no +mesmo berço; que respirámos, juntos, o mesmo ar sadio da liberdade que +nos trouxe a brisa do mar; que partilhámos das mesmas alegrias; que +pranteámos nos mesmos pesares e que bebemos pela taça da mesma amisade +effusiva. Em Aveiro, tenho a minha familia natural e a minha familia +espiritual--que sois todos vós! Perante a minha razão, ambas são +egualmente legitimas. Fomos companheiros e somos irmãos. Por isso podeis +bem imaginar, podeis bem aquilatar, com que intimo alvoroço, com que +profundo recolhimento, venho hoje aqui, n'este dia solemnissimo (_sursum +corda!_) em que o corpo se me curva, ao mesmo tempo pelos annos e pela +commoção, semelhantemente a uma arvore amada, tronco bemdito, tronco +sagrado! que afagámos em criança e que vimos crescer; sim, repito, +podeis bem imaginar e aquilatar com que entranhada devoção, venho hoje +aqui recordar antigos camaradas queridos que cairam na estacada, ao +sôpro de ventos inclementes, porventura impiedosos. E entre outros, +apraz-me citar Mendes Leite, Bento e Bernardo Magalhães, Agostinho +Pinheiro, Francisco Rezende, Manuel Firmino de Almeida e Maia, Almeida +Vilhena, Julio Pereira de Carvalho e Costa, Manuel de Mello Freitas, +Chrispiniano da Fonseca, Manuel Gonçalves de Figueiredo, e tantos outros +que alentaram a minha mocidade e foram para mim como que arco-iris +luminosos na primavera da vida. + +Não procuro inquirir das suas ideias politicas, nem isso importa, n'um +momento em que todos os aveirenses, ousarei mesmo dizer, em que todos os +portuguezes estão ligados, unidos, estreitados e vinculados pelo mesmo +pensamento, pelo mesmo sentimento e pela mesma vontade. A hora é para a +conciliação: não é para a repulsão. A hora é para o amor e para a +concordia: não é para o odio e para a vindicta. É uma hora de jubileu +nacional que não comporta nem sectarismos nem exclusivismos. + +Um mixto de melancholia pungente e de alegria intensa me domina e +avassala: de tristeza pelos que desappareceram, sombras queridas atraz +das quaes corremos em vão, numa ancia febril, quasi infantil; de +alegria, pelos que, escapados ao naufragio, eu vim hoje aqui celebrar, +glorificar e acclamar, com o desvanecimento com que os antigos romanos +exclamavam, orgulhosos: _civis romanus sum_, sou cidadão romano; com o +orgulho com que Miguel Angelo bradava nos ultimos annos da sua vida: +_Anch'io sono pittore_, ainda sou pintor. Com esse mesmo desvanecimento +poderei exclamar: _sou cidadão aveirense_. Com esse mesmo orgulho, o +orgulho de Pericles, depois da segunda derrota do Peleponeso, poderei +bradar: _eu de mim sou o que era e estou onde sempre estive!_ + +Como poderia occultar, com effeito, o enternecimento que me enche o +coração, n'uma onda de amor, n'uma emoção intraduzivel, ao encontrar-me +de novo n'esta pittoresca cidade de Aveiro, onde, através um delicioso +kaleidoscopio, entrevejo, em doce visão, o cysne do Vouga, na sua alvura +immaculada, como o cysne do _Lohengrin_; em Aveiro, a minha patria +adoptiva, _terra mater_, onde jazem os restos mortaes de uma mãe +adorada; onde deixei o exemplo sugestivo de um pae honrado e forte; onde +tenho um irmão, exemplar raro de elevação moral e intellectual; onde +recebi, pela primeira vez, a palavra de ordem, para os rudes combates da +existencia; onde, semelhantemente ao peregrino, ao romeiro que, depois +de ter percorrido longinquas paragens, regressa ao lar, não para topar +com a desillusão cruel, como o Frei Luiz de Sousa, mas como o Fausto da +lenda, para reviver na sua Margarida fiel, isto é, no coração +fiel--venho encontrar alguns d'aquelles que tanto amei, como eu, +pendidos para o crepusculo. Como poderia occultar-vos o immenso jubilo +de que estou possuido, ao vêr n'esta sala alguns dos legitimos +representantes dos que, pela liberdade viveram e por ella soffreram e se +sacrificaram, legando-nos o difficil mas grato encargo, não só de a +conservar e de a defender, de a mantêr integra, como a bandeira de um +regimento, senão tambem o de accrescentar novas victorias ás antigas +victorias, aos antigos triumphos novos triumphos. N'esta religião, toda +de piedade, de amor, de carinho, tenho educado o meu espirito e n'ella +espero morrer. + +A amizade é um beneficio dos deuses, diziam os gregos. Emilio Castelar, +a quem eu devi uma das raras consagrações da minha vida, depois de umas +ligeiras escaramuças que tivemos na imprensa hespanhola, e que +arrefeceram um tanto as nossas relações pessoaes, aproveitando uma das +visitas da princeza Ratazzi a Lisboa, escreveu-me uma longa carta, na +qual, entre outras coisas, me dizia o seguinte: «As luctas da politica, +meu querido amigo, por mais gloriosas e brilhantes, não valem uma boa +affeição que inunda os nossos corações de uma luz radiosa, divina, a +unica capaz de espancar as trevas da discordia.» + +Quando se chega á minha edade--já Lamartine o constatava--vive-se muito +de recordações. Recordar, n'este caso, é resuscitar; é evocar a ala dos +namorados que nos tempos heroicos de mosqueteiro se batiam, quando não +morriam, pela sua dama idolatrada. E a dama, para mim, foi sempre e é +ainda a Ideia, a boa, a grande, a generosa Ideia; a origem de todos os +commettimentos, de todas as audacias, de todos os heroismos; a Ideia, +doce noiva espiritual, que não atraiçôa como os homens, que consola e +faz viver; a Ideia, estrella, guia, pharol, que nos conduz á Terra da +Promissão; a Ideia, mais poderosa do que os grandes potentados da terra, +mais forte do que todos os exercitos do mundo, a Ideia em marcha não é +outra coisa senão a propria humanidade descrevendo, através a historia e +os seculos, a sua trajectoria luminosa, do mesmo modo que os astros nos +espaços obedecem á lei da gravitação universal. + +Athenas, com os seus monumentos--exclamava Castelar--Roma com as suas +leis; Florença com as suas artes da Renascença; Veneza com a sua +bussola; Pisa com a sua lei do pendulo; Strasburgo com a imprensa; o +telephone,--acerescentarei--o telegrapho sem fios, o automobilismo, o +balão dirigivel, o aeroplano--que representa tudo isso senão a Ideia +illuminando o mundo, como a collossal estatua da Liberdade que se +encontra á entrada do porto de Nova-York? + +Nada mais consolador e fortificante do que recordar nomes queridos e +saudosissimos e relembrar sitios, onde, na despreoccupação dos annos, na +suavidade bucolica de Virgilio, vivi as minhas primeiras illusões, +povoadas pelas abelhas do Himeto, como o philosopho que da sua torre de +marfim vê o mundo côr de rosa, através uma atmosphera diaphana e +transparente. + + + + +A supremacia moral + + +Felizes os que, longe do embate, do choque das paixões brutaes e +grosseiras, das ambições illegitimas e inconfessaveis, dos odios +implacaveis, podem manter uma juventude espiritual, a eterna juventude, +divinizada por Petrarcha, amando a Vida e o Universo, na triplice +manifestação de belleza, de verdade e de justiça. + +É essa mocidade espiritual, ou, antes, essa força moral que caracterisa +o sabio, o philosopho, o poeta, o artista, emfim todos os privilegiados +do espirito e do coração. + +E foi seguramente essa mocidade espiritual, essa grande e poderosa força +moral que, mais do que nenhuma outra, caracterisou esse homem raro, +unico, excepcional, que viemos hoje aqui celebrar n'um frémito unisono +dos nossos corações, na suprema vibração das nossas almas; a palavra +feita luz, o verbo feito marmore, mais poderoso do que os thronos dos +Cesares, do que as tiáras dos pontifices--José Estevão Coelho de +Magalhães--personalidade de granito; cidadão feito para a antiga Roma +que não para o Baixo Imperio de uma sociedade corrupta; o ideal da +liberdade, do amor, da justiça, da emancipação humana, na sua maior +elevação moral e civica, o ideal da patria, d'esse patriotismo que teve +o seu echo triumphal no hymno da _Maria da Fonte_, como os +revolucionarios de 89 o tiveram na sua immortal _Marselheza_. + +Superior á força das bayonetas dos Hapsburgos, na Austria, de Eduardo +III, em Inglaterra, de Carlos V e Filippe II, em Hespanha, de Luiz XIV e +Napoleão I, em França, não cessarei de o repetir--está a acção moral do +individuo que foi, é e será sempre o segredo da civilisação. O homem não +foi feito para um eterno martyrio e para repellir eternos attentados. Ha +uma coisa superior a todas as luctas violentas: o dever reciproco. O +methodo da civilisação não se conquista, porém, com a mesma facilidade +com que se conquista uma praça forte. + +As procellas, as trombas, os cyclones--dizia o inclito Ruy Barbosa, n'um +dos seus discursos gravados em bronze--devastam mas não duram. O que não +passa é o oceano de verdades eternas, indifferentes ao rugir das paixões +contemporaneas, e por sobre elle a immensidade siderea das almas, que és +tu, ó liberdade! + +As demagogias são cataclysmos passageiros. Quasi todas as revoluções de +vertigem popular naufragaram na dictadura. Só são definitivas as +revoluções do direito e pelo direito: a que descaptivou a Hollanda, no +seculo XVI; a que renovou a Inglaterra, no seculo XVII; a que organisou +as colonias anglo-americanas, no seculo XVIII, e a que fizeram, no +seculo XIX, a America latina, a Belgica, a Italia e a Grecia. + +Ao contrario de Carlysle, que via na historia a obra pessoal e quasi +exclusiva de alguns que elle denominou heroes ou grandes homens, +Michelet, o seductor Michelet, via na historia a obra das multidões, a +obra do povo, o protogonista de todas as revoluções. + +Qual das duas theorias, qual dos dois criterios philosophicos será o +verdadeiro? + +Eu creio que ambos, porque, assim como a acção completa o pensamento, +assim tambem a Revolução completa a evolução. + +Foi certamente Camillo Desmoulins, quem, no Palais Royal, n'uma noite, +ao mesmo tempo tragica e festiva, interpretando o sentimento francez, e, +mais do que o sentimento francez, o sentimento humano, soltou o grito +libertador--_Á Bastilha!_ Mas foi a população do bairro de Santo +Antonio, composta de esfarrapados, de famintos, de andrajosos, de _sans +culottes_, da canalha, na linguagem da Ordem, quem a assaltou e a +derrubou. Quero referir-me á Bastilha franceza, do seculo XVIII, porque, +depois d'isso, quantas Bastilhas se ergueram e quantas estão ainda de +pé, para vergonha da civilisação e da humanidade! + +Foi, sem duvida, Emilio Zola quem, no processo Dreyfus, interpretando +ainda o sentimento humano, soltou aquell'outro não menos formidavel +brado: _Accuso!_ Mas foi a opinião mundial, foi a consciencia +collectiva, quem lhe deu a victoria, assim como foi a opinião mundial, a +consciencia collectiva, quem denunciou o assassinio judiciario de +Francisco Ferrer. Não foram os Pyrineus que separaram momentaneamente a +Hespanha da Europa; não foi o Oceano que a separou da America: foi o +carrasco, com as mãos retintas de sangue, quem a isolou do mundo +civilisado. + +Foi Leão Tolstoi quem proclamou a recusa ao serviço militar, como meio +de acabar com as guerras que ensanguentam a humanidade. Mas foram as +massas populares, foram os intellectuaes, que julgam sempre em ultima +instancia, tribunal acima do qual não ha, não póde haver, outro +tribunal, quem lhe assegurou o triumpho moral. + +Isto quer dizer, que a iniciativa individual só é fecunda, quando +coroada pelo esforço collectivo. Entregue e abandonada a si, raramente +consegue vencer. + +Os homens só são grandes e só poderão chamar-se heroes, quando vivem +para os seus semelhantes, quando os seus corações pulsam e vibram com o +coração do povo, n'um mesmo ideal e n'uma mesma aspiração! + + + + +Os heroes + + +Serão, porém, admissiveis os heroes? + +O proprio tribuno, no seu famoso discurso da _Charles et George_, +illuminado pelo mais ardente patriotismo, repudia-os com aversão. +_Detesto os heroes todos. Os heroes são excepções monstruosas da nossa +natureza_--dizia elle. + +Aqui revela-se o precursor do pacifismo, isto é, da justiça integral e +da paz universal, que hoje preoccupa e absorve todos os grandes +pensadores do Universo. Porque José Estevão foi, principalmente, um +illuminado, um vidente, um precursor, como tentarei provar na sequencia +do meu discurso. + +José Estevão repudiava certamente os heroes que se assignalam nos campos +da batalha, devastando como cyclones, matando como assassinos, roubando +como ladrões, os heroes, synonimos de guerra e de conquista. + +A guerra! Ironia pungente, sarcasmo cruel da civilisação! + +Uma pobre mulher do povo amamenta o filho com o sacrificio do proprio +sangue; instrue-o e educa-o com o sacrificio do proprio estomago; e, +quando a creança se torna um homem, um operario, um trabalhador, de modo +a poder amparal-a n'uma velhice repousada, vem a ordem soberana em nome +da lei, e manda-o para os campos de batalha, como se mandam as rezes +para o matadouro--para o matar... + +Mas José Estevão não podia repudiar, com a mesma aversão, os heroes que +se assignalam no campo do pensamento, melhorando as condições da +existencia, tornando os homens mais felizes, porque elle foi a +encarnação mais pura, mais viva, mais authentica d'esse heroismo. + +Que são, com effeito, os heroes da antiguidade, Annibal, Cesar, +Napoleão, comparados com os heroes do nosso tempo, com os Berthelot, com +os Pasteur, com os Victor Hugo, com os Curie, com os Edison, com os +Darwin, com os Herbert Spencer, com todos os bemfeitores da humanidade, +emfim? + +Heroe, n'esta accepção, é synonimo de soberania moral e intellectual. E +foi esta soberania que José Estevão exerceu na sociedade portugueza e +que o fez entrar na immortalidade da historia. + +«_A supremacia moral é o unico poder verdadeiro. Os caracteres +superiores e os superiores talentos são aquelles que têem tanta +perspicacia para conhecer a verdade, como força para propugnar por +ella._» + + + + +A psychologia de José Estevão + + +Não nos precipitemos, porém. + +Para bem penetrar a psychologia de um homem celebre, torna-se mister +averiguar, inquirir, investigar o meio em que se desenvolveram as suas +faculdades, em que se expandiu a sua acção moral e social. + +José Estevão nasceu em Aveiro. + +Quantas vezes, na sua predilecta Costa Nova do Prado, o mar, na sua +immensidade, na sua grandeza, na sua magestade, o mar gigante e +indomavel, provocando a nostalgia de mundos infinitos, lhe não teria +suggestionado alguns dos mais bellos pensamentos dos seus discursos +emocionantes? Quantas vezes não teria comparado o oceano com as grandes +revoluções da historia, pelo seu correr impetuoso, pelo seu rugir +leonino? E, quantas vezes, o não teria cotejado com a humanidade, quer +nas horas de bonança, quer nas horas terriveis em que a onda galga o +rochedo e invade, alterosa, a praia, como protesto contra a intrusão dos +homens, e que é a perfeita imagem das horas tragicas da insurreição, que +para os povos calcados, pisados e escravisados representa um direito, +muitas vezes um dever, e, algumas vezes tambem, uma necessidade. + +José Estevão nasceu em Aveiro. + +E, assim como a população dos centros industriaes é naturalmente +propensa ás ideias socialistas, a população das terras maritimas é +naturalmente propensa ás ideias republicanas, talvez pela independencia +que só a natureza póde dar. + +Sempre me hei de lembrar que encontrei nos pescadores de Aveiro os meus +primeiros adeptos e nunca esquecerei a galhardia, o garbo, a intrepidez +com que os vi marchar, através as ruas de Lisboa, no cortejo civico do +tri-centenario de Camões, ladeando o carro do _Commercio e Industria_. + +Foi um passeio triumphal que lhes preparei que redundou n'uma immensa +apotheose, apotheose romana, a Aveiro e aos aveirenses. + +O pescador e o mineiro são para mim as duas entidades mais sympathicas e +que mais me enternecem. + +É preciso ter descido a uma mina, como eu desci, na Belgica, para se +avaliar o que representa em esforço, em sacrificio, em abnegação, em +heroismo, a vida do mineiro. + +N'uma especie de ascensor, improvisado com taboas e cordas, desci +trezentos metros abaixo do solo--a altura da Torre Eiffel, de Paris. As +galerias são percorridas pelos wagonetes que assentam em _rails_ n'uma +extensão de muitos kilometros. O mineiro, mascando o carvão para illudir +a propria fome, está ordinariamente de costas, com a lanterna cingida á +testa ou ao ventre, de picareta em punho, para melhor poder extrahir o +minerio. Os trabalhadores formam dois turnos: um que desce ás 6 da manhã +e sóbe ás 6 da tarde, e outro que desce ás 6 da tarde e sóbe ás 6 da +manhã. + +E tal é o terror que os domina, ao descerem aos poços, que a muitos vi +eu, com espanto, persignarem-se e benzerem-se, como quem se despede da +luz e não tenciona mais regressar. + +São escolhidos de preferencia os celibatarios. Até as alegrias da +familia lhes são defesas! E quantos não vão encontrar a cegueira, e +quantos não vão encontrar a mais affrontosa das mortes n'aquellas +catacumbas immensas! + +E, ao passo que as companhias mineiras dão aos seus accionistas 20, 30, +40 e 50 por cento de dividendo, o mineiro ganha o indispensavel para não +morrer de fome. Alli, constatei, como tinha egualmente constatado na +Bolsa de Berlim, vasta _menagerie_ de feras ambiciosas, quanto o +socialismo tem uma razão logica de ser. Permitti, senhores, que exclame, +com Paulo Luiz Courier: _Ó grandes da terra, olhae para o que se passa e +tende juizo se podeis!_ + +Do pescador, nada vos direi, porque todos vós conheceis a sua temeridade +e o seu arrojo, expondo a vida com a serenidade dos grandes heroes, para +alimentarem os seus semelhantes. + +Ainda por occasião do cortejo civico do tri-centenario de Camões, +Ramalho Ortigão, na occasião em que se organisava a procissão, no +Terreiro do Paço, tomando-me do braço, levou-me a vêr o que elle chamava +os seus pescadores, os povoeiros, os pescadores da Povoa de Varzim, e +indicando-me um, disse-me: este salvou seis vidas. Tinha o peito coberto +de medalhas, como os generaes famosos. Por meu turno, tomando-o tambem +pelo braço, fui mostrar-lhe aquelles a que eu chamava os meus +pescadores, os pescadores de Aveiro, e indicando-lhe um, accrescentei: +este salvou 12 vidas. Não tinha uma unica medalha ao peito. Bem se via +que era da patria de José Estevão! + +José Estevão bebeu no berço o leite da liberdade, se assim me posso +exprimir; e, chegado á edade da razão, acompanhou em espirito a mais +cosmopolita de todas as revoluções--a revolução de 1848. + +Um seu e meu dilecto amigo, José Elias Garcia, alludindo ao facto, +disse-me um dia: «Quando esse movimento, que tantas esperanças havia +alimentado, fracassou em França, houve alguem que chorou em Portugal. +Esse alguem fui eu.» + +Nenhuma revolução logrou, com effeito, como esta, apaixonar e commover +os espiritos, pelo seu sentimentalismo idealista e humanitario. + + + + +O socialista + + +O sentimento de então transformou-se, porém, n'uma realidade positiva, +moral e humana que hoje assoberba o mundo e ameaça abalar a sociedade +pelos alicerces, tendo invadido até as espheras governamentaes. + +Lloyd George, um digno continuador de Lincoln, o rachador de lenha, que, +pelos proprios meritos, chegou á presidencia da Republica dos Estados +Unidos da America, ao apresentar o seu orçamento á Camara dos Communs, +exclamou: «Que ninguem se illuda! O meu orçamento é um orçamento de +guerra, de guerra contra o pauperismo que todo o governo tem obrigação +de attenuar, senão de extinguir.» N'um _meeting_, em Londres, onde me +foi dado ouvil-o, confirmou esta phrase e accrescentou: «É uma guerra +entre os que possuem e os que não possuem, entre o rico e o pobre, uma +guerra entre a democracia socialista e a oligarchia financeira, entre o +pacifismo e o imperialismo, entre o proteccionismo e o livre cambismo, +entre a Inglaterra do passado, com todos os seus vicios, e a revolução +no sentido governamental da palavra. É preciso fazer desapparecer, em +nome da civilisação, os contrastes que envergonham uma cidade como +Londres. Ao passo que, no primeiro hotel da cidade, no _Cecil Hotel_, se +banqueteiam todas as noites, em festins romanos, os _lords_, os +fidalgos, os burguezes, fazendo espumar o _Champagne_ como as aguas da +cataracta do Niagara, na trazeira do mesmo edificio que confina com o +Tamisa centenares de vagabundos, de miseraveis, sem pão e sem trabalho, +o que equivale a dizer sem patria, achegados uns aos outros, para +receberem dos seus semelhantes o calor que o proprio sangue lhes não dá, +cobrem o corpo com folhas de jornaes, para não morrerem inteiramente +gelados. Qualquer _lord_, que é a expressão da ociosidade e do +parasitarismo, não vale uma unica das minhas medidas!» + +Quando cheguei a Londres, Kropotkine disse-me: «A Inglaterra é o paiz +mais supersticioso do mundo. Estando em Brighton, e chovendo +ligeiramente, abri o meu chapeu de chuva. Das janellas de uma casa para +a qual eu me dirigia, duas meninas gritaram angustiosamente: Feche o +chapeu, sr. Kropotkine! Obedeci automaticamente. Mas, perguntando depois +o motivo de tal afflicção, ellas responderam-me: Ora essa! Pois não +sabe? Entrar n'uma casa com o guarda-chuva aberto é morte certa.» + +No fundo de cada inglez ha um pastor protestante, como no fundo de cada +francez ha um pequeno Napoleão, como no fundo de cada hespanhol ha um D. +Quixote, como no fundo de cada portuguez ha um frade. A Inglaterra é um +mixto de tradicção medieval e de progresso moderno. O socialismo quer e +procura emancipal-a dos vicios do passado. E são o partido do trabalho, +o syndicalismo operario, as sociedades eticas, por sobre as quaes paira +o espirito de Herbert Spencer, que se impõem pela sua grandeza moral. É +o quarto estado que surge com as suas legiões de trabalhadores, para, á +semelhança do Mazzanielo napolitano, reclamar os seus direitos, isto é, +o logar que lhe compete n'uma sociedade organisada. É um velho mundo que +desaba e uma aurora que se ergue, radiosa, sobre as ruinas do passado! + +«_Não ha nações morgadas nem familias morgadas_--disse José Estevão.--_A +humanidade não cabe no mundo com o seu numero e com as suas aspirações. +E esta verdade, que se tornou experimental, tornou impossivel a +existencia da propriedade territorial, inculta e abandonada, quer pelas +mãos dos individuos, quer pelas mãos dos povos. O trabalho é o principio +e o complemento de todo o direito de possuir._» + +E era de vêr o ardor com que elle combatia os impostos indirectos: +«_Detesto, acho repugnante, altamente injusto, radicalmente +antidemocratico e desigual, o imposto indirecto._» + +Com respeito ás leis da usura: «_Se ellas estão revogadas pelos poderes +da terra, ainda estão vigentes para as almas nobres, e eu hei de ser +sempre anachronico nos sentimentos de indignação que voto á classe que +trafica com a miseria e o suor dos seus semelhantes._» + +O socialismo era para José Estevão _um progresso_. O seu +apparecimento tornava-se _urgente_. _Utopia_ só podia ser o +_estacionamento_!--exclamou. + + + + +O democrata + + +José Estevão, estimulado pelas ideias humanitarias do seu tempo, fez +parte do primeiro triumvirato republicano. As suas tendencias +reflectiram-se na admiração que professava por Lamartine. + +É mr. de Lamartine--dizia--_um poeta que carpiu as miserias da +humanidade; que cantou as suas glorias; que excitou os seus melhores +instinctos; que levantou a coragem dos povos; que acalmou as suas +demasias; que, com a sua palavra, suspendeu as paixões revolucionarias +da França; é n'esta composição moral e intellectual que, no meu +presentimento, está o simulacro da fortuna politica e de todos os +governos do mundo_.» + +O retrato foi feito por mão de mestre. Um episodio o demonstra. Um dia, +o povo de Paris, como fera escapada da jaula do domador, pedia, defronte +do palacio de Bourbon, a cabeça de Lamartine, o idolo da vespera. + +--A cabeça de Lamartine! ella aqui está--exclamou o tribuno, assomando a +uma das janellas, na sua figura erecta e principesca, com a sua +sobrecasaca abotoada. + +E aquella multidão, terrivel, colerica, ameaçadora, ante aquelle +heroismo, bem superior ao heroismo dos campos de batalha, o heroismo que +dá a serenidade, recuou, como vaga encapellada que se desfaz em espuma. + +É da historia e da logica que todos os que marcham na vanguarda de um +movimento politico ou social paguem com a vida o serviço prestado aos +seus semelhantes. Todo o apostolado tem o seu calvario. E o martyrio que +tem o seu baptismo de sangue é sempre o mais fecundo. + +Em 1848 assignou com Oliveira Marreca--um santo que conheci e adorei--e +Rodrigues Sampaio, um manifesto revolucionario que se destinava a fazer +triumphar «_os principios democraticos, a causa das liberdades publicas +e da emancipação dos povos_.» + +Ainda aqui se nos revela José Estevão o precursor do movimento +democratico, como se nos revelou precursor, nos seus monumentaes +discursos do _Porto Pireu_ e das _Irmãs da caridade_. + +Na primeira d'estas orações, quando passa á historia da _ordem_--a ordem +que forjou a espada organisadora de Nemrod; a ordem que fez de um +almocreve arabe o chefe de uma religião; a ordem que compôz o balsamo de +Ferrabraz; a ordem que fez as botas de Carlos XII, o chapeu de Henrique +IV e o casaco de Napoleão--é simplesmente admiravel. + +É um trecho eloquentissimo, unico no seu genero, pela elevação do +conceito e energia da phrase, de uma rebeldia intensa, que Kropotkine +assignaria com orgulho, pela ironia desdenhosa que revela e por todo um +mundo de revolta que encerra. + + + + +O anti-clerical + + +José Estevão não queria as irmãs da caridade, porque as considerava uma +violação das leis do reino, d'aquellas que tinham levado ao throno a +sr.ª D. Maria II, que nunca capitulou, dentro da esphera do poder e das +sympathias, com aquellas invasões surrateiras do poder ecclesiastico, +que para ella eram suspeitas de serem contrarias ao poder +representativo. + +«Respeitemos essas leis,--dizia elle--porque vivemos por ellas. São as +nossas leis, são o nosso coração, são a nossa vida, são a nossa +historia. + +Com essas leis no pensamento, entrámos sete mil perseguidos, sete mil +expatriados, que tinham mais do que nós essas leis no pensamento, porque +tinham visto n'essas congregações religiosas os instigadores e os +conselheiros de uma tyrannia nefanda; porque tinham visto sahir d'essas +casas ou corporações religiosas cohortes de testemunhas falsas que +tinham ido aos tribunaes, para levantar com os processos judiciaes os +patibulos d'onde deviam cahir as cabeças d'aquelles que ellas tinham +marcado como nefastos ao seu predominio... + +É preciso que nos convençamos de que não podemos salvar os objectos que +veneramos, se não reunirmos todas as nossas forças constitucionaes e +moraes, para desfazermos e contrariarmos as intrigas e os embustes, +pelos quaes se quer repor outra vez no seu throno e predominio estas +instituições que nós combatemos, destruimos e desfizemos. + +Taes instituições, pelas riquezas e influencias de familia, tornam-se +nefastas aos poderes do Estado e ao exercicio das liberdades publicas. + + +«Sou inimigo das irmãs da caridade,--dizia--porque as considero como um +ataque ao principio de familia; e a caridade attribuida a uma certa +instituição, com o piedoso fim de educar as creanças e tratar dos +enfermos nos differentes paizes da terra, é uma malicia ostentosa feita +em nome de Deus. + +........................................................................ + +«Não se queima só, queimando as carnes, carbonisando os ossos; queima-se +apartando do coração, desfazendo e levando para longinquas paragens o +que elle tem de mais caro. + +........................................................................ + +«Sr. presidente, isto não é questão de irmãs da caridade, estão +enganados; é mais alguma coisa, é a questão das ordens religiosas; é a +sua elevação ao estado primitivo.» + + +O espirito catholico congreganista é adverso aos principios liberaes e +por isso carece de ser vigiado de perto. As irmãs da caridade são uma +emanação do espirito jesuitico e em volta d'essa congregação juntaram-se +todas essas ideias que ficaram desbaratadas e destruidas pela +perseguição que se fez a essa instituição. A religiosidade, no sentido +que lhe dão os theologos, não dispensa o culto externo; e o culto +externo das irmãs da caridade é pouco consentaneo com as formas, com os +costumes e com as prevenções da auctoridade civil. + +Foi justamente para provar que a mulher portugueza era tão boa ou melhor +educadora que as irmãs de caridade francezas, expulsas do nosso paiz, +graças ao seu formidavel libello, que José Estevão fundou o Asylo de S. +João, com sede em Lisboa e Porto e que com muito prazer nos é dado +representar n'este logar. + +O que pedem os liberaes? + +O rigoroso cumprimento dos decretos que não foram revogados: de Pombal +que expulsou os jesuitas; de Joaquim Antonio de Aguiar que dissolveu as +congregações religiosas e de Loulé e Braancamp relativo ás irmãs da +caridade. + +Pedem a revogação do decreto de abril de 1901 (Hintze Ribeiro) que, +prohibindo o noviciado e a clausura, dá, todavia, existencia legal ás +congregações religiosas, desde que se trate de ensino e beneficencia que +são precisamente as duas armas mais perigosas de que o clericalismo usa +e abusa a seu talante e por causa das quaes foi expulso de França. + +A natureza offerece-nos universalmente um espectaculo desolador: a força +triumphante. Mas o homem, sahido da longa evolução dos seres +organisados, concebeu a noção da justiça e experimentou os transportes +do amor, não do amor que se manifesta no calor do sol, no perfume das +flôres, no brilho das estrellas, no murmurio das aguas, no crescimento +das arvores, mas do amor que se revela nos individuos, nas classes e nos +povos solidarios. + +Brada-se a cada passo, clamei eu ha dias n'uma reunião, contra os bandos +de mendigos, de vadios, de miseraveis, de analphabetos, que enxameiam, +pelas ruas das grandes cidades, como se a culpa fosse d'elles, filhos +espurios de uma sociedade madrasta. A culpa é toda nossa; a culpa é do +egoismo collectivo. A vagabundagem, a mendicidade não se evita com a +repressão, com as casas de correcção, com a esquadra policial. Evita-se +e corrige-se com as casas de trabalho, com as colonias agricolas, com as +créches, com escolas, como as nossas escolas liberaes e com asylos, como +o Asylo de S. João. + +A estas manifestações de amor, chama-se solidariedade, que póde +resumir-se n'esta palavra de ordem: viver para os seus semelhantes. + + + + +A Maçonaria Portugueza + + +E, aqui, permitta-nos a assembleia que o Grão-Mestre da Maçonaria +Portugueza preste uma homenagem calorosa, ardente e enternecida a quem +tão alevantadamente a representou, a quem tão alevantadamente manteve o +seu prestigio e o seu renome. E que ninguem se assuste! Muitas vezes vos +terão dito, Senhoras, que a Maçonaria é uma sociedade de malfeitores. + +Se ser malfeitor é amar a humanidade, ouvir a voz da natureza que nos +brada: Todos os homens são irmãos, todos constituem uma unica familia; +se ser malfeitor é fazer o bem pelo amor do proprio bem e escutar a voz +da consciencia; se ser malfeitor é amar a verdade, praticar a justiça, e +proceder com rectidão; se ser malfeitor é obedecer á razão, esclarecida +pela sciencia; se ser malfeitor é amar os bons, fugir dos maus, mas não +odiar ninguem; se ser malfeitor é ser progressivo; se ser malfeitor é +ser tolerante, regosijarmo-nos com a justiça e insurgirmo-nos contra a +violencia e a iniquidade; se ser malfeitor é accender essa immensa +fogueira a que se chama a escola; se ser malfeitor é arrancar uma faisca +de cada syllaba soletrada; se ser malfeitor é desenvolver o cerebro da +creança pela instrucção; se ser malfeitor é formar o caracter pela +educação; se ser malfeitor é combater o prejuizo, o preconceito, o +fanatismo, a superstição, o erro e a mentira; se ser malfeitor é viver +para os nossos semelhantes; se ser malfeitor é moralisar pelo exemplo; +nós, os maçons, reivindicamos, com orgulho, esse titulo de honra. + +José Estevão que, na _Flecha dos mortos_, como Baudin na barricada de +Paris, affrontou as balas inimigas com bravura epica, José Estevão, +soldado e tribuno, foi Grão-Mestre da Maçonaria portugueza, como o foi o +general Gomes Freire de Andrade, enforcado na explanada da Torre de S. +Julião da Barra, por ter commettido o enorme crime de ser portuguez n'um +momento em que muitos eram inglezes. Umas modestas flores solitarias, +cultivadas por mão amiga, á maneira das cruzes de madeira que o +viandante encontra nas estradas desertas, attestam que n'aquelle logar +se matou um homem. José Estevão foi Grão-Mestre, como o foi o duque de +Loulé, como o foi José da Silva Mendes Leal, como o foram o conde de +Paraty, o conde Valbom, o visconde de Ouguella, Bernardino Machado, o +coronel Ferreira de Castro e o Conde das Antas; como o foi o illustre +professor Antonio Augusto de Aguiar; como o foi o mallogrado chefe +republicano José Elias Garcia, cujo enterro representou a apotheose de +todos os que aspiram a uma patria livre; como foi Grão Mestre o rei +Eduardo, de Inglaterra, e, como o é actualmente, o duque de Connaught, +seu irmão; como foi Grão-Mestre o rei Oscar, da Suecia; como o foram +José da Silva Carvalho e Passos Manuel; como o foram os imperadores +Guilherme I e Frederico, da Allemanha, e, como o é ainda hoje, por +intermedio do seu representante, o imperador Guilherme II; como foram +maçons os patriotas de 1820. + +Um professor da Universidade Livre de Bruxellas, n'um livro recente +sobre _Politica internacional_, affirma que a grande revolução de 89 não +teria tido logar se não fosse a Maçonaria. Mirabeau, S.^t Just, Sieyès, +Camillo Desmoulins, Lafayette, Danton, Boissy d'Anglas foram maçons. +Diderot pertenceu á Loja dos _Nove Irmãos_, de onde sahiu a _Declaração +dos direitos do homem_. Foi maçon o sabio Littré, que, sendo iniciado na +loja da _Clemente Amité_, tomou como divisa: «O principal dever do homem +para comsigo mesmo é instruir-se; o principal dever do homem para com os +seus semelhantes é instruil-os.» + +Por toda a parte se accentua uma tendencia para um fim determinado: a +unidade espiritual da humanidade. Apparentemente separados, os espiritos +criam e desenvolvem a consciencia da sua unidade. Apesar de não +dependerem uns dos outros, encontram-se todavia, ligados por afinidades +espirituaes, descendentes de uma mesma raça ou cidadãos de um mesmo +Estado. + +Para os que conhecem os signaes do tempo, não são os Estados nacionaes +que representam as unidades economicas predominantes, nem são tambem os +systemas religiosos que levam os homens a fraternisar uns com os outros: +é a vida mundial á qual está cada vez mais subordinado o trabalho de +cada individuo e de cada Estado; é a ideia de uma humanidade harmonica; +é o internacionalismo que se revela como o culto do futuro. E a unica +instituição que, através todas as perseguições e todas as vicissitudes, +se tem mantido com caracter universal, é a Maçonaria. + +A mensagem de José Estevão, dirigida em 1862 ao povo maçonico, é de uma +actualidade palpitante e dir-se-hia escripta ha poucos dias e ha poucas +horas--tal era a sua previsão! + +«O que é a reacção que invadiu o nosso paiz senão um d'esses trabalhos +insidiosos e solapados contra todos os grandes principios, porque a +Maçonaria tem sempre combatido com tanta coragem e perseverança? + +«Esta fórma de combater não é a que elles preferem. Adoptam-n'a por +necessidade. Se lhe fôra possivel n'um momento derrubar a obra da razão +e da philosophia, não demoravam esta almejada catastrophe. Mas transigem +com as circumstancias e adoptam o arbitrio de temporisar. + +«Os inimigos, porém, são os mesmos. Os gritos de peleja são os que eram +bradados em tempo de mais poder. Agora segredam-nos, mas exprimem as +mesmas paixões, os mesmos intuitos. Ao som d'elles, foram ganhas +execraveis batalhas contra os fóros da humanidade. Agora, com as mesmas +evocações, são praguejados os seus progressos e embaraçada a sua marcha +no caminho da perfeição. + +«A Maçonaria deve acordar do seu lethargo, levantar a sua bandeira, +inspirar-se das suas recordações, tomar o seu posto tradicional. Se +assim não fizermos, trahimos o juramento que prestámos, injuriamos a +memoria dos irmãos, nossos passados, e usurpamos o titulo de maçons, +porque o não é, porque não merece tal nome aquelle que é tardo em acudir +pela defeza dos principios da sua ordem, aquelle que se cança na lucta e +deixa as armas no campo. + +«Cumpre á Maçonaria vigiar as praias da civilisação e ter bem policiados +todos os signaes e precauções, para evitar aquelles enganos, desassustar +a navegação, e tornar a viagem dos homens e das nações n'este mundo, +mais certa, mais livre, mais virtuosa e mais honestamente aprazivel.» + +Meus senhores: Escreveu Maximo Gorki que ha duas maneiras de viver: a +putrefacção que é propria das almas egoistas e vis e a combustão que +representa o calor, a vida e o movimento. + +José Estevão viveu em plena combustão, e foi, em Portugal, não só o +precursor do pacifismo, do socialismo, do movimento democratico, do +anarchismo scientifico e philosophico, do anti-clericalismo, senão +tambem a mais alta encarnação do genio latino, ao qual a humanidade deve +o nascimento e o renascimento da civilisação; d'esse genio que irradia +sobre o mundo e que todos os dias, no dizer de Anatole France, nos dá +mais sciencia, mais liberdade, mais belleza, uma justiça mais justa e +leis melhores; d'esse genio que não morreu ainda, nem morrerá nunca, +como alguns erradamente suppõem, porque tem na America a sua continuação +e a sua immortalidade pela sua raça, pela sua historia, pela sua +tradicção, pela sua lingua, a verdadeira patria espiritual. + +«Para o futuro--dizia--pertencerei decerto ao partido que começa a +formar-se, que já está crescido, que vive entre nós sem termos dado por +tal, que nos inspira sem nós o sentirmos e que mesmo do berço dirige as +coisas publicas e domina até os homens de mais forte vontade... Se este +partido fosse obra dos homens ou a sua creação pudesse ser contrariada +por elles, talvez se não fizesse; mas esta ordem de coisas surge, +rebenta da situação.» + +Muitos lhe chamaram Demosthenes, outros Cicero, outros Mirabeau. Nada +mais absurdo do que estas comparações que attestam uma mentalidade +inferior. Cada orador obedece ao seu temperamento e é filho das +circumstancias em que a sua palavra tem de actuar. José Estevão foi, +principalmente, um grande tribuno, porque sentia estuar-lhe nas veias o +sangue quente do revoltado, sem o que não ha sabios, nem philosophos, +nem poetas, nem artistas. É com esta materia prima que se fabricam os +heroes do nosso tempo. _In hoc signo vinces_... + +Se os paizes se caracterisam, em geral, pelos nomes dos seus homens +celebres, dos seus immortaes:--a França, por Racine, por Corneille, por +Moliére, por Lamartine, por Gambetta; a Inglaterra, por Byron, +Shakespeare e Gladstone; a Allemanha, por Schiller, Goethe, Mozart, +Beethoven; a Italia, por Dante, Petrarcha, Mazzini, Garibaldi; a Grecia, +por Homero e Demosthenes; Roma, por Virgilio e Cicero; a Hungria, por +Kossuth; a Hespanha, por Velasquez, Cervantes e Castelar, nós, +proclamando Portugal, como a patria de José Estevão, teremos prestado á +sua memoria a maior das consagrações, tornando-o um symbolo--um symbolo +da patria livre e redimida, da liberdade victoriosa e da emancipação da +consciencia portugueza. + +E é, solidario n'esta aspiração, que eu, em nome do Grande Oriente +Lusitano Unido, não só felicito e louvo os promotores d'este centenario, +como tambem convido a assistencia a não esquecer esta data que se +tornará uma data historica nos annaes das celebrações nacionaes. + + + + +Do mesmo auctor: + + +Miniaturas Romanticas + +A Senhora Viscondessa (_romance_) + +Costumes Madrilenos + +A Questão do Banco Nacional Ultramarino + +A Actualidade (_estudo economico social_) + +Padres e Reis + +O Papa perante o Seculo + +Os Estados Unidos da Europa (_trad._) + +Revolta (_1.ª parte_) + +Revolta (_2.ª parte_) + +Pela Patria e pela Republica + +O Socialismo na Europa + +O Livro da Paz + +O Primeiro de Maio + +A Federação Iberica (_edição franceza_) + +Paz e Arbitragem + +O Federalismo + +O Centenario no Estrangeiro (_conferencia_) + +A Guerra e a Paz (_conferencia_) + +A Obra Internacional (_edição portug. e franc._) + +O Congresso de Roma (_conferencia_) + + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of O Centenario de José Estevão, by +Sebastião de Magalhães Lima + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CENTENARIO DE JOSÉ ESTEVÃO *** + +***** This file should be named 27542-8.txt or 27542-8.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + http://www.gutenberg.org/2/7/5/4/27542/ + +Produced by Pedro Saborano. A partir da digitalização +disponibilizada pela bibRIA. + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. Special rules, +set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to +copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to +protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project +Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you +charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you +do not charge anything for copies of this eBook, complying with the +rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose +such as creation of derivative works, reports, performances and +research. They may be modified and printed and given away--you may do +practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is +subject to the trademark license, especially commercial +redistribution. + + + +*** START: FULL LICENSE *** + +THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE +PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK + +To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free +distribution of electronic works, by using or distributing this work +(or any other work associated in any way with the phrase "Project +Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project +Gutenberg-tm License (available with this file or online at +http://gutenberg.org/license). + + +Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm +electronic works + +1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm +electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to +and accept all the terms of this license and intellectual property +(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all +the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy +all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. +If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project +Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the +terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or +entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. + +1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be +used on or associated in any way with an electronic work by people who +agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few +things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works +even without complying with the full terms of this agreement. See +paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project +Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement +and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic +works. See paragraph 1.E below. + +1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" +or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project +Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the +collection are in the public domain in the United States. If an +individual work is in the public domain in the United States and you are +located in the United States, we do not claim a right to prevent you from +copying, distributing, performing, displaying or creating derivative +works based on the work as long as all references to Project Gutenberg +are removed. Of course, we hope that you will support the Project +Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by +freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of +this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with +the work. You can easily comply with the terms of this agreement by +keeping this work in the same format with its attached full Project +Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. + +1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern +what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in +a constant state of change. If you are outside the United States, check +the laws of your country in addition to the terms of this agreement +before downloading, copying, displaying, performing, distributing or +creating derivative works based on this work or any other Project +Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning +the copyright status of any work in any country outside the United +States. + +1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: + +1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate +access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently +whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the +phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project +Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, +copied or distributed: + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + +1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived +from the public domain (does not contain a notice indicating that it is +posted with permission of the copyright holder), the work can be copied +and distributed to anyone in the United States without paying any fees +or charges. If you are redistributing or providing access to a work +with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the +work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 +through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the +Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or +1.E.9. + +1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted +with the permission of the copyright holder, your use and distribution +must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional +terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked +to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the +permission of the copyright holder found at the beginning of this work. + +1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm +License terms from this work, or any files containing a part of this +work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. + +1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this +electronic work, or any part of this electronic work, without +prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with +active links or immediate access to the full terms of the Project +Gutenberg-tm License. + +1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, +compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any +word processing or hypertext form. However, if you provide access to or +distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than +"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version +posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), +you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a +copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon +request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other +form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm +License as specified in paragraph 1.E.1. + +1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, +performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works +unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. + +1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing +access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided +that + +- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from + the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method + you already use to calculate your applicable taxes. The fee is + owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he + has agreed to donate royalties under this paragraph to the + Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments + must be paid within 60 days following each date on which you + prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax + returns. Royalty payments should be clearly marked as such and + sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the + address specified in Section 4, "Information about donations to + the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." + +- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies + you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he + does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm + License. You must require such a user to return or + destroy all copies of the works possessed in a physical medium + and discontinue all use of and all access to other copies of + Project Gutenberg-tm works. + +- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any + money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the + electronic work is discovered and reported to you within 90 days + of receipt of the work. + +- You comply with all other terms of this agreement for free + distribution of Project Gutenberg-tm works. + +1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm +electronic work or group of works on different terms than are set +forth in this agreement, you must obtain permission in writing from +both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael +Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the +Foundation as set forth in Section 3 below. + +1.F. + +1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable +effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread +public domain works in creating the Project Gutenberg-tm +collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic +works, and the medium on which they may be stored, may contain +"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or +corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual +property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a +computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by +your equipment. + +1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right +of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project +Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project +Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all +liability to you for damages, costs and expenses, including legal +fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT +LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE +PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE +TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE +LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR +INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH +DAMAGE. + +1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a +defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can +receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a +written explanation to the person you received the work from. If you +received the work on a physical medium, you must return the medium with +your written explanation. The person or entity that provided you with +the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a +refund. If you received the work electronically, the person or entity +providing it to you may choose to give you a second opportunity to +receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy +is also defective, you may demand a refund in writing without further +opportunities to fix the problem. + +1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth +in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER +WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO +WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. + +1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied +warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. +If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the +law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be +interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by +the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any +provision of this agreement shall not void the remaining provisions. + +1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the +trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone +providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance +with this agreement, and any volunteers associated with the production, +promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, +harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, +that arise directly or indirectly from any of the following which you do +or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm +work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any +Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. + + +Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm + +Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of +electronic works in formats readable by the widest variety of computers +including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at http://www.pglaf.org. + + +Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive +Foundation + +The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit +501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the +state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal +Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification +number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at +http://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent +permitted by U.S. federal laws and your state's laws. + +The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. +Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered +throughout numerous locations. Its business office is located at +809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email +business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact +information can be found at the Foundation's web site and official +page at http://pglaf.org + +For additional contact information: + Dr. Gregory B. Newby + Chief Executive and Director + gbnewby@pglaf.org + + +Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation + +Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide +spread public support and donations to carry out its mission of +increasing the number of public domain and licensed works that can be +freely distributed in machine readable form accessible by the widest +array of equipment including outdated equipment. Many small donations +($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt +status with the IRS. + +The Foundation is committed to complying with the laws regulating +charities and charitable donations in all 50 states of the United +States. Compliance requirements are not uniform and it takes a +considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up +with these requirements. We do not solicit donations in locations +where we have not received written confirmation of compliance. To +SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any +particular state visit http://pglaf.org + +While we cannot and do not solicit contributions from states where we +have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition +against accepting unsolicited donations from donors in such states who +approach us with offers to donate. + +International donations are gratefully accepted, but we cannot make +any statements concerning tax treatment of donations received from +outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. + +Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation +methods and addresses. Donations are accepted in a number of other +ways including checks, online payments and credit card donations. +To donate, please visit: http://pglaf.org/donate + + +Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic +works. + +Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm +concept of a library of electronic works that could be freely shared +with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project +Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. + + +Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed +editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. +unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily +keep eBooks in compliance with any particular paper edition. + + +Most people start at our Web site which has the main PG search facility: + + http://www.gutenberg.org + +This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, +including how to make donations to the Project Gutenberg Literary +Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to +subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks. diff --git a/27542-8.zip b/27542-8.zip Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..2e7cb35 --- /dev/null +++ b/27542-8.zip diff --git a/27542-h.zip b/27542-h.zip Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..744859a --- /dev/null +++ b/27542-h.zip diff --git a/27542-h/27542-h.htm b/27542-h/27542-h.htm new file mode 100644 index 0000000..831ec6e --- /dev/null +++ b/27542-h/27542-h.htm @@ -0,0 +1,1285 @@ +<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.0 Transitional//EN"> +<html lang="pt"> +<head> + <title>Centenario de José Estevão, por Magalhães Lima</title> + <meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=iso-8859-15"> + <meta name="Author" content="Sebastião de Magalhães Lima"> + <meta name="Date" content="1910"> + <style type="text/css"> + @media print { + .pagenum { visibility: hidden;} + } + @media handheld { + .pagenum { visibility: hidden;} + } + body{width: 35em; margin: auto;} + .pagenum { + text-indent: 0em; + position: absolute; + left: 92%; + font-size: smaller; + text-align: right; + color: silver; + } + .pagenum a {color: silver;} + h1, h2 { text-align: center; margin-top: 3em;} + #capa {text-align: center; border: solid 1px #000000;} + #corpo p {text-align: justify; text-indent: 1em;} + </style> +</head> + +<body> + + +<pre> + +The Project Gutenberg EBook of O Centenario de José Estevão, by +Sebastião de Magalhães Lima + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: O Centenario de José Estevão + Homenagem da Maçonaria Portugueza + +Author: Sebastião de Magalhães Lima + +Release Date: December 16, 2008 [EBook #27542] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CENTENARIO DE JOSÉ ESTEVÃO *** + + + + +Produced by Pedro Saborano. A partir da digitalização +disponibilizada pela bibRIA. + + + + + + +</pre> + +<div style="text-align: center;"> +<p> </p> +<p style="font-size: 3em;"><span style="margin-right: 2em;">O Centenario</span> +<br><span style="margin-left: 2em;">de José Estevão</span></p> + +<p style="font-size: 2em;">DISCURSO</p> + +<p>PRONUNCIADO NO THEATRO DE AVEIRO</p> + +<p style="font-size: 0.8em;">EM NOME DA</p> + +<p style="font-size: 2em;">Maçonaria Portugueza</p> +</div> +<p> </p> + +<div id="capa"> +<p>MAGALHÃES LIMA</p> + +<p style="font-size: 3em;"><span style="margin-right: 2em;">O Centenario</span> +<br><span style="margin-left: 2em;">de José Estevão</span></p> + +<p style="font-size: 2em;">HOMENAGEM</p> + +<p style="font-size: 0.8em;">DA</p> + +<p style="font-size: 2em;">Maçonaria Portugueza.</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p style="font-size: 0.8em;">LISBOA +<br> +Composto e impresso na Typ. La Bécarre, de F. Carneiro & C.ª +<br> +47, Rua Nova do Almada, 49 +<br> +1910</p> +</div> + +<div style="text-align: center; font-size: 1.2em;"> +<p> </p> + +<p><i>Aos</i></p> + +<p style="font-size: 2em;">Maçons Portuguezes</p> + +<p><i>Meus companheiros e meus Irmãos</i></p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p style="text-align: left;">Lisboa, 26 de Dezembro de 1909.</p> +<p> </p> + +<p style="text-align: right;"><i>Magalhães Lima</i></p> + +<p> </p> +</div> + +<div id="corpo"> +<p>S<small>ENHORAS E</small> S<small>ENHORES:</small></p> + +<p>A vossa manifestação toca profundamente o meu ser, faz vibrar a minha +alma, não porque me lisongeie o applauso do publico, o applauso da galeria, +que é tudo quanto ha de mais ephemero como ephemera é a espuma do mar que o +vento leva (os persas adoravam o sol, quando estava no seu zenith e +apedrejavam-no, quando desapparecia no horisonte; as folhas do loureiro são +narcoticas, entorpecem e provocam o somno, e os idolos só são idolos, ai +d'elles! emquanto se lhes não vêem os pés de barro!) mas porque reconheço +quanto ha de sincero, de espontaneo, de effusivo e de tocante na vossa +homenagem.</p> + +<h2><a name="SECTION00001000000000000000">Aveiro, pátria de José Estevão</a> +</h2> + +<p>Bem se póde dizer, senhoras e senhores, que fômos criados e embalados no +mesmo berço; que respirámos, juntos, o mesmo ar sadio da liberdade que nos +trouxe a brisa do mar; que partilhámos das mesmas alegrias; que pranteámos +nos mesmos pesares e que bebemos pela taça da mesma amisade effusiva. Em +Aveiro, tenho a minha familia natural e a minha familia espiritual—que sois +todos vós! Perante a minha razão, ambas são egualmente legitimas. Fomos +companheiros e somos irmãos. Por isso podeis bem imaginar, podeis bem +aquilatar, com que intimo alvoroço, com que profundo recolhimento, venho hoje +aqui, n'este dia solemnissimo (<i>sursum corda!</i>) em que o corpo se me +curva, ao mesmo tempo pelos annos e pela commoção, semelhantemente a uma +arvore amada, tronco bemdito, tronco sagrado! que afagámos em criança e que +vimos crescer; sim, repito, podeis bem imaginar e aquilatar com que +entranhada devoção, venho hoje aqui<span class="pagenum"><a id="pag_6" name="pag_6">[6]</a></span> recordar antigos +camaradas queridos que cairam na estacada, ao sôpro de ventos inclementes, +porventura impiedosos. E entre outros, apraz-me citar Mendes Leite, Bento e +Bernardo Magalhães, Agostinho Pinheiro, Francisco Rezende, Manuel Firmino de +Almeida e Maia, Almeida Vilhena, Julio Pereira de Carvalho e Costa, Manuel de +Mello Freitas, Chrispiniano da Fonseca, Manuel Gonçalves de Figueiredo, e +tantos outros que alentaram a minha mocidade e foram para mim como que +arco-iris luminosos na primavera da vida.</p> + +<p>Não procuro inquirir das suas ideias politicas, nem isso importa, n'um +momento em que todos os aveirenses, ousarei mesmo dizer, em que todos os +portuguezes estão ligados, unidos, estreitados e vinculados pelo mesmo +pensamento, pelo mesmo sentimento e pela mesma vontade. A hora é para a +conciliação: não é para a repulsão. A hora é para o amor e para a concordia: +não é para o odio e para a vindicta. É uma hora de jubileu nacional que não +comporta nem sectarismos nem exclusivismos.</p> + +<p>Um mixto de melancholia pungente e de alegria intensa me domina e +avassala: de tristeza pelos que desappareceram, sombras queridas atraz das +quaes corremos em vão, numa ancia febril, quasi infantil; de alegria, pelos +que, escapados ao naufragio, eu vim hoje aqui celebrar, glorificar e +acclamar, com o desvanecimento com que os antigos romanos exclamavam, +orgulhosos: <i>civis romanus sum</i>, sou cidadão romano; com o orgulho com +que Miguel Angelo bradava nos ultimos annos da sua vida: <i>Anch'io sono +pittore</i>, ainda sou pintor. Com esse mesmo desvanecimento poderei +exclamar: <i>sou cidadão aveirense</i>. Com esse mesmo orgulho, o orgulho de +Pericles, depois da segunda derrota do Peleponeso, poderei bradar: <i>eu de +mim sou o que era e estou onde sempre estive!</i> </p> + +<p>Como poderia occultar, com effeito, o enternecimento que me enche o +coração, n'uma onda de amor, n'uma emoção intraduzivel, ao encontrar-me de +novo n'esta pittoresca cidade de Aveiro, onde, através um delicioso +kaleidoscopio, entrevejo, em doce visão, o cysne do Vouga, na sua alvura +immaculada, como o cysne do <i>Lohengrin</i>; em Aveiro, a minha patria +adoptiva, <i>terra mater</i>, onde jazem os restos mortaes de uma mãe +adorada; onde deixei o exemplo sugestivo de um pae honrado e forte; onde +tenho um irmão, exemplar raro de elevação moral e intellectual; onde recebi, +pela primeira vez, a palavra de ordem, para os rudes combates da existencia; +onde, semelhantemente ao peregrino, ao romeiro que, depois de ter percorrido +longinquas paragens, regressa ao lar, não para topar com a desillusão<span class="pagenum"><a id="pag_7" name="pag_7">[7]</a></span> cruel, como o Frei Luiz de Sousa, mas como o Fausto da lenda, +para reviver na sua Margarida fiel, isto é, no coração fiel—venho encontrar +alguns d'aquelles que tanto amei, como eu, pendidos para o crepusculo. Como +poderia occultar-vos o immenso jubilo de que estou possuido, ao vêr n'esta +sala alguns dos legitimos representantes dos que, pela liberdade viveram e +por ella soffreram e se sacrificaram, legando-nos o difficil mas grato +encargo, não só de a conservar e de a defender, de a mantêr integra, como a +bandeira de um regimento, senão tambem o de accrescentar novas victorias ás +antigas victorias, aos antigos triumphos novos triumphos. N'esta religião, +toda de piedade, de amor, de carinho, tenho educado o meu espirito e n'ella +espero morrer.</p> + +<p>A amizade é um beneficio dos deuses, diziam os gregos. Emilio Castelar, a +quem eu devi uma das raras consagrações da minha vida, depois de umas +ligeiras escaramuças que tivemos na imprensa hespanhola, e que arrefeceram um +tanto as nossas relações pessoaes, aproveitando uma das visitas da princeza +Ratazzi a Lisboa, escreveu-me uma longa carta, na qual, entre outras coisas, +me dizia o seguinte: «As luctas da politica, meu querido amigo, por mais +gloriosas e brilhantes, não valem uma boa affeição que inunda os nossos +corações de uma luz radiosa, divina, a unica capaz de espancar as trevas da +discordia.»</p> + +<p>Quando se chega á minha edade—já Lamartine o constatava—vive-se muito de +recordações. Recordar, n'este caso, é resuscitar; é evocar a ala dos +namorados que nos tempos heroicos de mosqueteiro se batiam, quando não +morriam, pela sua dama idolatrada. E a dama, para mim, foi sempre e é ainda a +Ideia, a boa, a grande, a generosa Ideia; a origem de todos os +commettimentos, de todas as audacias, de todos os heroismos; a Ideia, doce +noiva espiritual, que não atraiçôa como os homens, que consola e faz viver; a +Ideia, estrella, guia, pharol, que nos conduz á Terra da Promissão; a Ideia, +mais poderosa do que os grandes potentados da terra, mais forte do que todos +os exercitos do mundo, a Ideia em marcha não é outra coisa senão a propria +humanidade descrevendo, através a historia e os seculos, a sua trajectoria +luminosa, do mesmo modo que os astros nos espaços obedecem á lei da +gravitação universal.</p> + +<p>Athenas, com os seus monumentos—exclamava Castelar—Roma com as suas +leis; Florença com as suas artes da Renascença; Veneza com a sua bussola; +Pisa com a sua lei do pendulo; Strasburgo com a imprensa; o +telephone,—acerescentarei—o telegrapho sem fios, o<span class="pagenum"><a id="pag_8" name="pag_8">[8]</a></span> automobilismo, o balão dirigivel, o aeroplano—que representa +tudo isso senão a Ideia illuminando o mundo, como a collossal estatua da +Liberdade que se encontra á entrada do porto de Nova-York?</p> + +<p>Nada mais consolador e fortificante do que recordar nomes queridos e +saudosissimos e relembrar sitios, onde, na despreoccupação dos annos, na +suavidade bucolica de Virgilio, vivi as minhas primeiras illusões, povoadas +pelas abelhas do Himeto, como o philosopho que da sua torre de marfim vê o +mundo côr de rosa, através uma atmosphera diaphana e transparente.</p> + +<h2><a name="SECTION00002000000000000000">A supremacia moral</a></h2> + +<p>Felizes os que, longe do embate, do choque das paixões brutaes e +grosseiras, das ambições illegitimas e inconfessaveis, dos odios implacaveis, +podem manter uma juventude espiritual, a eterna juventude, divinizada por +Petrarcha, amando a Vida e o Universo, na triplice manifestação de belleza, +de verdade e de justiça.</p> + +<p>É essa mocidade espiritual, ou, antes, essa força moral que caracterisa o +sabio, o philosopho, o poeta, o artista, emfim todos os privilegiados do +espirito e do coração.</p> + +<p>E foi seguramente essa mocidade espiritual, essa grande e poderosa força +moral que, mais do que nenhuma outra, caracterisou esse homem raro, unico, +excepcional, que viemos hoje aqui celebrar n'um frémito unisono dos nossos +corações, na suprema vibração das nossas almas; a palavra feita luz, o verbo +feito marmore, mais poderoso do que os thronos dos Cesares, do que as tiáras +dos pontifices—José Estevão Coelho de Magalhães—personalidade de granito; +cidadão feito para a antiga Roma que não para o Baixo Imperio de uma +sociedade corrupta; o ideal da liberdade, do amor, da justiça, da emancipação +humana, na sua maior elevação moral e civica, o ideal da patria, d'esse +patriotismo que teve o seu echo triumphal no hymno da <i>Maria da Fonte</i>, +como os revolucionarios de 89 o tiveram na sua immortal <i>Marselheza</i>.</p> + +<p>Superior á força das bayonetas dos Hapsburgos, na Austria, de Eduardo III, +em Inglaterra, de Carlos V e Filippe II, em Hespanha, de Luiz XIV e Napoleão +I, em França, não cessarei de o repetir—está a acção moral do individuo que +foi, é e será sempre o segredo da civilisação. O homem não foi feito para um +eterno martyrio e para repellir eternos attentados. Ha uma coisa superior a +todas as luctas violentas: o dever reciproco. O methodo da civilisação não se +conquista,<span class="pagenum"><a id="pag_9" name="pag_9">[9]</a></span> porém, com a mesma facilidade com que se conquista +uma praça forte.</p> + +<p>As procellas, as trombas, os cyclones—dizia o inclito Ruy Barbosa, n'um +dos seus discursos gravados em bronze—devastam mas não duram. O que não +passa é o oceano de verdades eternas, indifferentes ao rugir das paixões +contemporaneas, e por sobre elle a immensidade siderea das almas, que és tu, +ó liberdade!</p> + +<p>As demagogias são cataclysmos passageiros. Quasi todas as revoluções de +vertigem popular naufragaram na dictadura. Só são definitivas as revoluções +do direito e pelo direito: a que descaptivou a Hollanda, no seculo XVI; a que +renovou a Inglaterra, no seculo XVII; a que organisou as colonias +anglo-americanas, no seculo XVIII, e a que fizeram, no seculo XIX, a America +latina, a Belgica, a Italia e a Grecia.</p> + +<p>Ao contrario de Carlysle, que via na historia a obra pessoal e quasi +exclusiva de alguns que elle denominou heroes ou grandes homens, Michelet, o +seductor Michelet, via na historia a obra das multidões, a obra do povo, o +protogonista de todas as revoluções.</p> + +<p>Qual das duas theorias, qual dos dois criterios philosophicos será o +verdadeiro?</p> + +<p>Eu creio que ambos, porque, assim como a acção completa o pensamento, +assim tambem a Revolução completa a evolução.</p> + +<p>Foi certamente Camillo Desmoulins, quem, no Palais Royal, n'uma noite, ao +mesmo tempo tragica e festiva, interpretando o sentimento francez, e, mais do +que o sentimento francez, o sentimento humano, soltou o grito +libertador—<i>Á Bastilha!</i> Mas foi a população do bairro de Santo +Antonio, composta de esfarrapados, de famintos, de andrajosos, de <i>sans +culottes</i>, da canalha, na linguagem da Ordem, quem a assaltou e a +derrubou. Quero referir-me á Bastilha franceza, do seculo XVIII, porque, +depois d'isso, quantas Bastilhas se ergueram e quantas estão ainda de pé, +para vergonha da civilisação e da humanidade!</p> + +<p>Foi, sem duvida, Emilio Zola quem, no processo Dreyfus, interpretando +ainda o sentimento humano, soltou aquell'outro não menos formidavel brado: +<i>Accuso!</i> Mas foi a opinião mundial, foi a consciencia collectiva, quem +lhe deu a victoria, assim como foi a opinião mundial, a consciencia +collectiva, quem denunciou o assassinio judiciario de Francisco Ferrer. Não +foram os Pyrineus que separaram momentaneamente a Hespanha da Europa; não foi +o Oceano que a separou da America: foi o carrasco, com as mãos retintas de +sangue, quem a isolou do mundo civilisado.<span class="pagenum"><a id="pag_10" name="pag_10">[10]</a></span></p> + +<p>Foi Leão Tolstoi quem proclamou a recusa ao serviço militar, como meio de +acabar com as guerras que ensanguentam a humanidade. Mas foram as massas +populares, foram os intellectuaes, que julgam sempre em ultima instancia, +tribunal acima do qual não ha, não póde haver, outro tribunal, quem lhe +assegurou o triumpho moral.</p> + +<p>Isto quer dizer, que a iniciativa individual só é fecunda, quando coroada +pelo esforço collectivo. Entregue e abandonada a si, raramente consegue +vencer.</p> + +<p>Os homens só são grandes e só poderão chamar-se heroes, quando vivem para +os seus semelhantes, quando os seus corações pulsam e vibram com o coração do +povo, n'um mesmo ideal e n'uma mesma aspiração!</p> + +<h2><a name="SECTION00003000000000000000">Os heroes</a></h2> + +<p>Serão, porém, admissiveis os heroes?</p> + +<p>O proprio tribuno, no seu famoso discurso da <i>Charles et George</i>, +illuminado pelo mais ardente patriotismo, repudia-os com aversão. <i>Detesto +os heroes todos. Os heroes são excepções monstruosas da nossa +natureza</i>—dizia elle.</p> + +<p>Aqui revela-se o precursor do pacifismo, isto é, da justiça integral e da +paz universal, que hoje preoccupa e absorve todos os grandes pensadores do +Universo. Porque José Estevão foi, principalmente, um illuminado, um vidente, +um precursor, como tentarei provar na sequencia do meu discurso.</p> + +<p>José Estevão repudiava certamente os heroes que se assignalam nos campos +da batalha, devastando como cyclones, matando como assassinos, roubando como +ladrões, os heroes, synonimos de guerra e de conquista.</p> + +<p>A guerra! Ironia pungente, sarcasmo cruel da civilisação! </p> + +<p>Uma pobre mulher do povo amamenta o filho com o sacrificio do proprio +sangue; instrue-o e educa-o com o sacrificio do proprio estomago; e, quando a +creança se torna um homem, um operario, um trabalhador, de modo a poder +amparal-a n'uma velhice repousada, vem a ordem soberana em nome da lei, e +manda-o para os campos de batalha, como se mandam as rezes para o +matadouro—para o matar...</p> + +<p>Mas José Estevão não podia repudiar, com a mesma aversão, os heroes que se +assignalam no campo do pensamento, melhorando as condições da existencia, +tornando os homens mais felizes, porque elle foi a encarnação mais pura, mais +viva, mais authentica d'esse heroismo.<span class="pagenum"><a id="pag_11" name="pag_11">[11]</a></span></p> + +<p>Que são, com effeito, os heroes da antiguidade, Annibal, Cesar, Napoleão, +comparados com os heroes do nosso tempo, com os Berthelot, com os Pasteur, +com os Victor Hugo, com os Curie, com os Edison, com os Darwin, com os +Herbert Spencer, com todos os bemfeitores da humanidade, emfim?</p> + +<p>Heroe, n'esta accepção, é synonimo de soberania moral e intellectual. E +foi esta soberania que José Estevão exerceu na sociedade portugueza e que o +fez entrar na immortalidade da historia.</p> + +<p>«<i>A supremacia moral é o unico poder verdadeiro. Os caracteres +superiores e os superiores talentos são aquelles que têem tanta perspicacia +para conhecer a verdade, como força para propugnar por ella.</i>»</p> + + +<h2><a name="SECTION00004000000000000000">A psychologia de José Estevão</a></h2> + +<p>Não nos precipitemos, porém.</p> + +<p>Para bem penetrar a psychologia de um homem celebre, torna-se mister +averiguar, inquirir, investigar o meio em que se desenvolveram as suas +faculdades, em que se expandiu a sua acção moral e social.</p> + +<p>José Estevão nasceu em Aveiro.</p> + +<p>Quantas vezes, na sua predilecta Costa Nova do Prado, o mar, na sua +immensidade, na sua grandeza, na sua magestade, o mar gigante e indomavel, +provocando a nostalgia de mundos infinitos, lhe não teria suggestionado +alguns dos mais bellos pensamentos dos seus discursos emocionantes? Quantas +vezes não teria comparado o oceano com as grandes revoluções da historia, +pelo seu correr impetuoso, pelo seu rugir leonino? E, quantas vezes, o não +teria cotejado com a humanidade, quer nas horas de bonança, quer nas horas +terriveis em que a onda galga o rochedo e invade, alterosa, a praia, como +protesto contra a intrusão dos homens, e que é a perfeita imagem das horas +tragicas da insurreição, que para os povos calcados, pisados e escravisados +representa um direito, muitas vezes um dever, e, algumas vezes tambem, uma +necessidade.</p> + +<p>José Estevão nasceu em Aveiro.</p> + +<p>E, assim como a população dos centros industriaes é naturalmente propensa +ás ideias socialistas, a população das terras maritimas é naturalmente +propensa ás ideias republicanas, talvez pela independencia que só a natureza +póde dar.</p> + +<p>Sempre me hei de lembrar que encontrei nos pescadores de Aveiro os meus +primeiros adeptos e nunca esquecerei a galhardia, o garbo, a intrepidez com +que os vi marchar, através as ruas de Lisboa, no cortejo<span class="pagenum"><a id="pag_12" name="pag_12">[12]</a></span> civico do tri-centenario de Camões, ladeando o carro do +<i>Commercio e Industria</i>.</p> + +<p>Foi um passeio triumphal que lhes preparei que redundou n'uma immensa +apotheose, apotheose romana, a Aveiro e aos aveirenses.</p> + +<p>O pescador e o mineiro são para mim as duas entidades mais sympathicas e +que mais me enternecem.</p> + +<p>É preciso ter descido a uma mina, como eu desci, na Belgica, para se +avaliar o que representa em esforço, em sacrificio, em abnegação, em +heroismo, a vida do mineiro.</p> + +<p>N'uma especie de ascensor, improvisado com taboas e cordas, desci +trezentos metros abaixo do solo—a altura da Torre Eiffel, de Paris. As +galerias são percorridas pelos wagonetes que assentam em <i>rails</i> n'uma +extensão de muitos kilometros. O mineiro, mascando o carvão para illudir a +propria fome, está ordinariamente de costas, com a lanterna cingida á testa +ou ao ventre, de picareta em punho, para melhor poder extrahir o minerio. Os +trabalhadores formam dois turnos: um que desce ás 6 da manhã e sóbe ás 6 da +tarde, e outro que desce ás 6 da tarde e sóbe ás 6 da manhã.</p> + +<p>E tal é o terror que os domina, ao descerem aos poços, que a muitos vi eu, +com espanto, persignarem-se e benzerem-se, como quem se despede da luz e não +tenciona mais regressar.</p> + +<p>São escolhidos de preferencia os celibatarios. Até as alegrias da familia +lhes são defesas! E quantos não vão encontrar a cegueira, e quantos não vão +encontrar a mais affrontosa das mortes n'aquellas catacumbas immensas!</p> + +<p>E, ao passo que as companhias mineiras dão aos seus accionistas 20, 30, 40 +e 50 por cento de dividendo, o mineiro ganha o indispensavel para não morrer +de fome. Alli, constatei, como tinha egualmente constatado na Bolsa de +Berlim, vasta <i>menagerie</i> de feras ambiciosas, quanto o socialismo tem +uma razão logica de ser. Permitti, senhores, que exclame, com Paulo Luiz +Courier: <i>Ó grandes da terra, olhae para o que se passa e tende juizo se +podeis!</i></p> + +<p>Do pescador, nada vos direi, porque todos vós conheceis a sua temeridade e +o seu arrojo, expondo a vida com a serenidade dos grandes heroes, para +alimentarem os seus semelhantes.</p> + +<p>Ainda por occasião do cortejo civico do tri-centenario de Camões, Ramalho +Ortigão, na occasião em que se organisava a procissão, no Terreiro do Paço, +tomando-me do braço, levou-me a vêr o que elle chamava os seus pescadores, os +povoeiros, os pescadores da Povoa de Varzim, e indicando-me um, disse-me: +este salvou seis vidas. Tinha o<span class="pagenum"><a id="pag_13" name="pag_13">[13]</a></span> peito coberto de medalhas, +como os generaes famosos. Por meu turno, tomando-o tambem pelo braço, fui +mostrar-lhe aquelles a que eu chamava os meus pescadores, os pescadores de +Aveiro, e indicando-lhe um, accrescentei: este salvou 12 vidas. Não tinha uma +unica medalha ao peito. Bem se via que era da patria de José Estevão!</p> + +<p>José Estevão bebeu no berço o leite da liberdade, se assim me posso +exprimir; e, chegado á edade da razão, acompanhou em espirito a mais +cosmopolita de todas as revoluções—a revolução de 1848.</p> + +<p>Um seu e meu dilecto amigo, José Elias Garcia, alludindo ao facto, +disse-me um dia: «Quando esse movimento, que tantas esperanças havia +alimentado, fracassou em França, houve alguem que chorou em Portugal. Esse +alguem fui eu.»</p> + +<p>Nenhuma revolução logrou, com effeito, como esta, apaixonar e commover os +espiritos, pelo seu sentimentalismo idealista e humanitario. </p> + +<h2><a name="SECTION00005000000000000000">O socialista</a></h2> + +<p>O sentimento de então transformou-se, porém, n'uma realidade positiva, +moral e humana que hoje assoberba o mundo e ameaça abalar a sociedade pelos +alicerces, tendo invadido até as espheras governamentaes.</p> + +<p>Lloyd George, um digno continuador de Lincoln, o rachador de lenha, que, +pelos proprios meritos, chegou á presidencia da Republica dos Estados Unidos +da America, ao apresentar o seu orçamento á Camara dos Communs, exclamou: +«Que ninguem se illuda! O meu orçamento é um orçamento de guerra, de guerra +contra o pauperismo que todo o governo tem obrigação de attenuar, senão de +extinguir.» N'um <i>meeting</i>, em Londres, onde me foi dado ouvil-o, +confirmou esta phrase e accrescentou: «É uma guerra entre os que possuem e os +que não possuem, entre o rico e o pobre, uma guerra entre a democracia +socialista e a oligarchia financeira, entre o pacifismo e o imperialismo, +entre o proteccionismo e o livre cambismo, entre a Inglaterra do passado, com +todos os seus vicios, e a revolução no sentido governamental da palavra. É +preciso fazer desapparecer, em nome da civilisação, os contrastes que +envergonham uma cidade como Londres. Ao passo que, no primeiro hotel da +cidade, no <i>Cecil Hotel</i>, se banqueteiam todas as noites, em festins +romanos, os <i>lords</i>, os fidalgos, os burguezes, fazendo espumar o +<i>Champagne</i> como as aguas da cataracta do Niagara, na trazeira do mesmo +edificio que confina com o Tamisa centenares de vagabundos, de miseraveis, +sem pão e sem trabalho,<span class="pagenum"><a id="pag_14" name="pag_14">[14]</a></span> o que equivale a dizer sem patria, +achegados uns aos outros, para receberem dos seus semelhantes o calor que o +proprio sangue lhes não dá, cobrem o corpo com folhas de jornaes, para não +morrerem inteiramente gelados. Qualquer <i>lord</i>, que é a expressão da +ociosidade e do parasitarismo, não vale uma unica das minhas medidas!»</p> + +<p>Quando cheguei a Londres, Kropotkine disse-me: «A Inglaterra é o paiz mais +supersticioso do mundo. Estando em Brighton, e chovendo ligeiramente, abri o +meu chapeu de chuva. Das janellas de uma casa para a qual eu me dirigia, duas +meninas gritaram angustiosamente: Feche o chapeu, sr. Kropotkine! Obedeci +automaticamente. Mas, perguntando depois o motivo de tal afflicção, ellas +responderam-me: Ora essa! Pois não sabe? Entrar n'uma casa com o guarda-chuva +aberto é morte certa.»</p> + +<p>No fundo de cada inglez ha um pastor protestante, como no fundo de cada +francez ha um pequeno Napoleão, como no fundo de cada hespanhol ha um D. +Quixote, como no fundo de cada portuguez ha um frade. A Inglaterra é um mixto +de tradicção medieval e de progresso moderno. O socialismo quer e procura +emancipal-a dos vicios do passado. E são o partido do trabalho, o +syndicalismo operario, as sociedades eticas, por sobre as quaes paira o +espirito de Herbert Spencer, que se impõem pela sua grandeza moral. É o +quarto estado que surge com as suas legiões de trabalhadores, para, á +semelhança do Mazzanielo napolitano, reclamar os seus direitos, isto é, o +logar que lhe compete n'uma sociedade organisada. É um velho mundo que desaba +e uma aurora que se ergue, radiosa, sobre as ruinas do passado!</p> + +<p>«<i>Não ha nações morgadas nem familias morgadas</i>—disse José +Estevão.—<i>A humanidade não cabe no mundo com o seu numero e com as suas +aspirações. E esta verdade, que se tornou experimental, tornou impossivel a +existencia da propriedade territorial, inculta e abandonada, quer pelas mãos +dos individuos, quer pelas mãos dos povos. O trabalho é o principio e o +complemento de todo o direito de possuir.</i>»</p> + +<p>E era de vêr o ardor com que elle combatia os impostos indirectos: +«<i>Detesto, acho repugnante, altamente injusto, radicalmente antidemocratico +e desigual, o imposto indirecto.</i>»</p> + +<p>Com respeito ás leis da usura: «<i>Se ellas estão revogadas pelos poderes +da terra, ainda estão vigentes para as almas nobres, e eu hei de ser sempre +anachronico nos sentimentos de indignação que voto á classe que trafica com a +miseria e o suor dos seus semelhantes.</i>»</p> + +<p><span class="pagenum"><a id="pag_15" name="pag_15">[15]</a></span>O socialismo era para José Estevão <i>um progresso</i>. O +seu apparecimento tornava-se <i>urgente</i>. <i>Utopia</i> só podia ser o +<i>estacionamento</i>!—exclamou.</p> + +<h2><a name="SECTION00006000000000000000">O democrata</a></h2> + +<p>José Estevão, estimulado pelas ideias humanitarias do seu tempo, fez parte +do primeiro triumvirato republicano. As suas tendencias reflectiram-se na +admiração que professava por Lamartine.</p> + +<p>É mr. de Lamartine—dizia—<i>um poeta que carpiu as miserias da +humanidade; que cantou as suas glorias; que excitou os seus melhores +instinctos; que levantou a coragem dos povos; que acalmou as suas demasias; +que, com a sua palavra, suspendeu as paixões revolucionarias da França; é +n'esta composição moral e intellectual que, no meu presentimento, está o +simulacro da fortuna politica e de todos os governos do mundo</i>.»</p> + +<p>O retrato foi feito por mão de mestre. Um episodio o demonstra. Um dia, o +povo de Paris, como fera escapada da jaula do domador, pedia, defronte do +palacio de Bourbon, a cabeça de Lamartine, o idolo da vespera.</p> + +<p>—A cabeça de Lamartine! ella aqui está—exclamou o tribuno, assomando a +uma das janellas, na sua figura erecta e principesca, com a sua sobrecasaca +abotoada.</p> + +<p>E aquella multidão, terrivel, colerica, ameaçadora, ante aquelle heroismo, +bem superior ao heroismo dos campos de batalha, o heroismo que dá a +serenidade, recuou, como vaga encapellada que se desfaz em espuma.</p> + +<p>É da historia e da logica que todos os que marcham na vanguarda de um +movimento politico ou social paguem com a vida o serviço prestado aos seus +semelhantes. Todo o apostolado tem o seu calvario. E o martyrio que tem o seu +baptismo de sangue é sempre o mais fecundo.</p> + +<p>Em 1848 assignou com Oliveira Marreca—um santo que conheci e adorei—e +Rodrigues Sampaio, um manifesto revolucionario que se destinava a fazer +triumphar «<i>os principios democraticos, a causa das liberdades publicas e +da emancipação dos povos</i>.»</p> + +<p>Ainda aqui se nos revela José Estevão o precursor do movimento +democratico, como se nos revelou precursor, nos seus monumentaes discursos do +<i>Porto Pireu</i> e das <i>Irmãs da caridade</i>.</p> + +<p>Na primeira d'estas orações, quando passa á historia da <i>ordem</i>—a +ordem que forjou a espada organisadora de Nemrod; a ordem que<span class="pagenum"><a id="pag_16" name="pag_16">[16]</a></span> fez de um almocreve arabe o chefe de uma religião; a ordem que +compôz o balsamo de Ferrabraz; a ordem que fez as botas de Carlos XII, o +chapeu de Henrique IV e o casaco de Napoleão—é simplesmente admiravel.</p> + +<p>É um trecho eloquentissimo, unico no seu genero, pela elevação do conceito +e energia da phrase, de uma rebeldia intensa, que Kropotkine assignaria com +orgulho, pela ironia desdenhosa que revela e por todo um mundo de revolta que +encerra.</p> + + +<h2><a name="SECTION00007000000000000000">O anti-clerical</a></h2> + +<p>José Estevão não queria as irmãs da caridade, porque as considerava uma +violação das leis do reino, d'aquellas que tinham levado ao throno a sr.ª D. +Maria II, que nunca capitulou, dentro da esphera do poder e das sympathias, +com aquellas invasões surrateiras do poder ecclesiastico, que para ella eram +suspeitas de serem contrarias ao poder representativo.</p> + +<p>«Respeitemos essas leis,—dizia elle—porque vivemos por ellas. São as +nossas leis, são o nosso coração, são a nossa vida, são a nossa historia.</p> + +<p>Com essas leis no pensamento, entrámos sete mil perseguidos, sete mil +expatriados, que tinham mais do que nós essas leis no pensamento, porque +tinham visto n'essas congregações religiosas os instigadores e os +conselheiros de uma tyrannia nefanda; porque tinham visto sahir d'essas casas +ou corporações religiosas cohortes de testemunhas falsas que tinham ido aos +tribunaes, para levantar com os processos judiciaes os patibulos d'onde +deviam cahir as cabeças d'aquelles que ellas tinham marcado como nefastos ao +seu predominio...</p> + +<p>É preciso que nos convençamos de que não podemos salvar os objectos que +veneramos, se não reunirmos todas as nossas forças constitucionaes e moraes, +para desfazermos e contrariarmos as intrigas e os embustes, pelos quaes se +quer repor outra vez no seu throno e predominio estas instituições que nós +combatemos, destruimos e desfizemos.</p> + +<p>Taes instituições, pelas riquezas e influencias de familia, tornam-se +nefastas aos poderes do Estado e ao exercicio das liberdades publicas.</p> + +<p> </p> + +<p>«Sou inimigo das irmãs da caridade,—dizia—porque as considero como um +ataque ao principio de familia; e a caridade attribuida a uma<span class="pagenum"><a id="pag_17" name="pag_17">[17]</a></span> certa instituição, com o piedoso fim de educar as creanças e +tratar dos enfermos nos differentes paizes da terra, é uma malicia ostentosa +feita em nome de Deus.</p> + +<hr style="border: 0; border-bottom: dotted 2px #000000;"> + +<p>«Não se queima só, queimando as carnes, carbonisando os ossos; queima-se +apartando do coração, desfazendo e levando para longinquas paragens o que +elle tem de mais caro.</p> + +<hr style="border: 0; border-bottom: dotted 2px #000000;"> + +<p>«Sr. presidente, isto não é questão de irmãs da caridade, estão enganados; +é mais alguma coisa, é a questão das ordens religiosas; é a sua elevação ao +estado primitivo.»</p> + +<p> </p> + +<p>O espirito catholico congreganista é adverso aos principios liberaes e por +isso carece de ser vigiado de perto. As irmãs da caridade são uma emanação do +espirito jesuitico e em volta d'essa congregação juntaram-se todas essas +ideias que ficaram desbaratadas e destruidas pela perseguição que se fez a +essa instituição. A religiosidade, no sentido que lhe dão os theologos, não +dispensa o culto externo; e o culto externo das irmãs da caridade é pouco +consentaneo com as formas, com os costumes e com as prevenções da auctoridade +civil.</p> + +<p>Foi justamente para provar que a mulher portugueza era tão boa ou melhor +educadora que as irmãs de caridade francezas, expulsas do nosso paiz, graças +ao seu formidavel libello, que José Estevão fundou o Asylo de S. João, com +sede em Lisboa e Porto e que com muito prazer nos é dado representar n'este +logar.</p> + +<p>O que pedem os liberaes?</p> + +<p>O rigoroso cumprimento dos decretos que não foram revogados: de Pombal que +expulsou os jesuitas; de Joaquim Antonio de Aguiar que dissolveu as +congregações religiosas e de Loulé e Braancamp relativo ás irmãs da +caridade.</p> + +<p>Pedem a revogação do decreto de abril de 1901 (Hintze Ribeiro) que, +prohibindo o noviciado e a clausura, dá, todavia, existencia legal ás +congregações religiosas, desde que se trate de ensino e beneficencia que são +precisamente as duas armas mais perigosas de que o clericalismo usa e abusa a +seu talante e por causa das quaes foi expulso de França.</p> + +<p>A natureza offerece-nos universalmente um espectaculo desolador: a força +triumphante. Mas o homem, sahido da longa evolução dos seres organisados, +concebeu a noção da justiça e experimentou os transportes do amor, não do +amor que se manifesta no calor do sol,<span class="pagenum"><a id="pag_18" name="pag_18">[18]</a></span> no perfume das flôres, +no brilho das estrellas, no murmurio das aguas, no crescimento das arvores, +mas do amor que se revela nos individuos, nas classes e nos povos +solidarios.</p> + +<p>Brada-se a cada passo, clamei eu ha dias n'uma reunião, contra os bandos +de mendigos, de vadios, de miseraveis, de analphabetos, que enxameiam, pelas +ruas das grandes cidades, como se a culpa fosse d'elles, filhos espurios de +uma sociedade madrasta. A culpa é toda nossa; a culpa é do egoismo +collectivo. A vagabundagem, a mendicidade não se evita com a repressão, com +as casas de correcção, com a esquadra policial. Evita-se e corrige-se com as +casas de trabalho, com as colonias agricolas, com as créches, com escolas, +como as nossas escolas liberaes e com asylos, como o Asylo de S. João.</p> + +<p>A estas manifestações de amor, chama-se solidariedade, que póde resumir-se +n'esta palavra de ordem: viver para os seus semelhantes.</p> + + +<h2><a name="SECTION00008000000000000000">A Maçonaria Portugueza</a></h2> + +<p>E, aqui, permitta-nos a assembleia que o Grão-Mestre da Maçonaria +Portugueza preste uma homenagem calorosa, ardente e enternecida a quem tão +alevantadamente a representou, a quem tão alevantadamente manteve o seu +prestigio e o seu renome. E que ninguem se assuste! Muitas vezes vos terão +dito, Senhoras, que a Maçonaria é uma sociedade de malfeitores.</p> + +<p>Se ser malfeitor é amar a humanidade, ouvir a voz da natureza que nos +brada: Todos os homens são irmãos, todos constituem uma unica familia; se ser +malfeitor é fazer o bem pelo amor do proprio bem e escutar a voz da +consciencia; se ser malfeitor é amar a verdade, praticar a justiça, e +proceder com rectidão; se ser malfeitor é obedecer á razão, esclarecida pela +sciencia; se ser malfeitor é amar os bons, fugir dos maus, mas não odiar +ninguem; se ser malfeitor é ser progressivo; se ser malfeitor é ser +tolerante, regosijarmo-nos com a justiça e insurgirmo-nos contra a violencia +e a iniquidade; se ser malfeitor é accender essa immensa fogueira a que se +chama a escola; se ser malfeitor é arrancar uma faisca de cada syllaba +soletrada; se ser malfeitor é desenvolver o cerebro da creança pela +instrucção; se ser malfeitor é formar o caracter pela educação; se ser +malfeitor é combater o prejuizo, o preconceito, o fanatismo, a superstição, o +erro e a mentira; se ser malfeitor é viver para os nossos semelhantes; se ser +malfeitor é moralisar pelo exemplo; nós, os maçons, reivindicamos, com +orgulho, esse titulo de honra.</p> + +<p><span class="pagenum"><a id="pag_19" name="pag_19">[19]</a></span>José Estevão que, na <i>Flecha dos mortos</i>, como +Baudin na barricada de Paris, affrontou as balas inimigas com bravura epica, +José Estevão, soldado e tribuno, foi Grão-Mestre da Maçonaria portugueza, +como o foi o general Gomes Freire de Andrade, enforcado na explanada da Torre +de S. Julião da Barra, por ter commettido o enorme crime de ser portuguez +n'um momento em que muitos eram inglezes. Umas modestas flores solitarias, +cultivadas por mão amiga, á maneira das cruzes de madeira que o viandante +encontra nas estradas desertas, attestam que n'aquelle logar se matou um +homem. José Estevão foi Grão-Mestre, como o foi o duque de Loulé, como o foi +José da Silva Mendes Leal, como o foram o conde de Paraty, o conde Valbom, o +visconde de Ouguella, Bernardino Machado, o coronel Ferreira de Castro e o +Conde das Antas; como o foi o illustre professor Antonio Augusto de Aguiar; +como o foi o mallogrado chefe republicano José Elias Garcia, cujo enterro +representou a apotheose de todos os que aspiram a uma patria livre; como foi +Grão Mestre o rei Eduardo, de Inglaterra, e, como o é actualmente, o duque de +Connaught, seu irmão; como foi Grão-Mestre o rei Oscar, da Suecia; como o +foram José da Silva Carvalho e Passos Manuel; como o foram os imperadores +Guilherme I e Frederico, da Allemanha, e, como o é ainda hoje, por intermedio +do seu representante, o imperador Guilherme II; como foram maçons os +patriotas de 1820.</p> + +<p>Um professor da Universidade Livre de Bruxellas, n'um livro recente sobre +<i>Politica internacional</i>, affirma que a grande revolução de 89 não teria +tido logar se não fosse a Maçonaria. Mirabeau, S.<sup>t</sup> Just, Sieyès, +Camillo Desmoulins, Lafayette, Danton, Boissy d'Anglas foram maçons. Diderot +pertenceu á Loja dos <i>Nove Irmãos</i>, de onde sahiu a <i>Declaração dos +direitos do homem</i>. Foi maçon o sabio Littré, que, sendo iniciado na loja +da <i>Clemente Amité</i>, tomou como divisa: «O principal dever do homem para +comsigo mesmo é instruir-se; o principal dever do homem para com os seus +semelhantes é instruil-os.»</p> + +<p>Por toda a parte se accentua uma tendencia para um fim determinado: a +unidade espiritual da humanidade. Apparentemente separados, os espiritos +criam e desenvolvem a consciencia da sua unidade. Apesar de não dependerem +uns dos outros, encontram-se todavia, ligados por afinidades espirituaes, +descendentes de uma mesma raça ou cidadãos de um mesmo Estado.</p> + +<p>Para os que conhecem os signaes do tempo, não são os Estados nacionaes que +representam as unidades economicas predominantes, nem são tambem os systemas +religiosos que levam os homens a fraternisar<span class="pagenum"><a id="pag_20" name="pag_20">[20]</a></span> uns com os +outros: é a vida mundial á qual está cada vez mais subordinado o trabalho de +cada individuo e de cada Estado; é a ideia de uma humanidade harmonica; é o +internacionalismo que se revela como o culto do futuro. E a unica instituição +que, através todas as perseguições e todas as vicissitudes, se tem mantido +com caracter universal, é a Maçonaria.</p> + +<p>A mensagem de José Estevão, dirigida em 1862 ao povo maçonico, é de uma +actualidade palpitante e dir-se-hia escripta ha poucos dias e ha poucas +horas—tal era a sua previsão!</p> + +<p>«O que é a reacção que invadiu o nosso paiz senão um d'esses trabalhos +insidiosos e solapados contra todos os grandes principios, porque a Maçonaria +tem sempre combatido com tanta coragem e perseverança?</p> + +<p>«Esta fórma de combater não é a que elles preferem. Adoptam-n'a por +necessidade. Se lhe fôra possivel n'um momento derrubar a obra da razão e da +philosophia, não demoravam esta almejada catastrophe. Mas transigem com as +circumstancias e adoptam o arbitrio de temporisar.</p> + +<p>«Os inimigos, porém, são os mesmos. Os gritos de peleja são os que eram +bradados em tempo de mais poder. Agora segredam-nos, mas exprimem as mesmas +paixões, os mesmos intuitos. Ao som d'elles, foram ganhas execraveis batalhas +contra os fóros da humanidade. Agora, com as mesmas evocações, são +praguejados os seus progressos e embaraçada a sua marcha no caminho da +perfeição.</p> + +<p>«A Maçonaria deve acordar do seu lethargo, levantar a sua bandeira, +inspirar-se das suas recordações, tomar o seu posto tradicional. Se assim não +fizermos, trahimos o juramento que prestámos, injuriamos a memoria dos +irmãos, nossos passados, e usurpamos o titulo de maçons, porque o não é, +porque não merece tal nome aquelle que é tardo em acudir pela defeza dos +principios da sua ordem, aquelle que se cança na lucta e deixa as armas no +campo.</p> + +<p>«Cumpre á Maçonaria vigiar as praias da civilisação e ter bem policiados +todos os signaes e precauções, para evitar aquelles enganos, desassustar a +navegação, e tornar a viagem dos homens e das nações n'este mundo, mais +certa, mais livre, mais virtuosa e mais honestamente aprazivel.»</p> + +<p>Meus senhores: Escreveu Maximo Gorki que ha duas maneiras de viver: a +putrefacção que é propria das almas egoistas e vis e a combustão que +representa o calor, a vida e o movimento.</p> + +<p>José Estevão viveu em plena combustão, e foi, em Portugal, não só o +precursor do pacifismo, do socialismo, do movimento democratico,<span class="pagenum"><a id="pag_21" name="pag_21">[21]</a></span> do anarchismo scientifico e philosophico, do anti-clericalismo, +senão tambem a mais alta encarnação do genio latino, ao qual a humanidade +deve o nascimento e o renascimento da civilisação; d'esse genio que irradia +sobre o mundo e que todos os dias, no dizer de Anatole France, nos dá mais +sciencia, mais liberdade, mais belleza, uma justiça mais justa e leis +melhores; d'esse genio que não morreu ainda, nem morrerá nunca, como alguns +erradamente suppõem, porque tem na America a sua continuação e a sua +immortalidade pela sua raça, pela sua historia, pela sua tradicção, pela sua +lingua, a verdadeira patria espiritual.</p> + +<p>«Para o futuro—dizia—pertencerei decerto ao partido que começa a +formar-se, que já está crescido, que vive entre nós sem termos dado por tal, +que nos inspira sem nós o sentirmos e que mesmo do berço dirige as coisas +publicas e domina até os homens de mais forte vontade... Se este partido +fosse obra dos homens ou a sua creação pudesse ser contrariada por elles, +talvez se não fizesse; mas esta ordem de coisas surge, rebenta da +situação.»</p> + +<p>Muitos lhe chamaram Demosthenes, outros Cicero, outros Mirabeau. Nada mais +absurdo do que estas comparações que attestam uma mentalidade inferior. Cada +orador obedece ao seu temperamento e é filho das circumstancias em que a sua +palavra tem de actuar. José Estevão foi, principalmente, um grande tribuno, +porque sentia estuar-lhe nas veias o sangue quente do revoltado, sem o que +não ha sabios, nem philosophos, nem poetas, nem artistas. É com esta materia +prima que se fabricam os heroes do nosso tempo. <i>In hoc signo +vinces</i>...</p> + +<p>Se os paizes se caracterisam, em geral, pelos nomes dos seus homens +celebres, dos seus immortaes:—a França, por Racine, por Corneille, por +Moliére, por Lamartine, por Gambetta; a Inglaterra, por Byron, Shakespeare e +Gladstone; a Allemanha, por Schiller, Goethe, Mozart, Beethoven; a Italia, +por Dante, Petrarcha, Mazzini, Garibaldi; a Grecia, por Homero e Demosthenes; +Roma, por Virgilio e Cicero; a Hungria, por Kossuth; a Hespanha, por +Velasquez, Cervantes e Castelar, nós, proclamando Portugal, como a patria de +José Estevão, teremos prestado á sua memoria a maior das consagrações, +tornando-o um symbolo—um symbolo da patria livre e redimida, da liberdade +victoriosa e da emancipação da consciencia portugueza.</p> + +<p>E é, solidario n'esta aspiração, que eu, em nome do Grande Oriente +Lusitano Unido, não só felicito e louvo os promotores d'este centenario, como +tambem convido a assistencia a não esquecer esta data que se tornará uma data +historica nos annaes das celebrações nacionaes.</p> +</div> + + +<p> </p> + +<p> </p> + +<div style="width: 80%; margin: auto;"> +<h2><a name="SECTION00009000000000000000">Do mesmo auctor:</a></h2> + +<p>Miniaturas Romanticas</p> + +<p>A Senhora Viscondessa (<i>romance</i>)</p> + +<p>Costumes Madrilenos</p> + +<p>A Questão do Banco Nacional Ultramarino</p> + +<p>A Actualidade (<i>estudo economico social</i>)</p> + +<p>Padres e Reis</p> + +<p>O Papa perante o Seculo</p> + +<p>Os Estados Unidos da Europa (<i>trad.</i>)</p> + +<p>Revolta (<i>1.ª parte</i>)</p> + +<p>Revolta (<i>2.ª parte</i>)</p> + +<p>Pela Patria e pela Republica</p> + +<p>O Socialismo na Europa</p> + +<p>O Livro da Paz</p> + +<p>O Primeiro de Maio</p> + +<p>A Federação Iberica (<i>edição franceza</i>) </p> + +<p>Paz e Arbitragem</p> + +<p>O Federalismo</p> + +<p>O Centenario no Estrangeiro (<i>conferencia</i>)</p> + +<p>A Guerra e a Paz (<i>conferencia</i>)</p> + +<p>A Obra Internacional (<i>edição portug. e franc.</i>)</p> + +<p>O Congresso de Roma (<i>conferencia</i>)</p> +</div> + + + + + + + +<pre> + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of O Centenario de José Estevão, by +Sebastião de Magalhães Lima + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CENTENARIO DE JOSÉ ESTEVÃO *** + +***** This file should be named 27542-h.htm or 27542-h.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + http://www.gutenberg.org/2/7/5/4/27542/ + +Produced by Pedro Saborano. A partir da digitalização +disponibilizada pela bibRIA. + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. Special rules, +set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to +copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to +protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project +Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you +charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you +do not charge anything for copies of this eBook, complying with the +rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose +such as creation of derivative works, reports, performances and +research. They may be modified and printed and given away--you may do +practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is +subject to the trademark license, especially commercial +redistribution. + + + +*** START: FULL LICENSE *** + +THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE +PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK + +To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free +distribution of electronic works, by using or distributing this work +(or any other work associated in any way with the phrase "Project +Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project +Gutenberg-tm License (available with this file or online at +http://gutenberg.org/license). + + +Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm +electronic works + +1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm +electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to +and accept all the terms of this license and intellectual property +(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all +the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy +all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. +If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project +Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the +terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or +entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. + +1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be +used on or associated in any way with an electronic work by people who +agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few +things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works +even without complying with the full terms of this agreement. See +paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project +Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement +and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic +works. See paragraph 1.E below. + +1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" +or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project +Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the +collection are in the public domain in the United States. If an +individual work is in the public domain in the United States and you are +located in the United States, we do not claim a right to prevent you from +copying, distributing, performing, displaying or creating derivative +works based on the work as long as all references to Project Gutenberg +are removed. Of course, we hope that you will support the Project +Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by +freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of +this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with +the work. You can easily comply with the terms of this agreement by +keeping this work in the same format with its attached full Project +Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. + +1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern +what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in +a constant state of change. If you are outside the United States, check +the laws of your country in addition to the terms of this agreement +before downloading, copying, displaying, performing, distributing or +creating derivative works based on this work or any other Project +Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning +the copyright status of any work in any country outside the United +States. + +1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: + +1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate +access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently +whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the +phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project +Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, +copied or distributed: + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + +1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived +from the public domain (does not contain a notice indicating that it is +posted with permission of the copyright holder), the work can be copied +and distributed to anyone in the United States without paying any fees +or charges. If you are redistributing or providing access to a work +with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the +work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 +through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the +Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or +1.E.9. + +1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted +with the permission of the copyright holder, your use and distribution +must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional +terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked +to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the +permission of the copyright holder found at the beginning of this work. + +1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm +License terms from this work, or any files containing a part of this +work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. + +1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this +electronic work, or any part of this electronic work, without +prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with +active links or immediate access to the full terms of the Project +Gutenberg-tm License. + +1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, +compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any +word processing or hypertext form. However, if you provide access to or +distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than +"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version +posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), +you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a +copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon +request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other +form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm +License as specified in paragraph 1.E.1. + +1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, +performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works +unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. + +1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing +access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided +that + +- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from + the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method + you already use to calculate your applicable taxes. The fee is + owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he + has agreed to donate royalties under this paragraph to the + Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments + must be paid within 60 days following each date on which you + prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax + returns. Royalty payments should be clearly marked as such and + sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the + address specified in Section 4, "Information about donations to + the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." + +- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies + you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he + does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm + License. You must require such a user to return or + destroy all copies of the works possessed in a physical medium + and discontinue all use of and all access to other copies of + Project Gutenberg-tm works. + +- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any + money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the + electronic work is discovered and reported to you within 90 days + of receipt of the work. + +- You comply with all other terms of this agreement for free + distribution of Project Gutenberg-tm works. + +1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm +electronic work or group of works on different terms than are set +forth in this agreement, you must obtain permission in writing from +both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael +Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the +Foundation as set forth in Section 3 below. + +1.F. + +1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable +effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread +public domain works in creating the Project Gutenberg-tm +collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic +works, and the medium on which they may be stored, may contain +"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or +corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual +property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a +computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by +your equipment. + +1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right +of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project +Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project +Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all +liability to you for damages, costs and expenses, including legal +fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT +LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE +PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE +TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE +LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR +INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH +DAMAGE. + +1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a +defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can +receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a +written explanation to the person you received the work from. If you +received the work on a physical medium, you must return the medium with +your written explanation. The person or entity that provided you with +the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a +refund. If you received the work electronically, the person or entity +providing it to you may choose to give you a second opportunity to +receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy +is also defective, you may demand a refund in writing without further +opportunities to fix the problem. + +1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth +in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER +WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO +WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. + +1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied +warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. +If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the +law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be +interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by +the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any +provision of this agreement shall not void the remaining provisions. + +1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the +trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone +providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance +with this agreement, and any volunteers associated with the production, +promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, +harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, +that arise directly or indirectly from any of the following which you do +or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm +work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any +Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. + + +Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm + +Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of +electronic works in formats readable by the widest variety of computers +including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at http://www.pglaf.org. + + +Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive +Foundation + +The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit +501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the +state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal +Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification +number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at +http://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent +permitted by U.S. federal laws and your state's laws. + +The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. +Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered +throughout numerous locations. Its business office is located at +809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email +business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact +information can be found at the Foundation's web site and official +page at http://pglaf.org + +For additional contact information: + Dr. Gregory B. Newby + Chief Executive and Director + gbnewby@pglaf.org + + +Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation + +Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide +spread public support and donations to carry out its mission of +increasing the number of public domain and licensed works that can be +freely distributed in machine readable form accessible by the widest +array of equipment including outdated equipment. Many small donations +($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt +status with the IRS. + +The Foundation is committed to complying with the laws regulating +charities and charitable donations in all 50 states of the United +States. Compliance requirements are not uniform and it takes a +considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up +with these requirements. We do not solicit donations in locations +where we have not received written confirmation of compliance. To +SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any +particular state visit http://pglaf.org + +While we cannot and do not solicit contributions from states where we +have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition +against accepting unsolicited donations from donors in such states who +approach us with offers to donate. + +International donations are gratefully accepted, but we cannot make +any statements concerning tax treatment of donations received from +outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. + +Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation +methods and addresses. Donations are accepted in a number of other +ways including checks, online payments and credit card donations. +To donate, please visit: http://pglaf.org/donate + + +Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic +works. + +Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm +concept of a library of electronic works that could be freely shared +with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project +Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. + + +Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed +editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. +unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily +keep eBooks in compliance with any particular paper edition. + + +Most people start at our Web site which has the main PG search facility: + + http://www.gutenberg.org + +This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, +including how to make donations to the Project Gutenberg Literary +Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to +subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks. + + +</pre> + +</body> +</html> diff --git a/LICENSE.txt b/LICENSE.txt new file mode 100644 index 0000000..6312041 --- /dev/null +++ b/LICENSE.txt @@ -0,0 +1,11 @@ +This eBook, including all associated images, markup, improvements, +metadata, and any other content or labor, has been confirmed to be +in the PUBLIC DOMAIN IN THE UNITED STATES. + +Procedures for determining public domain status are described in +the "Copyright How-To" at https://www.gutenberg.org. + +No investigation has been made concerning possible copyrights in +jurisdictions other than the United States. Anyone seeking to utilize +this eBook outside of the United States should confirm copyright +status under the laws that apply to them. diff --git a/README.md b/README.md new file mode 100644 index 0000000..887947c --- /dev/null +++ b/README.md @@ -0,0 +1,2 @@ +Project Gutenberg (https://www.gutenberg.org) public repository for +eBook #27542 (https://www.gutenberg.org/ebooks/27542) |
