summaryrefslogtreecommitdiff
diff options
context:
space:
mode:
-rw-r--r--.gitattributes3
-rw-r--r--37879-8.txt1268
-rw-r--r--37879-8.zipbin0 -> 26138 bytes
-rw-r--r--37879-h.zipbin0 -> 11122152 bytes
-rw-r--r--37879-h/37879-h.htm1789
-rw-r--r--37879-h/images/fig01.pngbin0 -> 807232 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig02.pngbin0 -> 657297 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig03.pngbin0 -> 20840 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig04.pngbin0 -> 119653 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig05.pngbin0 -> 61398 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig06.pngbin0 -> 468646 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig07.pngbin0 -> 142520 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig08.pngbin0 -> 68889 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig09.pngbin0 -> 123849 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig10.pngbin0 -> 154029 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig11.pngbin0 -> 183758 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig12.pngbin0 -> 152154 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig13.pngbin0 -> 183504 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig14.pngbin0 -> 237845 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig15.pngbin0 -> 161416 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig16.pngbin0 -> 290883 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig17.pngbin0 -> 312846 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig18.pngbin0 -> 380006 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig19.pngbin0 -> 84283 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig20.pngbin0 -> 329294 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig21.pngbin0 -> 344961 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig22.pngbin0 -> 261638 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig23.pngbin0 -> 100026 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig24.pngbin0 -> 188627 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig25.pngbin0 -> 312088 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig26.pngbin0 -> 213989 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig27.pngbin0 -> 319799 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig28.pngbin0 -> 241517 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig29.pngbin0 -> 229564 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig30.pngbin0 -> 146648 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig31.pngbin0 -> 107513 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig32.pngbin0 -> 170982 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig33.pngbin0 -> 195936 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig34.pngbin0 -> 143576 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig35.pngbin0 -> 202240 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig36.pngbin0 -> 204758 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig37.pngbin0 -> 351962 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig38.pngbin0 -> 255360 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig39.pngbin0 -> 376194 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig40.pngbin0 -> 232271 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig41.pngbin0 -> 210252 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig42.pngbin0 -> 213718 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig43.pngbin0 -> 301539 bytes
-rw-r--r--37879-h/images/fig44.pngbin0 -> 832200 bytes
-rw-r--r--LICENSE.txt11
-rw-r--r--README.md2
51 files changed, 3073 insertions, 0 deletions
diff --git a/.gitattributes b/.gitattributes
new file mode 100644
index 0000000..6833f05
--- /dev/null
+++ b/.gitattributes
@@ -0,0 +1,3 @@
+* text=auto
+*.txt text
+*.md text
diff --git a/37879-8.txt b/37879-8.txt
new file mode 100644
index 0000000..73e44cb
--- /dev/null
+++ b/37879-8.txt
@@ -0,0 +1,1268 @@
+Project Gutenberg's O culto do chá, by Wenceslau José de Sousa de Morais
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: O culto do chá
+
+Author: Wenceslau José de Sousa de Morais
+
+Release Date: October 29, 2011 [EBook #37879]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CULTO DO CHÁ ***
+
+
+
+
+Produced by Rita Farinha (This file was produced from
+images generously made available by the Almamater
+(Univeridade de Coimbra / Coimbra University) at
+http://http://almamater.uc.pt
+
+
+
+
+
+ *Nota de editor:* Devido à existência de erros tipográficos neste
+ texto, foram tomadas várias decisões quanto à versão final. Em caso
+ de dúvida, a grafia foi mantida de acordo com o original. No final
+ deste livro encontrará a lista de erros corrigidos.
+
+ Rita Farinha (Outubro 2011)
+
+
+
+
+[Figura]
+
+
+
+
+[Figura]
+
+
+
+
+WENCESLAU DE MORAES
+
+
+O CULTO DO CHÁ
+
+(ILLUSTRAÇÕES DE YOSHIAKI)
+
+
+[Figura]
+
+
+KOBE
+
+Typographia do "Kobe Herald"
+
+Gravuras de Gotô Seikôdô
+
+1905
+
+
+
+
+A
+Vicente Almeida d'Eça,
+Sebastiäo Peres Rodrigues,
+Bento Carqueja,
+
+isto é, á _Trindade_ benevolente, que ainda ha pouco, de täo longe, me
+enviou dentro das folhas de um livro--as _Cartas do Japäo_,--o perfume
+ineffavel da sua amizade, offereço este outro livro, exotico pela forma,
+exotico pelo texto, mas näo pelo sentimento de profunda gratidäo, que
+inspirou esta primeira pagina.
+
+Kobe, Junho de 1905.
+
+ Wenceslau de Moraes.
+
+
+
+
+[Figura]
+
+
+
+
+O CULTO DO CHÁ.
+
+
+Falla-se do Japäo; nem, francamente, devera presumir-se que eu ia
+referir-me a um paiz qualquer occidental, onde a nossa raça branca
+floresce.
+
+É no Oriente, e em especial no Extremo-Oriente, que as coisas communs da
+creaçäo ou os usos e costumes triviaes da vida säo susceptiveis de
+merecer um tal requinte de solemnidade sentimental e de praxes de rito,
+que constituam um verdadeiro culto. No espirito do europeu, despoetizado
+pela chateza dos ideas da epoca, atribulado pelas multiplices exigencias
+da vida, pervertido pela febre do negocio, näo medram de ha muito os
+cultos. Especializando a observaçäo ao chá, havemos de convir que este
+artigo de commercio, que de täo longe nos vem, propositadamente
+adulterado conforme o nosso gosto, no fim de contas se resume n'uma
+detestavel infusäo que entrou em moda no _sport_ social, simples
+pretexto para repastos pelintras, para reuniöes banaes, para palestras
+väs.
+
+A Asia é outra coisa: a muitos propositos immersa ainda em barbarismo,
+se assim se quer dizer; com mil defeitos e mil erros, que a sabia Europa
+aponta a dedo e algumas vezes corrige, quando pode, com a logica dos
+seus conhoës de tiro rapido; o que ella retem ainda, indiscutivelmente,
+esta Asia, é o caracter ancestral, nada vulgar, nada rasteiro,
+palpitante de orgulhos de raça, aprazendo-se em sonhos e em chimeras,
+acariciando a lenda, divinizando as coisas, prodigalizando os cultos; o
+que é, em todo o caso, uma maneira amavel, de ir comprehendendo a vida.
+
+ * * * * *
+
+[Figura]
+
+Oh, fé dos velhos tempos!... Oh, santos patriarchas de täo varios paizes
+e täo differentes seitas, tenazes campeöes, que fostes incutindo nos
+simples a crença, a esperança, o amor,--balsamos consoladores das duras
+miserias d'este mundo,--como eu vos amo, a todos!...
+
+Meus piedosos pensamentos elevam-se n'este momento a Darumá. Segundo a
+tradiçäo da gente japoneza, Darumá, o grande apostolo indiano do
+buddhismo, veio á China ahi pelo começo do seculo VI da nossa era
+christä, e em terras chinezas prégou em honra da verdade, illuminando o
+espirito dos povos.
+
+[Figura]
+
+Consta que, por voluntaria desistencia das ephemeras alegrias terreaes,
+Darumá votou-se a passar a vida de joelhos sobre o solo pedregoso,
+absorto em contemplaçöes mysticas, sem mesmo permittir-se o simples
+regalo de dormir. Tantos annos permaneceu de tal maneira, que as pernas
+se lhe gastaram, claro está; e é assim, sem pernas, só com a cabeça e
+com o tronco, envolto n'um manto carmezim, que ainda hoje é figurado. A
+imagem tronou-se querida e popular entre esta boa gente japoneza; é
+mesmo um brinquedo corriqueiro entre as mäositas das creanças,--os
+santos e os meninos vivem sempre em boa companhia;--lembrando o tal
+brinquedo o nosso _frade de sabugo_, pela teima em voltar, por mais
+voltas que lhe dêem, á sua postura habitual. Deve ainda saber-se que
+Darumá tem dado assumpto, desde remotos tempos até hoje, a pintores da
+mais alta valia; Hokusai foi um d'elles, pintando um famoso Darumá sobre
+uma folha de papel de cerca de duzentos metros quadrados de grandeza,
+empregando oitenta litros de tinta no desenho e servindo-se de cinco
+vassouras á laia de pinceis; estendida a tela sobre o campo, no telhado
+de um templo a turba admirava a obra e applaudia o mestre.
+
+Mas voltêmos ao que aqui mais nos interessa, respeitante ao venerando
+vulto que invoquei, ajoelhado sobre as pedras. Consta mais que, em certa
+noite, as palpebras se lhe cerraram de fadiga, e o bom Darumá deixou-se
+adormecer, para só acordar pela manhä. Entäo, pedindo a alguem uma
+tesoira ou instrumento parecido, cortou a si proprio as palpebras
+indignas e arremeçou-as ao solo, n'um gesto de despeito... As palpebras,
+por milagre, erraizaram, dando nascença o a um gracioso arbusto nunca
+visto, que medrou mui de prompto e cujas folhas, tratadas de infusäo
+pela agua quente, fôram um remedio precioso contra o somno e contra o
+cançaço das vigilias. Estava conhecido o chá; tem pois na China a sua
+origem, e é coisa santa, como se acava de provar. Crê quem quer; mas
+devo advertir que este livro foi escripto para os crentes.
+
+[Figura]
+
+ * * * * *
+
+Da China, veio o chá para as terras de Nippon, mas näo se sabe quando.
+
+[Figura]
+
+Velhas chronicas mencionam (no dizer dos entendidos n'este caso
+melindroso), que em 729 da era Christä, durante uma festa religiosa de
+espavento, o imperador Shomu offerecia chá a bonzos de alta gerarchia;
+mas fica-se ignorando se já antes seria conhecido... Parece que um bom
+abbade buddista, Dengyo Daishi, foi o primeiro que obteve a planta em
+solo japonez, em 805; o chá era entäo já uma beberagem favorita entre os
+bonzos chinezes, que d'ella se serviam durante as vigilias prolongadas
+das suas praticas nocturnas. Mais recentemente, ainda outro, bonzo,
+Eisei, tendo ido á China, de lá voltou, trazendo as sementes preciosas,
+e no monte Sefuri, em Chikuzen, cuidou da sua sementeira. Pouco depois,
+ainda mais outro bonzo (sempre os bonzos!) de nome Mioyé, colhendo de
+Eisei os varios segredos de cultura, novas sementes adquiriu, e em
+Toga-no-o em Uji, logares visinhos de Kyoto, attentamente se entreve em
+cultivar o chá; em Uji, de preferencia, fôram os resultados excellentes.
+Dois seculos depois, cerca de 1400, o shogun (generalissimo) Ashikawa
+Yoshimitsu imprimiu vigoroso impulso ás plantacôes de Uji, as quaes
+tanto fôram prosperando, mercê da riqueza do torräo, que de entäo até
+hoje o chá d'aquelle sitio tem sido celebrado como o melhor de todo o
+imperio; d'elle exclusivamente se serve o Imperador.
+
+ * * * * *
+
+O Japäo é a terra das camelias: _camelia japonica_, lá diz o latinorio
+dos botanicos.
+
+[Figura]
+
+Quando, por fins de novembro, começam os frios e as geadas e pouco tarda
+que as neves alvejem nos dorsos das montanhas, quando cessam as ultimas
+florescencias dos jardins, é entäo que comecam ostentando-se as bellas
+flores d'esta esplendida familia das camelias. Véem primeiro as
+sazankas, umas brancas, cutras roseas, de mimosissimas petalas frisadas;
+seguem-se as camelias simples, sanguineas, surdindo da rama espessa de
+arvores gigantes, espalhadas pelos campos; e após véem as flores
+cuidadas, de luxo, variando em innumeras formas, variando em innumeros
+tons, desde o branco de leite ate ao roseo quasi negro. Entäo igualmente
+desabrocha a pequenina flôr do chá, que tambem é uma camelia,
+subtilmente perfumada, composta de cinco petalasinhas alvas contornando
+e protegendo o feixe aureo dos estames.
+
+ * * * * *
+
+[Figura]
+
+Passando, em horas de ocio, junto dos campos de chá, dos quaes sinto
+prazer em acercar-me, palestro com os aldeöes e aprendo noçöes varias,
+respeitantes á delicada planta. Näo pode ser transplantada, nem se
+multiplica por estaca ou por enxerto, só por sementeira se propaga. Os
+paizes quentes, como os paizes frios, säo-lhe nocivos; prospera nos
+climas temperados, nos sitios lavados de ar e luz, visinhos dos cursos
+de agua, convindo um ligeiro declive ao solo de cultura. Os arbustos säo
+dispostos em renques parallelos, de norte a sul, para que o sol lhes
+bata em cheio desde pela manhä até á noite; as plantas mais cuidadas
+reclamam na primavera grandes toldos de palha, que abriguem das geadas
+as tenras folhas dos rebentos. Durante o primeiro anno, dispensam
+adubos, que depois se applicam em periodos frequentes. A guerra aos
+vermes, aos insectos, exige zelos incessantes. No fim de quatro annos,
+já o arbusto se presta á primeira colheita; mas säo as velhas plantas,
+de cem annos, de duzentos annos, as que melhor produzem.
+
+[Figura]
+
+ * * * * *
+
+Quem quizer tomar conhecimento com a planta de chá, nas melhores
+condiçoës de prosperidade e em mais bellas galas de aspecto pittoresco,
+tem de ir até Uji, distante quinze milhas de Kyoto; escolhendo de
+preferencia um dos primeiros dîas de maio, quando os rebentos novos
+começam vicejando, o que marca o inicio da faina da colheita. Faina e
+festa: a povoaçäo inteira acorda da sua modorra provinciana; desperta em
+esperanças, em jubilos, em actividades incançaveis, para votar-se aos
+cuidados da preciosa folha; deverá presumir-se, em bom criterio, que a
+quadra remoçante da primavera em flores, com aromas nas brisas e
+quenturas creadoras, constitue tambem um forte estimulo para a alegria
+repentina que se pinta nos rostos de toda aquella gente.
+
+O quadro é deveras aprazivel. Após uma banal estaçäo de linha ferrea,
+estende-se a cidadesinha garrida, com as suas viella muito limpas e a
+fila de lojinhas abarrotadas de varia mercancia. Depois segue-se o rio,
+de aguas limpidas e frescas, rico de tradiçöes de gloria; galga-se a
+ponte em arco, entra-se no bairro das _chayas_, dos hoteis, em tal
+quadra povoados de freguezes galhofeiros e de gentis mulheres, as
+_gueishas_, que cantam ou dedilham no inseparavel _shamicen_; e véem
+depois os campos, vastos campos de chá a succederem-se pelo horisonte
+fóra, cuidados como jardins, em longos alinhamentos de arbustos,
+copados, arredondados, lembrando enormes mangericos, de delicada rama de
+um verde esculro bronzeado; no azul distante, alguns famosos templos
+confusamente se recortam.
+
+[Figura]
+
+As moças de Uji estream _kimonos_ novos para o caso, arregaçando as
+mangas com fitas escarlates; amarram em turbante em volta dos cabellos
+toalhas de côr azul e branca; e assim, esbeltas, graciosissimas, em
+ranchos de dez, de doze companheiras, dirigem-se ao trabalho. É entäo um
+encanto para os olhos ir a gente surprehendel-as no afan do seu mister,
+dispersas pelas campinas fóra, como borboletas; indo de um ramo a outro
+ramo, de um arbusto a outro arbusto, por vezes occultando-se entre o
+verde mais denso da folhagem. Os dedos roseos, miudinhos, a escorrerem
+de orvalho e multiplicando-se em gestos delicados, väo colhendo os
+rebentos tenros do chá e atirando-os a grandes ceiras dispostas pelo
+chäo; as boccas väo sorrindo, patenteando as enfiadas alvas dos
+dentinhos; os olhos esbrazeam em juvenis amores inconfessados; as vozes
+unem-se ás vozes, em rythmos commoventes de velhas cançöes locaes:
+
+[Figura]
+
+ "Quando nasce o sol radioso
+Por cima d'aquelle oiteiro,
+Todas as aguas do rio
+Parecem memo um brazeiro!...
+
+ "N'estas aguas do rio d'Uji
+--Taö milagrosas que säo!--
+Lavam-se todos os males
+De que soffre o coraçäo...
+
+[Figura]
+
+No campo, as raparigas. Nas casas, os homens, as velhas, as creanças.
+Será rara a familia que näo tenha interesses na labuta; as grandes
+fabricas constituem excepçäo, como em todas as primitivas industrias
+japonezas; em cada albergue se improvisa uma manufactura, modesta,
+familial, onde todos trabalham, risonhos, palestrando. O chá é
+escolhido, escaldado, posto a seccar, grelhado em fornos, enroladas as
+folhas ou reduzido pó, depois empacotado, guardado em latas, em caixas,
+em boiöes; um melindroso amanho que requer mäos incançaveis, dedos
+prestimosos, cuidados inauditos, segredos de processo, meticulosidades
+devotas que espantam os profanos, nas quaes collabora a gente toda
+valida d'aquelles arredores.
+
+[Figura]
+
+ * * * * *
+
+Tal é a industria graciosa e tal é o chá que os japonezes bebem. Vêde
+agora como a civilizaçäo occidental contrasta com os usos d'estes
+asiaticos. Téem os japonezes, para lá do Pacifico, um grande consumidor
+do seu producto: é o _Yankee_. Tanto mimo e tanto esmero na apanha da
+folha e preparoçöes que se succedem näo bastariam para o chá que os
+americanos väo beber. Vem de Uji e de outros pontos, tal como os
+japonezes o preparam, para as firmas estrangeiras de Kobe e de Yokohama;
+é entäo submetido a novas operaçöes, ao sabor do fino paladar de
+Nova-York e de Chicago. Näo säo agora as camponezas, esbeltas e trajando
+roupas novas, que acodem ao mister; trabalham machinas a vopor, fumegam
+chaminés e guincham engrenagens; e occupa-se no preparo um mundo
+feminino inqualificavel, escoria das cidades, esfarrapado, piolhoso,
+horripilante, que a gente vê sahir das fabricas á tarde como uma leva de
+mendigas, cheias de pó, de pustulas, de miseria. O fabrico do chá ao
+gosto americano consiste n'um segundo aquecimento em grandes fornos e na
+addiçäo de varios productos, como o pó de uma certa pedra, _soopstone_,
+e o azul da Prussia. Assim é expedido.
+
+ * * * * *
+
+[Figura]
+
+A introducçäo e vulgarisaçäo do chá na terra japoneza deveu grande
+incremanto uma industria desde remotos tempos exercida, mas toscamente
+praticada,--a ceramica,--que havia de alcançar com o correr dos tempos
+um supremo grau de perfeiçäo como arte nacional. A conservaçäo da
+preciosa folha, exigindo escrupulos inauditos para reter o seu perfume,
+marcou o ponto de partida. Foi Toshiro, um oleiro da aldeia de Seto, na
+provincia de Owari, quem fabricou os primeiros boiöes para guardar o
+chá, empregando processos que aprendera na China, respeitantes á
+perfeiçäo da pasta e dos esmaltes. Passava-se isto ha sete seculos; e é
+curioso registar que _seto-mono_ (objecto de Seto) é ainda hoje o nome
+consagrado para indicar qualquer artigo de ceramica.
+
+Dos boiöes, passou-se gradualmente ás chavenas, aos bules, á gentil e
+complicada baixella que a infusäo foi reclamando e o luxo pondo em moda;
+e ora aqui está como a ceramica no Japäo,--faiança ou porcellana,--que
+attingiu requintes de arte primorissima, deveu ao chá e á agua morna os
+seus melhores progressos.
+
+ * * * * *
+
+Quando comecáram a tomar chá os japonezes, era este reduzido a um
+impalpavel pó e com elle se fazia a beberagem; depois veio o uso de
+empregar as folhas, apenas escolhidas e passadas pelos fornos; e é esta,
+ainda hoje, a maneira mais commum de preparal-o.
+
+[Figura]
+
+No Japäo, toda a gente toma chá,--ricos e pobres, nobres e
+plebeus:--bebe-se na occasiäo das refeiçöes e a toda a hora, a
+pequeninos golos. No lar, quando entra o visitante, offerecese-lhe, após
+as reverencias, uma almofada de regalo e uma chavena de chá. O mercador,
+quando quer se amavel com o freguez, serve-lhe antes de tudo uma chavena
+de chá, palestra, falla da chuva e do bom tempo; só mais tarde se trata
+do negocio. Nos templos famosos, em Kyoto por exemplo, o bonzo offerece
+chá ao peregrino antes de lhe mostrar as reliquias e os museus. Pelos
+caminhos mais agrestes, que väo serpeando pelas collinas arriba, ha
+rusticos poisos espaçados aqui e acolá, onde o caminheiro descança
+alguns minutos, bebe uma chavena de chá, troca um sorriso, deixando em
+retorno um cobre sobre a esteira. Um restaurante, na pittoresca
+linguagem japoneza, diz-se uma _chaya_,--que quer dizer--casa de
+chá.--De sorte que a chavena de chá, que acompanha os _bons-dias_ dados
+a quem chega, näo constitue simplesmente uma norma rutineira, um habito
+banal, tornou-se como que o symbolo da doce hospitalidade japoneza, um
+rito da bonhomia d'esta gente, exercido religiosamente entre amigos,
+entre estranhos tambem, porque ao estranho, que larga á porta as
+sandalias, vem ao nosso lar e nos saúda, deve-se ja um sorriso e a sua
+parte de conforto.
+
+[Figura]
+
+ * * * * *
+
+[Figura]
+
+Na casa, nua de moveis, porem mimosa de aceios requintados, figura
+sempre o brazeiro sobre a esteira, enas brazas vae fervilhando a
+chaleira de ferro cheia de agua; o _bon_ (uma bandeja) está cerca,
+contendo o bule, as cinco chavenas (cinco, porque? talvez por serem
+cinco os dedos em cada mäosinha japoneza), os cinco pires de madeira ou
+de metal, o cofre de estanho contendo o chá em folhas e ainda o
+pequenino recipiente em porcellana chamado _yuzamashi_, cuja ordinaria
+serventia vae muito em breve conhecer-se. O sentimento artistico japonez
+deprava-se naturalmente na industria de hoje, em grande parte com
+destino á exportaçäo para a Europa e para a America; é nos utensilios
+communs de uso indigena, onde näo intervem o modernismo, que ainda
+reside o gosto esthetico, puro e inconfundivel, da gente japoneza,
+revelando por si o complicado conjuncto de esmeros, de elegancias, de
+chimeras, em que a alma d'este povo se deleita. No que respeita o
+serviço de chá, é innarravel a gentileza de todo este arsenal de
+bagatelas, minusculas, dando a impressäo de serem destinadas a um
+banquete de bonecas!...
+
+[Figura]
+
+A agua passa da chaleira para o _yuzamashi_, onde arrefece, pois é
+preceito fazer-se o chá com agua que ferveu, mas ja näo ferve;
+prepara-se depois no bule a infusäo, que é offerecida aos hospedes nas
+pequeninas taças de fina porcellana.
+
+Eis a singela practica e eis a modesta offerta, actos da vida intima näo
+poucas vizes repetidos durante cada dia, desde pela manhä até á noite.
+Poderiam julgar-se sem meritos que valessem do estranho um instante de
+attençäo e um commentario; mas näo succede assim. Para a alegria dos
+olhos, a simples preparaçäo do chá imprime um relevo delicioso á
+graciosidade innata na _musumé_, na attitude que lhe é mais habitual, de
+joelhos sobre a esteira, junto do seu brazeiro. A mimica é impressiva,
+unica; privilegio d'aquella figurinha meiga e ondulante e d'aquella
+buliçosa mäo, de finissimos contornos, da japoneza, que é, em summa, a
+Eva mais gentilmente pueril, mais captivantemente chimerica, mais
+feminina emfim, de todas as Evas d'este mundo. Parece certo que jamais o
+japonez, que ignora o beijo, haja poisado a bocca n'aquella mäo que
+exhibe esplendores de graça para servir-lhe o chá; o forasteiro, em
+intimidade serena, pode ensaiar o galenteio se a phantasia o tenta; e
+entäo verá talvez, que a mäosita da _musumé_, reconhecida ao afago, se
+conchega de encontro aos labios, se demora, como uma rola docil gulosa
+de carinhos.
+
+[Figura]
+
+ * * * * *
+
+[Figura]
+
+O chá japonez, servido invariamente sem leite e sem assucar, que lhe
+prejudicariam o aroma, é a bebida mais suavemente agradavel que possa
+offerecer-se ao nosso paladar (näo de todos porem, ams um paladar
+sentimental, um tanto sonhador... que n'isto dos nossos orgäos de sentir
+ha temperamentos, aptidöes affectivas caracteristicas...). O _guyokuró_,
+por exemplo, que é o mais celebrado chá de Uji e de todo o Japäo,
+instilla taes subtilezas balsamicas de sabor, que mais parece um
+perfume; poderia dizer-se que uma maravilhosa alchimia conseguiu
+liquifazer os aromas de flores--flores dos jardins, flores
+silvestres,--transferido do olphato ao paladar a impressäo do goso.
+Assim é o _guyokuró_; claro está que as palavras näo podem traduzir
+senäo por comparaçäo as emoçöes sentidas; e esta, a do agradoce
+deliciosissimo que nos fica nos labios, persistindo, como na memoria
+persiste uma reminiscencia, uma saudade, é imcomparavel...
+
+O chá joponez tem a virtude de mitigar a sêde. Assi se explica o habito
+dos japonezes näo beberem agua; mesmo na força dos calores, em pleno
+agosto, a chavena de chá, saboreada a goles, lhes dá pleno consolo.
+Aponta-se-lhe mais outros condöes: excita ligeiramente o organismo,
+combate o cançaço das vigilias, predispöe ao bem estar, infiltra no
+cerebro näo sei que subtil embriaguez, lucida todavia, que nos torna
+mais affectivos ás sensaçöes de agrado e mais aptos ás elaboraçöes do
+pensamento
+
+ * * * * *
+
+[Figura]
+
+A maneira de preparar a infusäo do chá em pó e a arte de servil-o
+constituem a täo famosa cerimonia chamada do _chá-no-yu_. Foi assim que
+o uso do chá se introduzio no Japäo, como uma pratica liturgica dos
+frades buddhistas da seita de Daisu, exercida no proposito de
+prolongares as mysticas vigilhas preceituadas; servia ao mesmo tempo de
+pretexto para reuniöes intimas, que eram, imagina-se, um aprazivel
+desenfado á proverbial monotonia do convento; sendo um meio efficaz de
+estreitar laços de estima, pelas confidencias segredadas, pelos sorrisos
+beatificos que se cruzavam, em quanto que a unica taça ia passando, de
+mäo em mäo, de bocca em bocca, fraternalmente, até a esvaziar.
+
+[Figura]
+
+Mais tarde adoptou-se entre o povo o uso das folhas; mas o _chá-no-yu_
+persistiu nas bonzarias, propagando-se tambem nos costumes profanos,
+entäo com um exuberante luxo de apparato, que muito apaixonou a alta
+nobreza. Pelos dias que correm, ainda está em moda, sem distincçäo de
+classes; é um habito gentil que ficou dos velhos tempos e a que todos
+podem entregar-se, tido em valia pela delicadeza esthetica do scenario e
+ainda näo despido do prestigio ortodoxo que lhe vem da remota tradiçäo.
+
+O _chá-do-yu_, se pode definir-se, é a arte de preparar a infusäo do chá
+em pó, com esses escrupulos de limpeza, com esses requintes de elegancia
+de que só é capaz o japonez; sendo a bebida offerecida a alguns amigos
+de eleiçäo, a drede reunidos n'um recinto disposto para a paz do
+pensamento e para o agrado dos sentidos.
+
+Bom é dizer agora que os codigos referenets a materia täo grave säo
+innumeros, diversas as escolas; e os grandes profissionaes, _chájin_
+(homens do _chá_), de celebridade immoredoira, centenas de volumes
+escreveram sobre o assumpto.
+
+[Figura]
+
+Tudo foi regulamentado e comporta um preceito, que näo é licito
+esquecer. Non tempos aureos do _chá-no-yu_ o pavilhäo que recebia os
+hospedes era construido n'um jardin e obedecia a uma architectura
+inconfundivel. No seu arranjo interno, para a côr das paredes, para a
+disposiçäo de luz, para o numero das esteiras, para a jarra com flores
+ou com um ramo de arvore, havia praxes a seguir; o _kakemono_ (quadro
+suspenso da parede) devia representar uma paizagem que fôsse
+impressionar a pupilla com carinho; ou antes uma simples sentença
+escripta por um pincel de mestre calligraphico, pois nada commove tanto
+a aguda sensibilidate d'esta gente como os seus caractéres de estranha
+construcçäo, cada um equivalendo já a uma synthese de ideas e
+predispondo, pela sentida contemplaçäo--ora por uma desenvoltura de
+traço, ora por uma ondulaçäo de curva,--ao vago discorrer da alma
+sonhadora...
+
+O plano do jardin submettia-se a regras determinadas, pelas quaes o
+engenho indigena se revelava em graças prodigiosas, aqui pelos contornos
+do lago e pelas pontesinhas que o cruzavam, alem pela escolha dos
+arbustos e das pedras, na intençäo ingenua e amorosa de impôr á vista a
+illusäo de uma paizagem rustica, reduzida a proporçöes minusculas. Mais
+do que isto: a alma das coisas, o que de inexplicavel e de subtil parece
+emanar de um conjuncto qualquer onde os olhos se poisem,--tranquillidade
+das sombras, arrogancia de um tronco, ternura das relvas...--devia
+resaltar suggestivamente do jardinsinho japonez, imprimir-lhe um
+caracter, uma philosophia, acordando na mentalidade dos visitantes um
+sentimento de paz, de triumpho, de saudade... Claro está que as flores
+de luxo, como as rosas, como as camelias, como as peonias, eram
+excluidas, por improprias da intençäo de quadro agreste dada á scena.
+
+[Figura]
+
+Éra de estylo a monumental lanterna, tal como se encontra nos templos,
+de pedra, tanto mais valiora quanto mais esverdeada e roida de vetustos
+musgos, e espalhando pela noite vagas claridades coadas pelas suas
+frestasinhas cobertas de papel; os japonezes deleitam-se em contemplar,
+após uma nevada, as amplas cupulas em unbella d'estas lanternas de
+templos e de jardins, receptaculos onde a neve poisa e se demora, em
+fofos vello de formas extravagantes, de deslumbrante alvura. Um outro
+accessorio se encontrava, cerca do pavilhäo: o pedaço de rocha bruta com
+uma pequena cavidade cheia de agua, onde os hospedes iam lavar as mäos
+antes de entrarem, como em purificaçäo liturgica.
+
+Até a linguagem empregada entre os convivas obedecia a regras de
+pragmatica: os assumptos de religiäo ou de politica eram banidos; a
+phrase devia modelar-se n'um agradavel discorrer, sem ferir melindres de
+ninguem. A cortezia impunha-se: preceituava-se que o hospede proferisse
+palavras de louvor pelo que via,--alfaias de serviço, arranjo do
+aposento, horisontes em volta,--mas sem insistencia em demasia, que
+poderia parecer pouco sincera ou pelo menos importuna.
+
+[Figura]
+
+Variadissimos objectos devem encontrar-se no aposento, como o brazeiro,
+o carväo de reserva contido n'um cestinho, a chaleira, o abano de
+pennas, o cachimbo, o tabaco, o pincel, o papel e a escrevaninha. Os
+artigos destinados particularmente ao chá, muitas vezes contidos n'um
+estojo especial, säo os seguintes: a boceta com perfumes, que antes de
+tudo se lançam sobre as brazas e embalsamam o ambiente; a jarra com agua
+fria e a competente colher feita de um pedaço de bambu; o chá em pó n'am
+cofresinho de charäo e a colherinha adjunta; duas taças, de barro ou de
+porcellana, uma usada no veräo, de côr clara, e outra escura, usada no
+inverno; um curioso utensilio feito de finas lascas de bambu reunidas em
+feixe, com que se agita na chavena a mistura do chá em pó com a agua
+morna; finalmente a tigela onde se lavam e o pedaço de seda de finissimo
+tecido, com que se enxugam, as peças empregadas.
+
+É o dono da casa quem deve preparar o chá, solemnemente, prescindindo do
+mais ligeiro auxilio dos criados; é elle que o offerece aos convidados.
+A mäo executa setenta e cinco movimentos, n'um _chá-no-yu_ havido por
+singelo... e trezentos, quandorequeridas todas as formalidade ortodoxas.
+
+[Figura]
+
+ * * * * *
+
+No tempo do generalismo do Imperio, chamado Toyotomi Hideyoshi, mais
+conhecido na historia pelo grande Taiko-sama, quasi todos os genesaes
+eram _chajin_, isto é, ferventes apaixonados da ceremonia do
+_chá-no-yu_. Em 1585, o proprio Taiko-sama organisou um _chá-no-yu_
+colossal nas visinhanças de Kyoto, ainda hoje memorado como festa de
+inigualavel esplendor: uma extensäo de quinze kilometros quadrados era
+occupada por innumeros kiosques, aonde os generaes preparavam o chá;
+todos, nobreza e plebe, os ricos e os mendigos,--um enxame
+humano!--tinham entrada; Hideyoshi visitou todos os poisos e por suas
+proprias mäos proparou chä, que offereceo aos chefes favoritos.
+
+[Figura]
+
+Relembrando o passado, justamente n'um periodo de effervescencias
+guerreiras culminantes no Japäo, talvez pareça estranho, talvez pareça
+comico, que esses rudes heróis de täo grandes façanhas, os indomaveis
+veteranos das guerras na China e na Coréa, despissem armaduras, tirassem
+os dois sabres da cintura, para virem votar horas chimericas a aquecer a
+agua sobre brazas e a preparar o chä... Mas o contraste, por si, explica
+o facto: era precisamente essa dura existencia de batalhas e de lances
+sangrentos, de inclemencias de vida nomada, de longo cogitar em
+extratagemas e em argucias, que impunha aos homens dirigentes a doce
+tregua do _chá-no-yu_. O convivio com os partidarios e os amigos, o
+desfilas do povo alegre a reverente, a verde paizagem de repoiso, a
+solemnidade hypnotica dos gestos, tudo contribuia para offerecer um
+curto aprazimento áquella gente, que assim ia apagando da memoria os
+amorgores soffridos, estretando sympathias, retemperando forças para as
+proximas luctas.
+
+ * * * * *
+
+[Figura]
+
+O _chá-no-yu_ attingiu depois, durante a longa paz da dynastia shogunal
+dos Tokugawa, uma epocha de exaggeros faustuosos, de dissipaçöes
+paradoxaes. Escolhiam-se as baixellas de entre objectos muitos antigos e
+firmados por um nome de fabricante prestigioso, e por isso rarissimos,
+preciosissimos; e estava entäo em moda offerecel-os, no momento das
+ruidosas despedidas, ás bellas companheiras do festim, que haviam com as
+suas guitarras, com as suas cançöes, com as suas graças profissionaes,
+enfeitiçando os hospedes... Sorveram-se fortunas n'este abysmo.
+
+É de entäo que se conta que um amador empregou n'um _chá-no-yu_
+utensilios no valor de trinta e oito mil yens, o que passa de quatro mil
+libras esterlinas; um outro adquiria por trinta mil yens um só boiäo de
+chá!...
+
+[Figura]
+
+Ha cerca de tres ou quatro annos, em um leiläo de Tokyo, um japonez
+comprou por tres mil yens uma chavena de _chá-no-yu_; prova isto que
+ainda ha devotos _chajin_ presentemente. Com effeito, se o luxo sem
+limites que caracterizou o _chá-no-yu_ dos bons tempos feudaes
+desappareceu para sempre com a mudança de regimen e com a mudança de
+costumes, continuou todovia esta elegante pratica merecendo uma alta
+estima. Hoje, os dois sexos a ella se dedicam, e pode affirmar-se que
+faz parte da boa educaçäo de uma menina, exigindo uns seis ou sete annos
+a sua aprendizagem. As _gueishas_ tambem se instruem em tal culto; as
+celebres danças primaveraes da cidade de Kyoto, conhecidas pela
+denominaçäo de _Miyako-odori_, säo sempre precedidas do _chá-no-yu_, em
+que é officiante uma das mais gentil _gueishas_ do logar; e a multidäo
+acode, com devota deligencia, a saborear o perfumado chá.
+
+ * * * * *
+
+[Figura]
+
+Näo me peçam agora, a mim, profano na materia e viageiro fatigado de täo
+multiplices impressöes que tenho vindo colhendo por este mundo fóra, uma
+opiniäo pessoal sobre o _chá-no-yu_. Estive uma vez, é certo, com dois
+ou tres amigos, em uma das _chayas_ de mais fama da cidade de Kobe; e
+Tama-Guiku (o Malmequer-Precioso) era a esplendida sacerdotiza da
+cerimonia. A impressäo que d'aquella noite guardo é indefinida, fugidia,
+como de um vago sonho que tivesse. Ficaram-me reminiscencias indecisas
+do luxo sombrio e harmonioso e do aceio extremo das coisas impregnadas
+de exotismo onde poisou o meu olhar. Na meia luz do placido aposento,
+amplo e silencioso como um templo, contornava-se, distante, um vulto de
+mulher, de joelhos, envolta em sedas magnificas. As attencöes fixavam-se
+especialmente, como que por attracçäo hypnotica, nas suas mäos
+finissimas, alvejando no espaço como se fossem de marfim, tomando de
+estranhos utensilios, preparando näo sei que filtro de magia, poisando
+em mimicas hieraticas, quaes mäos de mystica officiante de uma religiäo
+desconhecida. Por fim, convidado a partilhar no sacrificio, acceitava
+uma taça com chá que me era offerecida e levava-a aos labios commovido,
+com näo sei que subitos escrupulos de apostata mal firme...
+
+Tama-Guiku concluira. Ergueu-se, deslumbrante de graças, de atavios, de
+magestade. O seu rostinho meigo illuminava-se entäo da exaltaçäo
+beatifica que lhe electrizava o espirito; dirigiu sobre nós a ardencia
+negra dos seus olhos, saudou-nos reverente... reverente, näo porque uma
+imfima cortezia sequer lhe merecessemos,--pobres occidentais
+ignaros!--mas em estricta abediencia aos preceitos rituaes; e
+desappareceu da scena.
+
+ * * * * *
+
+A proposito d'estas divagaçöes respeitantes ao chá e ao seu culto,
+vem-me agora ao pensamento e ainda me compunge um dramatico episodio da
+existencia intima japoneza, que contado me foi ha cerca de tres annos.
+Vou tentar descrevel-o.
+
+Éra no fim de maio. Eu achava-me em Kobe. Um meu amigo japonez, _chajin_
+apaixonado, partira para Uji, onde devia assistir a umas costumadas
+reuniöes votadas ao _chá-no-yu_, em casa de um parente, cuja filha, a
+gentilissima O-Hana, era eximia na arte; entre nós ficára combinado que
+eu iria encontral-o, passadas tres semanas, em Nara, a cujos velhos
+monumentos queriamos votar horas de estudo.
+
+Haviam decorrido apenas uns tres dias, quando do tal sujeito recebi um
+bilhete, pouco mais ou menos n'estes termos:--"Pode seguir para Nara,
+onde me encontrará. Falhou o _chá-no-yu_. O-Hana suicidou-se. Pesava
+sobre ella uma desdita igual á pobre Hichi da lenda..."--
+
+Ora, eu conhecia O-Hana; e a lenda, que por signal constitue o thema de
+uma notavel peça de theatro, näo me era de todo estranha.
+
+ * * * * *
+
+Vamos por partes. A lenda é como segue.
+
+Näo sei ha quantos seculos e nem sei em que logar,--nem importa
+sabel-o,--havia em certa rua dois estabelecimentos de negocio, dos que
+se chamam _Yaoya_ em lingua do paiz, onde se vemdem variadas
+provisöes,--fructos, legumes, hortaliças, ovos, peixe e muitas coisas
+mais.--Defrontavam um com o outro. N'um, habitava certo casal com uma
+filha unica, O-Hichi; n'outro, um outro casal com um só filho, Kichisa.
+Quiz a mofina sorte que se enamorassem um do outro.
+
+Mofina sorte? Sim, embora, á primeira vista, näo seja o caso concebivel,
+quando se saiba que ambos eram jovens, gentis e animados de doces
+enternecimentos amorosos. Eu me explico todavia. Os velhos codigos
+nipponicos, ainda hoje respeitados, impöem aos filhos o preceito de
+herdarem o appellido de seus paes; o filho mais velho herda a mais o
+encargo de chefe de familia, com a administraçäo dos bens e a
+superintendencia no culto piedoso devido aos parentes fallecidos. É por
+este processo que as genealogias näo offerecem mysterios e as familias
+se eternizam, conservando religiosamente o mesmo appellido durante
+seculos sem conto; cessando apenas no caso excepcional de todos os
+descendentes acabarem, consanguineos ou näo, pois é de uso corrente
+chamar ao lar, por adopçäo, filhos alheios. O filho unico pode
+certamente casar, e a esposa recebe o appellido do marido. A filha unica
+pode igualmente casar e entäo o esposo recebe o appellido da mulher.
+Está-se agora percebendo como para O-Hichi e Kichisa o problema se
+complicava em demazia, por serem ambos filhos unicos. Um meio só se
+apresentava, o de uma das familias adoptar um filho estranho, sobre quem
+recahissem os encargos de uma supposta primogenitude. Mas o alvitre era
+quasi impraticavel, por aquelles tempos feudaes que iam correndo,
+dependendo da sancçäo suprema do daimyô, que a negaria, por ser o caso
+novo; sem já contar com o orgulho revoltado dos paes da noiva, ou dos
+paes do noivo, da familia emfim que, para evitar de ser extincta,
+tivesse de investir um filho alheio nos deveres que competem ao
+legitimo.
+
+[Figura]
+
+É certo que as duas familias se oppozeram com toda a vehemencia a taes
+amores, e a casa se transformou para O-Hichi em duro encerro e a estima
+dos seus em aggressöes continuas. Foi entäo que a pobre _musumé_,
+captiva n'uma alcova, desesperada, louca de amores, meditou em pôr fogo
+ao seu lar de tormentos, na crença de que as chammas lhe trariam a
+liberdade e o ensejo de reunir-se áquelle a quem votara todo o seu
+affecto. Errou porem nos calculos, como succede tantas vezes quando se
+tem quinze annos e o pensamento voêja no mundo das chimeras: descoberto
+o seu crime apenas posto em pratica, foi trazida á justiça da cidade e
+condemnada á morte.
+
+[Figura]
+
+Vem agora a proposito narrar um pormenor curioso, que é de toda a
+tragedia o que mais me enternece. A misera seguia, conforme o estylo,
+pelas ruas populosas, amarrada ao dorso de uma besta, para ignominia
+propria e para licçäo do povo; mais tarde seria executada. A meio da
+jornada expiatoria, os seus longos cabellos soltos, como até entäo eram
+usados, cahiam-lhe em desalinho sobre a fronte, cheios da poeira dos
+caminhos, escorrendo de suor, fustigando-lhe as faces. Entäo, ou porque
+quizesse poupar-se a um tormento a mais, ou--quem sabe?--por um resto de
+garridice deminia, viram-n'a rasgar com os bellos dedos tremulos um
+pedaço da seda carmezim do forro do vestido, com quem amarrou junto á
+nuca, erguendo os braços, esses pobres cabellos... A idea pareceu
+graciosa ás raparigas, que se iam juntando em grupos curiosos para
+observarem o cortejo; e desde entäo as japonezas começaram de usar
+aquelle enfeite, que persiste até hoje e a que chamam
+_kikidashi_--litteralmente: farrapo--em memoria de O-Hichi, a triste
+namorada de Kichisa...
+
+[Figura]
+
+ * * * * *
+
+Mas vamos depressa ao fim da historia.
+
+Quando em Nara deparei com o meu amigo japonez, o triste fim de O-Hana
+esclareceu-se em breve.
+
+Havia em Uji duas familias abastadas, Fukumoto e Yamaguchi, possuindo as
+mais bellas culturas de chá d'aquelles campos. Os Fukumoto juravam que o
+seu chá éra o melhor de todo o Imperio, e os Yamaguchi diziam do seu chá
+a mesma coisa; eram no fim de contas uns caturras, professando um supino
+orgulho do seu nome e um culto pelo mister a que se davam; alem d'isto,
+ou por isto, pouco affeiçoados entre si, confirmando a justiça d'aquelle
+ditado portuguez, com curso em todas as longitudes do planeta... _dos
+officiaes do mesmo officio_.
+
+O casal Fukumoto tinha um filha unica, O-Hana; o casal Yamaguchi tinha
+um unico filho, Naotarô. Este era um perfeito rapazola, amavel,
+intelligente, segundo affirma quem o viu. O-Hana era uma _musumé_ em
+plena flôr da vida, educada em todos as gentis prendas do seu sexo.
+Ninguem como ella desprendia suavissimos sons do _koto_, a harpa
+nacional; nenhumas mäos se mostravam täo habeis de pinheiro ou de lirios
+floridos trazidos do jardim; no _chá-no-yu_ era incomparavel.
+
+[Figura]
+
+[Figura]
+
+Eu vi O-Hana uma só vez, nos parques de Kyoto, quando em peregrinaçäo
+primaveral se vae contemplar, á luz da lua, a celebre cerejeira de
+Guion, toda vestida de pequeninas petalas.
+
+O-Hana éra uma d'essas japonezinhas embebidas de enlevo e de exotismo,
+taes como vós as conheceis dos leques, dos biombos. Isto basta, á falta
+de melhor, para definir-lhe o vulto em miniatura, esguio e ondulante,
+coberto de sedas preciosas; e para imaginar-lhe o rosto pallido em forma
+de pevide de meläo, os olhinhos cerrados, os finos traços das
+sobrancelhas em viez, a boquinha sorridente, rubra, lembrando uma
+cereja, e o penteado... o penteado colossal como uma enorme borboleta de
+azeviche, que lhe houvesse pousado, de azas abertas, sobre a nuca. Ria,
+curvava-se em mesuras, em meneios, agitando no ar as descommunaes mangas
+do _kimono_; e lá ia seguindo o seu caminho entre um bando de amigas,
+antes ziquezagueando, a passos miudinhos, indécisos, sem intuito. E eu
+ia pensando que alli estava, em carne e osso, a companheira
+deliciosissima, anjo de graças e fada de sorrisos, para quem podesse
+offerecer-lhe--japonez claramente,--uma casinha de papel em extremos de
+limpeza, com duas esteiras sobre o chäo, um bule com chá, um prato com
+confeitos, uma jarra com ramos vicejantes; e á frente o
+jadinsinho,--bambus tufados, azaleas em flor, pedras musgosas, o
+pequinono lago, onde peixes vermelhos nadassem pachorrentos e räs
+coaxassem em noites estivaes...--
+
+[Figura]
+
+O-Hana e Naotarô amaram-se.. Näo se sabe porque. Porque eram ambos
+jovens, visinhos, conhecidos; e em circunstancias semelhantes a
+juventude attrahe a juventude...
+
+Quando esta inclinaçäo foi conhecida, as duas familias irromperam em näo
+dissimulados azedumes. O casamento era impossivel. Se a adopçäo de um
+filho alheio podia resolver em theoria o problema, quem vinha
+sujeitar-se ao sacrificio? Os Yamaguchi? Os Fukumoto? Mas nem uns nem
+outros, com os diabos!... Os nomes das duas familias, procedentes de uma
+linhagem täo remota que em väo se tentaria investigar-lhes a origem,
+gosavam em todo o Imperio de um prestigo inconfundivel, conquistado
+durante annos sem conto pela pobidade mercantil dos seus negocios, pela
+excellencia do chá da sua lavra, pela nobre chientela nos castelos;
+podendo apenas pôr-se em duvida, se o chá dos Yamaguchi preferival ao
+chá dos Fukumoto. Ora,--mercê de um capricho de estouvados,--investir,
+por uma adopçäo do acaso, um estranho na posse de tal nome, e ungil-o
+dos nobres encargos que competem a um futuro chefe de familia--Fukumoto
+ou Yamaguchi,--nem por brincadeira se propunha!... Que O-Hana e Naotarô
+se casassem, intendia-se; era esse mesmo o seu dever, de perpetuar pela
+prole os nomes dos avós; mas confiassem no bom tacto dos paes, que
+saberiam escolher-lhes noivos do seu agrado e em condiçöes de näo virem
+parturbar a paz das familias e ferir o amor das tradiçöes.
+
+[Figura]
+
+Muito bem. Quando os dois namorados se convenceram da impossibilidade de
+viverem um para outro, tiveram certa noite uma furtiva entrevista á
+beira do Ujigawa, a pittoresca ribeira, que entäo serpeava em grande
+cheia de aguas, resultado das ultimas chuvas copiosas. Deram-se as mäos,
+parece; sorriam-se um para o outro; näo se sabe o que segredaram entre
+si, porque ninguem esta alli para os ouvir...
+
+Quando, ao romper do dia, as moças de Uji seguiam para a apanha do chá,
+em ranchos galhofeiros, quedaram-se de repente junto ao rio, cheias do
+espanto, de pavor, vendo a boiar dois corpos detidos na maranha dos
+juncos, rigidos, lividos, mortos, porem sorrindo ainda e dando-se ainda
+as mäos...
+
+ * * * * *
+
+.....................................................................
+
+"N'estas aguas do rio d'Uji,
+--Täo milagrosas que säo!--
+Lavam-se todos os males
+De que soffre o coraçäo...
+
+[Figura]
+
+[Figura]
+
+
+
+
+Lista de erros corrigidos
+
+
+Aqui encontram-se listados todos os erros encontrados e corrigidos:
+
+
+ +----------+-----------------------+---------------------------+
+ | | Original | Correcção |
+ +----------+-----------------------+---------------------------+
+ |#pág. 19 | do outros | de outros |
+ |#pág. 23 | ama norma | uma norma |
+ |#pág. 24 | ua industria | na industria |
+ |#pág. 24 | a modernismo | o modernismo |
+ |#pág. 26 | da flores | de flores |
+ |#pág. 33 | exteusäo | extensäo |
+ |#pág. 33 | homeus | homens |
+ |#pág. 37 | desappaeceu | desappareceu |
+ |#pág. 38 | appelldo | appellido |
+ |#pág. 39 | dos familias | das familias |
+ |#pág. 39 | umo supposta | uma supposta |
+ |#pág. 45 | pela excellencias | pela excellencia |
+ |#pág. 45 | nobre encargos | nobres encargos |
+ +----------+-----------------------+---------------------------+
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of O culto do chá, by
+Wenceslau José de Sousa de Morais
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CULTO DO CHÁ ***
+
+***** This file should be named 37879-8.txt or 37879-8.zip *****
+This and all associated files of various formats will be found in:
+ https://www.gutenberg.org/3/7/8/7/37879/
+
+Produced by Rita Farinha (This file was produced from
+images generously made available by the Almamater
+(Univeridade de Coimbra / Coimbra University) at
+http://http://almamater.uc.pt
+
+
+Updated editions will replace the previous one--the old editions
+will be renamed.
+
+Creating the works from public domain print editions means that no
+one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
+(and you!) can copy and distribute it in the United States without
+permission and without paying copyright royalties. Special rules,
+set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
+copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
+protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project
+Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
+charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you
+do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
+rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose
+such as creation of derivative works, reports, performances and
+research. They may be modified and printed and given away--you may do
+practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is
+subject to the trademark license, especially commercial
+redistribution.
+
+
+
+*** START: FULL LICENSE ***
+
+THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
+PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK
+
+To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
+distribution of electronic works, by using or distributing this work
+(or any other work associated in any way with the phrase "Project
+Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
+Gutenberg-tm License (available with this file or online at
+https://gutenberg.org/license).
+
+
+Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
+electronic works
+
+1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
+electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
+and accept all the terms of this license and intellectual property
+(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all
+the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
+all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
+If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
+Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
+terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
+entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.
+
+1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be
+used on or associated in any way with an electronic work by people who
+agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few
+things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
+even without complying with the full terms of this agreement. See
+paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project
+Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
+and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
+works. See paragraph 1.E below.
+
+1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
+individual work is in the public domain in the United States and you are
+located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
+copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
+works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
+are removed. Of course, we hope that you will support the Project
+Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
+freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
+this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
+the work. You can easily comply with the terms of this agreement by
+keeping this work in the same format with its attached full Project
+Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.
+
+1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern
+what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in
+a constant state of change. If you are outside the United States, check
+the laws of your country in addition to the terms of this agreement
+before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
+creating derivative works based on this work or any other Project
+Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning
+the copyright status of any work in any country outside the United
+States.
+
+1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg:
+
+1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate
+access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
+whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
+phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
+Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
+copied or distributed:
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
+from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
+posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
+and distributed to anyone in the United States without paying any fees
+or charges. If you are redistributing or providing access to a work
+with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
+work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
+through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
+Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
+1.E.9.
+
+1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
+with the permission of the copyright holder, your use and distribution
+must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
+terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked
+to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
+permission of the copyright holder found at the beginning of this work.
+
+1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
+License terms from this work, or any files containing a part of this
+work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.
+
+1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
+electronic work, or any part of this electronic work, without
+prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
+active links or immediate access to the full terms of the Project
+Gutenberg-tm License.
+
+1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary,
+compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
+word processing or hypertext form. However, if you provide access to or
+distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
+"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
+posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
+you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
+copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
+request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
+form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
+License as specified in paragraph 1.E.1.
+
+1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
+performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
+unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.
+
+1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing
+access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
+that
+
+- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
+ the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
+ you already use to calculate your applicable taxes. The fee is
+ owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
+ has agreed to donate royalties under this paragraph to the
+ Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments
+ must be paid within 60 days following each date on which you
+ prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
+ returns. Royalty payments should be clearly marked as such and
+ sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
+ address specified in Section 4, "Information about donations to
+ the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."
+
+- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
+ you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
+ does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
+ License. You must require such a user to return or
+ destroy all copies of the works possessed in a physical medium
+ and discontinue all use of and all access to other copies of
+ Project Gutenberg-tm works.
+
+- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
+ money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
+ electronic work is discovered and reported to you within 90 days
+ of receipt of the work.
+
+- You comply with all other terms of this agreement for free
+ distribution of Project Gutenberg-tm works.
+
+1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
+electronic work or group of works on different terms than are set
+forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
+both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
+Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the
+Foundation as set forth in Section 3 below.
+
+1.F.
+
+1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
+effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
+public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
+collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
+works, and the medium on which they may be stored, may contain
+"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
+corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
+property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
+computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
+your equipment.
+
+1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
+of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
+Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
+Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
+liability to you for damages, costs and expenses, including legal
+fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
+LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
+PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
+TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
+LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
+INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
+DAMAGE.
+
+1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
+defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
+receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
+written explanation to the person you received the work from. If you
+received the work on a physical medium, you must return the medium with
+your written explanation. The person or entity that provided you with
+the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
+refund. If you received the work electronically, the person or entity
+providing it to you may choose to give you a second opportunity to
+receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy
+is also defective, you may demand a refund in writing without further
+opportunities to fix the problem.
+
+1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth
+in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
+WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
+WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.
+
+1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied
+warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
+If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
+law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
+interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
+the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any
+provision of this agreement shall not void the remaining provisions.
+
+1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
+trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
+providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
+with this agreement, and any volunteers associated with the production,
+promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
+harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
+that arise directly or indirectly from any of the following which you do
+or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
+work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
+Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.
+
+
+Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm
+
+Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
+electronic works in formats readable by the widest variety of computers
+including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
+because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
+people in all walks of life.
+
+Volunteers and financial support to provide volunteers with the
+assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
+goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
+remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
+and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
+
+
+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
+Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
+number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
+https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
+permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
+
+The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
+Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
+throughout numerous locations. Its business office is located at
+809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
+business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact
+information can be found at the Foundation's web site and official
+page at https://pglaf.org
+
+For additional contact information:
+ Dr. Gregory B. Newby
+ Chief Executive and Director
+ gbnewby@pglaf.org
+
+
+Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation
+
+Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
+spread public support and donations to carry out its mission of
+increasing the number of public domain and licensed works that can be
+freely distributed in machine readable form accessible by the widest
+array of equipment including outdated equipment. Many small donations
+($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
+status with the IRS.
+
+The Foundation is committed to complying with the laws regulating
+charities and charitable donations in all 50 states of the United
+States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
+considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
+with these requirements. We do not solicit donations in locations
+where we have not received written confirmation of compliance. To
+SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
+particular state visit https://pglaf.org
+
+While we cannot and do not solicit contributions from states where we
+have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
+against accepting unsolicited donations from donors in such states who
+approach us with offers to donate.
+
+International donations are gratefully accepted, but we cannot make
+any statements concerning tax treatment of donations received from
+outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
+
+Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
+methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
+ways including including checks, online payments and credit card
+donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate
+
+
+Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
+works.
+
+Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
+concept of a library of electronic works that could be freely shared
+with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
+Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
+
+
+Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
+editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
+unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
+keep eBooks in compliance with any particular paper edition.
+
+
+Most people start at our Web site which has the main PG search facility:
+
+ https://www.gutenberg.org
+
+This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
+including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
+Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
+subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.
diff --git a/37879-8.zip b/37879-8.zip
new file mode 100644
index 0000000..e728759
--- /dev/null
+++ b/37879-8.zip
Binary files differ
diff --git a/37879-h.zip b/37879-h.zip
new file mode 100644
index 0000000..6562280
--- /dev/null
+++ b/37879-h.zip
Binary files differ
diff --git a/37879-h/37879-h.htm b/37879-h/37879-h.htm
new file mode 100644
index 0000000..8d00720
--- /dev/null
+++ b/37879-h/37879-h.htm
@@ -0,0 +1,1789 @@
+<!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN"
+ "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd">
+<html xmlns="http://www.w3.org/1999/xhtml">
+<head>
+<meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=ISO-8859-1" />
+ <title>O Culto do Chá</title>
+ <meta content="Wenceslau de Moraes" name="AUTHOR" />
+ <meta content="text/html; charset=ISO-8859-1" http-equiv="Content-Type" />
+ <style type="text/css">
+body {max-width: 80%; margin-left:10%; margin-right:10%; text-align: justify;}
+h1, h2, h3, h4, h5 { text-align: center;}
+h1 {margin: 2em; text-align: center;}
+h2, h4 {margin-top: 2em;}
+.bbox {border: solid black 1px; margin-left: 10%; margin-right: 10%;}
+.fbox {border: solid black 1px; background-color: #FFFFCC; font-size: 75%; margin-left: 15%; margin-right: 15%;}
+.dots {color: #fff; background-color: inherit; border: 3px dotted #555; border-style: none none dotted;}
+.sbreak {
+width: 20%;
+margin-left:40%;}
+.breaks {
+width: 10%;
+margin-left:45%;}
+.poetry {margin-left: 35%;}
+.poetry1 {margin-left: 40%;}
+.quote {margin-left: 10%;
+margin-right: 20%;}
+.quote1 {margin-right: 35%;}
+.smallcaps {font-variant: small-caps;}
+.signature {margin-right: 10%;
+text-align: right;}
+.left { float: left;
+margin-right: 20px;}
+.right { float: right;
+margin-left: 20px;}
+.right1 { float: right;}
+.tinyl {font-size: 95%;}
+.pagenum { position: absolute; right: 5%;
+font-size: 75%;
+text-align: right;
+text-indent: 0em;
+font-style: normal;
+font-weight: normal;
+color: silver; background-color: inherit;
+font-variant: normal;}
+ </style>
+</head>
+
+<body>
+
+
+<pre>
+
+Project Gutenberg's O culto do chá, by Wenceslau José de Sousa de Morais
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: O culto do chá
+
+Author: Wenceslau José de Sousa de Morais
+
+Release Date: October 29, 2011 [EBook #37879]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CULTO DO CHÁ ***
+
+
+
+
+Produced by Rita Farinha (This file was produced from
+images generously made available by the Almamater
+(Univeridade de Coimbra / Coimbra University) at
+http://http://almamater.uc.pt
+
+
+
+
+
+
+</pre>
+
+<div>
+<div class="fbox"><b>Nota de editor:</b>
+Devido à
+quantidade de erros tipográficos existentes neste texto,
+foram tomadas várias decisões quanto à
+versão final. Em caso de dúvida, a grafia foi
+mantida de acordo com o original. No final deste livro
+encontrará a lista de erros corrigidos.<br />
+<br />
+<div style="text-align: right; font-style: italic;">Rita
+Farinha (Outubro 2011)
+</div>
+</div>
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig01.png" width="550" height="799" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig02.png" width="500" height="757" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<div class="bbox">
+<br />
+<h3>WENCESLAU DE MORAES</h3>
+<br />
+<div class="breaks"><hr /></div>
+<br />
+<h2>O CULTO DO CHÁ</h2>
+<br />
+<div class="breaks"><hr /></div>
+<br />
+<h4>(ILLUSTRAÇÕES DE YOSHIAKI)</h4>
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig03.png" width="122" height="144" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<h4>
+KOBE
+Typographia do "Kobe Herald"</h4>
+<div class="breaks"><hr /></div>
+<h4>Gravuras de Gotô Seikôdô</h4>
+<div class="breaks"><hr /></div>
+<h4>1905
+</h4></div>
+<br />
+<br />
+<br />
+<img src="images/fig04.png" width="144" height="698" alt="" class="right1" /><img src="images/fig05.png" width="337" height="185" alt="" class="right1" />
+
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<div class="quote"><span class="smallcaps">A<br />
+Vicente Almeida d'Eça,<br />
+Sebastiäo Peres Rodrigues,<br />
+Bento Carqueja,</span>
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+isto é, á <em>Trindade</em> benevolente, que ainda ha pouco,
+de täo longe, me enviou dentro das folhas de um livro&mdash;as
+<em>Cartas do Japäo</em>,&mdash;o perfume ineffavel da sua
+amizade, offereço este outro livro, exotico pela forma,
+exotico pelo texto, mas näo pelo sentimento de profunda
+gratidäo, que inspirou esta primeira pagina. <br />
+<br />
+Kobe, Junho de 1905. <br />
+<br /></div>
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<div class="smallcaps signature">Wenceslau de Moraes.</div>
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig06.png" width="536" height="522" alt="O Culto do Chá" /></div>
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+Falla-se do Japäo; nem, francamente, devera presumir-se
+que eu ia referir-me a um paiz qualquer occidental,
+onde a nossa raça branca floresce. <br />
+<br />
+É no Oriente, e em especial no Extremo-Oriente, que as
+coisas communs da creaçäo ou os usos e costumes triviaes da
+vida säo susceptiveis de merecer um tal requinte de solemnidade
+sentimental e de praxes de rito, que constituam um verdadeiro
+culto. No espirito do europeu, despoetizado pela chateza dos
+ideas da epoca, atribulado pelas multiplices exigencias da vida,
+pervertido pela febre do negocio, näo medram de ha muito os
+<span class="pagenum">[8]</span>
+cultos. Especializando a observaçäo ao chá, havemos de convir
+que este artigo de commercio, que de täo longe nos vem,
+propositadamente
+adulterado conforme o nosso gosto, no fim de contas
+se resume n'uma detestavel infusäo que entrou em moda no
+<em>sport</em>
+social, simples pretexto para repastos pelintras, para reuniöes
+banaes, para palestras väs. <br />
+<br />
+<img src="images/fig07.png" width="290" height="304" alt="" class="right" />A Asia é outra coisa: a muitos propositos immersa ainda
+em barbarismo, se assim se quer dizer; com mil defeitos e mil
+erros, que a sabia Europa aponta a dedo e algumas vezes corrige,
+quando pode, com a logica dos seus conhoës de tiro rapido; o que
+ella retem ainda, indiscutivelmente, esta Asia, é o caracter
+ancestral, nada vulgar, nada rasteiro, palpitante de orgulhos de
+raça, aprazendo-se em sonhos e em chimeras, acariciando a lenda,
+divinizando as coisas, prodigalizando os cultos; o que é, em
+todo o caso, uma maneira amavel, de ir comprehendendo a vida. <br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div>
+<br />
+Oh, fé dos velhos tempos!...
+Oh, santos patriarchas
+de täo varios paizes
+e täo differentes seitas,
+tenazes campeöes, que fostes
+incutindo nos simples a
+crença, a esperança, o amor,&mdash;balsamos
+consoladores das duras miserias d'este mundo,&mdash;como
+eu vos amo, a
+todos!...
+<br />
+<span class="pagenum">[9]</span>
+Meus piedosos pensamentos elevam-se n'este momento a
+Darumá. Segundo a tradiçäo da gente japoneza, Darumá, o
+grande apostolo indiano do buddhismo, veio á China ahi pelo
+começo do seculo VI da nossa era christä, e em terras
+chinezas prégou em honra da verdade, illuminando o espirito
+dos povos. <br />
+<br />
+<img src="images/fig08.png" width="190" height="246" class="left" alt="" />Consta que, por voluntaria desistencia das ephemeras
+alegrias terreaes, Darumá votou-se
+a passar a vida de joelhos
+sobre o solo pedregoso, absorto em
+contemplaçöes mysticas, sem mesmo
+permittir-se o simples regalo de
+dormir. Tantos annos permaneceu
+de tal maneira, que as pernas se
+lhe gastaram, claro está; e é assim,
+sem pernas, só com a cabeça e
+com o tronco, envolto n'um manto
+carmezim, que ainda hoje é figurado.
+A imagem tronou-se querida e
+popular entre esta boa gente
+japoneza; é mesmo um brinquedo corriqueiro entre as mäositas das
+creanças,&mdash;os santos e os meninos vivem sempre em boa
+companhia;&mdash;lembrando
+o tal brinquedo o nosso <em>frade de sabugo</em>,
+pela teima em voltar, por mais voltas que lhe dêem, á sua postura
+habitual. Deve ainda saber-se que Darumá tem dado assumpto,
+desde remotos tempos até hoje, a pintores da mais alta valia;
+Hokusai foi um d'elles, pintando um famoso Darumá sobre uma
+folha de papel de cerca de duzentos metros quadrados de grandeza,
+empregando oitenta litros de tinta no desenho e servindo-se de
+cinco vassouras á laia de pinceis; estendida a tela sobre o campo,
+<span class="pagenum">[10]</span>
+no telhado de um templo a turba admirava a obra e applaudia o
+mestre. <br />
+<br />
+Mas voltêmos ao que aqui mais nos interessa, respeitante ao
+venerando vulto que invoquei, ajoelhado sobre as pedras. Consta
+mais que, em certa noite, as palpebras se lhe cerraram
+de fadiga, e o bom Darumá deixou-se adormecer, para só
+acordar pela manhä. Entäo, pedindo a alguem uma tesoira
+ou instrumento parecido, cortou a si proprio as palpebras
+indignas e arremeçou-as ao solo, n'um gesto de despeito...
+As palpebras, por milagre, erraizaram, dando nascença
+o a um gracioso arbusto nunca visto, que medrou mui
+de prompto e cujas folhas, tratadas de infusäo pela agua
+quente, fôram um remedio precioso contra o somno e contra
+o cançaço das vigilias. Estava conhecido o chá; tem pois
+na China a sua origem, e é coisa santa, como se acava de
+provar. Crê quem quer; mas devo advertir que este livro foi
+<span class="pagenum">[11]</span>
+escripto para os crentes. <br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig09.png" width="324" height="270" alt="" /><br />
+<br />
+<br />
+<big><big>*</big></big></div>
+<br />
+Da China, veio o chá para as terras de Nippon, mas näo se
+sabe quando.
+<br />
+<br /><img src="images/fig10.png" width="235" height="395" alt="" class="right" />Velhas chronicas mencionam
+(no dizer dos entendidos
+n'este caso melindroso),
+que em 729 da era Christä,
+durante uma festa religiosa
+de espavento, o imperador
+Shomu offerecia chá a
+bonzos de alta gerarchia;
+mas fica-se ignorando se já
+antes seria conhecido...
+Parece que um bom abbade
+buddista, Dengyo Daishi,
+foi o primeiro que obteve
+a planta em solo japonez,
+em 805; o chá era entäo
+já uma beberagem favorita
+entre os bonzos chinezes,
+que d'ella se serviam
+durante as vigilias prolongadas
+das suas praticas nocturnas. Mais recentemente, ainda
+outro, bonzo, Eisei, tendo ido á China, de lá voltou, trazendo
+as sementes preciosas, e no monte Sefuri, em Chikuzen, cuidou da
+sua sementeira. Pouco depois, ainda mais outro bonzo (sempre
+os bonzos!) de nome Mioyé, colhendo de Eisei os varios segredos
+de cultura, novas sementes adquiriu, e em Toga-no-o em Uji,
+<span class="pagenum">[12]</span>
+logares visinhos de Kyoto, attentamente se entreve em cultivar o
+chá; em Uji, de preferencia, fôram os resultados excellentes.
+Dois seculos depois, cerca de 1400, o shogun (generalissimo)
+Ashikawa Yoshimitsu imprimiu vigoroso impulso ás plantacôes
+de Uji, as quaes tanto fôram prosperando, mercê da riqueza do
+torräo, que de entäo até hoje o chá d'aquelle sitio tem sido
+celebrado como o melhor de todo o imperio; d'elle exclusivamente
+se serve o Imperador. <br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div>
+<br />
+O Japäo é a terra das camelias: <em>camelia japonica</em>, lá
+diz o
+latinorio dos botanicos.<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig11.png" width="434" height="258" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+Quando, por fins de novembro, começam os frios e as geadas
+e pouco tarda que as neves alvejem nos dorsos das montanhas,
+quando cessam as ultimas florescencias dos jardins, é entäo que
+comecam ostentando-se as bellas flores d'esta esplendida familia
+das camelias. Véem primeiro as sazankas, umas brancas, cutras
+roseas, de mimosissimas petalas frisadas; seguem-se as camelias
+<span class="pagenum">[13]</span>
+simples, sanguineas, surdindo da rama espessa de arvores gigantes,
+espalhadas pelos campos; e após véem as flores cuidadas, de luxo,
+variando em innumeras formas, variando em innumeros tons,
+desde o branco de leite ate ao roseo quasi negro. Entäo igualmente
+desabrocha a pequenina flôr do chá, que tambem é uma
+camelia, subtilmente perfumada, composta de cinco petalasinhas
+alvas contornando e protegendo o feixe aureo dos estames. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big>
+<br />
+<br />
+<br />
+<img src="images/fig12.png" width="342" height="262" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+Passando, em horas de ocio, junto dos campos de chá, dos
+quaes sinto prazer em acercar-me, palestro com os aldeöes e
+aprendo noçöes varias, respeitantes á delicada planta. Näo pode
+ser transplantada, nem se multiplica por estaca ou por enxerto,
+só por sementeira se propaga. Os paizes quentes, como os paizes
+frios, säo-lhe nocivos; prospera nos climas temperados, nos sitios
+lavados de ar e luz, visinhos dos cursos de agua, convindo
+um ligeiro declive ao solo de cultura. Os arbustos säo dispostos
+em renques parallelos, de norte a sul, para que o sol lhes bata
+em cheio desde pela manhä até á noite; as plantas mais cuidadas
+<span class="pagenum">[14]</span>
+reclamam na primavera grandes toldos de palha, que abriguem
+das geadas as tenras folhas dos rebentos. Durante o primeiro
+anno, dispensam adubos, que depois se applicam em periodos
+frequentes. A guerra aos vermes, aos insectos, exige zelos
+incessantes. No fim de quatro annos, já o arbusto se presta á
+primeira colheita; mas säo as velhas plantas, de cem annos, de
+duzentos annos, as que melhor produzem. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig13.png" width="380" height="252" alt="" />
+<br />
+<br />
+<br />
+<big><big>*</big></big></div>
+<br />
+<br />
+Quem quizer tomar conhecimento com a planta de chá, nas
+melhores condiçoës de prosperidade e em mais bellas galas de
+aspecto pittoresco, tem de ir até Uji, distante quinze milhas de
+Kyoto; escolhendo de preferencia um dos primeiros dîas de maio,
+quando os rebentos novos começam vicejando, o que marca o
+inicio da faina da colheita. Faina e festa: a povoaçäo inteira
+acorda da sua modorra provinciana; desperta em esperanças,
+em jubilos, em actividades incançaveis, para votar-se aos cuidados
+da preciosa folha; deverá presumir-se, em bom criterio, que a
+<span class="pagenum">[15]</span>
+quadra remoçante da primavera em flores, com aromas nas brisas
+e quenturas creadoras, constitue tambem um forte estimulo para
+a alegria repentina que se pinta nos rostos de toda aquella gente. <br />
+<br />
+O quadro é deveras aprazivel. Após uma banal estaçäo de
+linha ferrea, estende-se a cidadesinha garrida, com as suas viella
+muito limpas e a fila de lojinhas abarrotadas de varia mercancia.
+Depois segue-se o rio, de aguas limpidas e frescas, rico de
+tradiçöes de gloria; galga-se a ponte em arco, entra-se no
+bairro das <em>chayas</em>, dos hoteis, em tal quadra
+povoados de freguezes
+galhofeiros e de gentis mulheres, as <em>gueishas</em>, que
+cantam ou
+dedilham no inseparavel <em>shamicen</em>; e véem depois os
+campos,
+vastos campos de chá a succederem-se pelo horisonte fóra, cuidados
+como jardins, em longos alinhamentos de arbustos, copados,
+arredondados, lembrando enormes mangericos, de delicada rama
+de um verde esculro bronzeado; no azul distante, alguns famosos
+templos confusamente se recortam. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig14.png" width="442" height="308" alt="" /></div><br />
+<br />
+As moças de Uji estream <em>kimonos</em> novos para o caso,
+arregaçando
+<span class="pagenum">[16]</span>
+as mangas com fitas escarlates; amarram em turbante em
+volta dos cabellos toalhas de côr azul e branca; e assim, esbeltas,
+graciosissimas, em ranchos de dez, de doze companheiras,
+dirigem-se ao trabalho. É entäo um encanto para os olhos ir a
+gente surprehendel-as no afan do seu mister, dispersas pelas
+campinas fóra, como borboletas; indo de um ramo a outro ramo,
+de um arbusto a outro arbusto, por vezes occultando-se entre o
+verde mais denso da folhagem. Os dedos roseos, miudinhos, a
+escorrerem de orvalho e multiplicando-se em gestos delicados, väo
+colhendo os rebentos tenros do chá e atirando-os a grandes ceiras
+dispostas pelo chäo; as boccas väo sorrindo, patenteando as
+enfiadas alvas dos dentinhos; os olhos esbrazeam em juvenis
+amores inconfessados; as vozes unem-se ás vozes, em rythmos
+commoventes de velhas cançöes locaes: <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig15.png" width="262" height="340" alt="" /></div>
+<br />
+<span class="pagenum">[17]</span> <br />
+<br />
+<div class="poetry1">"Quando nasce o sol radioso</div>
+<div class="poetry">Por cima d'aquelle oiteiro,<br />
+Todas as aguas do rio<br />
+Parecem memo um brazeiro!...</div>
+<br />
+<div class="poetry1">"N'estas aguas do rio d'Uji</div>
+<div class="poetry">&mdash;Taö milagrosas que säo!&mdash;<br />
+Lavam-se todos os males<br />
+De que soffre o coraçäo...</div>
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig16.png" width="472" height="340" alt="" /></div><br />
+<br />
+No campo, as raparigas. Nas casas, os homens, as velhas, as
+creanças. Será rara a familia que näo tenha interesses na labuta;
+as grandes fabricas constituem excepçäo, como em todas as
+primitivas industrias japonezas; em cada albergue se improvisa uma
+manufactura, modesta, familial, onde todos trabalham, risonhos,
+<span class="pagenum">[18]</span>
+palestrando. O chá é escolhido, escaldado, posto a seccar, grelhado
+em fornos, enroladas as folhas ou reduzido pó, depois empacotado,
+guardado em latas, em caixas, em boiöes; um melindroso amanho
+que requer mäos incançaveis, dedos prestimosos, cuidados inauditos,
+segredos de processo, meticulosidades devotas que espantam os
+profanos, nas quaes collabora a gente toda valida d'aquelles
+arredores. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig17.png" width="534" height="354" alt="" />
+<br />
+<br />
+<br />
+<big><big>*</big></big></div>
+<br />
+<img src="images/fig18.png" width="350" height="631" alt="" class="right" />Tal é a industria graciosa e tal é o chá que os japonezes
+bebem. Vêde agora como a civilizaçäo occidental contrasta com
+os usos d'estes asiaticos. Téem os japonezes, para lá do Pacifico,
+um grande consumidor do seu producto: é o <em>Yankee</em>.
+Tanto
+mimo e tanto esmero na apanha da folha e preparoçöes que se
+<span class="pagenum"><a name="p19" id="p19">[19]</a></span>
+succedem näo
+bastariam
+para o chá que
+os americanos
+väo beber.
+Vem de Uji
+e <a href="#e1">de outros</a>
+pontos, tal
+como os japonezes
+o preparam, para
+as firmas estrangeiras
+de
+Kobe e de
+Yokohama; é
+entäo submetido
+a novas
+operaçöes, ao
+sabor do fino
+paladar de
+Nova-York e
+de Chicago.
+Näo säo agora
+as camponezas,
+esbeltas
+e trajando
+roupas novas,
+que acodem ao
+mister; trabalham
+machinas
+<span class="pagenum">[20]</span>
+a vopor, fumegam chaminés e guincham engrenagens; e occupa-se
+no preparo um mundo feminino inqualificavel, escoria das cidades,
+esfarrapado, piolhoso, horripilante, que a gente vê sahir das
+fabricas á tarde como uma leva de mendigas, cheias de pó, de
+pustulas, de miseria. O fabrico do chá ao gosto americano
+consiste n'um segundo aquecimento em grandes fornos e na
+addiçäo de varios productos, como o pó de uma certa pedra,
+<em>soopstone</em>,
+e o azul da Prussia. Assim é expedido. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div>
+<br />
+<br />
+<img src="images/fig19.png" width="276" height="208" alt="" class="left" />A introducçäo e vulgarisaçäo do chá na terra japoneza deveu
+grande incremanto uma industria desde remotos tempos exercida,
+mas toscamente praticada,&mdash;a ceramica,&mdash;que
+havia de alcançar com
+o correr dos tempos um supremo
+grau de perfeiçäo como arte nacional.
+A conservaçäo
+da preciosa
+folha, exigindo
+escrupulos
+inauditos
+para reter o
+seu perfume, marcou o ponto de partida. Foi Toshiro,
+um oleiro da aldeia de Seto, na provincia de Owari,
+quem fabricou os primeiros boiöes para guardar o chá, empregando
+processos que aprendera na China, respeitantes á perfeiçäo
+da pasta e dos esmaltes. Passava-se isto ha sete seculos; e é
+curioso registar que <em>seto-mono</em> (objecto de Seto) é
+ainda hoje o
+nome consagrado para indicar qualquer artigo de ceramica. <br />
+<br />
+Dos boiöes, passou-se gradualmente ás chavenas, aos bules, á
+gentil e complicada baixella que a infusäo foi reclamando e o
+<span class="pagenum">[21]</span>
+luxo pondo em moda; e ora aqui está como a ceramica no Japäo,&mdash;faiança
+ou porcellana,&mdash;que attingiu requintes de arte primorissima,
+deveu ao chá e á agua morna os seus melhores
+progressos. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div>
+<br />
+<br />
+Quando comecáram a tomar chá os japonezes, era este reduzido
+a um impalpavel pó e com elle se fazia a beberagem; depois veio
+o uso de empregar as folhas, apenas escolhidas e passadas pelos
+fornos; e é esta, ainda hoje, a maneira mais commum de preparal-o. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig20.png" width="496" height="410" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+No Japäo, toda a gente toma chá,&mdash;ricos e pobres, nobres e
+plebeus:&mdash;bebe-se na occasiäo das refeiçöes e a toda a hora, a
+<span class="pagenum">[22]</span>
+pequeninos golos. No lar, quando entra o visitante, offerecese-lhe,
+após as reverencias, uma almofada de regalo e uma
+chavena de chá. O mercador, quando quer se amavel com
+o freguez, serve-lhe antes de tudo uma chavena de chá, palestra,
+falla da chuva e do bom tempo; só mais tarde se trata do
+negocio. Nos templos famosos, em Kyoto por exemplo, o bonzo
+offerece chá ao peregrino antes de lhe mostrar as reliquias
+e os museus. Pelos caminhos mais agrestes, que väo serpeando
+pelas collinas arriba, ha rusticos poisos espaçados aqui e acolá,
+onde o caminheiro descança alguns minutos, bebe uma chavena de
+chá, troca um sorriso, deixando em retorno um cobre sobre a esteira.
+Um restaurante, na pittoresca linguagem japoneza, diz-se uma
+<em>chaya</em>,&mdash;que quer dizer&mdash;casa de chá.&mdash;De sorte que a
+chavena de
+<span class="pagenum"><a name="p23" id="p23">[23]</a></span>
+chá, que acompanha os <em>bons-dias</em> dados a quem chega,
+näo constitue
+simplesmente <a href="#e2">uma norma</a> rutineira, um habito banal,
+tornou-se como que o symbolo da doce hospitalidade japoneza, um
+rito da bonhomia d'esta gente, exercido religiosamente entre
+amigos, entre estranhos tambem, porque ao estranho, que larga á
+porta as sandalias, vem ao nosso lar e nos saúda, deve-se ja um
+sorriso e a sua parte de conforto. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig21.png" width="468" height="407" alt="" /><br />
+<br />
+<br />
+<big><big>*</big></big><br />
+<br />
+<br />
+<img src="images/fig22.png" width="468" height="336" alt="" /></div><br />
+<br />
+Na casa, nua de moveis, porem mimosa de aceios requintados,
+figura sempre o brazeiro sobre a esteira, enas brazas vae fervilhando
+a chaleira de ferro cheia de agua; o <em>bon</em> (uma
+bandeja)
+está cerca, contendo o bule, as cinco chavenas (cinco, porque?
+talvez por serem cinco os dedos em cada mäosinha japoneza), os
+<span class="pagenum"><a name="p24" id="p24">[24]</a></span>
+cinco pires de madeira ou de metal, o cofre de estanho contendo
+o chá em folhas e ainda o pequenino recipiente em porcellana
+chamado <em>yuzamashi</em>, cuja ordinaria serventia vae
+muito em
+breve conhecer-se. O sentimento artistico japonez deprava-se
+naturalmente <a href="#e3">na industria</a> de hoje, em grande parte com destino
+á exportaçäo para a Europa e para a America; é nos utensilios
+communs de uso indigena, onde näo intervem <a href="#e4">o modernismo</a>, que
+ainda reside o gosto esthetico, puro e inconfundivel, da gente
+japoneza, revelando por si o complicado conjuncto de esmeros, de
+elegancias, de chimeras, em que a alma d'este povo se deleita.
+No que respeita o serviço de chá, é innarravel a gentileza de todo
+este arsenal de bagatelas, minusculas, dando a impressäo de serem
+destinadas a um banquete de bonecas!... <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig23.png" width="346" height="208" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+A agua passa da chaleira para o <em>yuzamashi</em>, onde
+arrefece,
+pois é preceito fazer-se o chá com agua que ferveu, mas ja näo
+ferve; prepara-se depois no bule a infusäo, que é offerecida aos
+hospedes nas pequeninas taças de fina porcellana. <br />
+<br />
+Eis a singela practica e eis a modesta offerta, actos da vida
+intima näo poucas vizes repetidos durante cada dia, desde pela
+manhä até á noite. Poderiam julgar-se sem meritos que valessem
+<span class="pagenum">[24]</span>
+do estranho um instante de attençäo e um commentario; mas näo
+succede assim. Para a alegria dos olhos, a simples preparaçäo do
+chá imprime um relevo delicioso á graciosidade innata na
+<em>musumé</em>,
+na attitude que lhe é mais habitual, de joelhos sobre a esteira,
+junto do seu brazeiro. A mimica é impressiva, unica; privilegio
+d'aquella figurinha meiga e ondulante e d'aquella buliçosa mäo,
+de finissimos contornos, da japoneza, que é, em summa, a Eva
+mais gentilmente pueril, mais captivantemente chimerica, mais
+feminina emfim, de todas as Evas d'este mundo. Parece certo
+que jamais o japonez, que ignora o beijo, haja poisado a bocca
+n'aquella mäo que exhibe esplendores de graça para servir-lhe o
+chá; o forasteiro, em intimidade serena, pode ensaiar o galenteio se
+a phantasia o tenta; e entäo verá talvez, que a mäosita da
+<em>musumé</em>,
+reconhecida ao afago, se conchega de encontro aos labios, se
+demora, como uma rola
+<span class="pagenum"><a name="p26" id="p26">[26]</a></span>
+docil gulosa de carinhos. <br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig24.png" width="380" height="312" alt="" /><br />
+<br />
+<br />
+<big><big>*</big></big><br />
+<br />
+<br />
+<img src="images/fig25.png" width="494" height="382" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+O chá japonez, servido invariamente sem leite e sem assucar,
+que lhe prejudicariam o aroma, é a bebida mais suavemente
+agradavel que possa offerecer-se ao nosso paladar (näo de todos
+porem, ams um paladar sentimental, um tanto sonhador...
+que n'isto dos nossos orgäos de sentir ha temperamentos, aptidöes
+affectivas caracteristicas...). O <em>guyokuró</em>, por
+exemplo, que é
+o mais celebrado chá de Uji e de todo o Japäo, instilla taes subtilezas
+balsamicas de sabor, que mais parece um perfume; poderia
+dizer-se que uma maravilhosa alchimia conseguiu liquifazer os
+aromas <a href="#e5">de flores</a>&mdash;flores dos jardins, flores
+silvestres,&mdash;transferido
+do olphato ao paladar a impressäo do goso. Assim é o
+<em>guyokuró</em>;
+claro está que as palavras näo podem traduzir senäo por comparaçäo
+as emoçöes sentidas; e esta, a do agradoce deliciosissimo
+que nos fica nos labios, persistindo, como na memoria persiste uma
+reminiscencia, uma saudade, é imcomparavel... <br />
+<br />
+<span class="pagenum">[27]</span>
+O chá joponez tem a virtude de mitigar a sêde. Assi se
+explica o habito dos japonezes näo beberem agua; mesmo na força
+dos calores, em pleno agosto, a chavena de chá, saboreada a
+goles, lhes dá pleno consolo. Aponta-se-lhe mais outros condöes:
+excita ligeiramente o organismo, combate o cançaço das vigilias,
+predispöe ao bem estar, infiltra no cerebro näo sei que subtil
+embriaguez,
+lucida todavia, que nos torna mais affectivos ás sensaçöes
+de agrado e mais aptos ás elaboraçöes do pensamento <br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big><br />
+<br />
+<img src="images/fig26.png" width="414" height="290" alt="" /></div><br />
+<br />
+A maneira de preparar a infusäo do chá em pó e a arte de
+servil-o constituem a täo famosa cerimonia chamada do
+<em>chá-no-yu</em>.
+Foi assim que o uso do chá se introduzio no Japäo, como uma
+pratica liturgica dos frades buddhistas da seita de Daisu, exercida
+no proposito de prolongares as mysticas vigilhas preceituadas;
+servia ao mesmo tempo de pretexto para reuniöes
+intimas, que eram, imagina-se, um aprazivel desenfado á proverbial
+monotonia do convento; sendo um meio efficaz de estreitar laços
+<span class="pagenum">[28]</span>
+de estima, pelas confidencias segredadas, pelos sorrisos beatificos
+que se cruzavam, em quanto que a unica taça ia passando, de mäo
+em mäo, de bocca em bocca, fraternalmente, até a esvaziar. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig27.png" width="530" height="358" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+Mais tarde adoptou-se entre o povo o uso das folhas; mas
+o <em>chá-no-yu</em> persistiu nas bonzarias, propagando-se
+tambem nos
+costumes profanos, entäo com um exuberante luxo de apparato,
+que muito apaixonou a alta nobreza. Pelos dias que correm,
+ainda está em moda, sem distincçäo de classes; é um habito gentil
+que ficou dos velhos tempos e a que todos podem entregar-se,
+tido em valia pela delicadeza esthetica do scenario e ainda näo
+despido do prestigio ortodoxo que lhe vem da remota tradiçäo. <br />
+<br />
+O <em>chá-do-yu</em>, se pode definir-se, é a arte de
+preparar a
+infusäo do chá em pó, com esses escrupulos de limpeza, com esses
+requintes de elegancia de que só é capaz o japonez; sendo a bebida
+offerecida a alguns amigos de eleiçäo, a drede reunidos n'um
+recinto disposto para a paz do pensamento e para o agrado dos
+sentidos. <br />
+<br />
+<span class="pagenum">[29]</span>
+Bom é dizer agora que os codigos referenets a materia täo
+grave säo innumeros, diversas as escolas; e os grandes profissionaes,
+<em>chájin</em> (homens do <em>chá</em>), de
+celebridade immoredoira,
+centenas de volumes escreveram sobre o assumpto.
+<br />
+<br />
+<img src="images/fig28.png" width="396" height="486" alt="" class="left" />Tudo foi regulamentado e comporta um preceito, que näo é
+licito esquecer. Non tempos aureos do <em>chá-no-yu</em> o
+pavilhäo que
+recebia os hospedes era construido n'um jardin e obedecia a uma
+architectura inconfundivel. No seu arranjo interno, para a côr
+das paredes, para a disposiçäo de luz, para o numero das esteiras,
+para a jarra com flores ou com um ramo de arvore, havia praxes
+a seguir; o <em>kakemono</em> (quadro suspenso da parede)
+devia representar
+uma paizagem que fôsse impressionar a pupilla com
+carinho; ou antes uma simples sentença escripta por um pincel de
+mestre calligraphico, pois nada commove tanto a aguda sensibilidate
+d'esta gente como os seus caractéres de estranha construcçäo,
+cada um equivalendo já a uma synthese de ideas e predispondo,
+pela sentida contemplaçäo&mdash;ora
+por uma desenvoltura
+de traço, ora
+por uma ondulaçäo
+de curva,&mdash;ao vago
+discorrer da alma
+sonhadora...
+<span class="pagenum">[30]</span> <br />
+<br />
+<br />
+O plano do jardin submettia-se a regras determinadas, pelas
+quaes o engenho indigena se revelava em graças prodigiosas,
+aqui pelos contornos do lago e pelas pontesinhas que o cruzavam,
+alem pela escolha dos arbustos e das pedras, na intençäo ingenua
+e amorosa de impôr á vista a illusäo de uma paizagem rustica,
+reduzida a proporçöes minusculas. Mais do que isto: a alma das
+coisas, o que de inexplicavel e de subtil parece emanar de um
+conjuncto qualquer onde os olhos se poisem,&mdash;tranquillidade das
+sombras, arrogancia de um tronco, ternura das relvas...&mdash;devia
+resaltar suggestivamente do jardinsinho japonez, imprimir-lhe
+um caracter, uma philosophia, acordando na mentalidade
+dos visitantes um sentimento de paz, de triumpho, de saudade...
+Claro está que as flores de luxo, como as rosas, como as camelias,
+como as peonias, eram excluidas, por improprias da intençäo de
+quadro agreste dada á scena. <br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig29.png" width="436" height="324" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+Éra de estylo a monumental lanterna, tal como se encontra nos
+templos, de pedra, tanto mais valiora quanto mais esverdeada e roida
+de vetustos musgos, e espalhando pela noite vagas claridades coadas
+<span class="pagenum">[31]</span>
+pelas suas frestasinhas cobertas de papel; os japonezes deleitam-se
+em contemplar, após uma nevada, as amplas cupulas em unbella
+d'estas lanternas de templos e de jardins, receptaculos onde a neve
+poisa e se demora, em fofos vello de formas extravagantes, de
+deslumbrante alvura. Um outro accessorio se encontrava, cerca
+do pavilhäo: o pedaço de rocha bruta com uma pequena cavidade
+cheia de agua, onde os hospedes iam lavar as mäos antes de
+entrarem, como em purificaçäo liturgica. <br />
+<br />
+Até a linguagem empregada entre os convivas obedecia a
+regras de pragmatica: os assumptos de religiäo ou de politica
+eram banidos; a phrase devia modelar-se n'um agradavel discorrer,
+sem ferir melindres de ninguem. A cortezia impunha-se:
+preceituava-se que o hospede proferisse palavras de louvor pelo
+que via,&mdash;alfaias de serviço, arranjo do aposento, horisontes em
+volta,&mdash;mas sem insistencia em demasia, que poderia parecer
+pouco sincera ou pelo menos importuna.
+<br />
+<br />
+<img src="images/fig30.png" width="294" height="298" alt="" class="right" />Variadissimos objectos devem encontrar-se no aposento, como
+o brazeiro, o carväo
+de reserva contido
+n'um cestinho, a
+chaleira, o abano de
+pennas, o cachimbo,
+o tabaco, o pincel, o
+papel e a escrevaninha.
+Os artigos
+destinados particularmente
+ao chá,
+muitas vezes contidos
+n'um estojo
+especial, säo os seguintes:
+<span class="pagenum">[32]</span>
+a boceta com perfumes, que antes de tudo se
+lançam sobre as brazas e embalsamam o ambiente; a jarra
+com agua fria e a competente colher feita de um pedaço
+de bambu; o chá em pó n'am cofresinho de charäo e a
+colherinha adjunta; duas taças, de barro ou de porcellana,
+uma usada no veräo, de côr clara, e outra escura, usada
+no inverno; um curioso utensilio feito de finas lascas de
+bambu reunidas em feixe, com que se agita na chavena a mistura
+do chá em pó com a agua morna; finalmente a tigela onde se
+lavam e o pedaço de seda de
+finissimo tecido, com que se enxugam,
+as peças empregadas.
+<br />
+<br />
+É o dono da casa quem deve preparar o chá, solemnemente,
+prescindindo do mais ligeiro auxilio dos criados; é elle que
+o offerece aos convidados. A mäo executa setenta e cinco movimentos,
+n'um <em>chá-no-yu</em> havido por singelo... e trezentos,
+quandorequeridas todas as formalidade ortodoxas. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig31.png" width="412" height="196" alt="" />
+<br />
+<br />
+<br />
+<big><big>*</big></big></div><br />
+<br />
+No tempo do generalismo do Imperio, chamado Toyotomi
+Hideyoshi, mais conhecido na historia pelo grande Taiko-sama,
+quasi todos os genesaes eram <em>chajin</em>, isto é,
+ferventes apaixonados
+da ceremonia do <em>chá-no-yu</em>. Em 1585, o proprio
+Taiko-sama
+<span class="pagenum"><a name="p33" id="p33">[33]</a></span>
+<img src="images/fig32.png" width="308" height="332" alt="" class="right" />organisou um
+<em>chá-no-yu</em> colossal
+nas visinhanças
+de
+Kyoto, ainda
+hoje memorado
+como festa
+de inigualavel esplendor:
+uma <a href="#e6">extensäo</a>
+de quinze kilometros
+quadrados
+era occupada
+por
+innumeros kiosques, aonde os generaes preparavam o chá; todos,
+nobreza e plebe, os ricos e os mendigos,&mdash;um enxame humano!&mdash;tinham
+entrada; Hideyoshi visitou todos os poisos e por suas
+proprias mäos proparou chä, que offereceo aos chefes favoritos.
+<br />
+<br />
+Relembrando o passado, justamente n'um periodo de effervescencias
+guerreiras culminantes no Japäo, talvez pareça
+estranho, talvez pareça comico, que esses rudes heróis de täo
+grandes façanhas, os indomaveis veteranos das guerras na China
+e na Coréa, despissem armaduras, tirassem os dois sabres da
+cintura, para virem votar horas chimericas a aquecer a agua
+sobre brazas e a preparar o chä... Mas o contraste, por si,
+explica o facto: era precisamente essa dura existencia de batalhas
+e de lances sangrentos, de inclemencias de vida nomada, de
+longo cogitar em extratagemas e em argucias, que impunha aos
+<a href="#e7">homens</a> dirigentes a doce tregua do <em>chá-no-yu</em>. O
+convivio com
+os partidarios e os amigos, o desfilas do povo alegre a reverente,
+<span class="pagenum">[34]</span>
+a verde paizagem de repoiso, a solemnidade hypnotica dos gestos,
+tudo contribuia para offerecer um curto aprazimento áquella gente,
+que assim ia apagando da memoria os amorgores soffridos, estretando
+sympathias, retemperando forças para as proximas luctas.
+ <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big>
+<br />
+<br />
+<br />
+<img src="images/fig33.png" width="414" height="284" alt="" /></div><br />
+<br />
+O <em>chá-no-yu</em> attingiu depois, durante a longa paz da
+dynastia shogunal dos Tokugawa, uma epocha de exaggeros
+faustuosos, de dissipaçöes paradoxaes. Escolhiam-se as baixellas
+de entre objectos muitos antigos e firmados por um nome de
+fabricante prestigioso, e por isso rarissimos, preciosissimos; e
+estava entäo em moda offerecel-os, no momento das ruidosas
+despedidas, ás bellas companheiras do festim, que haviam com as
+suas guitarras, com as suas cançöes, com as suas graças profissionaes,
+enfeitiçando os hospedes... Sorveram-se fortunas
+n'este abysmo. <br />
+<br />
+<img src="images/fig34.png" width="298" height="280" alt="" class="right" />É de entäo que se conta que um amador empregou n'um
+<em>chá-no-yu</em> utensilios no valor de trinta e oito mil
+yens, o que
+<span class="pagenum">[35]</span>
+passa de quatro
+mil libras esterlinas;
+um outro
+adquiria por
+trinta mil yens
+um só boiäo de
+chá!...
+<br />
+<br />
+Ha cerca
+de tres ou quatro
+annos, em
+um leiläo de
+Tokyo, um japonez
+comprou por tres mil yens uma chavena de <em>chá-no-yu</em>;
+prova isto que ainda ha devotos <em>chajin</em>
+presentemente. Com
+effeito, se o luxo sem limites que caracterizou o
+<em>chá-no-yu</em> dos
+bons tempos feudaes desappareceu para sempre com a mudança
+de regimen e com a mudança de costumes, continuou todovia esta
+elegante pratica merecendo uma alta estima. Hoje, os dois sexos
+a ella se dedicam, e pode affirmar-se que faz parte da boa
+educaçäo de uma menina, exigindo uns seis ou sete annos a sua
+aprendizagem. As <em>gueishas</em> tambem se instruem em tal
+culto;
+as celebres danças primaveraes da cidade de Kyoto, conhecidas
+pela denominaçäo de <em>Miyako-odori</em>, säo sempre
+precedidas do <em>chá-no-yu</em>,
+em que é officiante uma das mais gentil <em>gueishas</em> do
+logar; e a multidäo acode, com devota deligencia, a saborear o
+perfumado chá. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div>
+<br />
+<br />
+<img src="images/fig35.png" width="254" height="482" alt="" class="right" />Näo me peçam agora, a mim, profano na materia e viageiro
+fatigado de täo multiplices impressöes que tenho vindo colhendo
+<span class="pagenum">[36]</span>
+por este mundo fóra, uma opiniäo pessoal sobre o
+<em>chá-no-yu</em>.
+Estive uma vez, é certo, com dois ou tres amigos, em uma das
+<em>chayas</em> de mais fama
+da cidade de Kobe;
+e Tama-Guiku (o
+Malmequer-Precioso)
+era a esplendida sacerdotiza
+da cerimonia.
+A impressäo que
+d'aquella noite guardo
+é indefinida, fugidia,
+como de um vago sonho
+que tivesse. Ficaram-me
+reminiscencias indecisas
+do luxo sombrio
+e harmonioso e do
+aceio extremo das
+coisas impregnadas de
+exotismo onde poisou
+o meu olhar. Na
+meia luz do placido
+aposento, amplo e silencioso
+como um templo,
+contornava-se, distante,
+um vulto de
+mulher, de joelhos, envolta em sedas magnificas. As attencöes
+fixavam-se especialmente, como que por attracçäo hypnotica,
+nas suas mäos finissimas, alvejando no espaço
+como se fossem de marfim, tomando de estranhos utensilios,
+preparando näo sei que filtro de magia, poisando
+<span class="pagenum"><a name="p37" id="p37">[37]</a></span>
+em mimicas hieraticas, quaes mäos de mystica officiante de uma
+religiäo desconhecida. Por fim, convidado a partilhar no
+sacrificio, acceitava uma taça com chá que me era offerecida
+e levava-a aos labios commovido, com näo sei que subitos
+escrupulos de apostata mal firme... <br />
+<br />
+Tama-Guiku concluira. Ergueu-se, deslumbrante de graças,
+de atavios, de magestade. O seu rostinho meigo illuminava-se entäo
+da exaltaçäo beatifica que lhe electrizava o espirito; dirigiu
+sobre nós a ardencia negra dos seus olhos, saudou-nos reverente...
+reverente, näo porque uma imfima cortezia sequer lhe
+merecessemos,&mdash;pobres occidentais ignaros!&mdash;mas em estricta
+abediencia aos preceitos rituaes; e <a href="#e8">desappareceu</a> da scena. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div>
+<br />
+<br />
+A proposito d'estas divagaçöes respeitantes ao chá e ao seu
+culto, vem-me agora ao pensamento e ainda me compunge um
+dramatico episodio da existencia intima japoneza, que contado
+me foi ha cerca de tres annos. Vou tentar descrevel-o. <br />
+<br />
+Éra no fim de maio. Eu achava-me em Kobe. Um meu
+amigo japonez, <em>chajin</em> apaixonado, partira para Uji,
+onde devia
+assistir a umas costumadas reuniöes votadas ao
+<em>chá-no-yu</em>, em
+casa de um parente, cuja filha, a gentilissima O-Hana, era
+eximia na arte; entre nós ficára combinado que eu iria encontral-o,
+passadas tres semanas, em Nara, a cujos velhos monumentos
+queriamos votar horas de estudo. <br />
+<br />
+Haviam decorrido apenas uns tres dias, quando do tal
+sujeito recebi um bilhete, pouco mais ou menos n'estes termos:&mdash;"Pode
+seguir para Nara, onde me encontrará. Falhou o
+<em>chá-no-yu</em>.
+O-Hana suicidou-se. Pesava sobre ella uma desdita igual
+<span class="pagenum"><a name="p38" id="p38">[38]</a></span>
+á pobre Hichi da lenda..."&mdash; <br />
+<br />
+Ora, eu conhecia O-Hana; e a lenda, que por signal
+constitue o thema de uma notavel peça de theatro, näo me era de
+todo estranha. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div>
+<br />
+<br />
+Vamos por partes. A lenda é como segue. <br />
+<br />
+Näo sei ha quantos seculos e nem sei em que logar,&mdash;nem
+importa sabel-o,&mdash;havia em certa rua dois estabelecimentos
+de negocio, dos que se chamam <em>Yaoya</em> em
+lingua do paiz, onde se vemdem variadas provisöes,&mdash;fructos,
+legumes, hortaliças, ovos, peixe e muitas coisas mais.&mdash;Defrontavam
+um com o outro. N'um, habitava certo casal com uma
+filha unica, O-Hichi; n'outro, um outro casal com um só filho,
+Kichisa. Quiz a mofina sorte que se enamorassem um do outro. <br />
+<br />
+Mofina sorte? Sim, embora, á primeira vista, näo seja o caso
+concebivel, quando se saiba que ambos eram jovens, gentis e
+animados de doces enternecimentos amorosos. Eu me explico
+todavia. Os velhos codigos nipponicos, ainda hoje respeitados,
+impöem aos filhos o preceito de herdarem o <a href="#e9">appellido</a> de seus paes;
+o filho mais velho herda a mais o encargo de chefe de familia,
+com a administraçäo dos bens e a superintendencia no culto
+piedoso devido aos parentes fallecidos. É por este processo que
+as genealogias näo offerecem mysterios e as familias se eternizam,
+conservando religiosamente o mesmo <a href="#e9">appellido</a> durante seculos
+sem conto; cessando apenas no caso excepcional de todos os
+descendentes acabarem, consanguineos ou näo, pois é de uso
+corrente chamar ao lar, por adopçäo, filhos alheios. O filho
+unico pode certamente casar, e a esposa recebe o appellido do
+marido. A filha unica pode igualmente casar e entäo o esposo
+<span class="pagenum"><a name="p39" id="p39">[39]</a></span>
+recebe o appellido da mulher. Está-se agora percebendo como
+para O-Hichi e Kichisa o problema se complicava em demazia,
+por serem ambos filhos unicos. Um meio só se apresentava, o de
+uma <a href="#e10">das familias</a> adoptar um filho estranho, sobre quem
+recahissem os encargos de <a href="#e11">uma supposta</a> primogenitude. Mas o
+alvitre era quasi impraticavel, por aquelles tempos feudaes que
+iam correndo, dependendo da sancçäo suprema do daimyô, que
+a negaria, por ser o caso novo; sem já contar com o orgulho
+revoltado dos paes da noiva, ou dos paes do noivo, da familia
+emfim que, para evitar de ser extincta, tivesse de investir um
+filho alheio nos deveres que competem ao legitimo. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig36.png" width="518" height="248" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+É certo que as duas familias se oppozeram com toda a vehemencia
+a taes amores, e a casa se transformou para O-Hichi em duro
+encerro e a estima dos seus em aggressöes continuas. Foi entäo
+que a pobre <em>musumé</em>, captiva n'uma alcova,
+desesperada, louca
+de amores, meditou em pôr fogo ao seu lar de tormentos, na
+crença de que as chammas lhe trariam a liberdade e o ensejo de
+reunir-se áquelle a quem votara todo o seu affecto. Errou porem
+nos calculos, como succede tantas vezes quando se tem quinze
+annos e o pensamento voêja no mundo das chimeras: descoberto
+o seu crime apenas posto em pratica, foi trazida á justiça da
+<span class="pagenum">[40]</span>
+cidade e condemnada á morte. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig37.png" width="480" height="432" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+Vem agora a proposito narrar um pormenor curioso, que é
+de toda a tragedia o que mais me enternece. A misera seguia,
+conforme o estylo, pelas ruas populosas, amarrada ao dorso de
+uma besta, para ignominia propria e para licçäo do povo; mais
+tarde seria executada. A meio da jornada expiatoria, os seus
+longos cabellos soltos, como até entäo eram usados, cahiam-lhe
+em desalinho sobre a fronte, cheios da poeira dos caminhos,
+escorrendo de suor, fustigando-lhe as faces. Entäo, ou porque
+quizesse poupar-se a um tormento a mais, ou&mdash;quem sabe?&mdash;por
+um resto de garridice deminia, viram-n'a rasgar com
+<span class="pagenum">[41]</span>
+os bellos dedos tremulos um pedaço da seda carmezim do
+forro do vestido, com quem amarrou junto á nuca, erguendo os
+braços, esses pobres cabellos... A idea pareceu graciosa ás
+raparigas, que se iam juntando em grupos curiosos para
+observarem o cortejo; e desde entäo as japonezas começaram de
+usar aquelle enfeite, que persiste até hoje e a que chamam
+<em>kikidashi</em>&mdash;litteralmente: farrapo&mdash;em memoria de
+O-Hichi, a
+triste namorada de Kichisa... <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig38.png" width="390" height="330" alt="" />
+<br />
+<br />
+<br />
+<big><big>*</big></big></div><br />
+<br />
+Mas vamos depressa ao fim da historia. <br />
+<br />
+Quando em Nara deparei com o meu amigo japonez, o
+triste fim de O-Hana esclareceu-se em breve. <br />
+<br />
+Havia em Uji duas familias abastadas, Fukumoto e Yamaguchi,
+possuindo as mais bellas culturas de chá d'aquelles campos.
+Os Fukumoto juravam que o seu chá éra o melhor de todo o
+Imperio, e os Yamaguchi diziam do seu chá a mesma coisa;
+eram no fim de contas uns caturras, professando um supino
+<span class="pagenum">[42]</span>
+orgulho do seu nome e um culto pelo mister a que se davam;
+alem d'isto, ou por isto, pouco affeiçoados entre si, confirmando a
+justiça d'aquelle ditado portuguez, com curso em todas as
+longitudes do planeta... <em>dos officiaes do mesmo
+officio</em>. <br />
+<br />
+O casal Fukumoto tinha um filha unica, O-Hana; o casal
+Yamaguchi tinha um unico filho, Naotarô. Este era um perfeito
+rapazola, amavel, intelligente, segundo affirma quem o viu. O-Hana
+era uma <em>musumé</em> em plena flôr da vida, educada em
+todos
+as gentis prendas do seu sexo. Ninguem como ella desprendia
+suavissimos sons do <em>koto</em>, a harpa nacional; nenhumas
+mäos se
+mostravam täo habeis de pinheiro ou de lirios floridos trazidos do
+jardim; no <em>chá-no-yu</em> era incomparavel. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig39.png" width="506" height="418" alt="" /></div>
+<br />
+<span class="pagenum">[43]</span> <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig40.png" width="412" height="314" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+Eu vi O-Hana uma só vez, nos parques de Kyoto, quando
+em peregrinaçäo primaveral se vae contemplar, á luz da lua, a
+celebre cerejeira de Guion, toda vestida de pequeninas petalas. <br />
+<br />
+O-Hana éra uma d'essas japonezinhas embebidas de enlevo
+e de exotismo, taes como vós as conheceis dos leques, dos biombos.
+Isto basta, á falta de melhor, para definir-lhe o vulto em miniatura,
+esguio e ondulante, coberto de sedas preciosas; e para imaginar-lhe
+o rosto pallido em forma de pevide de meläo, os olhinhos
+cerrados, os finos traços das sobrancelhas em viez, a boquinha
+sorridente, rubra, lembrando uma cereja, e o penteado... o
+penteado colossal como uma enorme borboleta de azeviche, que
+lhe houvesse pousado, de azas abertas, sobre a nuca. Ria,
+curvava-se em mesuras, em meneios, agitando no ar as descommunaes
+mangas do <em>kimono</em>; e lá ia seguindo o seu caminho
+entre
+um bando de amigas, antes ziquezagueando, a passos miudinhos,
+indécisos, sem intuito. E eu ia pensando que alli estava, em
+carne e osso, a companheira deliciosissima, anjo de graças e
+fada de sorrisos, para quem podesse offerecer-lhe&mdash;japonez
+claramente,&mdash;uma
+<span class="pagenum">[44]</span>
+casinha de papel em extremos de limpeza, com
+duas esteiras sobre o chäo, um bule com chá, um prato com
+confeitos, uma jarra com ramos vicejantes; e á frente o
+jadinsinho,&mdash;bambus
+tufados, azaleas em flor, pedras musgosas, o
+pequinono lago, onde peixes vermelhos nadassem pachorrentos e
+räs coaxassem em noites estivaes...&mdash; <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig41.png" width="460" height="320" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+O-Hana e Naotarô amaram-se.. Näo se sabe porque.
+Porque eram ambos jovens, visinhos, conhecidos; e em circunstancias
+semelhantes a juventude attrahe a juventude... <br />
+<br />
+Quando esta inclinaçäo foi conhecida, as duas familias
+irromperam em näo dissimulados azedumes. O casamento era
+impossivel. Se a adopçäo de um filho alheio podia resolver
+em theoria o problema, quem vinha sujeitar-se ao sacrificio? Os
+Yamaguchi? Os Fukumoto? Mas nem uns nem outros, com
+os diabos!... Os nomes das duas familias, procedentes de
+uma linhagem täo remota que em väo se tentaria investigar-lhes
+<span class="pagenum"><a name="p45" id="p45">[45]</a></span>
+a origem, gosavam em todo o Imperio de um prestigo inconfundivel,
+conquistado durante annos sem conto pela pobidade
+mercantil dos seus negocios, <a href="#e12">pela excellencia</a> do chá da sua
+lavra, pela nobre chientela nos castelos; podendo apenas pôr-se em
+duvida, se o chá dos Yamaguchi preferival ao chá dos Fukumoto.
+Ora,&mdash;mercê de um capricho de estouvados,&mdash;investir, por uma
+adopçäo do acaso, um estranho na posse de tal nome, e ungil-o
+dos <a href="#e13">nobres encargos</a> que competem a um futuro chefe de
+familia&mdash;Fukumoto
+ou Yamaguchi,&mdash;nem por brincadeira se propunha!...
+Que O-Hana e Naotarô se casassem, intendia-se; era
+esse mesmo o seu dever, de perpetuar pela prole os nomes dos
+avós; mas confiassem no bom tacto dos paes, que saberiam escolher-lhes
+noivos do seu agrado e em condiçöes de näo virem
+parturbar a paz das familias e ferir o amor das tradiçöes. <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig42.png" width="414" height="276" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+Muito bem. Quando os dois namorados se convenceram da
+impossibilidade de viverem um para outro, tiveram certa noite
+uma furtiva entrevista á beira do Ujigawa, a pittoresca ribeira,
+que entäo serpeava em grande cheia de aguas, resultado das
+ultimas chuvas copiosas. Deram-se as mäos, parece; sorriam-se
+um para o outro; näo se sabe o que segredaram entre si, porque
+<span class="pagenum">[46]</span>
+ninguem esta alli para os ouvir... <br />
+<br />
+Quando, ao romper do dia, as moças de Uji seguiam para a
+apanha do chá, em ranchos galhofeiros, quedaram-se de repente
+junto ao rio, cheias do espanto, de pavor, vendo a boiar dois
+corpos detidos na maranha dos juncos, rigidos, lividos, mortos,
+porem sorrindo ainda e dando-se ainda as mäos... <br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><big><big>*</big></big></div>
+<br />
+<div class="dots"></div><br />
+<div class="poetry1">
+"N'estas aguas do rio d'Uji, <br />
+&mdash;Täo milagrosas que säo!&mdash; <br />
+Lavam-se todos os males <br />
+De que soffre o coraçäo...
+</div><br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig43.png" width="382" height="460" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+<br />
+<div style="text-align: center"><img src="images/fig44.png" width="550" height="815" alt="" /></div>
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<div class="fbox">
+<h2>Lista de erros corrigidos</h2>
+<div style="text-align: center;">Aqui encontram-se
+listados todos os erros encontrados e corrigidos:</div>
+<br />
+<br />
+<table style="width: 80%; text-align: left; margin-left: auto; margin-right: auto;" border="0" cellpadding="4" cellspacing="4">
+ <tbody>
+ <tr align="right">
+ <td style="width: 61px;"></td>
+ <td style="font-weight: bold; text-align: center; width: 121px;">Original</td>
+ <td style="text-align: center; width: 5px;"> </td>
+ <td style="font-weight: bold; text-align: center; width: 135px;">Correcção</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e1" id="e1" href="#p19">#pág. 19</a></td>
+ <td style="text-align: center;">do outros</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">de outros</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e2" id="e2" href="#p23">#pág. 23</a></td>
+ <td style="text-align: center;">ama norma</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">uma norma</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e3" id="e3" href="#p24">#pág. 24</a></td>
+ <td style="text-align: center;">ua industria</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">na industria</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e4" id="e4" href="#p24">#pág. 24</a></td>
+ <td style="text-align: center;">a modernismo</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">o modernismo</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e5" id="e5" href="#p26">#pág. 26</a></td>
+ <td style="text-align: center;">da flores</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">de flores</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e6" id="e6" href="#p33">#pág. 33</a></td>
+ <td style="text-align: center;">exteusäo</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">extensäo</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e7" id="e7" href="#p33">#pág. 33</a></td>
+ <td style="text-align: center;">homeus</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">homens</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e8" id="e8" href="#p37">#pág. 37</a></td>
+ <td style="text-align: center;">desappaeceu</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">desappareceu</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e9" id="e9" href="#p38">#pág. 38</a></td>
+ <td style="text-align: center;">appelldo</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">appellido</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e10" id="e10" href="#p39">#pág. 39</a></td>
+ <td style="text-align: center;">dos familias</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">das familias</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e11" id="e11" href="#p39">#pág. 39</a></td>
+ <td style="text-align: center;">umo supposta</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">uma supposta</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e12" id="e12" href="#p45">#pág. 45</a></td>
+ <td style="text-align: center;">pela excellencias</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">pela excellencia</td>
+ </tr>
+ <tr>
+ <td style="text-align: right;"><a name="e13" id="e13" href="#p45">#pág. 45</a></td>
+ <td style="text-align: center;">nobre encargos</td>
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+ <td style="text-align: center;">nobres encargos</td>
+ </tr>
+ </tbody>
+</table>
+<br />
+<br />
+<br />
+</div>
+</div>
+
+
+
+
+
+
+
+<pre>
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of O culto do chá, by
+Wenceslau José de Sousa de Morais
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK O CULTO DO CHÁ ***
+
+***** This file should be named 37879-h.htm or 37879-h.zip *****
+This and all associated files of various formats will be found in:
+ https://www.gutenberg.org/3/7/8/7/37879/
+
+Produced by Rita Farinha (This file was produced from
+images generously made available by the Almamater
+(Univeridade de Coimbra / Coimbra University) at
+http://http://almamater.uc.pt
+
+
+Updated editions will replace the previous one--the old editions
+will be renamed.
+
+Creating the works from public domain print editions means that no
+one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
+(and you!) can copy and distribute it in the United States without
+permission and without paying copyright royalties. Special rules,
+set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
+copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
+protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project
+Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
+charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you
+do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
+rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose
+such as creation of derivative works, reports, performances and
+research. They may be modified and printed and given away--you may do
+practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is
+subject to the trademark license, especially commercial
+redistribution.
+
+
+
+*** START: FULL LICENSE ***
+
+THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
+PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK
+
+To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
+distribution of electronic works, by using or distributing this work
+(or any other work associated in any way with the phrase "Project
+Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
+Gutenberg-tm License (available with this file or online at
+https://gutenberg.org/license).
+
+
+Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
+electronic works
+
+1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
+electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
+and accept all the terms of this license and intellectual property
+(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all
+the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
+all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
+If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
+Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
+terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
+entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.
+
+1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be
+used on or associated in any way with an electronic work by people who
+agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few
+things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
+even without complying with the full terms of this agreement. See
+paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project
+Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
+and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
+works. See paragraph 1.E below.
+
+1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
+individual work is in the public domain in the United States and you are
+located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
+copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
+works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
+are removed. Of course, we hope that you will support the Project
+Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
+freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
+this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
+the work. You can easily comply with the terms of this agreement by
+keeping this work in the same format with its attached full Project
+Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.
+
+1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern
+what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in
+a constant state of change. If you are outside the United States, check
+the laws of your country in addition to the terms of this agreement
+before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
+creating derivative works based on this work or any other Project
+Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning
+the copyright status of any work in any country outside the United
+States.
+
+1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg:
+
+1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate
+access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
+whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
+phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
+Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
+copied or distributed:
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
+from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
+posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
+and distributed to anyone in the United States without paying any fees
+or charges. If you are redistributing or providing access to a work
+with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
+work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
+through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
+Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
+1.E.9.
+
+1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
+with the permission of the copyright holder, your use and distribution
+must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
+terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked
+to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
+permission of the copyright holder found at the beginning of this work.
+
+1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
+License terms from this work, or any files containing a part of this
+work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.
+
+1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
+electronic work, or any part of this electronic work, without
+prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
+active links or immediate access to the full terms of the Project
+Gutenberg-tm License.
+
+1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary,
+compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
+word processing or hypertext form. However, if you provide access to or
+distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
+"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
+posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
+you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
+copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
+request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
+form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
+License as specified in paragraph 1.E.1.
+
+1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
+performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
+unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.
+
+1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing
+access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
+that
+
+- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
+ the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
+ you already use to calculate your applicable taxes. The fee is
+ owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
+ has agreed to donate royalties under this paragraph to the
+ Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments
+ must be paid within 60 days following each date on which you
+ prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
+ returns. Royalty payments should be clearly marked as such and
+ sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
+ address specified in Section 4, "Information about donations to
+ the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."
+
+- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
+ you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
+ does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
+ License. You must require such a user to return or
+ destroy all copies of the works possessed in a physical medium
+ and discontinue all use of and all access to other copies of
+ Project Gutenberg-tm works.
+
+- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
+ money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
+ electronic work is discovered and reported to you within 90 days
+ of receipt of the work.
+
+- You comply with all other terms of this agreement for free
+ distribution of Project Gutenberg-tm works.
+
+1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
+electronic work or group of works on different terms than are set
+forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
+both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
+Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the
+Foundation as set forth in Section 3 below.
+
+1.F.
+
+1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
+effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
+public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
+collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
+works, and the medium on which they may be stored, may contain
+"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
+corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
+property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
+computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
+your equipment.
+
+1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
+of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
+Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
+Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
+liability to you for damages, costs and expenses, including legal
+fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
+LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
+PROVIDED IN PARAGRAPH 1.F.3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
+TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
+LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
+INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
+DAMAGE.
+
+1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
+defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
+receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
+written explanation to the person you received the work from. If you
+received the work on a physical medium, you must return the medium with
+your written explanation. The person or entity that provided you with
+the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
+refund. If you received the work electronically, the person or entity
+providing it to you may choose to give you a second opportunity to
+receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy
+is also defective, you may demand a refund in writing without further
+opportunities to fix the problem.
+
+1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth
+in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
+WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
+WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.
+
+1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied
+warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
+If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
+law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
+interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
+the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any
+provision of this agreement shall not void the remaining provisions.
+
+1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
+trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
+providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
+with this agreement, and any volunteers associated with the production,
+promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
+harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
+that arise directly or indirectly from any of the following which you do
+or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
+work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
+Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.
+
+
+Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm
+
+Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
+electronic works in formats readable by the widest variety of computers
+including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
+because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
+people in all walks of life.
+
+Volunteers and financial support to provide volunteers with the
+assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
+goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
+remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
+and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
+
+
+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
+Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
+number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
+https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
+permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
+
+The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
+Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
+throughout numerous locations. Its business office is located at
+809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
+business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact
+information can be found at the Foundation's web site and official
+page at https://pglaf.org
+
+For additional contact information:
+ Dr. Gregory B. Newby
+ Chief Executive and Director
+ gbnewby@pglaf.org
+
+
+Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation
+
+Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
+spread public support and donations to carry out its mission of
+increasing the number of public domain and licensed works that can be
+freely distributed in machine readable form accessible by the widest
+array of equipment including outdated equipment. Many small donations
+($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
+status with the IRS.
+
+The Foundation is committed to complying with the laws regulating
+charities and charitable donations in all 50 states of the United
+States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
+considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
+with these requirements. We do not solicit donations in locations
+where we have not received written confirmation of compliance. To
+SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
+particular state visit https://pglaf.org
+
+While we cannot and do not solicit contributions from states where we
+have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
+against accepting unsolicited donations from donors in such states who
+approach us with offers to donate.
+
+International donations are gratefully accepted, but we cannot make
+any statements concerning tax treatment of donations received from
+outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
+
+Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
+methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
+ways including including checks, online payments and credit card
+donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate
+
+
+Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
+works.
+
+Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
+concept of a library of electronic works that could be freely shared
+with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
+Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
+
+
+Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
+editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
+unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
+keep eBooks in compliance with any particular paper edition.
+
+
+Most people start at our Web site which has the main PG search facility:
+
+ https://www.gutenberg.org
+
+This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
+including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
+Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
+subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.
+
+
+</pre>
+
+</body>
+</html>
diff --git a/37879-h/images/fig01.png b/37879-h/images/fig01.png
new file mode 100644
index 0000000..7050fb2
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig01.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig02.png b/37879-h/images/fig02.png
new file mode 100644
index 0000000..634c76b
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig02.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig03.png b/37879-h/images/fig03.png
new file mode 100644
index 0000000..548dd62
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig03.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig04.png b/37879-h/images/fig04.png
new file mode 100644
index 0000000..750e807
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig04.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig05.png b/37879-h/images/fig05.png
new file mode 100644
index 0000000..292501e
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig05.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig06.png b/37879-h/images/fig06.png
new file mode 100644
index 0000000..b63c037
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig06.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig07.png b/37879-h/images/fig07.png
new file mode 100644
index 0000000..2323d7e
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig07.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig08.png b/37879-h/images/fig08.png
new file mode 100644
index 0000000..dd2ad5b
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig08.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig09.png b/37879-h/images/fig09.png
new file mode 100644
index 0000000..f63aeac
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig09.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig10.png b/37879-h/images/fig10.png
new file mode 100644
index 0000000..37efd96
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig10.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig11.png b/37879-h/images/fig11.png
new file mode 100644
index 0000000..a82da00
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig11.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig12.png b/37879-h/images/fig12.png
new file mode 100644
index 0000000..6b9bb6c
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig12.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig13.png b/37879-h/images/fig13.png
new file mode 100644
index 0000000..ff33d9c
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig13.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig14.png b/37879-h/images/fig14.png
new file mode 100644
index 0000000..f456460
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig14.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig15.png b/37879-h/images/fig15.png
new file mode 100644
index 0000000..e5fd0eb
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig15.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig16.png b/37879-h/images/fig16.png
new file mode 100644
index 0000000..12bf810
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig16.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig17.png b/37879-h/images/fig17.png
new file mode 100644
index 0000000..34a1911
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig17.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig18.png b/37879-h/images/fig18.png
new file mode 100644
index 0000000..aa99914
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig18.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig19.png b/37879-h/images/fig19.png
new file mode 100644
index 0000000..2c6d1be
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig19.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig20.png b/37879-h/images/fig20.png
new file mode 100644
index 0000000..d1bad2c
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig20.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig21.png b/37879-h/images/fig21.png
new file mode 100644
index 0000000..28dd8f9
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig21.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig22.png b/37879-h/images/fig22.png
new file mode 100644
index 0000000..131b7a4
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig22.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig23.png b/37879-h/images/fig23.png
new file mode 100644
index 0000000..6ef8b1d
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig23.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig24.png b/37879-h/images/fig24.png
new file mode 100644
index 0000000..6bba1b4
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig24.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig25.png b/37879-h/images/fig25.png
new file mode 100644
index 0000000..b90a9e7
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig25.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig26.png b/37879-h/images/fig26.png
new file mode 100644
index 0000000..f034020
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig26.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig27.png b/37879-h/images/fig27.png
new file mode 100644
index 0000000..83f05cd
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig27.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig28.png b/37879-h/images/fig28.png
new file mode 100644
index 0000000..c18c8a1
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig28.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig29.png b/37879-h/images/fig29.png
new file mode 100644
index 0000000..ddeff78
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig29.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig30.png b/37879-h/images/fig30.png
new file mode 100644
index 0000000..e74ddbc
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig30.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig31.png b/37879-h/images/fig31.png
new file mode 100644
index 0000000..7e470d6
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig31.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig32.png b/37879-h/images/fig32.png
new file mode 100644
index 0000000..670f30b
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig32.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig33.png b/37879-h/images/fig33.png
new file mode 100644
index 0000000..24647e2
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig33.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig34.png b/37879-h/images/fig34.png
new file mode 100644
index 0000000..15a1b5b
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig34.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig35.png b/37879-h/images/fig35.png
new file mode 100644
index 0000000..34b5714
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig35.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig36.png b/37879-h/images/fig36.png
new file mode 100644
index 0000000..d9d8b9c
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig36.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig37.png b/37879-h/images/fig37.png
new file mode 100644
index 0000000..0f94f03
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig37.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig38.png b/37879-h/images/fig38.png
new file mode 100644
index 0000000..019b2c3
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig38.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig39.png b/37879-h/images/fig39.png
new file mode 100644
index 0000000..033ff98
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig39.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig40.png b/37879-h/images/fig40.png
new file mode 100644
index 0000000..4429700
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig40.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig41.png b/37879-h/images/fig41.png
new file mode 100644
index 0000000..312a216
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig41.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig42.png b/37879-h/images/fig42.png
new file mode 100644
index 0000000..0c1c520
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig42.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig43.png b/37879-h/images/fig43.png
new file mode 100644
index 0000000..2243833
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig43.png
Binary files differ
diff --git a/37879-h/images/fig44.png b/37879-h/images/fig44.png
new file mode 100644
index 0000000..d7f24ef
--- /dev/null
+++ b/37879-h/images/fig44.png
Binary files differ
diff --git a/LICENSE.txt b/LICENSE.txt
new file mode 100644
index 0000000..6312041
--- /dev/null
+++ b/LICENSE.txt
@@ -0,0 +1,11 @@
+This eBook, including all associated images, markup, improvements,
+metadata, and any other content or labor, has been confirmed to be
+in the PUBLIC DOMAIN IN THE UNITED STATES.
+
+Procedures for determining public domain status are described in
+the "Copyright How-To" at https://www.gutenberg.org.
+
+No investigation has been made concerning possible copyrights in
+jurisdictions other than the United States. Anyone seeking to utilize
+this eBook outside of the United States should confirm copyright
+status under the laws that apply to them.
diff --git a/README.md b/README.md
new file mode 100644
index 0000000..15cc80a
--- /dev/null
+++ b/README.md
@@ -0,0 +1,2 @@
+Project Gutenberg (https://www.gutenberg.org) public repository for
+eBook #37879 (https://www.gutenberg.org/ebooks/37879)