diff options
| -rw-r--r-- | .gitattributes | 3 | ||||
| -rw-r--r-- | 37879-8.txt | 1268 | ||||
| -rw-r--r-- | 37879-8.zip | bin | 0 -> 26138 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h.zip | bin | 0 -> 11122152 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/37879-h.htm | 1789 | ||||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig01.png | bin | 0 -> 807232 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig02.png | bin | 0 -> 657297 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig03.png | bin | 0 -> 20840 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig04.png | bin | 0 -> 119653 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig05.png | bin | 0 -> 61398 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig06.png | bin | 0 -> 468646 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig07.png | bin | 0 -> 142520 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig08.png | bin | 0 -> 68889 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig09.png | bin | 0 -> 123849 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig10.png | bin | 0 -> 154029 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig11.png | bin | 0 -> 183758 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig12.png | bin | 0 -> 152154 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig13.png | bin | 0 -> 183504 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig14.png | bin | 0 -> 237845 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig15.png | bin | 0 -> 161416 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig16.png | bin | 0 -> 290883 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig17.png | bin | 0 -> 312846 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig18.png | bin | 0 -> 380006 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig19.png | bin | 0 -> 84283 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig20.png | bin | 0 -> 329294 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig21.png | bin | 0 -> 344961 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig22.png | bin | 0 -> 261638 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig23.png | bin | 0 -> 100026 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig24.png | bin | 0 -> 188627 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig25.png | bin | 0 -> 312088 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig26.png | bin | 0 -> 213989 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig27.png | bin | 0 -> 319799 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig28.png | bin | 0 -> 241517 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig29.png | bin | 0 -> 229564 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig30.png | bin | 0 -> 146648 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig31.png | bin | 0 -> 107513 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig32.png | bin | 0 -> 170982 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig33.png | bin | 0 -> 195936 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig34.png | bin | 0 -> 143576 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig35.png | bin | 0 -> 202240 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig36.png | bin | 0 -> 204758 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig37.png | bin | 0 -> 351962 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig38.png | bin | 0 -> 255360 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig39.png | bin | 0 -> 376194 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig40.png | bin | 0 -> 232271 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig41.png | bin | 0 -> 210252 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig42.png | bin | 0 -> 213718 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig43.png | bin | 0 -> 301539 bytes | |||
| -rw-r--r-- | 37879-h/images/fig44.png | bin | 0 -> 832200 bytes | |||
| -rw-r--r-- | LICENSE.txt | 11 | ||||
| -rw-r--r-- | README.md | 2 |
51 files changed, 3073 insertions, 0 deletions
diff --git a/.gitattributes b/.gitattributes new file mode 100644 index 0000000..6833f05 --- /dev/null +++ b/.gitattributes @@ -0,0 +1,3 @@ +* text=auto +*.txt text +*.md text diff --git a/37879-8.txt b/37879-8.txt new file mode 100644 index 0000000..73e44cb --- /dev/null +++ b/37879-8.txt @@ -0,0 +1,1268 @@ +Project Gutenberg's O culto do chá, by Wenceslau José de Sousa de Morais + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: O culto do chá + +Author: Wenceslau José de Sousa de Morais + +Release Date: October 29, 2011 [EBook #37879] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CULTO DO CHÁ *** + + + + +Produced by Rita Farinha (This file was produced from +images generously made available by the Almamater +(Univeridade de Coimbra / Coimbra University) at +http://http://almamater.uc.pt + + + + + + *Nota de editor:* Devido à existência de erros tipográficos neste + texto, foram tomadas várias decisões quanto à versão final. Em caso + de dúvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final + deste livro encontrará a lista de erros corrigidos. + + Rita Farinha (Outubro 2011) + + + + +[Figura] + + + + +[Figura] + + + + +WENCESLAU DE MORAES + + +O CULTO DO CHÁ + +(ILLUSTRAÇÕES DE YOSHIAKI) + + +[Figura] + + +KOBE + +Typographia do "Kobe Herald" + +Gravuras de Gotô Seikôdô + +1905 + + + + +A +Vicente Almeida d'Eça, +Sebastiäo Peres Rodrigues, +Bento Carqueja, + +isto é, á _Trindade_ benevolente, que ainda ha pouco, de täo longe, me +enviou dentro das folhas de um livro--as _Cartas do Japäo_,--o perfume +ineffavel da sua amizade, offereço este outro livro, exotico pela forma, +exotico pelo texto, mas näo pelo sentimento de profunda gratidäo, que +inspirou esta primeira pagina. + +Kobe, Junho de 1905. + + Wenceslau de Moraes. + + + + +[Figura] + + + + +O CULTO DO CHÁ. + + +Falla-se do Japäo; nem, francamente, devera presumir-se que eu ia +referir-me a um paiz qualquer occidental, onde a nossa raça branca +floresce. + +É no Oriente, e em especial no Extremo-Oriente, que as coisas communs da +creaçäo ou os usos e costumes triviaes da vida säo susceptiveis de +merecer um tal requinte de solemnidade sentimental e de praxes de rito, +que constituam um verdadeiro culto. No espirito do europeu, despoetizado +pela chateza dos ideas da epoca, atribulado pelas multiplices exigencias +da vida, pervertido pela febre do negocio, näo medram de ha muito os +cultos. Especializando a observaçäo ao chá, havemos de convir que este +artigo de commercio, que de täo longe nos vem, propositadamente +adulterado conforme o nosso gosto, no fim de contas se resume n'uma +detestavel infusäo que entrou em moda no _sport_ social, simples +pretexto para repastos pelintras, para reuniöes banaes, para palestras +väs. + +A Asia é outra coisa: a muitos propositos immersa ainda em barbarismo, +se assim se quer dizer; com mil defeitos e mil erros, que a sabia Europa +aponta a dedo e algumas vezes corrige, quando pode, com a logica dos +seus conhoës de tiro rapido; o que ella retem ainda, indiscutivelmente, +esta Asia, é o caracter ancestral, nada vulgar, nada rasteiro, +palpitante de orgulhos de raça, aprazendo-se em sonhos e em chimeras, +acariciando a lenda, divinizando as coisas, prodigalizando os cultos; o +que é, em todo o caso, uma maneira amavel, de ir comprehendendo a vida. + + * * * * * + +[Figura] + +Oh, fé dos velhos tempos!... Oh, santos patriarchas de täo varios paizes +e täo differentes seitas, tenazes campeöes, que fostes incutindo nos +simples a crença, a esperança, o amor,--balsamos consoladores das duras +miserias d'este mundo,--como eu vos amo, a todos!... + +Meus piedosos pensamentos elevam-se n'este momento a Darumá. Segundo a +tradiçäo da gente japoneza, Darumá, o grande apostolo indiano do +buddhismo, veio á China ahi pelo começo do seculo VI da nossa era +christä, e em terras chinezas prégou em honra da verdade, illuminando o +espirito dos povos. + +[Figura] + +Consta que, por voluntaria desistencia das ephemeras alegrias terreaes, +Darumá votou-se a passar a vida de joelhos sobre o solo pedregoso, +absorto em contemplaçöes mysticas, sem mesmo permittir-se o simples +regalo de dormir. Tantos annos permaneceu de tal maneira, que as pernas +se lhe gastaram, claro está; e é assim, sem pernas, só com a cabeça e +com o tronco, envolto n'um manto carmezim, que ainda hoje é figurado. A +imagem tronou-se querida e popular entre esta boa gente japoneza; é +mesmo um brinquedo corriqueiro entre as mäositas das creanças,--os +santos e os meninos vivem sempre em boa companhia;--lembrando o tal +brinquedo o nosso _frade de sabugo_, pela teima em voltar, por mais +voltas que lhe dêem, á sua postura habitual. Deve ainda saber-se que +Darumá tem dado assumpto, desde remotos tempos até hoje, a pintores da +mais alta valia; Hokusai foi um d'elles, pintando um famoso Darumá sobre +uma folha de papel de cerca de duzentos metros quadrados de grandeza, +empregando oitenta litros de tinta no desenho e servindo-se de cinco +vassouras á laia de pinceis; estendida a tela sobre o campo, no telhado +de um templo a turba admirava a obra e applaudia o mestre. + +Mas voltêmos ao que aqui mais nos interessa, respeitante ao venerando +vulto que invoquei, ajoelhado sobre as pedras. Consta mais que, em certa +noite, as palpebras se lhe cerraram de fadiga, e o bom Darumá deixou-se +adormecer, para só acordar pela manhä. Entäo, pedindo a alguem uma +tesoira ou instrumento parecido, cortou a si proprio as palpebras +indignas e arremeçou-as ao solo, n'um gesto de despeito... As palpebras, +por milagre, erraizaram, dando nascença o a um gracioso arbusto nunca +visto, que medrou mui de prompto e cujas folhas, tratadas de infusäo +pela agua quente, fôram um remedio precioso contra o somno e contra o +cançaço das vigilias. Estava conhecido o chá; tem pois na China a sua +origem, e é coisa santa, como se acava de provar. Crê quem quer; mas +devo advertir que este livro foi escripto para os crentes. + +[Figura] + + * * * * * + +Da China, veio o chá para as terras de Nippon, mas näo se sabe quando. + +[Figura] + +Velhas chronicas mencionam (no dizer dos entendidos n'este caso +melindroso), que em 729 da era Christä, durante uma festa religiosa de +espavento, o imperador Shomu offerecia chá a bonzos de alta gerarchia; +mas fica-se ignorando se já antes seria conhecido... Parece que um bom +abbade buddista, Dengyo Daishi, foi o primeiro que obteve a planta em +solo japonez, em 805; o chá era entäo já uma beberagem favorita entre os +bonzos chinezes, que d'ella se serviam durante as vigilias prolongadas +das suas praticas nocturnas. Mais recentemente, ainda outro, bonzo, +Eisei, tendo ido á China, de lá voltou, trazendo as sementes preciosas, +e no monte Sefuri, em Chikuzen, cuidou da sua sementeira. Pouco depois, +ainda mais outro bonzo (sempre os bonzos!) de nome Mioyé, colhendo de +Eisei os varios segredos de cultura, novas sementes adquiriu, e em +Toga-no-o em Uji, logares visinhos de Kyoto, attentamente se entreve em +cultivar o chá; em Uji, de preferencia, fôram os resultados excellentes. +Dois seculos depois, cerca de 1400, o shogun (generalissimo) Ashikawa +Yoshimitsu imprimiu vigoroso impulso ás plantacôes de Uji, as quaes +tanto fôram prosperando, mercê da riqueza do torräo, que de entäo até +hoje o chá d'aquelle sitio tem sido celebrado como o melhor de todo o +imperio; d'elle exclusivamente se serve o Imperador. + + * * * * * + +O Japäo é a terra das camelias: _camelia japonica_, lá diz o latinorio +dos botanicos. + +[Figura] + +Quando, por fins de novembro, começam os frios e as geadas e pouco tarda +que as neves alvejem nos dorsos das montanhas, quando cessam as ultimas +florescencias dos jardins, é entäo que comecam ostentando-se as bellas +flores d'esta esplendida familia das camelias. Véem primeiro as +sazankas, umas brancas, cutras roseas, de mimosissimas petalas frisadas; +seguem-se as camelias simples, sanguineas, surdindo da rama espessa de +arvores gigantes, espalhadas pelos campos; e após véem as flores +cuidadas, de luxo, variando em innumeras formas, variando em innumeros +tons, desde o branco de leite ate ao roseo quasi negro. Entäo igualmente +desabrocha a pequenina flôr do chá, que tambem é uma camelia, +subtilmente perfumada, composta de cinco petalasinhas alvas contornando +e protegendo o feixe aureo dos estames. + + * * * * * + +[Figura] + +Passando, em horas de ocio, junto dos campos de chá, dos quaes sinto +prazer em acercar-me, palestro com os aldeöes e aprendo noçöes varias, +respeitantes á delicada planta. Näo pode ser transplantada, nem se +multiplica por estaca ou por enxerto, só por sementeira se propaga. Os +paizes quentes, como os paizes frios, säo-lhe nocivos; prospera nos +climas temperados, nos sitios lavados de ar e luz, visinhos dos cursos +de agua, convindo um ligeiro declive ao solo de cultura. Os arbustos säo +dispostos em renques parallelos, de norte a sul, para que o sol lhes +bata em cheio desde pela manhä até á noite; as plantas mais cuidadas +reclamam na primavera grandes toldos de palha, que abriguem das geadas +as tenras folhas dos rebentos. Durante o primeiro anno, dispensam +adubos, que depois se applicam em periodos frequentes. A guerra aos +vermes, aos insectos, exige zelos incessantes. No fim de quatro annos, +já o arbusto se presta á primeira colheita; mas säo as velhas plantas, +de cem annos, de duzentos annos, as que melhor produzem. + +[Figura] + + * * * * * + +Quem quizer tomar conhecimento com a planta de chá, nas melhores +condiçoës de prosperidade e em mais bellas galas de aspecto pittoresco, +tem de ir até Uji, distante quinze milhas de Kyoto; escolhendo de +preferencia um dos primeiros dîas de maio, quando os rebentos novos +começam vicejando, o que marca o inicio da faina da colheita. Faina e +festa: a povoaçäo inteira acorda da sua modorra provinciana; desperta em +esperanças, em jubilos, em actividades incançaveis, para votar-se aos +cuidados da preciosa folha; deverá presumir-se, em bom criterio, que a +quadra remoçante da primavera em flores, com aromas nas brisas e +quenturas creadoras, constitue tambem um forte estimulo para a alegria +repentina que se pinta nos rostos de toda aquella gente. + +O quadro é deveras aprazivel. Após uma banal estaçäo de linha ferrea, +estende-se a cidadesinha garrida, com as suas viella muito limpas e a +fila de lojinhas abarrotadas de varia mercancia. Depois segue-se o rio, +de aguas limpidas e frescas, rico de tradiçöes de gloria; galga-se a +ponte em arco, entra-se no bairro das _chayas_, dos hoteis, em tal +quadra povoados de freguezes galhofeiros e de gentis mulheres, as +_gueishas_, que cantam ou dedilham no inseparavel _shamicen_; e véem +depois os campos, vastos campos de chá a succederem-se pelo horisonte +fóra, cuidados como jardins, em longos alinhamentos de arbustos, +copados, arredondados, lembrando enormes mangericos, de delicada rama de +um verde esculro bronzeado; no azul distante, alguns famosos templos +confusamente se recortam. + +[Figura] + +As moças de Uji estream _kimonos_ novos para o caso, arregaçando as +mangas com fitas escarlates; amarram em turbante em volta dos cabellos +toalhas de côr azul e branca; e assim, esbeltas, graciosissimas, em +ranchos de dez, de doze companheiras, dirigem-se ao trabalho. É entäo um +encanto para os olhos ir a gente surprehendel-as no afan do seu mister, +dispersas pelas campinas fóra, como borboletas; indo de um ramo a outro +ramo, de um arbusto a outro arbusto, por vezes occultando-se entre o +verde mais denso da folhagem. Os dedos roseos, miudinhos, a escorrerem +de orvalho e multiplicando-se em gestos delicados, väo colhendo os +rebentos tenros do chá e atirando-os a grandes ceiras dispostas pelo +chäo; as boccas väo sorrindo, patenteando as enfiadas alvas dos +dentinhos; os olhos esbrazeam em juvenis amores inconfessados; as vozes +unem-se ás vozes, em rythmos commoventes de velhas cançöes locaes: + +[Figura] + + "Quando nasce o sol radioso +Por cima d'aquelle oiteiro, +Todas as aguas do rio +Parecem memo um brazeiro!... + + "N'estas aguas do rio d'Uji +--Taö milagrosas que säo!-- +Lavam-se todos os males +De que soffre o coraçäo... + +[Figura] + +No campo, as raparigas. Nas casas, os homens, as velhas, as creanças. +Será rara a familia que näo tenha interesses na labuta; as grandes +fabricas constituem excepçäo, como em todas as primitivas industrias +japonezas; em cada albergue se improvisa uma manufactura, modesta, +familial, onde todos trabalham, risonhos, palestrando. O chá é +escolhido, escaldado, posto a seccar, grelhado em fornos, enroladas as +folhas ou reduzido pó, depois empacotado, guardado em latas, em caixas, +em boiöes; um melindroso amanho que requer mäos incançaveis, dedos +prestimosos, cuidados inauditos, segredos de processo, meticulosidades +devotas que espantam os profanos, nas quaes collabora a gente toda +valida d'aquelles arredores. + +[Figura] + + * * * * * + +Tal é a industria graciosa e tal é o chá que os japonezes bebem. Vêde +agora como a civilizaçäo occidental contrasta com os usos d'estes +asiaticos. Téem os japonezes, para lá do Pacifico, um grande consumidor +do seu producto: é o _Yankee_. Tanto mimo e tanto esmero na apanha da +folha e preparoçöes que se succedem näo bastariam para o chá que os +americanos väo beber. Vem de Uji e de outros pontos, tal como os +japonezes o preparam, para as firmas estrangeiras de Kobe e de Yokohama; +é entäo submetido a novas operaçöes, ao sabor do fino paladar de +Nova-York e de Chicago. Näo säo agora as camponezas, esbeltas e trajando +roupas novas, que acodem ao mister; trabalham machinas a vopor, fumegam +chaminés e guincham engrenagens; e occupa-se no preparo um mundo +feminino inqualificavel, escoria das cidades, esfarrapado, piolhoso, +horripilante, que a gente vê sahir das fabricas á tarde como uma leva de +mendigas, cheias de pó, de pustulas, de miseria. O fabrico do chá ao +gosto americano consiste n'um segundo aquecimento em grandes fornos e na +addiçäo de varios productos, como o pó de uma certa pedra, _soopstone_, +e o azul da Prussia. Assim é expedido. + + * * * * * + +[Figura] + +A introducçäo e vulgarisaçäo do chá na terra japoneza deveu grande +incremanto uma industria desde remotos tempos exercida, mas toscamente +praticada,--a ceramica,--que havia de alcançar com o correr dos tempos +um supremo grau de perfeiçäo como arte nacional. A conservaçäo da +preciosa folha, exigindo escrupulos inauditos para reter o seu perfume, +marcou o ponto de partida. Foi Toshiro, um oleiro da aldeia de Seto, na +provincia de Owari, quem fabricou os primeiros boiöes para guardar o +chá, empregando processos que aprendera na China, respeitantes á +perfeiçäo da pasta e dos esmaltes. Passava-se isto ha sete seculos; e é +curioso registar que _seto-mono_ (objecto de Seto) é ainda hoje o nome +consagrado para indicar qualquer artigo de ceramica. + +Dos boiöes, passou-se gradualmente ás chavenas, aos bules, á gentil e +complicada baixella que a infusäo foi reclamando e o luxo pondo em moda; +e ora aqui está como a ceramica no Japäo,--faiança ou porcellana,--que +attingiu requintes de arte primorissima, deveu ao chá e á agua morna os +seus melhores progressos. + + * * * * * + +Quando comecáram a tomar chá os japonezes, era este reduzido a um +impalpavel pó e com elle se fazia a beberagem; depois veio o uso de +empregar as folhas, apenas escolhidas e passadas pelos fornos; e é esta, +ainda hoje, a maneira mais commum de preparal-o. + +[Figura] + +No Japäo, toda a gente toma chá,--ricos e pobres, nobres e +plebeus:--bebe-se na occasiäo das refeiçöes e a toda a hora, a +pequeninos golos. No lar, quando entra o visitante, offerecese-lhe, após +as reverencias, uma almofada de regalo e uma chavena de chá. O mercador, +quando quer se amavel com o freguez, serve-lhe antes de tudo uma chavena +de chá, palestra, falla da chuva e do bom tempo; só mais tarde se trata +do negocio. Nos templos famosos, em Kyoto por exemplo, o bonzo offerece +chá ao peregrino antes de lhe mostrar as reliquias e os museus. Pelos +caminhos mais agrestes, que väo serpeando pelas collinas arriba, ha +rusticos poisos espaçados aqui e acolá, onde o caminheiro descança +alguns minutos, bebe uma chavena de chá, troca um sorriso, deixando em +retorno um cobre sobre a esteira. Um restaurante, na pittoresca +linguagem japoneza, diz-se uma _chaya_,--que quer dizer--casa de +chá.--De sorte que a chavena de chá, que acompanha os _bons-dias_ dados +a quem chega, näo constitue simplesmente uma norma rutineira, um habito +banal, tornou-se como que o symbolo da doce hospitalidade japoneza, um +rito da bonhomia d'esta gente, exercido religiosamente entre amigos, +entre estranhos tambem, porque ao estranho, que larga á porta as +sandalias, vem ao nosso lar e nos saúda, deve-se ja um sorriso e a sua +parte de conforto. + +[Figura] + + * * * * * + +[Figura] + +Na casa, nua de moveis, porem mimosa de aceios requintados, figura +sempre o brazeiro sobre a esteira, enas brazas vae fervilhando a +chaleira de ferro cheia de agua; o _bon_ (uma bandeja) está cerca, +contendo o bule, as cinco chavenas (cinco, porque? talvez por serem +cinco os dedos em cada mäosinha japoneza), os cinco pires de madeira ou +de metal, o cofre de estanho contendo o chá em folhas e ainda o +pequenino recipiente em porcellana chamado _yuzamashi_, cuja ordinaria +serventia vae muito em breve conhecer-se. O sentimento artistico japonez +deprava-se naturalmente na industria de hoje, em grande parte com +destino á exportaçäo para a Europa e para a America; é nos utensilios +communs de uso indigena, onde näo intervem o modernismo, que ainda +reside o gosto esthetico, puro e inconfundivel, da gente japoneza, +revelando por si o complicado conjuncto de esmeros, de elegancias, de +chimeras, em que a alma d'este povo se deleita. No que respeita o +serviço de chá, é innarravel a gentileza de todo este arsenal de +bagatelas, minusculas, dando a impressäo de serem destinadas a um +banquete de bonecas!... + +[Figura] + +A agua passa da chaleira para o _yuzamashi_, onde arrefece, pois é +preceito fazer-se o chá com agua que ferveu, mas ja näo ferve; +prepara-se depois no bule a infusäo, que é offerecida aos hospedes nas +pequeninas taças de fina porcellana. + +Eis a singela practica e eis a modesta offerta, actos da vida intima näo +poucas vizes repetidos durante cada dia, desde pela manhä até á noite. +Poderiam julgar-se sem meritos que valessem do estranho um instante de +attençäo e um commentario; mas näo succede assim. Para a alegria dos +olhos, a simples preparaçäo do chá imprime um relevo delicioso á +graciosidade innata na _musumé_, na attitude que lhe é mais habitual, de +joelhos sobre a esteira, junto do seu brazeiro. A mimica é impressiva, +unica; privilegio d'aquella figurinha meiga e ondulante e d'aquella +buliçosa mäo, de finissimos contornos, da japoneza, que é, em summa, a +Eva mais gentilmente pueril, mais captivantemente chimerica, mais +feminina emfim, de todas as Evas d'este mundo. Parece certo que jamais o +japonez, que ignora o beijo, haja poisado a bocca n'aquella mäo que +exhibe esplendores de graça para servir-lhe o chá; o forasteiro, em +intimidade serena, pode ensaiar o galenteio se a phantasia o tenta; e +entäo verá talvez, que a mäosita da _musumé_, reconhecida ao afago, se +conchega de encontro aos labios, se demora, como uma rola docil gulosa +de carinhos. + +[Figura] + + * * * * * + +[Figura] + +O chá japonez, servido invariamente sem leite e sem assucar, que lhe +prejudicariam o aroma, é a bebida mais suavemente agradavel que possa +offerecer-se ao nosso paladar (näo de todos porem, ams um paladar +sentimental, um tanto sonhador... que n'isto dos nossos orgäos de sentir +ha temperamentos, aptidöes affectivas caracteristicas...). O _guyokuró_, +por exemplo, que é o mais celebrado chá de Uji e de todo o Japäo, +instilla taes subtilezas balsamicas de sabor, que mais parece um +perfume; poderia dizer-se que uma maravilhosa alchimia conseguiu +liquifazer os aromas de flores--flores dos jardins, flores +silvestres,--transferido do olphato ao paladar a impressäo do goso. +Assim é o _guyokuró_; claro está que as palavras näo podem traduzir +senäo por comparaçäo as emoçöes sentidas; e esta, a do agradoce +deliciosissimo que nos fica nos labios, persistindo, como na memoria +persiste uma reminiscencia, uma saudade, é imcomparavel... + +O chá joponez tem a virtude de mitigar a sêde. Assi se explica o habito +dos japonezes näo beberem agua; mesmo na força dos calores, em pleno +agosto, a chavena de chá, saboreada a goles, lhes dá pleno consolo. +Aponta-se-lhe mais outros condöes: excita ligeiramente o organismo, +combate o cançaço das vigilias, predispöe ao bem estar, infiltra no +cerebro näo sei que subtil embriaguez, lucida todavia, que nos torna +mais affectivos ás sensaçöes de agrado e mais aptos ás elaboraçöes do +pensamento + + * * * * * + +[Figura] + +A maneira de preparar a infusäo do chá em pó e a arte de servil-o +constituem a täo famosa cerimonia chamada do _chá-no-yu_. Foi assim que +o uso do chá se introduzio no Japäo, como uma pratica liturgica dos +frades buddhistas da seita de Daisu, exercida no proposito de +prolongares as mysticas vigilhas preceituadas; servia ao mesmo tempo de +pretexto para reuniöes intimas, que eram, imagina-se, um aprazivel +desenfado á proverbial monotonia do convento; sendo um meio efficaz de +estreitar laços de estima, pelas confidencias segredadas, pelos sorrisos +beatificos que se cruzavam, em quanto que a unica taça ia passando, de +mäo em mäo, de bocca em bocca, fraternalmente, até a esvaziar. + +[Figura] + +Mais tarde adoptou-se entre o povo o uso das folhas; mas o _chá-no-yu_ +persistiu nas bonzarias, propagando-se tambem nos costumes profanos, +entäo com um exuberante luxo de apparato, que muito apaixonou a alta +nobreza. Pelos dias que correm, ainda está em moda, sem distincçäo de +classes; é um habito gentil que ficou dos velhos tempos e a que todos +podem entregar-se, tido em valia pela delicadeza esthetica do scenario e +ainda näo despido do prestigio ortodoxo que lhe vem da remota tradiçäo. + +O _chá-do-yu_, se pode definir-se, é a arte de preparar a infusäo do chá +em pó, com esses escrupulos de limpeza, com esses requintes de elegancia +de que só é capaz o japonez; sendo a bebida offerecida a alguns amigos +de eleiçäo, a drede reunidos n'um recinto disposto para a paz do +pensamento e para o agrado dos sentidos. + +Bom é dizer agora que os codigos referenets a materia täo grave säo +innumeros, diversas as escolas; e os grandes profissionaes, _chájin_ +(homens do _chá_), de celebridade immoredoira, centenas de volumes +escreveram sobre o assumpto. + +[Figura] + +Tudo foi regulamentado e comporta um preceito, que näo é licito +esquecer. Non tempos aureos do _chá-no-yu_ o pavilhäo que recebia os +hospedes era construido n'um jardin e obedecia a uma architectura +inconfundivel. No seu arranjo interno, para a côr das paredes, para a +disposiçäo de luz, para o numero das esteiras, para a jarra com flores +ou com um ramo de arvore, havia praxes a seguir; o _kakemono_ (quadro +suspenso da parede) devia representar uma paizagem que fôsse +impressionar a pupilla com carinho; ou antes uma simples sentença +escripta por um pincel de mestre calligraphico, pois nada commove tanto +a aguda sensibilidate d'esta gente como os seus caractéres de estranha +construcçäo, cada um equivalendo já a uma synthese de ideas e +predispondo, pela sentida contemplaçäo--ora por uma desenvoltura de +traço, ora por uma ondulaçäo de curva,--ao vago discorrer da alma +sonhadora... + +O plano do jardin submettia-se a regras determinadas, pelas quaes o +engenho indigena se revelava em graças prodigiosas, aqui pelos contornos +do lago e pelas pontesinhas que o cruzavam, alem pela escolha dos +arbustos e das pedras, na intençäo ingenua e amorosa de impôr á vista a +illusäo de uma paizagem rustica, reduzida a proporçöes minusculas. Mais +do que isto: a alma das coisas, o que de inexplicavel e de subtil parece +emanar de um conjuncto qualquer onde os olhos se poisem,--tranquillidade +das sombras, arrogancia de um tronco, ternura das relvas...--devia +resaltar suggestivamente do jardinsinho japonez, imprimir-lhe um +caracter, uma philosophia, acordando na mentalidade dos visitantes um +sentimento de paz, de triumpho, de saudade... Claro está que as flores +de luxo, como as rosas, como as camelias, como as peonias, eram +excluidas, por improprias da intençäo de quadro agreste dada á scena. + +[Figura] + +Éra de estylo a monumental lanterna, tal como se encontra nos templos, +de pedra, tanto mais valiora quanto mais esverdeada e roida de vetustos +musgos, e espalhando pela noite vagas claridades coadas pelas suas +frestasinhas cobertas de papel; os japonezes deleitam-se em contemplar, +após uma nevada, as amplas cupulas em unbella d'estas lanternas de +templos e de jardins, receptaculos onde a neve poisa e se demora, em +fofos vello de formas extravagantes, de deslumbrante alvura. Um outro +accessorio se encontrava, cerca do pavilhäo: o pedaço de rocha bruta com +uma pequena cavidade cheia de agua, onde os hospedes iam lavar as mäos +antes de entrarem, como em purificaçäo liturgica. + +Até a linguagem empregada entre os convivas obedecia a regras de +pragmatica: os assumptos de religiäo ou de politica eram banidos; a +phrase devia modelar-se n'um agradavel discorrer, sem ferir melindres de +ninguem. A cortezia impunha-se: preceituava-se que o hospede proferisse +palavras de louvor pelo que via,--alfaias de serviço, arranjo do +aposento, horisontes em volta,--mas sem insistencia em demasia, que +poderia parecer pouco sincera ou pelo menos importuna. + +[Figura] + +Variadissimos objectos devem encontrar-se no aposento, como o brazeiro, +o carväo de reserva contido n'um cestinho, a chaleira, o abano de +pennas, o cachimbo, o tabaco, o pincel, o papel e a escrevaninha. Os +artigos destinados particularmente ao chá, muitas vezes contidos n'um +estojo especial, säo os seguintes: a boceta com perfumes, que antes de +tudo se lançam sobre as brazas e embalsamam o ambiente; a jarra com agua +fria e a competente colher feita de um pedaço de bambu; o chá em pó n'am +cofresinho de charäo e a colherinha adjunta; duas taças, de barro ou de +porcellana, uma usada no veräo, de côr clara, e outra escura, usada no +inverno; um curioso utensilio feito de finas lascas de bambu reunidas em +feixe, com que se agita na chavena a mistura do chá em pó com a agua +morna; finalmente a tigela onde se lavam e o pedaço de seda de finissimo +tecido, com que se enxugam, as peças empregadas. + +É o dono da casa quem deve preparar o chá, solemnemente, prescindindo do +mais ligeiro auxilio dos criados; é elle que o offerece aos convidados. +A mäo executa setenta e cinco movimentos, n'um _chá-no-yu_ havido por +singelo... e trezentos, quandorequeridas todas as formalidade ortodoxas. + +[Figura] + + * * * * * + +No tempo do generalismo do Imperio, chamado Toyotomi Hideyoshi, mais +conhecido na historia pelo grande Taiko-sama, quasi todos os genesaes +eram _chajin_, isto é, ferventes apaixonados da ceremonia do +_chá-no-yu_. Em 1585, o proprio Taiko-sama organisou um _chá-no-yu_ +colossal nas visinhanças de Kyoto, ainda hoje memorado como festa de +inigualavel esplendor: uma extensäo de quinze kilometros quadrados era +occupada por innumeros kiosques, aonde os generaes preparavam o chá; +todos, nobreza e plebe, os ricos e os mendigos,--um enxame +humano!--tinham entrada; Hideyoshi visitou todos os poisos e por suas +proprias mäos proparou chä, que offereceo aos chefes favoritos. + +[Figura] + +Relembrando o passado, justamente n'um periodo de effervescencias +guerreiras culminantes no Japäo, talvez pareça estranho, talvez pareça +comico, que esses rudes heróis de täo grandes façanhas, os indomaveis +veteranos das guerras na China e na Coréa, despissem armaduras, tirassem +os dois sabres da cintura, para virem votar horas chimericas a aquecer a +agua sobre brazas e a preparar o chä... Mas o contraste, por si, explica +o facto: era precisamente essa dura existencia de batalhas e de lances +sangrentos, de inclemencias de vida nomada, de longo cogitar em +extratagemas e em argucias, que impunha aos homens dirigentes a doce +tregua do _chá-no-yu_. O convivio com os partidarios e os amigos, o +desfilas do povo alegre a reverente, a verde paizagem de repoiso, a +solemnidade hypnotica dos gestos, tudo contribuia para offerecer um +curto aprazimento áquella gente, que assim ia apagando da memoria os +amorgores soffridos, estretando sympathias, retemperando forças para as +proximas luctas. + + * * * * * + +[Figura] + +O _chá-no-yu_ attingiu depois, durante a longa paz da dynastia shogunal +dos Tokugawa, uma epocha de exaggeros faustuosos, de dissipaçöes +paradoxaes. Escolhiam-se as baixellas de entre objectos muitos antigos e +firmados por um nome de fabricante prestigioso, e por isso rarissimos, +preciosissimos; e estava entäo em moda offerecel-os, no momento das +ruidosas despedidas, ás bellas companheiras do festim, que haviam com as +suas guitarras, com as suas cançöes, com as suas graças profissionaes, +enfeitiçando os hospedes... Sorveram-se fortunas n'este abysmo. + +É de entäo que se conta que um amador empregou n'um _chá-no-yu_ +utensilios no valor de trinta e oito mil yens, o que passa de quatro mil +libras esterlinas; um outro adquiria por trinta mil yens um só boiäo de +chá!... + +[Figura] + +Ha cerca de tres ou quatro annos, em um leiläo de Tokyo, um japonez +comprou por tres mil yens uma chavena de _chá-no-yu_; prova isto que +ainda ha devotos _chajin_ presentemente. Com effeito, se o luxo sem +limites que caracterizou o _chá-no-yu_ dos bons tempos feudaes +desappareceu para sempre com a mudança de regimen e com a mudança de +costumes, continuou todovia esta elegante pratica merecendo uma alta +estima. Hoje, os dois sexos a ella se dedicam, e pode affirmar-se que +faz parte da boa educaçäo de uma menina, exigindo uns seis ou sete annos +a sua aprendizagem. As _gueishas_ tambem se instruem em tal culto; as +celebres danças primaveraes da cidade de Kyoto, conhecidas pela +denominaçäo de _Miyako-odori_, säo sempre precedidas do _chá-no-yu_, em +que é officiante uma das mais gentil _gueishas_ do logar; e a multidäo +acode, com devota deligencia, a saborear o perfumado chá. + + * * * * * + +[Figura] + +Näo me peçam agora, a mim, profano na materia e viageiro fatigado de täo +multiplices impressöes que tenho vindo colhendo por este mundo fóra, uma +opiniäo pessoal sobre o _chá-no-yu_. Estive uma vez, é certo, com dois +ou tres amigos, em uma das _chayas_ de mais fama da cidade de Kobe; e +Tama-Guiku (o Malmequer-Precioso) era a esplendida sacerdotiza da +cerimonia. A impressäo que d'aquella noite guardo é indefinida, fugidia, +como de um vago sonho que tivesse. Ficaram-me reminiscencias indecisas +do luxo sombrio e harmonioso e do aceio extremo das coisas impregnadas +de exotismo onde poisou o meu olhar. Na meia luz do placido aposento, +amplo e silencioso como um templo, contornava-se, distante, um vulto de +mulher, de joelhos, envolta em sedas magnificas. As attencöes fixavam-se +especialmente, como que por attracçäo hypnotica, nas suas mäos +finissimas, alvejando no espaço como se fossem de marfim, tomando de +estranhos utensilios, preparando näo sei que filtro de magia, poisando +em mimicas hieraticas, quaes mäos de mystica officiante de uma religiäo +desconhecida. Por fim, convidado a partilhar no sacrificio, acceitava +uma taça com chá que me era offerecida e levava-a aos labios commovido, +com näo sei que subitos escrupulos de apostata mal firme... + +Tama-Guiku concluira. Ergueu-se, deslumbrante de graças, de atavios, de +magestade. O seu rostinho meigo illuminava-se entäo da exaltaçäo +beatifica que lhe electrizava o espirito; dirigiu sobre nós a ardencia +negra dos seus olhos, saudou-nos reverente... reverente, näo porque uma +imfima cortezia sequer lhe merecessemos,--pobres occidentais +ignaros!--mas em estricta abediencia aos preceitos rituaes; e +desappareceu da scena. + + * * * * * + +A proposito d'estas divagaçöes respeitantes ao chá e ao seu culto, +vem-me agora ao pensamento e ainda me compunge um dramatico episodio da +existencia intima japoneza, que contado me foi ha cerca de tres annos. +Vou tentar descrevel-o. + +Éra no fim de maio. Eu achava-me em Kobe. Um meu amigo japonez, _chajin_ +apaixonado, partira para Uji, onde devia assistir a umas costumadas +reuniöes votadas ao _chá-no-yu_, em casa de um parente, cuja filha, a +gentilissima O-Hana, era eximia na arte; entre nós ficára combinado que +eu iria encontral-o, passadas tres semanas, em Nara, a cujos velhos +monumentos queriamos votar horas de estudo. + +Haviam decorrido apenas uns tres dias, quando do tal sujeito recebi um +bilhete, pouco mais ou menos n'estes termos:--"Pode seguir para Nara, +onde me encontrará. Falhou o _chá-no-yu_. O-Hana suicidou-se. Pesava +sobre ella uma desdita igual á pobre Hichi da lenda..."-- + +Ora, eu conhecia O-Hana; e a lenda, que por signal constitue o thema de +uma notavel peça de theatro, näo me era de todo estranha. + + * * * * * + +Vamos por partes. A lenda é como segue. + +Näo sei ha quantos seculos e nem sei em que logar,--nem importa +sabel-o,--havia em certa rua dois estabelecimentos de negocio, dos que +se chamam _Yaoya_ em lingua do paiz, onde se vemdem variadas +provisöes,--fructos, legumes, hortaliças, ovos, peixe e muitas coisas +mais.--Defrontavam um com o outro. N'um, habitava certo casal com uma +filha unica, O-Hichi; n'outro, um outro casal com um só filho, Kichisa. +Quiz a mofina sorte que se enamorassem um do outro. + +Mofina sorte? Sim, embora, á primeira vista, näo seja o caso concebivel, +quando se saiba que ambos eram jovens, gentis e animados de doces +enternecimentos amorosos. Eu me explico todavia. Os velhos codigos +nipponicos, ainda hoje respeitados, impöem aos filhos o preceito de +herdarem o appellido de seus paes; o filho mais velho herda a mais o +encargo de chefe de familia, com a administraçäo dos bens e a +superintendencia no culto piedoso devido aos parentes fallecidos. É por +este processo que as genealogias näo offerecem mysterios e as familias +se eternizam, conservando religiosamente o mesmo appellido durante +seculos sem conto; cessando apenas no caso excepcional de todos os +descendentes acabarem, consanguineos ou näo, pois é de uso corrente +chamar ao lar, por adopçäo, filhos alheios. O filho unico pode +certamente casar, e a esposa recebe o appellido do marido. A filha unica +pode igualmente casar e entäo o esposo recebe o appellido da mulher. +Está-se agora percebendo como para O-Hichi e Kichisa o problema se +complicava em demazia, por serem ambos filhos unicos. Um meio só se +apresentava, o de uma das familias adoptar um filho estranho, sobre quem +recahissem os encargos de uma supposta primogenitude. Mas o alvitre era +quasi impraticavel, por aquelles tempos feudaes que iam correndo, +dependendo da sancçäo suprema do daimyô, que a negaria, por ser o caso +novo; sem já contar com o orgulho revoltado dos paes da noiva, ou dos +paes do noivo, da familia emfim que, para evitar de ser extincta, +tivesse de investir um filho alheio nos deveres que competem ao +legitimo. + +[Figura] + +É certo que as duas familias se oppozeram com toda a vehemencia a taes +amores, e a casa se transformou para O-Hichi em duro encerro e a estima +dos seus em aggressöes continuas. Foi entäo que a pobre _musumé_, +captiva n'uma alcova, desesperada, louca de amores, meditou em pôr fogo +ao seu lar de tormentos, na crença de que as chammas lhe trariam a +liberdade e o ensejo de reunir-se áquelle a quem votara todo o seu +affecto. Errou porem nos calculos, como succede tantas vezes quando se +tem quinze annos e o pensamento voêja no mundo das chimeras: descoberto +o seu crime apenas posto em pratica, foi trazida á justiça da cidade e +condemnada á morte. + +[Figura] + +Vem agora a proposito narrar um pormenor curioso, que é de toda a +tragedia o que mais me enternece. A misera seguia, conforme o estylo, +pelas ruas populosas, amarrada ao dorso de uma besta, para ignominia +propria e para licçäo do povo; mais tarde seria executada. A meio da +jornada expiatoria, os seus longos cabellos soltos, como até entäo eram +usados, cahiam-lhe em desalinho sobre a fronte, cheios da poeira dos +caminhos, escorrendo de suor, fustigando-lhe as faces. Entäo, ou porque +quizesse poupar-se a um tormento a mais, ou--quem sabe?--por um resto de +garridice deminia, viram-n'a rasgar com os bellos dedos tremulos um +pedaço da seda carmezim do forro do vestido, com quem amarrou junto á +nuca, erguendo os braços, esses pobres cabellos... A idea pareceu +graciosa ás raparigas, que se iam juntando em grupos curiosos para +observarem o cortejo; e desde entäo as japonezas começaram de usar +aquelle enfeite, que persiste até hoje e a que chamam +_kikidashi_--litteralmente: farrapo--em memoria de O-Hichi, a triste +namorada de Kichisa... + +[Figura] + + * * * * * + +Mas vamos depressa ao fim da historia. + +Quando em Nara deparei com o meu amigo japonez, o triste fim de O-Hana +esclareceu-se em breve. + +Havia em Uji duas familias abastadas, Fukumoto e Yamaguchi, possuindo as +mais bellas culturas de chá d'aquelles campos. Os Fukumoto juravam que o +seu chá éra o melhor de todo o Imperio, e os Yamaguchi diziam do seu chá +a mesma coisa; eram no fim de contas uns caturras, professando um supino +orgulho do seu nome e um culto pelo mister a que se davam; alem d'isto, +ou por isto, pouco affeiçoados entre si, confirmando a justiça d'aquelle +ditado portuguez, com curso em todas as longitudes do planeta... _dos +officiaes do mesmo officio_. + +O casal Fukumoto tinha um filha unica, O-Hana; o casal Yamaguchi tinha +um unico filho, Naotarô. Este era um perfeito rapazola, amavel, +intelligente, segundo affirma quem o viu. O-Hana era uma _musumé_ em +plena flôr da vida, educada em todos as gentis prendas do seu sexo. +Ninguem como ella desprendia suavissimos sons do _koto_, a harpa +nacional; nenhumas mäos se mostravam täo habeis de pinheiro ou de lirios +floridos trazidos do jardim; no _chá-no-yu_ era incomparavel. + +[Figura] + +[Figura] + +Eu vi O-Hana uma só vez, nos parques de Kyoto, quando em peregrinaçäo +primaveral se vae contemplar, á luz da lua, a celebre cerejeira de +Guion, toda vestida de pequeninas petalas. + +O-Hana éra uma d'essas japonezinhas embebidas de enlevo e de exotismo, +taes como vós as conheceis dos leques, dos biombos. Isto basta, á falta +de melhor, para definir-lhe o vulto em miniatura, esguio e ondulante, +coberto de sedas preciosas; e para imaginar-lhe o rosto pallido em forma +de pevide de meläo, os olhinhos cerrados, os finos traços das +sobrancelhas em viez, a boquinha sorridente, rubra, lembrando uma +cereja, e o penteado... o penteado colossal como uma enorme borboleta de +azeviche, que lhe houvesse pousado, de azas abertas, sobre a nuca. Ria, +curvava-se em mesuras, em meneios, agitando no ar as descommunaes mangas +do _kimono_; e lá ia seguindo o seu caminho entre um bando de amigas, +antes ziquezagueando, a passos miudinhos, indécisos, sem intuito. E eu +ia pensando que alli estava, em carne e osso, a companheira +deliciosissima, anjo de graças e fada de sorrisos, para quem podesse +offerecer-lhe--japonez claramente,--uma casinha de papel em extremos de +limpeza, com duas esteiras sobre o chäo, um bule com chá, um prato com +confeitos, uma jarra com ramos vicejantes; e á frente o +jadinsinho,--bambus tufados, azaleas em flor, pedras musgosas, o +pequinono lago, onde peixes vermelhos nadassem pachorrentos e räs +coaxassem em noites estivaes...-- + +[Figura] + +O-Hana e Naotarô amaram-se.. Näo se sabe porque. Porque eram ambos +jovens, visinhos, conhecidos; e em circunstancias semelhantes a +juventude attrahe a juventude... + +Quando esta inclinaçäo foi conhecida, as duas familias irromperam em näo +dissimulados azedumes. O casamento era impossivel. Se a adopçäo de um +filho alheio podia resolver em theoria o problema, quem vinha +sujeitar-se ao sacrificio? Os Yamaguchi? Os Fukumoto? Mas nem uns nem +outros, com os diabos!... Os nomes das duas familias, procedentes de uma +linhagem täo remota que em väo se tentaria investigar-lhes a origem, +gosavam em todo o Imperio de um prestigo inconfundivel, conquistado +durante annos sem conto pela pobidade mercantil dos seus negocios, pela +excellencia do chá da sua lavra, pela nobre chientela nos castelos; +podendo apenas pôr-se em duvida, se o chá dos Yamaguchi preferival ao +chá dos Fukumoto. Ora,--mercê de um capricho de estouvados,--investir, +por uma adopçäo do acaso, um estranho na posse de tal nome, e ungil-o +dos nobres encargos que competem a um futuro chefe de familia--Fukumoto +ou Yamaguchi,--nem por brincadeira se propunha!... Que O-Hana e Naotarô +se casassem, intendia-se; era esse mesmo o seu dever, de perpetuar pela +prole os nomes dos avós; mas confiassem no bom tacto dos paes, que +saberiam escolher-lhes noivos do seu agrado e em condiçöes de näo virem +parturbar a paz das familias e ferir o amor das tradiçöes. + +[Figura] + +Muito bem. Quando os dois namorados se convenceram da impossibilidade de +viverem um para outro, tiveram certa noite uma furtiva entrevista á +beira do Ujigawa, a pittoresca ribeira, que entäo serpeava em grande +cheia de aguas, resultado das ultimas chuvas copiosas. Deram-se as mäos, +parece; sorriam-se um para o outro; näo se sabe o que segredaram entre +si, porque ninguem esta alli para os ouvir... + +Quando, ao romper do dia, as moças de Uji seguiam para a apanha do chá, +em ranchos galhofeiros, quedaram-se de repente junto ao rio, cheias do +espanto, de pavor, vendo a boiar dois corpos detidos na maranha dos +juncos, rigidos, lividos, mortos, porem sorrindo ainda e dando-se ainda +as mäos... + + * * * * * + +..................................................................... + +"N'estas aguas do rio d'Uji, +--Täo milagrosas que säo!-- +Lavam-se todos os males +De que soffre o coraçäo... + +[Figura] + +[Figura] + + + + +Lista de erros corrigidos + + +Aqui encontram-se listados todos os erros encontrados e corrigidos: + + + +----------+-----------------------+---------------------------+ + | | Original | Correcção | + +----------+-----------------------+---------------------------+ + |#pág. 19 | do outros | de outros | + |#pág. 23 | ama norma | uma norma | + |#pág. 24 | ua industria | na industria | + |#pág. 24 | a modernismo | o modernismo | + |#pág. 26 | da flores | de flores | + |#pág. 33 | exteusäo | extensäo | + |#pág. 33 | homeus | homens | + |#pág. 37 | desappaeceu | desappareceu | + |#pág. 38 | appelldo | appellido | + |#pág. 39 | dos familias | das familias | + |#pág. 39 | umo supposta | uma supposta | + |#pág. 45 | pela excellencias | pela excellencia | + |#pág. 45 | nobre encargos | nobres encargos | + +----------+-----------------------+---------------------------+ + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of O culto do chá, by +Wenceslau José de Sousa de Morais + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CULTO DO CHÁ *** + +***** This file should be named 37879-8.txt or 37879-8.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/7/8/7/37879/ + +Produced by Rita Farinha (This file was produced from +images generously made available by the Almamater +(Univeridade de Coimbra / Coimbra University) at +http://http://almamater.uc.pt + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. Special rules, +set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to +copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to +protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project +Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you +charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you +do not charge anything for copies of this eBook, complying with the +rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose +such as creation of derivative works, reports, performances and +research. They may be modified and printed and given away--you may do +practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is +subject to the trademark license, especially commercial +redistribution. + + + +*** START: FULL LICENSE *** + +THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE +PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK + +To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free +distribution of electronic works, by using or distributing this work +(or any other work associated in any way with the phrase "Project +Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project +Gutenberg-tm License (available with this file or online at +https://gutenberg.org/license). + + +Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm +electronic works + +1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm +electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to +and accept all the terms of this license and intellectual property +(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all +the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy +all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. +If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project +Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the +terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or +entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. + +1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be +used on or associated in any way with an electronic work by people who +agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few +things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works +even without complying with the full terms of this agreement. See +paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project +Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement +and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic +works. See paragraph 1.E below. + +1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" +or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project +Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the +collection are in the public domain in the United States. If an +individual work is in the public domain in the United States and you are +located in the United States, we do not claim a right to prevent you from +copying, distributing, performing, displaying or creating derivative +works based on the work as long as all references to Project Gutenberg +are removed. Of course, we hope that you will support the Project +Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by +freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of +this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with +the work. You can easily comply with the terms of this agreement by +keeping this work in the same format with its attached full Project +Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. + +1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern +what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in +a constant state of change. If you are outside the United States, check +the laws of your country in addition to the terms of this agreement +before downloading, copying, displaying, performing, distributing or +creating derivative works based on this work or any other Project +Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning +the copyright status of any work in any country outside the United +States. + +1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: + +1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate +access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently +whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the +phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project +Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, +copied or distributed: + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + +1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived +from the public domain (does not contain a notice indicating that it is +posted with permission of the copyright holder), the work can be copied +and distributed to anyone in the United States without paying any fees +or charges. If you are redistributing or providing access to a work +with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the +work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 +through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the +Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or +1.E.9. + +1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted +with the permission of the copyright holder, your use and distribution +must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional +terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked +to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the +permission of the copyright holder found at the beginning of this work. + +1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm +License terms from this work, or any files containing a part of this +work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. + +1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this +electronic work, or any part of this electronic work, without +prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with +active links or immediate access to the full terms of the Project +Gutenberg-tm License. + +1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, +compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any +word processing or hypertext form. However, if you provide access to or +distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than +"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version +posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), +you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a +copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon +request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other +form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm +License as specified in paragraph 1.E.1. + +1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, +performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works +unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. + +1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing +access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided +that + +- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from + the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method + you already use to calculate your applicable taxes. The fee is + owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he + has agreed to donate royalties under this paragraph to the + Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments + must be paid within 60 days following each date on which you + prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax + returns. Royalty payments should be clearly marked as such and + sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the + address specified in Section 4, "Information about donations to + the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." + +- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies + you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he + does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm + License. You must require such a user to return or + destroy all copies of the works possessed in a physical medium + and discontinue all use of and all access to other copies of + Project Gutenberg-tm works. + +- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any + money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the + electronic work is discovered and reported to you within 90 days + of receipt of the work. + +- You comply with all other terms of this agreement for free + distribution of Project Gutenberg-tm works. + +1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm +electronic work or group of works on different terms than are set +forth in this agreement, you must obtain permission in writing from +both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael +Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the +Foundation as set forth in Section 3 below. + +1.F. + +1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable +effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread +public domain works in creating the Project Gutenberg-tm +collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic +works, and the medium on which they may be stored, may contain +"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or +corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual +property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a +computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by +your equipment. + +1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right +of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project +Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project +Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all +liability to you for damages, costs and expenses, including legal +fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT +LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE +PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE +TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE +LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR +INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH +DAMAGE. + +1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a +defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can +receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a +written explanation to the person you received the work from. If you +received the work on a physical medium, you must return the medium with +your written explanation. The person or entity that provided you with +the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a +refund. If you received the work electronically, the person or entity +providing it to you may choose to give you a second opportunity to +receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy +is also defective, you may demand a refund in writing without further +opportunities to fix the problem. + +1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth +in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER +WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO +WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. + +1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied +warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. +If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the +law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be +interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by +the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any +provision of this agreement shall not void the remaining provisions. + +1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the +trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone +providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance +with this agreement, and any volunteers associated with the production, +promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, +harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, +that arise directly or indirectly from any of the following which you do +or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm +work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any +Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. + + +Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm + +Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of +electronic works in formats readable by the widest variety of computers +including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. + + +Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive +Foundation + +The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit +501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the +state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal +Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification +number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at +https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent +permitted by U.S. federal laws and your state's laws. + +The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. +Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered +throughout numerous locations. Its business office is located at +809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email +business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact +information can be found at the Foundation's web site and official +page at https://pglaf.org + +For additional contact information: + Dr. Gregory B. Newby + Chief Executive and Director + gbnewby@pglaf.org + + +Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation + +Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide +spread public support and donations to carry out its mission of +increasing the number of public domain and licensed works that can be +freely distributed in machine readable form accessible by the widest +array of equipment including outdated equipment. Many small donations +($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt +status with the IRS. + +The Foundation is committed to complying with the laws regulating +charities and charitable donations in all 50 states of the United +States. Compliance requirements are not uniform and it takes a +considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up +with these requirements. We do not solicit donations in locations +where we have not received written confirmation of compliance. To +SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any +particular state visit https://pglaf.org + +While we cannot and do not solicit contributions from states where we +have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition +against accepting unsolicited donations from donors in such states who +approach us with offers to donate. + +International donations are gratefully accepted, but we cannot make +any statements concerning tax treatment of donations received from +outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. + +Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation +methods and addresses. Donations are accepted in a number of other +ways including including checks, online payments and credit card +donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate + + +Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic +works. + +Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm +concept of a library of electronic works that could be freely shared +with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project +Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. + + +Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed +editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. +unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily +keep eBooks in compliance with any particular paper edition. + + +Most people start at our Web site which has the main PG search facility: + + https://www.gutenberg.org + +This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, +including how to make donations to the Project Gutenberg Literary +Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to +subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks. diff --git a/37879-8.zip b/37879-8.zip Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..e728759 --- /dev/null +++ b/37879-8.zip diff --git a/37879-h.zip b/37879-h.zip Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..6562280 --- /dev/null +++ b/37879-h.zip diff --git a/37879-h/37879-h.htm b/37879-h/37879-h.htm new file mode 100644 index 0000000..8d00720 --- /dev/null +++ b/37879-h/37879-h.htm @@ -0,0 +1,1789 @@ +<!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" + "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> +<html xmlns="http://www.w3.org/1999/xhtml"> +<head> +<meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=ISO-8859-1" /> + <title>O Culto do Chá</title> + <meta content="Wenceslau de Moraes" name="AUTHOR" /> + <meta content="text/html; charset=ISO-8859-1" http-equiv="Content-Type" /> + <style type="text/css"> +body {max-width: 80%; margin-left:10%; margin-right:10%; text-align: justify;} +h1, h2, h3, h4, h5 { text-align: center;} +h1 {margin: 2em; text-align: center;} +h2, h4 {margin-top: 2em;} +.bbox {border: solid black 1px; margin-left: 10%; margin-right: 10%;} +.fbox {border: solid black 1px; background-color: #FFFFCC; font-size: 75%; margin-left: 15%; margin-right: 15%;} +.dots {color: #fff; background-color: inherit; border: 3px dotted #555; border-style: none none dotted;} +.sbreak { +width: 20%; +margin-left:40%;} +.breaks { +width: 10%; +margin-left:45%;} +.poetry {margin-left: 35%;} +.poetry1 {margin-left: 40%;} +.quote {margin-left: 10%; +margin-right: 20%;} +.quote1 {margin-right: 35%;} +.smallcaps {font-variant: small-caps;} +.signature {margin-right: 10%; +text-align: right;} +.left { float: left; +margin-right: 20px;} +.right { float: right; +margin-left: 20px;} +.right1 { float: right;} +.tinyl {font-size: 95%;} +.pagenum { position: absolute; right: 5%; +font-size: 75%; +text-align: right; +text-indent: 0em; +font-style: normal; +font-weight: normal; +color: silver; background-color: inherit; +font-variant: normal;} + </style> +</head> + +<body> + + +<pre> + +Project Gutenberg's O culto do chá, by Wenceslau José de Sousa de Morais + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: O culto do chá + +Author: Wenceslau José de Sousa de Morais + +Release Date: October 29, 2011 [EBook #37879] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CULTO DO CHÁ *** + + + + +Produced by Rita Farinha (This file was produced from +images generously made available by the Almamater +(Univeridade de Coimbra / Coimbra University) at +http://http://almamater.uc.pt + + + + + + +</pre> + +<div> +<div class="fbox"><b>Nota de editor:</b> +Devido à +quantidade de erros tipográficos existentes neste texto, +foram tomadas várias decisões quanto à +versão final. Em caso de dúvida, a grafia foi +mantida de acordo com o original. No final deste livro +encontrará a lista de erros corrigidos.<br /> +<br /> +<div style="text-align: right; font-style: italic;">Rita +Farinha (Outubro 2011) +</div> +</div> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig01.png" width="550" height="799" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig02.png" width="500" height="757" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<div class="bbox"> +<br /> +<h3>WENCESLAU DE MORAES</h3> +<br /> +<div class="breaks"><hr /></div> +<br /> +<h2>O CULTO DO CHÁ</h2> +<br /> +<div class="breaks"><hr /></div> +<br /> +<h4>(ILLUSTRAÇÕES DE YOSHIAKI)</h4> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig03.png" width="122" height="144" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<h4> +KOBE +Typographia do "Kobe Herald"</h4> +<div class="breaks"><hr /></div> +<h4>Gravuras de Gotô Seikôdô</h4> +<div class="breaks"><hr /></div> +<h4>1905 +</h4></div> +<br /> +<br /> +<br /> +<img src="images/fig04.png" width="144" height="698" alt="" class="right1" /><img src="images/fig05.png" width="337" height="185" alt="" class="right1" /> + +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<div class="quote"><span class="smallcaps">A<br /> +Vicente Almeida d'Eça,<br /> +Sebastiäo Peres Rodrigues,<br /> +Bento Carqueja,</span> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +isto é, á <em>Trindade</em> benevolente, que ainda ha pouco, +de täo longe, me enviou dentro das folhas de um livro—as +<em>Cartas do Japäo</em>,—o perfume ineffavel da sua +amizade, offereço este outro livro, exotico pela forma, +exotico pelo texto, mas näo pelo sentimento de profunda +gratidäo, que inspirou esta primeira pagina. <br /> +<br /> +Kobe, Junho de 1905. <br /> +<br /></div> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<div class="smallcaps signature">Wenceslau de Moraes.</div> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> + +<div style="text-align: center"><img src="images/fig06.png" width="536" height="522" alt="O Culto do Chá" /></div> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +Falla-se do Japäo; nem, francamente, devera presumir-se +que eu ia referir-me a um paiz qualquer occidental, +onde a nossa raça branca floresce. <br /> +<br /> +É no Oriente, e em especial no Extremo-Oriente, que as +coisas communs da creaçäo ou os usos e costumes triviaes da +vida säo susceptiveis de merecer um tal requinte de solemnidade +sentimental e de praxes de rito, que constituam um verdadeiro +culto. No espirito do europeu, despoetizado pela chateza dos +ideas da epoca, atribulado pelas multiplices exigencias da vida, +pervertido pela febre do negocio, näo medram de ha muito os +<span class="pagenum">[8]</span> +cultos. Especializando a observaçäo ao chá, havemos de convir +que este artigo de commercio, que de täo longe nos vem, +propositadamente +adulterado conforme o nosso gosto, no fim de contas +se resume n'uma detestavel infusäo que entrou em moda no +<em>sport</em> +social, simples pretexto para repastos pelintras, para reuniöes +banaes, para palestras väs. <br /> +<br /> +<img src="images/fig07.png" width="290" height="304" alt="" class="right" />A Asia é outra coisa: a muitos propositos immersa ainda +em barbarismo, se assim se quer dizer; com mil defeitos e mil +erros, que a sabia Europa aponta a dedo e algumas vezes corrige, +quando pode, com a logica dos seus conhoës de tiro rapido; o que +ella retem ainda, indiscutivelmente, esta Asia, é o caracter +ancestral, nada vulgar, nada rasteiro, palpitante de orgulhos de +raça, aprazendo-se em sonhos e em chimeras, acariciando a lenda, +divinizando as coisas, prodigalizando os cultos; o que é, em +todo o caso, uma maneira amavel, de ir comprehendendo a vida. <br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div> +<br /> +Oh, fé dos velhos tempos!... +Oh, santos patriarchas +de täo varios paizes +e täo differentes seitas, +tenazes campeöes, que fostes +incutindo nos simples a +crença, a esperança, o amor,—balsamos +consoladores das duras miserias d'este mundo,—como +eu vos amo, a +todos!... +<br /> +<span class="pagenum">[9]</span> +Meus piedosos pensamentos elevam-se n'este momento a +Darumá. Segundo a tradiçäo da gente japoneza, Darumá, o +grande apostolo indiano do buddhismo, veio á China ahi pelo +começo do seculo VI da nossa era christä, e em terras +chinezas prégou em honra da verdade, illuminando o espirito +dos povos. <br /> +<br /> +<img src="images/fig08.png" width="190" height="246" class="left" alt="" />Consta que, por voluntaria desistencia das ephemeras +alegrias terreaes, Darumá votou-se +a passar a vida de joelhos +sobre o solo pedregoso, absorto em +contemplaçöes mysticas, sem mesmo +permittir-se o simples regalo de +dormir. Tantos annos permaneceu +de tal maneira, que as pernas se +lhe gastaram, claro está; e é assim, +sem pernas, só com a cabeça e +com o tronco, envolto n'um manto +carmezim, que ainda hoje é figurado. +A imagem tronou-se querida e +popular entre esta boa gente +japoneza; é mesmo um brinquedo corriqueiro entre as mäositas das +creanças,—os santos e os meninos vivem sempre em boa +companhia;—lembrando +o tal brinquedo o nosso <em>frade de sabugo</em>, +pela teima em voltar, por mais voltas que lhe dêem, á sua postura +habitual. Deve ainda saber-se que Darumá tem dado assumpto, +desde remotos tempos até hoje, a pintores da mais alta valia; +Hokusai foi um d'elles, pintando um famoso Darumá sobre uma +folha de papel de cerca de duzentos metros quadrados de grandeza, +empregando oitenta litros de tinta no desenho e servindo-se de +cinco vassouras á laia de pinceis; estendida a tela sobre o campo, +<span class="pagenum">[10]</span> +no telhado de um templo a turba admirava a obra e applaudia o +mestre. <br /> +<br /> +Mas voltêmos ao que aqui mais nos interessa, respeitante ao +venerando vulto que invoquei, ajoelhado sobre as pedras. Consta +mais que, em certa noite, as palpebras se lhe cerraram +de fadiga, e o bom Darumá deixou-se adormecer, para só +acordar pela manhä. Entäo, pedindo a alguem uma tesoira +ou instrumento parecido, cortou a si proprio as palpebras +indignas e arremeçou-as ao solo, n'um gesto de despeito... +As palpebras, por milagre, erraizaram, dando nascença +o a um gracioso arbusto nunca visto, que medrou mui +de prompto e cujas folhas, tratadas de infusäo pela agua +quente, fôram um remedio precioso contra o somno e contra +o cançaço das vigilias. Estava conhecido o chá; tem pois +na China a sua origem, e é coisa santa, como se acava de +provar. Crê quem quer; mas devo advertir que este livro foi +<span class="pagenum">[11]</span> +escripto para os crentes. <br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig09.png" width="324" height="270" alt="" /><br /> +<br /> +<br /> +<big><big>*</big></big></div> +<br /> +Da China, veio o chá para as terras de Nippon, mas näo se +sabe quando. +<br /> +<br /><img src="images/fig10.png" width="235" height="395" alt="" class="right" />Velhas chronicas mencionam +(no dizer dos entendidos +n'este caso melindroso), +que em 729 da era Christä, +durante uma festa religiosa +de espavento, o imperador +Shomu offerecia chá a +bonzos de alta gerarchia; +mas fica-se ignorando se já +antes seria conhecido... +Parece que um bom abbade +buddista, Dengyo Daishi, +foi o primeiro que obteve +a planta em solo japonez, +em 805; o chá era entäo +já uma beberagem favorita +entre os bonzos chinezes, +que d'ella se serviam +durante as vigilias prolongadas +das suas praticas nocturnas. Mais recentemente, ainda +outro, bonzo, Eisei, tendo ido á China, de lá voltou, trazendo +as sementes preciosas, e no monte Sefuri, em Chikuzen, cuidou da +sua sementeira. Pouco depois, ainda mais outro bonzo (sempre +os bonzos!) de nome Mioyé, colhendo de Eisei os varios segredos +de cultura, novas sementes adquiriu, e em Toga-no-o em Uji, +<span class="pagenum">[12]</span> +logares visinhos de Kyoto, attentamente se entreve em cultivar o +chá; em Uji, de preferencia, fôram os resultados excellentes. +Dois seculos depois, cerca de 1400, o shogun (generalissimo) +Ashikawa Yoshimitsu imprimiu vigoroso impulso ás plantacôes +de Uji, as quaes tanto fôram prosperando, mercê da riqueza do +torräo, que de entäo até hoje o chá d'aquelle sitio tem sido +celebrado como o melhor de todo o imperio; d'elle exclusivamente +se serve o Imperador. <br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div> +<br /> +O Japäo é a terra das camelias: <em>camelia japonica</em>, lá +diz o +latinorio dos botanicos.<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig11.png" width="434" height="258" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +Quando, por fins de novembro, começam os frios e as geadas +e pouco tarda que as neves alvejem nos dorsos das montanhas, +quando cessam as ultimas florescencias dos jardins, é entäo que +comecam ostentando-se as bellas flores d'esta esplendida familia +das camelias. Véem primeiro as sazankas, umas brancas, cutras +roseas, de mimosissimas petalas frisadas; seguem-se as camelias +<span class="pagenum">[13]</span> +simples, sanguineas, surdindo da rama espessa de arvores gigantes, +espalhadas pelos campos; e após véem as flores cuidadas, de luxo, +variando em innumeras formas, variando em innumeros tons, +desde o branco de leite ate ao roseo quasi negro. Entäo igualmente +desabrocha a pequenina flôr do chá, que tambem é uma +camelia, subtilmente perfumada, composta de cinco petalasinhas +alvas contornando e protegendo o feixe aureo dos estames. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big> +<br /> +<br /> +<br /> +<img src="images/fig12.png" width="342" height="262" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +Passando, em horas de ocio, junto dos campos de chá, dos +quaes sinto prazer em acercar-me, palestro com os aldeöes e +aprendo noçöes varias, respeitantes á delicada planta. Näo pode +ser transplantada, nem se multiplica por estaca ou por enxerto, +só por sementeira se propaga. Os paizes quentes, como os paizes +frios, säo-lhe nocivos; prospera nos climas temperados, nos sitios +lavados de ar e luz, visinhos dos cursos de agua, convindo +um ligeiro declive ao solo de cultura. Os arbustos säo dispostos +em renques parallelos, de norte a sul, para que o sol lhes bata +em cheio desde pela manhä até á noite; as plantas mais cuidadas +<span class="pagenum">[14]</span> +reclamam na primavera grandes toldos de palha, que abriguem +das geadas as tenras folhas dos rebentos. Durante o primeiro +anno, dispensam adubos, que depois se applicam em periodos +frequentes. A guerra aos vermes, aos insectos, exige zelos +incessantes. No fim de quatro annos, já o arbusto se presta á +primeira colheita; mas säo as velhas plantas, de cem annos, de +duzentos annos, as que melhor produzem. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig13.png" width="380" height="252" alt="" /> +<br /> +<br /> +<br /> +<big><big>*</big></big></div> +<br /> +<br /> +Quem quizer tomar conhecimento com a planta de chá, nas +melhores condiçoës de prosperidade e em mais bellas galas de +aspecto pittoresco, tem de ir até Uji, distante quinze milhas de +Kyoto; escolhendo de preferencia um dos primeiros dîas de maio, +quando os rebentos novos começam vicejando, o que marca o +inicio da faina da colheita. Faina e festa: a povoaçäo inteira +acorda da sua modorra provinciana; desperta em esperanças, +em jubilos, em actividades incançaveis, para votar-se aos cuidados +da preciosa folha; deverá presumir-se, em bom criterio, que a +<span class="pagenum">[15]</span> +quadra remoçante da primavera em flores, com aromas nas brisas +e quenturas creadoras, constitue tambem um forte estimulo para +a alegria repentina que se pinta nos rostos de toda aquella gente. <br /> +<br /> +O quadro é deveras aprazivel. Após uma banal estaçäo de +linha ferrea, estende-se a cidadesinha garrida, com as suas viella +muito limpas e a fila de lojinhas abarrotadas de varia mercancia. +Depois segue-se o rio, de aguas limpidas e frescas, rico de +tradiçöes de gloria; galga-se a ponte em arco, entra-se no +bairro das <em>chayas</em>, dos hoteis, em tal quadra +povoados de freguezes +galhofeiros e de gentis mulheres, as <em>gueishas</em>, que +cantam ou +dedilham no inseparavel <em>shamicen</em>; e véem depois os +campos, +vastos campos de chá a succederem-se pelo horisonte fóra, cuidados +como jardins, em longos alinhamentos de arbustos, copados, +arredondados, lembrando enormes mangericos, de delicada rama +de um verde esculro bronzeado; no azul distante, alguns famosos +templos confusamente se recortam. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig14.png" width="442" height="308" alt="" /></div><br /> +<br /> +As moças de Uji estream <em>kimonos</em> novos para o caso, +arregaçando +<span class="pagenum">[16]</span> +as mangas com fitas escarlates; amarram em turbante em +volta dos cabellos toalhas de côr azul e branca; e assim, esbeltas, +graciosissimas, em ranchos de dez, de doze companheiras, +dirigem-se ao trabalho. É entäo um encanto para os olhos ir a +gente surprehendel-as no afan do seu mister, dispersas pelas +campinas fóra, como borboletas; indo de um ramo a outro ramo, +de um arbusto a outro arbusto, por vezes occultando-se entre o +verde mais denso da folhagem. Os dedos roseos, miudinhos, a +escorrerem de orvalho e multiplicando-se em gestos delicados, väo +colhendo os rebentos tenros do chá e atirando-os a grandes ceiras +dispostas pelo chäo; as boccas väo sorrindo, patenteando as +enfiadas alvas dos dentinhos; os olhos esbrazeam em juvenis +amores inconfessados; as vozes unem-se ás vozes, em rythmos +commoventes de velhas cançöes locaes: <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig15.png" width="262" height="340" alt="" /></div> +<br /> +<span class="pagenum">[17]</span> <br /> +<br /> +<div class="poetry1">"Quando nasce o sol radioso</div> +<div class="poetry">Por cima d'aquelle oiteiro,<br /> +Todas as aguas do rio<br /> +Parecem memo um brazeiro!...</div> +<br /> +<div class="poetry1">"N'estas aguas do rio d'Uji</div> +<div class="poetry">—Taö milagrosas que säo!—<br /> +Lavam-se todos os males<br /> +De que soffre o coraçäo...</div> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig16.png" width="472" height="340" alt="" /></div><br /> +<br /> +No campo, as raparigas. Nas casas, os homens, as velhas, as +creanças. Será rara a familia que näo tenha interesses na labuta; +as grandes fabricas constituem excepçäo, como em todas as +primitivas industrias japonezas; em cada albergue se improvisa uma +manufactura, modesta, familial, onde todos trabalham, risonhos, +<span class="pagenum">[18]</span> +palestrando. O chá é escolhido, escaldado, posto a seccar, grelhado +em fornos, enroladas as folhas ou reduzido pó, depois empacotado, +guardado em latas, em caixas, em boiöes; um melindroso amanho +que requer mäos incançaveis, dedos prestimosos, cuidados inauditos, +segredos de processo, meticulosidades devotas que espantam os +profanos, nas quaes collabora a gente toda valida d'aquelles +arredores. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig17.png" width="534" height="354" alt="" /> +<br /> +<br /> +<br /> +<big><big>*</big></big></div> +<br /> +<img src="images/fig18.png" width="350" height="631" alt="" class="right" />Tal é a industria graciosa e tal é o chá que os japonezes +bebem. Vêde agora como a civilizaçäo occidental contrasta com +os usos d'estes asiaticos. Téem os japonezes, para lá do Pacifico, +um grande consumidor do seu producto: é o <em>Yankee</em>. +Tanto +mimo e tanto esmero na apanha da folha e preparoçöes que se +<span class="pagenum"><a name="p19" id="p19">[19]</a></span> +succedem näo +bastariam +para o chá que +os americanos +väo beber. +Vem de Uji +e <a href="#e1">de outros</a> +pontos, tal +como os japonezes +o preparam, para +as firmas estrangeiras +de +Kobe e de +Yokohama; é +entäo submetido +a novas +operaçöes, ao +sabor do fino +paladar de +Nova-York e +de Chicago. +Näo säo agora +as camponezas, +esbeltas +e trajando +roupas novas, +que acodem ao +mister; trabalham +machinas +<span class="pagenum">[20]</span> +a vopor, fumegam chaminés e guincham engrenagens; e occupa-se +no preparo um mundo feminino inqualificavel, escoria das cidades, +esfarrapado, piolhoso, horripilante, que a gente vê sahir das +fabricas á tarde como uma leva de mendigas, cheias de pó, de +pustulas, de miseria. O fabrico do chá ao gosto americano +consiste n'um segundo aquecimento em grandes fornos e na +addiçäo de varios productos, como o pó de uma certa pedra, +<em>soopstone</em>, +e o azul da Prussia. Assim é expedido. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div> +<br /> +<br /> +<img src="images/fig19.png" width="276" height="208" alt="" class="left" />A introducçäo e vulgarisaçäo do chá na terra japoneza deveu +grande incremanto uma industria desde remotos tempos exercida, +mas toscamente praticada,—a ceramica,—que +havia de alcançar com +o correr dos tempos um supremo +grau de perfeiçäo como arte nacional. +A conservaçäo +da preciosa +folha, exigindo +escrupulos +inauditos +para reter o +seu perfume, marcou o ponto de partida. Foi Toshiro, +um oleiro da aldeia de Seto, na provincia de Owari, +quem fabricou os primeiros boiöes para guardar o chá, empregando +processos que aprendera na China, respeitantes á perfeiçäo +da pasta e dos esmaltes. Passava-se isto ha sete seculos; e é +curioso registar que <em>seto-mono</em> (objecto de Seto) é +ainda hoje o +nome consagrado para indicar qualquer artigo de ceramica. <br /> +<br /> +Dos boiöes, passou-se gradualmente ás chavenas, aos bules, á +gentil e complicada baixella que a infusäo foi reclamando e o +<span class="pagenum">[21]</span> +luxo pondo em moda; e ora aqui está como a ceramica no Japäo,—faiança +ou porcellana,—que attingiu requintes de arte primorissima, +deveu ao chá e á agua morna os seus melhores +progressos. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div> +<br /> +<br /> +Quando comecáram a tomar chá os japonezes, era este reduzido +a um impalpavel pó e com elle se fazia a beberagem; depois veio +o uso de empregar as folhas, apenas escolhidas e passadas pelos +fornos; e é esta, ainda hoje, a maneira mais commum de preparal-o. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig20.png" width="496" height="410" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +No Japäo, toda a gente toma chá,—ricos e pobres, nobres e +plebeus:—bebe-se na occasiäo das refeiçöes e a toda a hora, a +<span class="pagenum">[22]</span> +pequeninos golos. No lar, quando entra o visitante, offerecese-lhe, +após as reverencias, uma almofada de regalo e uma +chavena de chá. O mercador, quando quer se amavel com +o freguez, serve-lhe antes de tudo uma chavena de chá, palestra, +falla da chuva e do bom tempo; só mais tarde se trata do +negocio. Nos templos famosos, em Kyoto por exemplo, o bonzo +offerece chá ao peregrino antes de lhe mostrar as reliquias +e os museus. Pelos caminhos mais agrestes, que väo serpeando +pelas collinas arriba, ha rusticos poisos espaçados aqui e acolá, +onde o caminheiro descança alguns minutos, bebe uma chavena de +chá, troca um sorriso, deixando em retorno um cobre sobre a esteira. +Um restaurante, na pittoresca linguagem japoneza, diz-se uma +<em>chaya</em>,—que quer dizer—casa de chá.—De sorte que a +chavena de +<span class="pagenum"><a name="p23" id="p23">[23]</a></span> +chá, que acompanha os <em>bons-dias</em> dados a quem chega, +näo constitue +simplesmente <a href="#e2">uma norma</a> rutineira, um habito banal, +tornou-se como que o symbolo da doce hospitalidade japoneza, um +rito da bonhomia d'esta gente, exercido religiosamente entre +amigos, entre estranhos tambem, porque ao estranho, que larga á +porta as sandalias, vem ao nosso lar e nos saúda, deve-se ja um +sorriso e a sua parte de conforto. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig21.png" width="468" height="407" alt="" /><br /> +<br /> +<br /> +<big><big>*</big></big><br /> +<br /> +<br /> +<img src="images/fig22.png" width="468" height="336" alt="" /></div><br /> +<br /> +Na casa, nua de moveis, porem mimosa de aceios requintados, +figura sempre o brazeiro sobre a esteira, enas brazas vae fervilhando +a chaleira de ferro cheia de agua; o <em>bon</em> (uma +bandeja) +está cerca, contendo o bule, as cinco chavenas (cinco, porque? +talvez por serem cinco os dedos em cada mäosinha japoneza), os +<span class="pagenum"><a name="p24" id="p24">[24]</a></span> +cinco pires de madeira ou de metal, o cofre de estanho contendo +o chá em folhas e ainda o pequenino recipiente em porcellana +chamado <em>yuzamashi</em>, cuja ordinaria serventia vae +muito em +breve conhecer-se. O sentimento artistico japonez deprava-se +naturalmente <a href="#e3">na industria</a> de hoje, em grande parte com destino +á exportaçäo para a Europa e para a America; é nos utensilios +communs de uso indigena, onde näo intervem <a href="#e4">o modernismo</a>, que +ainda reside o gosto esthetico, puro e inconfundivel, da gente +japoneza, revelando por si o complicado conjuncto de esmeros, de +elegancias, de chimeras, em que a alma d'este povo se deleita. +No que respeita o serviço de chá, é innarravel a gentileza de todo +este arsenal de bagatelas, minusculas, dando a impressäo de serem +destinadas a um banquete de bonecas!... <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig23.png" width="346" height="208" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +A agua passa da chaleira para o <em>yuzamashi</em>, onde +arrefece, +pois é preceito fazer-se o chá com agua que ferveu, mas ja näo +ferve; prepara-se depois no bule a infusäo, que é offerecida aos +hospedes nas pequeninas taças de fina porcellana. <br /> +<br /> +Eis a singela practica e eis a modesta offerta, actos da vida +intima näo poucas vizes repetidos durante cada dia, desde pela +manhä até á noite. Poderiam julgar-se sem meritos que valessem +<span class="pagenum">[24]</span> +do estranho um instante de attençäo e um commentario; mas näo +succede assim. Para a alegria dos olhos, a simples preparaçäo do +chá imprime um relevo delicioso á graciosidade innata na +<em>musumé</em>, +na attitude que lhe é mais habitual, de joelhos sobre a esteira, +junto do seu brazeiro. A mimica é impressiva, unica; privilegio +d'aquella figurinha meiga e ondulante e d'aquella buliçosa mäo, +de finissimos contornos, da japoneza, que é, em summa, a Eva +mais gentilmente pueril, mais captivantemente chimerica, mais +feminina emfim, de todas as Evas d'este mundo. Parece certo +que jamais o japonez, que ignora o beijo, haja poisado a bocca +n'aquella mäo que exhibe esplendores de graça para servir-lhe o +chá; o forasteiro, em intimidade serena, pode ensaiar o galenteio se +a phantasia o tenta; e entäo verá talvez, que a mäosita da +<em>musumé</em>, +reconhecida ao afago, se conchega de encontro aos labios, se +demora, como uma rola +<span class="pagenum"><a name="p26" id="p26">[26]</a></span> +docil gulosa de carinhos. <br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig24.png" width="380" height="312" alt="" /><br /> +<br /> +<br /> +<big><big>*</big></big><br /> +<br /> +<br /> +<img src="images/fig25.png" width="494" height="382" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +O chá japonez, servido invariamente sem leite e sem assucar, +que lhe prejudicariam o aroma, é a bebida mais suavemente +agradavel que possa offerecer-se ao nosso paladar (näo de todos +porem, ams um paladar sentimental, um tanto sonhador... +que n'isto dos nossos orgäos de sentir ha temperamentos, aptidöes +affectivas caracteristicas...). O <em>guyokuró</em>, por +exemplo, que é +o mais celebrado chá de Uji e de todo o Japäo, instilla taes subtilezas +balsamicas de sabor, que mais parece um perfume; poderia +dizer-se que uma maravilhosa alchimia conseguiu liquifazer os +aromas <a href="#e5">de flores</a>—flores dos jardins, flores +silvestres,—transferido +do olphato ao paladar a impressäo do goso. Assim é o +<em>guyokuró</em>; +claro está que as palavras näo podem traduzir senäo por comparaçäo +as emoçöes sentidas; e esta, a do agradoce deliciosissimo +que nos fica nos labios, persistindo, como na memoria persiste uma +reminiscencia, uma saudade, é imcomparavel... <br /> +<br /> +<span class="pagenum">[27]</span> +O chá joponez tem a virtude de mitigar a sêde. Assi se +explica o habito dos japonezes näo beberem agua; mesmo na força +dos calores, em pleno agosto, a chavena de chá, saboreada a +goles, lhes dá pleno consolo. Aponta-se-lhe mais outros condöes: +excita ligeiramente o organismo, combate o cançaço das vigilias, +predispöe ao bem estar, infiltra no cerebro näo sei que subtil +embriaguez, +lucida todavia, que nos torna mais affectivos ás sensaçöes +de agrado e mais aptos ás elaboraçöes do pensamento <br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big><br /> +<br /> +<img src="images/fig26.png" width="414" height="290" alt="" /></div><br /> +<br /> +A maneira de preparar a infusäo do chá em pó e a arte de +servil-o constituem a täo famosa cerimonia chamada do +<em>chá-no-yu</em>. +Foi assim que o uso do chá se introduzio no Japäo, como uma +pratica liturgica dos frades buddhistas da seita de Daisu, exercida +no proposito de prolongares as mysticas vigilhas preceituadas; +servia ao mesmo tempo de pretexto para reuniöes +intimas, que eram, imagina-se, um aprazivel desenfado á proverbial +monotonia do convento; sendo um meio efficaz de estreitar laços +<span class="pagenum">[28]</span> +de estima, pelas confidencias segredadas, pelos sorrisos beatificos +que se cruzavam, em quanto que a unica taça ia passando, de mäo +em mäo, de bocca em bocca, fraternalmente, até a esvaziar. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig27.png" width="530" height="358" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +Mais tarde adoptou-se entre o povo o uso das folhas; mas +o <em>chá-no-yu</em> persistiu nas bonzarias, propagando-se +tambem nos +costumes profanos, entäo com um exuberante luxo de apparato, +que muito apaixonou a alta nobreza. Pelos dias que correm, +ainda está em moda, sem distincçäo de classes; é um habito gentil +que ficou dos velhos tempos e a que todos podem entregar-se, +tido em valia pela delicadeza esthetica do scenario e ainda näo +despido do prestigio ortodoxo que lhe vem da remota tradiçäo. <br /> +<br /> +O <em>chá-do-yu</em>, se pode definir-se, é a arte de +preparar a +infusäo do chá em pó, com esses escrupulos de limpeza, com esses +requintes de elegancia de que só é capaz o japonez; sendo a bebida +offerecida a alguns amigos de eleiçäo, a drede reunidos n'um +recinto disposto para a paz do pensamento e para o agrado dos +sentidos. <br /> +<br /> +<span class="pagenum">[29]</span> +Bom é dizer agora que os codigos referenets a materia täo +grave säo innumeros, diversas as escolas; e os grandes profissionaes, +<em>chájin</em> (homens do <em>chá</em>), de +celebridade immoredoira, +centenas de volumes escreveram sobre o assumpto. +<br /> +<br /> +<img src="images/fig28.png" width="396" height="486" alt="" class="left" />Tudo foi regulamentado e comporta um preceito, que näo é +licito esquecer. Non tempos aureos do <em>chá-no-yu</em> o +pavilhäo que +recebia os hospedes era construido n'um jardin e obedecia a uma +architectura inconfundivel. No seu arranjo interno, para a côr +das paredes, para a disposiçäo de luz, para o numero das esteiras, +para a jarra com flores ou com um ramo de arvore, havia praxes +a seguir; o <em>kakemono</em> (quadro suspenso da parede) +devia representar +uma paizagem que fôsse impressionar a pupilla com +carinho; ou antes uma simples sentença escripta por um pincel de +mestre calligraphico, pois nada commove tanto a aguda sensibilidate +d'esta gente como os seus caractéres de estranha construcçäo, +cada um equivalendo já a uma synthese de ideas e predispondo, +pela sentida contemplaçäo—ora +por uma desenvoltura +de traço, ora +por uma ondulaçäo +de curva,—ao vago +discorrer da alma +sonhadora... +<span class="pagenum">[30]</span> <br /> +<br /> +<br /> +O plano do jardin submettia-se a regras determinadas, pelas +quaes o engenho indigena se revelava em graças prodigiosas, +aqui pelos contornos do lago e pelas pontesinhas que o cruzavam, +alem pela escolha dos arbustos e das pedras, na intençäo ingenua +e amorosa de impôr á vista a illusäo de uma paizagem rustica, +reduzida a proporçöes minusculas. Mais do que isto: a alma das +coisas, o que de inexplicavel e de subtil parece emanar de um +conjuncto qualquer onde os olhos se poisem,—tranquillidade das +sombras, arrogancia de um tronco, ternura das relvas...—devia +resaltar suggestivamente do jardinsinho japonez, imprimir-lhe +um caracter, uma philosophia, acordando na mentalidade +dos visitantes um sentimento de paz, de triumpho, de saudade... +Claro está que as flores de luxo, como as rosas, como as camelias, +como as peonias, eram excluidas, por improprias da intençäo de +quadro agreste dada á scena. <br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig29.png" width="436" height="324" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +Éra de estylo a monumental lanterna, tal como se encontra nos +templos, de pedra, tanto mais valiora quanto mais esverdeada e roida +de vetustos musgos, e espalhando pela noite vagas claridades coadas +<span class="pagenum">[31]</span> +pelas suas frestasinhas cobertas de papel; os japonezes deleitam-se +em contemplar, após uma nevada, as amplas cupulas em unbella +d'estas lanternas de templos e de jardins, receptaculos onde a neve +poisa e se demora, em fofos vello de formas extravagantes, de +deslumbrante alvura. Um outro accessorio se encontrava, cerca +do pavilhäo: o pedaço de rocha bruta com uma pequena cavidade +cheia de agua, onde os hospedes iam lavar as mäos antes de +entrarem, como em purificaçäo liturgica. <br /> +<br /> +Até a linguagem empregada entre os convivas obedecia a +regras de pragmatica: os assumptos de religiäo ou de politica +eram banidos; a phrase devia modelar-se n'um agradavel discorrer, +sem ferir melindres de ninguem. A cortezia impunha-se: +preceituava-se que o hospede proferisse palavras de louvor pelo +que via,—alfaias de serviço, arranjo do aposento, horisontes em +volta,—mas sem insistencia em demasia, que poderia parecer +pouco sincera ou pelo menos importuna. +<br /> +<br /> +<img src="images/fig30.png" width="294" height="298" alt="" class="right" />Variadissimos objectos devem encontrar-se no aposento, como +o brazeiro, o carväo +de reserva contido +n'um cestinho, a +chaleira, o abano de +pennas, o cachimbo, +o tabaco, o pincel, o +papel e a escrevaninha. +Os artigos +destinados particularmente +ao chá, +muitas vezes contidos +n'um estojo +especial, säo os seguintes: +<span class="pagenum">[32]</span> +a boceta com perfumes, que antes de tudo se +lançam sobre as brazas e embalsamam o ambiente; a jarra +com agua fria e a competente colher feita de um pedaço +de bambu; o chá em pó n'am cofresinho de charäo e a +colherinha adjunta; duas taças, de barro ou de porcellana, +uma usada no veräo, de côr clara, e outra escura, usada +no inverno; um curioso utensilio feito de finas lascas de +bambu reunidas em feixe, com que se agita na chavena a mistura +do chá em pó com a agua morna; finalmente a tigela onde se +lavam e o pedaço de seda de +finissimo tecido, com que se enxugam, +as peças empregadas. +<br /> +<br /> +É o dono da casa quem deve preparar o chá, solemnemente, +prescindindo do mais ligeiro auxilio dos criados; é elle que +o offerece aos convidados. A mäo executa setenta e cinco movimentos, +n'um <em>chá-no-yu</em> havido por singelo... e trezentos, +quandorequeridas todas as formalidade ortodoxas. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig31.png" width="412" height="196" alt="" /> +<br /> +<br /> +<br /> +<big><big>*</big></big></div><br /> +<br /> +No tempo do generalismo do Imperio, chamado Toyotomi +Hideyoshi, mais conhecido na historia pelo grande Taiko-sama, +quasi todos os genesaes eram <em>chajin</em>, isto é, +ferventes apaixonados +da ceremonia do <em>chá-no-yu</em>. Em 1585, o proprio +Taiko-sama +<span class="pagenum"><a name="p33" id="p33">[33]</a></span> +<img src="images/fig32.png" width="308" height="332" alt="" class="right" />organisou um +<em>chá-no-yu</em> colossal +nas visinhanças +de +Kyoto, ainda +hoje memorado +como festa +de inigualavel esplendor: +uma <a href="#e6">extensäo</a> +de quinze kilometros +quadrados +era occupada +por +innumeros kiosques, aonde os generaes preparavam o chá; todos, +nobreza e plebe, os ricos e os mendigos,—um enxame humano!—tinham +entrada; Hideyoshi visitou todos os poisos e por suas +proprias mäos proparou chä, que offereceo aos chefes favoritos. +<br /> +<br /> +Relembrando o passado, justamente n'um periodo de effervescencias +guerreiras culminantes no Japäo, talvez pareça +estranho, talvez pareça comico, que esses rudes heróis de täo +grandes façanhas, os indomaveis veteranos das guerras na China +e na Coréa, despissem armaduras, tirassem os dois sabres da +cintura, para virem votar horas chimericas a aquecer a agua +sobre brazas e a preparar o chä... Mas o contraste, por si, +explica o facto: era precisamente essa dura existencia de batalhas +e de lances sangrentos, de inclemencias de vida nomada, de +longo cogitar em extratagemas e em argucias, que impunha aos +<a href="#e7">homens</a> dirigentes a doce tregua do <em>chá-no-yu</em>. O +convivio com +os partidarios e os amigos, o desfilas do povo alegre a reverente, +<span class="pagenum">[34]</span> +a verde paizagem de repoiso, a solemnidade hypnotica dos gestos, +tudo contribuia para offerecer um curto aprazimento áquella gente, +que assim ia apagando da memoria os amorgores soffridos, estretando +sympathias, retemperando forças para as proximas luctas. + <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big> +<br /> +<br /> +<br /> +<img src="images/fig33.png" width="414" height="284" alt="" /></div><br /> +<br /> +O <em>chá-no-yu</em> attingiu depois, durante a longa paz da +dynastia shogunal dos Tokugawa, uma epocha de exaggeros +faustuosos, de dissipaçöes paradoxaes. Escolhiam-se as baixellas +de entre objectos muitos antigos e firmados por um nome de +fabricante prestigioso, e por isso rarissimos, preciosissimos; e +estava entäo em moda offerecel-os, no momento das ruidosas +despedidas, ás bellas companheiras do festim, que haviam com as +suas guitarras, com as suas cançöes, com as suas graças profissionaes, +enfeitiçando os hospedes... Sorveram-se fortunas +n'este abysmo. <br /> +<br /> +<img src="images/fig34.png" width="298" height="280" alt="" class="right" />É de entäo que se conta que um amador empregou n'um +<em>chá-no-yu</em> utensilios no valor de trinta e oito mil +yens, o que +<span class="pagenum">[35]</span> +passa de quatro +mil libras esterlinas; +um outro +adquiria por +trinta mil yens +um só boiäo de +chá!... +<br /> +<br /> +Ha cerca +de tres ou quatro +annos, em +um leiläo de +Tokyo, um japonez +comprou por tres mil yens uma chavena de <em>chá-no-yu</em>; +prova isto que ainda ha devotos <em>chajin</em> +presentemente. Com +effeito, se o luxo sem limites que caracterizou o +<em>chá-no-yu</em> dos +bons tempos feudaes desappareceu para sempre com a mudança +de regimen e com a mudança de costumes, continuou todovia esta +elegante pratica merecendo uma alta estima. Hoje, os dois sexos +a ella se dedicam, e pode affirmar-se que faz parte da boa +educaçäo de uma menina, exigindo uns seis ou sete annos a sua +aprendizagem. As <em>gueishas</em> tambem se instruem em tal +culto; +as celebres danças primaveraes da cidade de Kyoto, conhecidas +pela denominaçäo de <em>Miyako-odori</em>, säo sempre +precedidas do <em>chá-no-yu</em>, +em que é officiante uma das mais gentil <em>gueishas</em> do +logar; e a multidäo acode, com devota deligencia, a saborear o +perfumado chá. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div> +<br /> +<br /> +<img src="images/fig35.png" width="254" height="482" alt="" class="right" />Näo me peçam agora, a mim, profano na materia e viageiro +fatigado de täo multiplices impressöes que tenho vindo colhendo +<span class="pagenum">[36]</span> +por este mundo fóra, uma opiniäo pessoal sobre o +<em>chá-no-yu</em>. +Estive uma vez, é certo, com dois ou tres amigos, em uma das +<em>chayas</em> de mais fama +da cidade de Kobe; +e Tama-Guiku (o +Malmequer-Precioso) +era a esplendida sacerdotiza +da cerimonia. +A impressäo que +d'aquella noite guardo +é indefinida, fugidia, +como de um vago sonho +que tivesse. Ficaram-me +reminiscencias indecisas +do luxo sombrio +e harmonioso e do +aceio extremo das +coisas impregnadas de +exotismo onde poisou +o meu olhar. Na +meia luz do placido +aposento, amplo e silencioso +como um templo, +contornava-se, distante, +um vulto de +mulher, de joelhos, envolta em sedas magnificas. As attencöes +fixavam-se especialmente, como que por attracçäo hypnotica, +nas suas mäos finissimas, alvejando no espaço +como se fossem de marfim, tomando de estranhos utensilios, +preparando näo sei que filtro de magia, poisando +<span class="pagenum"><a name="p37" id="p37">[37]</a></span> +em mimicas hieraticas, quaes mäos de mystica officiante de uma +religiäo desconhecida. Por fim, convidado a partilhar no +sacrificio, acceitava uma taça com chá que me era offerecida +e levava-a aos labios commovido, com näo sei que subitos +escrupulos de apostata mal firme... <br /> +<br /> +Tama-Guiku concluira. Ergueu-se, deslumbrante de graças, +de atavios, de magestade. O seu rostinho meigo illuminava-se entäo +da exaltaçäo beatifica que lhe electrizava o espirito; dirigiu +sobre nós a ardencia negra dos seus olhos, saudou-nos reverente... +reverente, näo porque uma imfima cortezia sequer lhe +merecessemos,—pobres occidentais ignaros!—mas em estricta +abediencia aos preceitos rituaes; e <a href="#e8">desappareceu</a> da scena. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div> +<br /> +<br /> +A proposito d'estas divagaçöes respeitantes ao chá e ao seu +culto, vem-me agora ao pensamento e ainda me compunge um +dramatico episodio da existencia intima japoneza, que contado +me foi ha cerca de tres annos. Vou tentar descrevel-o. <br /> +<br /> +Éra no fim de maio. Eu achava-me em Kobe. Um meu +amigo japonez, <em>chajin</em> apaixonado, partira para Uji, +onde devia +assistir a umas costumadas reuniöes votadas ao +<em>chá-no-yu</em>, em +casa de um parente, cuja filha, a gentilissima O-Hana, era +eximia na arte; entre nós ficára combinado que eu iria encontral-o, +passadas tres semanas, em Nara, a cujos velhos monumentos +queriamos votar horas de estudo. <br /> +<br /> +Haviam decorrido apenas uns tres dias, quando do tal +sujeito recebi um bilhete, pouco mais ou menos n'estes termos:—"Pode +seguir para Nara, onde me encontrará. Falhou o +<em>chá-no-yu</em>. +O-Hana suicidou-se. Pesava sobre ella uma desdita igual +<span class="pagenum"><a name="p38" id="p38">[38]</a></span> +á pobre Hichi da lenda..."— <br /> +<br /> +Ora, eu conhecia O-Hana; e a lenda, que por signal +constitue o thema de uma notavel peça de theatro, näo me era de +todo estranha. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div> +<br /> +<br /> +Vamos por partes. A lenda é como segue. <br /> +<br /> +Näo sei ha quantos seculos e nem sei em que logar,—nem +importa sabel-o,—havia em certa rua dois estabelecimentos +de negocio, dos que se chamam <em>Yaoya</em> em +lingua do paiz, onde se vemdem variadas provisöes,—fructos, +legumes, hortaliças, ovos, peixe e muitas coisas mais.—Defrontavam +um com o outro. N'um, habitava certo casal com uma +filha unica, O-Hichi; n'outro, um outro casal com um só filho, +Kichisa. Quiz a mofina sorte que se enamorassem um do outro. <br /> +<br /> +Mofina sorte? Sim, embora, á primeira vista, näo seja o caso +concebivel, quando se saiba que ambos eram jovens, gentis e +animados de doces enternecimentos amorosos. Eu me explico +todavia. Os velhos codigos nipponicos, ainda hoje respeitados, +impöem aos filhos o preceito de herdarem o <a href="#e9">appellido</a> de seus paes; +o filho mais velho herda a mais o encargo de chefe de familia, +com a administraçäo dos bens e a superintendencia no culto +piedoso devido aos parentes fallecidos. É por este processo que +as genealogias näo offerecem mysterios e as familias se eternizam, +conservando religiosamente o mesmo <a href="#e9">appellido</a> durante seculos +sem conto; cessando apenas no caso excepcional de todos os +descendentes acabarem, consanguineos ou näo, pois é de uso +corrente chamar ao lar, por adopçäo, filhos alheios. O filho +unico pode certamente casar, e a esposa recebe o appellido do +marido. A filha unica pode igualmente casar e entäo o esposo +<span class="pagenum"><a name="p39" id="p39">[39]</a></span> +recebe o appellido da mulher. Está-se agora percebendo como +para O-Hichi e Kichisa o problema se complicava em demazia, +por serem ambos filhos unicos. Um meio só se apresentava, o de +uma <a href="#e10">das familias</a> adoptar um filho estranho, sobre quem +recahissem os encargos de <a href="#e11">uma supposta</a> primogenitude. Mas o +alvitre era quasi impraticavel, por aquelles tempos feudaes que +iam correndo, dependendo da sancçäo suprema do daimyô, que +a negaria, por ser o caso novo; sem já contar com o orgulho +revoltado dos paes da noiva, ou dos paes do noivo, da familia +emfim que, para evitar de ser extincta, tivesse de investir um +filho alheio nos deveres que competem ao legitimo. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig36.png" width="518" height="248" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +É certo que as duas familias se oppozeram com toda a vehemencia +a taes amores, e a casa se transformou para O-Hichi em duro +encerro e a estima dos seus em aggressöes continuas. Foi entäo +que a pobre <em>musumé</em>, captiva n'uma alcova, +desesperada, louca +de amores, meditou em pôr fogo ao seu lar de tormentos, na +crença de que as chammas lhe trariam a liberdade e o ensejo de +reunir-se áquelle a quem votara todo o seu affecto. Errou porem +nos calculos, como succede tantas vezes quando se tem quinze +annos e o pensamento voêja no mundo das chimeras: descoberto +o seu crime apenas posto em pratica, foi trazida á justiça da +<span class="pagenum">[40]</span> +cidade e condemnada á morte. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig37.png" width="480" height="432" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +Vem agora a proposito narrar um pormenor curioso, que é +de toda a tragedia o que mais me enternece. A misera seguia, +conforme o estylo, pelas ruas populosas, amarrada ao dorso de +uma besta, para ignominia propria e para licçäo do povo; mais +tarde seria executada. A meio da jornada expiatoria, os seus +longos cabellos soltos, como até entäo eram usados, cahiam-lhe +em desalinho sobre a fronte, cheios da poeira dos caminhos, +escorrendo de suor, fustigando-lhe as faces. Entäo, ou porque +quizesse poupar-se a um tormento a mais, ou—quem sabe?—por +um resto de garridice deminia, viram-n'a rasgar com +<span class="pagenum">[41]</span> +os bellos dedos tremulos um pedaço da seda carmezim do +forro do vestido, com quem amarrou junto á nuca, erguendo os +braços, esses pobres cabellos... A idea pareceu graciosa ás +raparigas, que se iam juntando em grupos curiosos para +observarem o cortejo; e desde entäo as japonezas começaram de +usar aquelle enfeite, que persiste até hoje e a que chamam +<em>kikidashi</em>—litteralmente: farrapo—em memoria de +O-Hichi, a +triste namorada de Kichisa... <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig38.png" width="390" height="330" alt="" /> +<br /> +<br /> +<br /> +<big><big>*</big></big></div><br /> +<br /> +Mas vamos depressa ao fim da historia. <br /> +<br /> +Quando em Nara deparei com o meu amigo japonez, o +triste fim de O-Hana esclareceu-se em breve. <br /> +<br /> +Havia em Uji duas familias abastadas, Fukumoto e Yamaguchi, +possuindo as mais bellas culturas de chá d'aquelles campos. +Os Fukumoto juravam que o seu chá éra o melhor de todo o +Imperio, e os Yamaguchi diziam do seu chá a mesma coisa; +eram no fim de contas uns caturras, professando um supino +<span class="pagenum">[42]</span> +orgulho do seu nome e um culto pelo mister a que se davam; +alem d'isto, ou por isto, pouco affeiçoados entre si, confirmando a +justiça d'aquelle ditado portuguez, com curso em todas as +longitudes do planeta... <em>dos officiaes do mesmo +officio</em>. <br /> +<br /> +O casal Fukumoto tinha um filha unica, O-Hana; o casal +Yamaguchi tinha um unico filho, Naotarô. Este era um perfeito +rapazola, amavel, intelligente, segundo affirma quem o viu. O-Hana +era uma <em>musumé</em> em plena flôr da vida, educada em +todos +as gentis prendas do seu sexo. Ninguem como ella desprendia +suavissimos sons do <em>koto</em>, a harpa nacional; nenhumas +mäos se +mostravam täo habeis de pinheiro ou de lirios floridos trazidos do +jardim; no <em>chá-no-yu</em> era incomparavel. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig39.png" width="506" height="418" alt="" /></div> +<br /> +<span class="pagenum">[43]</span> <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig40.png" width="412" height="314" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +Eu vi O-Hana uma só vez, nos parques de Kyoto, quando +em peregrinaçäo primaveral se vae contemplar, á luz da lua, a +celebre cerejeira de Guion, toda vestida de pequeninas petalas. <br /> +<br /> +O-Hana éra uma d'essas japonezinhas embebidas de enlevo +e de exotismo, taes como vós as conheceis dos leques, dos biombos. +Isto basta, á falta de melhor, para definir-lhe o vulto em miniatura, +esguio e ondulante, coberto de sedas preciosas; e para imaginar-lhe +o rosto pallido em forma de pevide de meläo, os olhinhos +cerrados, os finos traços das sobrancelhas em viez, a boquinha +sorridente, rubra, lembrando uma cereja, e o penteado... o +penteado colossal como uma enorme borboleta de azeviche, que +lhe houvesse pousado, de azas abertas, sobre a nuca. Ria, +curvava-se em mesuras, em meneios, agitando no ar as descommunaes +mangas do <em>kimono</em>; e lá ia seguindo o seu caminho +entre +um bando de amigas, antes ziquezagueando, a passos miudinhos, +indécisos, sem intuito. E eu ia pensando que alli estava, em +carne e osso, a companheira deliciosissima, anjo de graças e +fada de sorrisos, para quem podesse offerecer-lhe—japonez +claramente,—uma +<span class="pagenum">[44]</span> +casinha de papel em extremos de limpeza, com +duas esteiras sobre o chäo, um bule com chá, um prato com +confeitos, uma jarra com ramos vicejantes; e á frente o +jadinsinho,—bambus +tufados, azaleas em flor, pedras musgosas, o +pequinono lago, onde peixes vermelhos nadassem pachorrentos e +räs coaxassem em noites estivaes...— <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig41.png" width="460" height="320" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +O-Hana e Naotarô amaram-se.. Näo se sabe porque. +Porque eram ambos jovens, visinhos, conhecidos; e em circunstancias +semelhantes a juventude attrahe a juventude... <br /> +<br /> +Quando esta inclinaçäo foi conhecida, as duas familias +irromperam em näo dissimulados azedumes. O casamento era +impossivel. Se a adopçäo de um filho alheio podia resolver +em theoria o problema, quem vinha sujeitar-se ao sacrificio? Os +Yamaguchi? Os Fukumoto? Mas nem uns nem outros, com +os diabos!... Os nomes das duas familias, procedentes de +uma linhagem täo remota que em väo se tentaria investigar-lhes +<span class="pagenum"><a name="p45" id="p45">[45]</a></span> +a origem, gosavam em todo o Imperio de um prestigo inconfundivel, +conquistado durante annos sem conto pela pobidade +mercantil dos seus negocios, <a href="#e12">pela excellencia</a> do chá da sua +lavra, pela nobre chientela nos castelos; podendo apenas pôr-se em +duvida, se o chá dos Yamaguchi preferival ao chá dos Fukumoto. +Ora,—mercê de um capricho de estouvados,—investir, por uma +adopçäo do acaso, um estranho na posse de tal nome, e ungil-o +dos <a href="#e13">nobres encargos</a> que competem a um futuro chefe de +familia—Fukumoto +ou Yamaguchi,—nem por brincadeira se propunha!... +Que O-Hana e Naotarô se casassem, intendia-se; era +esse mesmo o seu dever, de perpetuar pela prole os nomes dos +avós; mas confiassem no bom tacto dos paes, que saberiam escolher-lhes +noivos do seu agrado e em condiçöes de näo virem +parturbar a paz das familias e ferir o amor das tradiçöes. <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig42.png" width="414" height="276" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +Muito bem. Quando os dois namorados se convenceram da +impossibilidade de viverem um para outro, tiveram certa noite +uma furtiva entrevista á beira do Ujigawa, a pittoresca ribeira, +que entäo serpeava em grande cheia de aguas, resultado das +ultimas chuvas copiosas. Deram-se as mäos, parece; sorriam-se +um para o outro; näo se sabe o que segredaram entre si, porque +<span class="pagenum">[46]</span> +ninguem esta alli para os ouvir... <br /> +<br /> +Quando, ao romper do dia, as moças de Uji seguiam para a +apanha do chá, em ranchos galhofeiros, quedaram-se de repente +junto ao rio, cheias do espanto, de pavor, vendo a boiar dois +corpos detidos na maranha dos juncos, rigidos, lividos, mortos, +porem sorrindo ainda e dando-se ainda as mäos... <br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div> +<br /> +<div class="dots"></div><br /> +<div class="poetry1"> +"N'estas aguas do rio d'Uji, <br /> +—Täo milagrosas que säo!— <br /> +Lavam-se todos os males <br /> +De que soffre o coraçäo... +</div><br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig43.png" width="382" height="460" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +<br /> +<div style="text-align: center"><img src="images/fig44.png" width="550" height="815" alt="" /></div> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<br /> +<div class="fbox"> +<h2>Lista de erros corrigidos</h2> +<div style="text-align: center;">Aqui encontram-se +listados todos os erros encontrados e corrigidos:</div> +<br /> +<br /> +<table style="width: 80%; text-align: left; margin-left: auto; margin-right: auto;" border="0" cellpadding="4" cellspacing="4"> + <tbody> + <tr align="right"> + <td style="width: 61px;"></td> + <td style="font-weight: bold; text-align: center; width: 121px;">Original</td> + <td style="text-align: center; width: 5px;"> </td> + <td style="font-weight: bold; text-align: center; width: 135px;">Correcção</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e1" id="e1" href="#p19">#pág. 19</a></td> + <td style="text-align: center;">do outros</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">de outros</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e2" id="e2" href="#p23">#pág. 23</a></td> + <td style="text-align: center;">ama norma</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">uma norma</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e3" id="e3" href="#p24">#pág. 24</a></td> + <td style="text-align: center;">ua industria</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">na industria</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e4" id="e4" href="#p24">#pág. 24</a></td> + <td style="text-align: center;">a modernismo</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">o modernismo</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e5" id="e5" href="#p26">#pág. 26</a></td> + <td style="text-align: center;">da flores</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">de flores</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e6" id="e6" href="#p33">#pág. 33</a></td> + <td style="text-align: center;">exteusäo</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">extensäo</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e7" id="e7" href="#p33">#pág. 33</a></td> + <td style="text-align: center;">homeus</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">homens</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e8" id="e8" href="#p37">#pág. 37</a></td> + <td style="text-align: center;">desappaeceu</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">desappareceu</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e9" id="e9" href="#p38">#pág. 38</a></td> + <td style="text-align: center;">appelldo</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">appellido</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e10" id="e10" href="#p39">#pág. 39</a></td> + <td style="text-align: center;">dos familias</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">das familias</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e11" id="e11" href="#p39">#pág. 39</a></td> + <td style="text-align: center;">umo supposta</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">uma supposta</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e12" id="e12" href="#p45">#pág. 45</a></td> + <td style="text-align: center;">pela excellencias</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">pela excellencia</td> + </tr> + <tr> + <td style="text-align: right;"><a name="e13" id="e13" href="#p45">#pág. 45</a></td> + <td style="text-align: center;">nobre encargos</td> + <td style="text-align: center;">...</td> + <td style="text-align: center;">nobres encargos</td> + </tr> + </tbody> +</table> +<br /> +<br /> +<br /> +</div> +</div> + + + + + + + +<pre> + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of O culto do chá, by +Wenceslau José de Sousa de Morais + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CULTO DO CHÁ *** + +***** This file should be named 37879-h.htm or 37879-h.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/7/8/7/37879/ + +Produced by Rita Farinha (This file was produced from +images generously made available by the Almamater +(Univeridade de Coimbra / Coimbra University) at +http://http://almamater.uc.pt + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. Special rules, +set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to +copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to +protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project +Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you +charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you +do not charge anything for copies of this eBook, complying with the +rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose +such as creation of derivative works, reports, performances and +research. They may be modified and printed and given away--you may do +practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is +subject to the trademark license, especially commercial +redistribution. + + + +*** START: FULL LICENSE *** + +THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE +PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK + +To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free +distribution of electronic works, by using or distributing this work +(or any other work associated in any way with the phrase "Project +Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project +Gutenberg-tm License (available with this file or online at +https://gutenberg.org/license). + + +Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm +electronic works + +1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm +electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to +and accept all the terms of this license and intellectual property +(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all +the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy +all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. +If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project +Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the +terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or +entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. + +1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be +used on or associated in any way with an electronic work by people who +agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few +things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works +even without complying with the full terms of this agreement. See +paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project +Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement +and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic +works. See paragraph 1.E below. + +1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" +or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project +Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the +collection are in the public domain in the United States. If an +individual work is in the public domain in the United States and you are +located in the United States, we do not claim a right to prevent you from +copying, distributing, performing, displaying or creating derivative +works based on the work as long as all references to Project Gutenberg +are removed. Of course, we hope that you will support the Project +Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by +freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of +this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with +the work. You can easily comply with the terms of this agreement by +keeping this work in the same format with its attached full Project +Gutenberg-tm License when you share it without charge with others. + +1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern +what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in +a constant state of change. If you are outside the United States, check +the laws of your country in addition to the terms of this agreement +before downloading, copying, displaying, performing, distributing or +creating derivative works based on this work or any other Project +Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning +the copyright status of any work in any country outside the United +States. + +1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg: + +1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate +access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently +whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the +phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project +Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed, +copied or distributed: + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + +1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived +from the public domain (does not contain a notice indicating that it is +posted with permission of the copyright holder), the work can be copied +and distributed to anyone in the United States without paying any fees +or charges. If you are redistributing or providing access to a work +with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the +work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 +through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the +Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or +1.E.9. + +1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted +with the permission of the copyright holder, your use and distribution +must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional +terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked +to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the +permission of the copyright holder found at the beginning of this work. + +1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm +License terms from this work, or any files containing a part of this +work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. + +1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this +electronic work, or any part of this electronic work, without +prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with +active links or immediate access to the full terms of the Project +Gutenberg-tm License. + +1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, +compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any +word processing or hypertext form. However, if you provide access to or +distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than +"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version +posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), +you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a +copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon +request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other +form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm +License as specified in paragraph 1.E.1. + +1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, +performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works +unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. + +1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing +access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided +that + +- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from + the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method + you already use to calculate your applicable taxes. The fee is + owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he + has agreed to donate royalties under this paragraph to the + Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments + must be paid within 60 days following each date on which you + prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax + returns. Royalty payments should be clearly marked as such and + sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the + address specified in Section 4, "Information about donations to + the Project Gutenberg Literary Archive Foundation." + +- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies + you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he + does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm + License. You must require such a user to return or + destroy all copies of the works possessed in a physical medium + and discontinue all use of and all access to other copies of + Project Gutenberg-tm works. + +- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any + money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the + electronic work is discovered and reported to you within 90 days + of receipt of the work. + +- You comply with all other terms of this agreement for free + distribution of Project Gutenberg-tm works. + +1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm +electronic work or group of works on different terms than are set +forth in this agreement, you must obtain permission in writing from +both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael +Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the +Foundation as set forth in Section 3 below. + +1.F. + +1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable +effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread +public domain works in creating the Project Gutenberg-tm +collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic +works, and the medium on which they may be stored, may contain +"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or +corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual +property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a +computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by +your equipment. + +1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right +of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project +Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project +Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all +liability to you for damages, costs and expenses, including legal +fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT +LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE +PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE +TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE +LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR +INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH +DAMAGE. + +1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a +defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can +receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a +written explanation to the person you received the work from. If you +received the work on a physical medium, you must return the medium with +your written explanation. The person or entity that provided you with +the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a +refund. If you received the work electronically, the person or entity +providing it to you may choose to give you a second opportunity to +receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy +is also defective, you may demand a refund in writing without further +opportunities to fix the problem. + +1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth +in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER +WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO +WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE. + +1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied +warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages. +If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the +law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be +interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by +the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any +provision of this agreement shall not void the remaining provisions. + +1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the +trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone +providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance +with this agreement, and any volunteers associated with the production, +promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, +harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, +that arise directly or indirectly from any of the following which you do +or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm +work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any +Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. + + +Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm + +Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of +electronic works in formats readable by the widest variety of computers +including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. + + +Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive +Foundation + +The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit +501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the +state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal +Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification +number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at +https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent +permitted by U.S. federal laws and your state's laws. + +The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. +Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered +throughout numerous locations. Its business office is located at +809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email +business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact +information can be found at the Foundation's web site and official +page at https://pglaf.org + +For additional contact information: + Dr. Gregory B. Newby + Chief Executive and Director + gbnewby@pglaf.org + + +Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation + +Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide +spread public support and donations to carry out its mission of +increasing the number of public domain and licensed works that can be +freely distributed in machine readable form accessible by the widest +array of equipment including outdated equipment. Many small donations +($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt +status with the IRS. + +The Foundation is committed to complying with the laws regulating +charities and charitable donations in all 50 states of the United +States. Compliance requirements are not uniform and it takes a +considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up +with these requirements. We do not solicit donations in locations +where we have not received written confirmation of compliance. To +SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any +particular state visit https://pglaf.org + +While we cannot and do not solicit contributions from states where we +have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition +against accepting unsolicited donations from donors in such states who +approach us with offers to donate. + +International donations are gratefully accepted, but we cannot make +any statements concerning tax treatment of donations received from +outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. + +Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation +methods and addresses. Donations are accepted in a number of other +ways including including checks, online payments and credit card +donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate + + +Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic +works. + +Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm +concept of a library of electronic works that could be freely shared +with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project +Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. + + +Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed +editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. +unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily +keep eBooks in compliance with any particular paper edition. + + +Most people start at our Web site which has the main PG search facility: + + https://www.gutenberg.org + +This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, +including how to make donations to the Project Gutenberg Literary +Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to +subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks. + + +</pre> + +</body> +</html> diff --git a/37879-h/images/fig01.png b/37879-h/images/fig01.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..7050fb2 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig01.png diff --git a/37879-h/images/fig02.png b/37879-h/images/fig02.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..634c76b --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig02.png diff --git a/37879-h/images/fig03.png b/37879-h/images/fig03.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..548dd62 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig03.png diff --git a/37879-h/images/fig04.png b/37879-h/images/fig04.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..750e807 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig04.png diff --git a/37879-h/images/fig05.png b/37879-h/images/fig05.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..292501e --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig05.png diff --git a/37879-h/images/fig06.png b/37879-h/images/fig06.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..b63c037 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig06.png diff --git a/37879-h/images/fig07.png b/37879-h/images/fig07.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..2323d7e --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig07.png diff --git a/37879-h/images/fig08.png b/37879-h/images/fig08.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..dd2ad5b --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig08.png diff --git a/37879-h/images/fig09.png b/37879-h/images/fig09.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..f63aeac --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig09.png diff --git a/37879-h/images/fig10.png b/37879-h/images/fig10.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..37efd96 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig10.png diff --git a/37879-h/images/fig11.png b/37879-h/images/fig11.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..a82da00 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig11.png diff --git a/37879-h/images/fig12.png b/37879-h/images/fig12.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..6b9bb6c --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig12.png diff --git a/37879-h/images/fig13.png b/37879-h/images/fig13.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..ff33d9c --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig13.png diff --git a/37879-h/images/fig14.png b/37879-h/images/fig14.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..f456460 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig14.png diff --git a/37879-h/images/fig15.png b/37879-h/images/fig15.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..e5fd0eb --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig15.png diff --git a/37879-h/images/fig16.png b/37879-h/images/fig16.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..12bf810 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig16.png diff --git a/37879-h/images/fig17.png b/37879-h/images/fig17.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..34a1911 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig17.png diff --git a/37879-h/images/fig18.png b/37879-h/images/fig18.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..aa99914 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig18.png diff --git a/37879-h/images/fig19.png b/37879-h/images/fig19.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..2c6d1be --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig19.png diff --git a/37879-h/images/fig20.png b/37879-h/images/fig20.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..d1bad2c --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig20.png diff --git a/37879-h/images/fig21.png b/37879-h/images/fig21.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..28dd8f9 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig21.png diff --git a/37879-h/images/fig22.png b/37879-h/images/fig22.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..131b7a4 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig22.png diff --git a/37879-h/images/fig23.png b/37879-h/images/fig23.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..6ef8b1d --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig23.png diff --git a/37879-h/images/fig24.png b/37879-h/images/fig24.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..6bba1b4 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig24.png diff --git a/37879-h/images/fig25.png b/37879-h/images/fig25.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..b90a9e7 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig25.png diff --git a/37879-h/images/fig26.png b/37879-h/images/fig26.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..f034020 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig26.png diff --git a/37879-h/images/fig27.png b/37879-h/images/fig27.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..83f05cd --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig27.png diff --git a/37879-h/images/fig28.png b/37879-h/images/fig28.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..c18c8a1 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig28.png diff --git a/37879-h/images/fig29.png b/37879-h/images/fig29.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..ddeff78 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig29.png diff --git a/37879-h/images/fig30.png b/37879-h/images/fig30.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..e74ddbc --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig30.png diff --git a/37879-h/images/fig31.png b/37879-h/images/fig31.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..7e470d6 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig31.png diff --git a/37879-h/images/fig32.png b/37879-h/images/fig32.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..670f30b --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig32.png diff --git a/37879-h/images/fig33.png b/37879-h/images/fig33.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..24647e2 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig33.png diff --git a/37879-h/images/fig34.png b/37879-h/images/fig34.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..15a1b5b --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig34.png diff --git a/37879-h/images/fig35.png b/37879-h/images/fig35.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..34b5714 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig35.png diff --git a/37879-h/images/fig36.png b/37879-h/images/fig36.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..d9d8b9c --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig36.png diff --git a/37879-h/images/fig37.png b/37879-h/images/fig37.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..0f94f03 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig37.png diff --git a/37879-h/images/fig38.png b/37879-h/images/fig38.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..019b2c3 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig38.png diff --git a/37879-h/images/fig39.png b/37879-h/images/fig39.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..033ff98 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig39.png diff --git a/37879-h/images/fig40.png b/37879-h/images/fig40.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..4429700 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig40.png diff --git a/37879-h/images/fig41.png b/37879-h/images/fig41.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..312a216 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig41.png diff --git a/37879-h/images/fig42.png b/37879-h/images/fig42.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..0c1c520 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig42.png diff --git a/37879-h/images/fig43.png b/37879-h/images/fig43.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..2243833 --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig43.png diff --git a/37879-h/images/fig44.png b/37879-h/images/fig44.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..d7f24ef --- /dev/null +++ b/37879-h/images/fig44.png diff --git a/LICENSE.txt b/LICENSE.txt new file mode 100644 index 0000000..6312041 --- /dev/null +++ b/LICENSE.txt @@ -0,0 +1,11 @@ +This eBook, including all associated images, markup, improvements, +metadata, and any other content or labor, has been confirmed to be +in the PUBLIC DOMAIN IN THE UNITED STATES. + +Procedures for determining public domain status are described in +the "Copyright How-To" at https://www.gutenberg.org. + +No investigation has been made concerning possible copyrights in +jurisdictions other than the United States. Anyone seeking to utilize +this eBook outside of the United States should confirm copyright +status under the laws that apply to them. diff --git a/README.md b/README.md new file mode 100644 index 0000000..15cc80a --- /dev/null +++ b/README.md @@ -0,0 +1,2 @@ +Project Gutenberg (https://www.gutenberg.org) public repository for +eBook #37879 (https://www.gutenberg.org/ebooks/37879) |
